Pov – Valentina

Quando entro em meu quarto meu coração está fora do ritmo. Estou tremendo dos pés à cabeça. Nunca me senti tão sozinha, tão perdida e tão confusa e assustada.

Eu nunca me senti assim antes, fora do lugar de todos os modos, sempre fui gentil e educada, sempre me senti forte e respeitosa, agora tudo em mim é tremor, confusão e destempero.

Não sou essa pessoa. Encaro o espelho e estou pálida. Já nem sei se foi boa ideia vir. Nunca sai assim, sozinha, para me reunir a desconhecidos, ainda que minha família. Ficar em um quarto de hotel, numa cidade estranha.

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Onde estava com a cabeça? Eu devia ter aceito o convite do Vittorio e me hospedado na mansão. Mesmo que a ideia ainda pareça confusa para mim.

Fui expulsa de lá, não por eles, nem mesmo me lembro, mas no fundo sinto como se fosse um pouco traição com a mamãe me hospedar sob o teto que causou tanta dor a ela.

Ainda encontro esse homem, dois encontros. Dois encontros com um completo desconhecido e nem me reconheço.

Tenho autocritica suficiente para saber que não sou nem um pouco razoável com ele, passei a tarde me recriminando pelo excesso no encontro de mais cedo.

Então do nada me sento num balcão de bar para comer bem ao lado dele. Se não fosse tão tola teria sentado numa mesinha no canto, mas não. Valentina tem medo de parecer sozinha e acharem que preciso de proteção, aí me sento no balcão, decidida a comer e vir dormir. Ele está lá. Quando sentei não o vi.

Não o vi por que estava com a cabeça longe, pensando exatamente nele. Não vi aquela figura enorme sentada a dois bancos de mim. Que idiota.

Por que diabos ele tem que ficar me provocando? Já não deixei claro que não tenho interesse? Ele me perturba e assusta. Não como aqueles três motoqueiros, não é o mesmo tipo de medo. Com aqueles caras eu tive medo pela minha segurança física, mas aquele forasteiro não, aquele me lembra sei lá, um cara perigo de outro tipo.

Talvez a figura, o sotaque americano, quem sabe os cabelos, os pulsos e suas pulseiras de couro, o jeito cara sexy que brinca com garotas como eu e depois vai embora sem qualquer arrependimento.

Devia estar pensando em minha família, mas não, ele me toma a mente e nunca, mas nunca mesmo caio em uma dessas, minha existência é prova de como isso termina. Mamãe falou sobre isso tantas vezes. Não, eu tenho mesmo que ser dura com ele.

É minha proteção, não que ache que ele vá se aproximar de mim novamente. Nem sei como aquelas pessoas começaram a brigar e quando vi, lá estava ele aos socos com os amigos, conhecidos ou sei lá.

Ele provou que não estava muito enganada sobre ele. Definitivamente ele não é muito diferente do que pensei.

Quando me encolho na cama fico com a cabeça agitada. Afasto meus pensamentos dele. Me volto para minha família. Gosto deles. De todos os De Martino.

São boas pessoas, deu para ver isso. Ainda não falamos sobre o passado, não saímos da zona de conforto. Não falamos sobre nada importante, só nos perdemos em conversas amenas sobre coisas do dia a dia. De programas de televisão, livros e filmes a cuidados com bebês e uma ou outra história engraçada sobre crianças e o dia a dia deles todos.

Quero conhece-los a fundo, quero me mostrar também. Saber mais sobre minha avó, ela é linda, elegante e foi enganada tanto quanto todos. Quero contar sobre minha mãe e suas dores, seus arrependimentos.

Quero até me desculpar por ela. No fundo, muito do que pode ter acontecido com eles tem a ver com ela. Mamãe mudou a história deles. Inocente ou não, meu nascimento causou uma reviravolta em todas as vidas dos De Martino.

Me surpreende que não guardem magoas de mim, pelo contrário, eles me querem e isso eu já posso ter certeza sem medo. Sou bem-vinda. O que é bom, também não tenho qualquer magoa, tive uma ótima vida com minha mãe, não me faltou amor e muito menos dignidade, por que sentir raiva?

Amanhã prometi ir cedo, passar o dia com eles e já estou amando a ideia. Meu objetivo é partir no domingo. Tenho mais dois dias com eles. Quero que corra tudo bem.

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Quase não consigo pegar no sono, como é fácil ser forte e decidida sob o próprio teto, com a mamãe ao lado dando suporte. Já agora, sozinha e longe de casa não sinto a mesma força.

Nem telefonei para minha mãe, nenhuma mensagem, é bom saber que eles estão gostando. Não sabem direito ainda comprar comigo e usar o transporte público, mas isso tem divertido os dois e fico feliz.

Eles se comportam como um jovem casal de desbravadores. Fico pensando que sou meio fechada. Nunca vivi nenhuma aventura. Essa semana deve ser o mais perto que cheguei disso. Vir conhecer a vovó em uma cidadezinha do interior da Toscana.

Tenho um ataque de riso pensando em mim como a chapeuzinho vermelho, grande aventura. O riso vai embora quando penso no forasteiro como o lobo mal.

Um motorista uniformizado me espera na porta da pousada pela manhã. Me forço a não olhar para a mecânica ao lado com medo de dar de cara com o estranho.

Sempre penso que ele pode dormir em um dos quartos da pousada. Talvez já tenha mesmo partido. Tomara que sim. No fundo não sei se a ideia parece mesmo tão boa.

Antonio é motorista da minha avó há muitos anos, desde antes de Vittorio nascer e conheceu meu avô, pai e mesmo os pais de vovó Pietra. Tem boas história e a viagem é agradável.

Minha avó está na porta quando chego. Me acena carinhosa e queria chama-la de vovó como todos. Sinto isso quando olho para ela. Parece tão definitivo dizer vovó. Como se mais nada tivesse que ser conversado e tem tantas coisas entre nós. Tem toda minha vida longe entre nós.

―Estamos te esperando para o café. Menos o Vittorio. Saiu cedo para deixar a Bella na escola, depois vai direto para o galpão. Ele está fazendo tudo correndo para voltar logo para casa. – Ela diz depois de um abraço. – Venha. O resto da família está à mesa.

Fico feliz de der dormido tarde e perdido a hora pela manhã. Nos reunimos a mesa do café.

Kiara está com uma xicara a mão e um olhar cansado. Bebês. Penso com um sorriso. Já Gabriela, que também tem um recém-nascido parece mais descansada e risonha.

Acho que nunca vou vê-la diferente. Me sento com eles. Enzo é o mais gentil sempre. Tem qualquer coisa de carinho entre nós. Um passado que apenas nós dois dividimos. Isso é confuso.

É mais fácil olhar para ele como irmão. Estranhamente ele sempre foi meu irmão, por que estivemos juntos uma vez como irmãos, ainda que não entendêssemos muito isso.

―Cheguei! – Vittorio surge antes mesmo de me servir de uma xicara de leite quente. – Cadê meu bebê? – Pergunta beijando a cabeça da avó, depois segue até Gabriela. Ela com um sorriso largo.

―Na cama tigrão. – Eles se beijam. – Disse que te amo hoje?

―Disse. Quando eu estava trocando meu filho ainda antes de clarear e você fingia estar dormindo.

―Eu estava tigrão. Preciso ensinar a Kiara a dormir de olhos abertos. Olha o estado dela.

―Amo minha filha, mas ela trocou o dia pela noite. Não é como se acordasse de duas em duas horas. É como se dormisse de seis em seis. Por quinze minutos. E sempre durante o dia.

―Ficam muito com ela no colo? – Eu pergunto. Quando ganho um sorriso carinhoso de Vittorio.

―Fala para ela Filippo? – Ele faz careta.

―Como que minha mini conchinha vai me amar se não ficar o tempo todo agarrando ela? Tenho muita insanidade. O que eu posso fazer? – Acho que isso de insanidade é coisa da Bella. Já ouvi sobre Filippo e sua insanidade.

―Aos poucos isso passa. – Bianca garante. – Tenta manter a Manoela mais acordada durante o dia, aí ela volta a dormir melhor a noite. O Matteo passou por isso. Eu ficava muito sozinha com ele, tinha medo de tudo e só queria ficar com ele no colo. Aconteceu o mesmo.

Enzo beija a esposa. A história deles é bonita e traumática. Quando penso em Bianca penso numa mulher muito forte, não sei como seria se fosse comigo.

―Vittorio, fiz biscoitos de nata para você. – Kiara passa para ele um pote de biscoito, ele sorri, todos sorriem e acho que ali tem algo. É estranho ser parte da família e não saber quem são.

―Obrigado. Já estava com saudade. – Ele diz mordendo um e depois tomando o café. – Vou só tomar um café e ir ver meu bebê. Já tem planos para hoje? – Ele me pergunta e olho para todos. Todo dia eles inventam algo.

―Vamos ficar todos aqui. Vou mostrar umas fotos para a Valentina de vocês pequenos. Ela vai passar um tempo com a vovó também. – Gabriela anuncia. Gosto da ideia de apenas ficar pela casa convivendo com eles. Sem passeios e almoços elaborados como se eu fosse uma visita importante precisando ser distraída a todo custo.

―Está gostando da cidade? – Enzo me pergunta.

―Sim. Tive um encontro ruim com um forasteiro. Um tipo arrogante que acha que todas as garotas estão a seus pés.

―Conheço esse tipo. – Filippo diz rindo.

―Ele te criou problemas?

―Não, Vittorio. Só... sei lá, homens babacas não merecem muito minha atenção. Eu me afastei, nada demais.

―Bonito? – Gabriela pergunta. Vittorio olha para ela. – Tigrão ela disse que o cara acha que as garotas estão a seus pés. Ela deve ter achado ele bonito! – Gabriela se explica rindo. Ele continua a olhar para ela de seu lugar. – Vou aí! – Soa como uma ameaça que ele parece gostar e ela deixa seu lugar para sentar em seu colo e beija-lo. – É meu tigrão.

―É tigrão. Conan que é ameaça, não um forasteiro que ela nunca viu. – Filippo se intromete.

―Bonito ou não, Valentina? – Kiara se interessa.

―Achei ele tão cheio de si, todo... todo... não sei. – Mentira. Ele é bonito e esse é sem duvida um dos seus defeitos.

―Gato! – Gabriela constata. As garotas riem. – Ela só não quer admitir.

―Concordo. – Bianca brinca. – Ele foi rude?

―Eu fui rude e ele mereceu, ou não, sei lá, por que estamos falando daquele boçal?

―Alguém, por favor diz boçal na frente da minha Bella! – Gabriela ri com gosto, ela nunca teme constranger as pessoas, mas agora estou achando o adjetivo bem exagerado.

―Ela tem um jeitinho só dela. – Digo sorrindo. A pequena me encanta. Assim como Matteo, os dois são fofos. Crianças são apaixonantes. – Cadê o Matteo?

―Olhando o Vincenzo. – Bianca avisa. – Só olhando. Ele acha que com algum esforço no olhar quem sabe o pequeno cresce mais rápido e dá tempo de jogarem bola no jardim.

―Meu pequeno está encantado com os primos, lá em Florença quer toda hora ir ficar com a Kiara e aqui está grudado no Vincenzo. Quero ver como vai ser quando voltar para casa. – Enzo me avisa.

―Vocês vem sempre?

―Todo fim de semana. – Kiara me avisa. – Vai passar uns dias comigo? Queria que conhecesse minha casa.

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―Queria não, quer e ela vai, não faz sentido Valentina não conhecer a sua casa e a minha. – Bianca diz sorrindo. – Sério. A Gabriela vai ficar se gabando, nos ajude.

―Valentina, elas tem ciúme da nossa amizade. – Gabriela brinca e sorrio.

―Pensei em ir embora domingo. – Digo meio sem graça. Eu não sei bem o que estou fazendo. Quanto tempo minha presença é aceitável e quando vai começar a parecer abuso. Um silencio toma conta da mesa. Todos eles trocando olhares.

―Valentina. Isso é muito pouco tempo. – Vittorio me diz quase triste. – Temos muito a mostrar e saber. Fique mais. Temos tanto que conversar e decidir.

―Eu... não sei. Fico pensando se não estou brecando a vida de vocês.

―Não está. – Pietra me segura a mão. – Por favor, fique mais tempo.

―Certo. Acho que posso estender um pouco a viagem. – Não muito, não tenho dinheiro para ficar muito tempo na pousada e ando meio agoniada lá, mas não tenho coragem de pedir para me hospedar aqui. Não aceitei quando fui convidada e agora não sei como resolver isso.

―Ótimo. Que acha de nos sentarmos um pouco na minha sala? Nunca ficamos um tempo só nós duas.

―Vai ser bom. – Digo a ela. Pietra afasta a cadeira e faço o mesmo. Vamos de mãos dadas pela casa depois de uma despedida rápida dos irmãos.

―Desde muito nova tenho um cantinho meu. Casei cedo e gostava da ideia de ter alguma independência. – Ela me mostra sua sala e fico encantada. Ando pelo ambiente, vou até uma estante de madeira olhar os títulos de seus livros. – A maior parte dos livros fica no escritório. Esses são meus preferidos. Romances que li ao longo da vida e me apaixonei tanto que não pude me separar deles.

―Gosto muito de ler. – Digo olhando todas aquelas capas elegantes com letras trabalhadas. Depois corro os olhos pelos enfeites, seus bordados enfeitando a sala. Sob bibelôs, abajures e vasos. Toco um ou outro, ela se senta numa poltrona confortável e pega um bordado.

―Senta querida. – Ela convida, me sento no sofá o mais perto que posso para ver seu trabalho. Devia ter trazido o meu e ficaríamos as duas aqui, bordando juntas.

―Minha mãe me contou que gostava de bordar.

―Amo, me distrai a mente e também me ocupa. Meu médico disse que é muito bom para exercitar minhas mãos e minha cabeça. Exige alguma concentração.

―Sim. Esse é lindo. – Toco as pontas já prontas e ela me sorri.

―Acabei ontem um conjunto de babadores para os pequenos. Hoje voltei aos meus trabalhos mais antigos, mas bordei quase tudo dos meninos. Esses são para Bella. Como ela não teve nenhuma peça de bebê feita por mim estou bordando umas coisinhas para o quarto dela. Lençóis, toalhas.

―São lindos. – Digo tocando as peças arrumadas ao lado da poltrona num cesto.

―Meu sonho era ensinar a Kiara. Não aconteceu, ela nunca quis aprender. Se um dia desejar podemos tentar. Não se sinta obrigada para me agradar. É apenas uma ideia. É que fico pensando que essa minha arte talvez se perca quando eu me for.

―Sua arte só vai se perder se eu for antes. Aprendi a bordar na infância e nunca mais parei. – Os olhos dela passam da surpresa a emoção em segundos. – Mamãe sempre dizia que minha avó Pietra era a melhor bordadeira da Toscana. Que eu tinha herdado isso.

Ela deixa o bordado de lado e me segura as duas mãos. Fica tentando conter o choro e me emociona. Isso nos aproxima de um jeito bonito. Diminui a distância.

É como se termos isso em comum nos tornasse mais perto de uma família. Sinto a mesma emoção dela. Até esse minuto isso sempre foi só algo que minha mãe dizia e não fazia muito sentido para mim, mas agora é importante e me emociona.

―Sabe bordar?

―Sim. Eu sempre trago um bordado comigo, hoje por acaso não trouxe na bolsa, sai meio atordoada, mas nunca fico sem ele.

―Querida. – Ela fica com a voz embargada. – Não sei se entende, pode parecer só os sonhos bobos de uma velha, mas isso... desde que soube que existia eu pensava em nós duas aqui, sentadas uma longa tarde bordando juntas.

―Bom, o dia está só começando. – Digo sorrindo para ela. Trago as mãos que prendem as minhas até os lábios e beijo com carinho.

Ela me puxa em seguida e beija minha testa. Isso é um típico carinho de vó que gosto de receber.

―Pode tentar para eu ver? – Ela pede. – Se importa?

―Vou adorar. – Digo pegando o bordado que ela trabalhava a pouco. – A senhora vai gostar do meu ponto. Mamãe diz que é bem delicado. Muito fechadinho e bastante preciso. – Não tenho vergonha de me enaltecer nesse sentido. Isso é realmente algo que gosto muito.

―Vamos ver se não tenho mais nada a ensinar. – Ela diz ansiosa.

―Aposto que sim. – Com seus anos de talento, tenho certeza que pode me dar boa dicas. Minha mão treme um pouco nos primeiros pontos, ela ali me olhando. Me deixa um tanto ansiosa, mas leva uns minutos para me sentir encantada com o trabalho e em casa na tarefa de passar a linha colorida de um lado a outro do tecido segurando firme o bastidor entre os dedos da mão esquerda.

Pietra fica muda olhando, as vezes para meu rosto, outras vezes para meu trabalho, em silencio por um longo momento até que fico curiosa demais e paro o trabalho estendendo para os olhos experientes darem um veredito. Ainda que não consiga imagina-la colocando defeito em algo que a emociona tanto.

―É um lindo trabalho que se confunde com o meu, nem sei onde parei e você começou.

―Posso tomar como um elogio? – Ela afirma. Trocamos um sorriso. – Tem mais um bastidor e outra agulha? Temo um longo dia juntas.

Pietra deixa o bordado e me puxa para um abraço. Os olhos marejados. Depois me beija o rosto.

―Vou pegar, querida. Vai ser um dia perfeito.

Ela caminha até uma gaveta na estante, volta pouco depois com tudo que preciso e me acomodo a seu lado.

―Obrigada. – agradeço pegando o material.

―Me conte por que decidiu estudar pedagogia. – Me pergunta enquanto temos todas as duas os olhos sobre os bordados.

―Primeiro por que gosto de crianças. Dentre as profissões que podia lidar com elas, ensinar pareceu sempre tão especial.

―Sim. Deve ser a profissão mais importante. A que possibilita todas as outras.

―É verdade, mas nunca exerci, sempre trabalhei com minha mãe na nossa loja de artesanato.

―Me conte. Que tipo de artesanato.

―Todo tipo, desde os bordados que eu faço até cerâmica, coisas que as senhoras do bairro fazem e mamãe comprava para revender. Era um jeito de todo mundo ganhar um pouco. Fechamos. Mamãe quer começar uma nova vida e eu também. Quero que seja um recomeço para mim. Estou a procura de um emprego de professora. Mandei uns currículos, mas não tive resposta.

―Então precisa de um emprego como professora?

―Sim. Isso é o que preciso. Não pode demorar muito, eu detestaria pedir dinheiro a minha mãe. – Ela me observa. – Não estou aqui querendo dinheiro, por favor, não pense que insinuei...

―Valentina. – Ela me segura o braço me tranquilizando. – Ninguém aqui tem dúvidas disso. Nós é que fomos atrás de você. Além disso, ainda vamos tratar de dinheiro, mas não hoje.

―Nem outro dia. Eu não quero.

―Hoje vamos bordar juntos querida. Vamos só, ficar aqui, como sempre sonhei, tomar um chá, conversar e bordar. Outro dia os assuntos sérios.