Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota

Fardos em forma de sangue


Não sabia quando as coisas ficaram tão bagunçadas à sua volta. Olha para os lados e tudo que via era destruição, fogo e gritos. Não sabia o que fazer, continuou ajoelhado no chão, trêmulo. Havia um corpo adiante, sem mais a expressão que tanto assustava o pequeno garoto. Era para se sentir melhor, mas nenhuma emoção do tipo vinha.

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Então a mão manchada de sangue é esticada como uma luz na escuridão.

— Venha. – Dizia Gerard. – Se quiser se torna mais forte, venha comigo, Arthur.

A partir daquele momento, um forte relacionamento se formaria entre ambos. A decisão tomada para tudo isso foi por Gerard. Naquele dia, o ruivo já estava exausto, suas feridas queriam o derrubar de toda forma. Suas mãos pesavam ao sangue de seus companheiros, junto à sua mente confusa. Não restava mais nada após aquilo, nem mesmo um caminho a seguir.

Mas mudou de ideia ao ver Arthur. Sempre que o via na guilda, sorria. O garoto não tinha jeito algum para se torna guerreiro, mas sua determinação era maior do que tudo. O que o estragava era seu pai, que nunca colocou a fé necessária em seu filho.

Por isso, Gerard achou um motivo e o matou sem nem mesmo o olhar. O único arrependimento era ter feito na frente de seu filho, que agora olhava com a expressão congelada.

— Não repetirei outra vez. – Volta a falar. – Essa é a única chance que vão te dar em toda vida. Venha, Arthur.

O garoto o olha. Existia outra forma para fugir do tormento que sentia, mas acabou fazendo ao contrário. Arthur abraçou o tormento junto com Gerard.

Ele segurou sua mão e o seguiu para o lado de fora.

No começo, nenhum ousava falar alguma coisa, seguiam o mesmo caminho juntos. Gerard entendia o silêncio que Arthur fazia, sentia as emoções bagunçadas do mesmo. Às vezes, tinha arrependimentos de ter trazido o garoto para seus próprios problemas. As cicatrizes de Arthur não foram causadas por ele mesmo, e sim pelo o ruivo. Não era proposital, é claro, mas tinha momentos em que os machucados de Gerard não eram unicamente nele.

— Aqui, você precisa aprender a fazer curativos. – Falava o ruivo, esticando seus dedos indicadores, que possuíam cortes em cada. – Creio que será fácil para você.

— Eu não sei. – Comenta Arthur, abaixando o rosto, tímido. – Tudo que faço, dá errado.

— E é por isso mesmo que você precisa aprender a curar. Pode não saber lutar, mais aposto que se entenderá com as poções. – Mexe os dedos, chamando sua atenção. – Não quer tentar?

Continuava a olhar inseguro, com medo de ouvir mais uma reprovação como antigamente. Mas lembra que era Gerard quem pedia isso, não seu pai. Suspira, assentindo.

— Acho que posso aprender.

Gerard sorri pela a resposta. Arthur era mesmo problemático para aprender a fazer algo, porém ele se esforçava. No final, conseguia o que queria, e procurava a melhorar mais. O ruivo não precisava mais se preocupar com seus ferimentos, quando voltava, Arthur estava lá para segurá-lo.

Nunca mais se sentiu sozinho, finalmente tinha achado algum caminho na determinação do garoto.

Era estranho observar seus passos, sua trajetória até o presente. De um garotinho chorão, Arthur se tornou forte, esperto. Sempre surpreendia com as poções mágicas que criava e armas para vender. Quando percebeu, o rapaz seguia um caminho próprio, mas que voltava para o seu lado no final de tudo.

— Você parece uma criança, Gerard. – Diz o loiro. – Sempre machucado.

O ruivo abre uma careta quando é tocado na ferida em suas costas. Seu corpo todo estava manchado por sangue e feridas, além das cicatrizes que nunca sumiriam.

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— Estou bem, não me olhe com essa cara. – Mente, como sempre mentiu. – É só apenas minha rotina.

— Seu corpo não aguentará por muito tempo se continuar assim. Estou tendo que aumentar as dosagens das poções, ultimamente.

— E...?

— E que terá um momento em que as poções não farão mais efeito! – Acerta um tapa nas costas do ruivo. Gerard rugi, encarando em indignação. – Principalmente em seu ombro.

Gerard ri, como se as palavras de Arthur não o afetassem. O loiro revira os olhos, ainda não tendo se acostumado àquelas atitudes do ruivo em situações sérias. Sabia que todos seus sorrisos e frases motivacionais eram uma máscara para esconder suas dores.

Gerard sofria todos os dias, e nenhuma poção no mundo tiraria isso dele.

— É, tem razão. – Diz ele, sem mais rir. Arthur fica surpreso, vendo o ruivo parar de fingir. – De um tempo pra cá, tenho percebido isso. Quem sou pra me enganar? Estou em uma contagem regressiva, e quando acabar... – Suspira.

Sua voz pesava quando falava assim, finalmente admitindo o que o magoava. O loiro se afasta, olhando a expressão quieta de Gerard.

— É por isso que estou me arriscando tanto, Arthur. Até o final de tudo, quero poder completar meus objetivos. Cazeaje, principalmente. – Fica sério quando a menciona, porém abaixando o olhar ao passar a mão na cabeça. – Mas creio que não será tão possível com a Elesis no caminho. Quero poder contar tudo a ela, mas não até terminar com Cazeaje primeiro.

— Ela está ficando mais forte. – Menciona. Não ficava feliz por essa notícia.

— Eu sei. – Murmura. – Se tivesse algum jeito de convencê-la...

Era raro ver Gerard naquele estado, destruído e demonstrando isso. Ele sempre se afastava quando estava chegando ao seu limite, ou simplesmente fingia estar tudo bem. O que ele fazia agora era nenhum dos dois, apenas agia sinceramente.

— Vou descansar. – Avisa antes de sair do cômodo em passos atrapalhados.

***

Ainda estava sendo difícil acreditar no que via. Seu amigo de infância tentava a matar a qualquer custo, ferindo seus amigos, se preciso. Era muita coisa para ingerir, Elesis ficava tonta brevemente quando pensava no que acontecia.

A ruiva levanta, esperando seu corpo se curar das manchas que as chamas roxas fizeram nela. Olha para o escudo que fez isso, assustada pela a potência de poder que aquele objeto possuía. Em mãos de guerreiros espertos, era uma arma perigosa. Arthur podia não ser um guerreiro, mas era esperto, o suficiente para lidar com aquele tipo de arma.

— Você não era assim. – Diz Elesis, a voz meio trêmula. – Você era tão gentil, Arthur. Olha para você, olha para o que Gerard fez a você!

— Pare de falar assim! Gerard não está me controlando, entenda isso de uma vez por todas!

— Então por que quer me matar? Você nunca seria capaz disso.

— O Arthur de antigamente, o de agora é capaz. – Fita sério.

A cada palavra do rapaz, mais difícil era de entender. Elesis nota que conversar naquela situação seria desperdício de tempo, isso é, Jin ficaria mais fraco e poderia morrer. A ruiva segura firme o cabo da espada, não querendo demonstrar sua fraqueza. Seu olhar se torna gelado, pensativa em uma forma de derrubar Arthur.

Ele era seu inimigo, precisava ser atacado. Elesis começa a esquentar o próprio sangue para vencer aquela luta. Arthur poderia até ser fraco, mas com o escudo que usava o tornava intocável. Possuía três chamas, seria fácil se as usassem em sincronia. Se ao menos tivesse a Lass, a luta já teria acabado.

— Arthur, por favor, não me faça fazer isso. – Volta a repetir, dando uma última chance para ele. – As coisas podem ser diferentes, sabe disso.

— Eu já tomei minha decisão. – Ergue o escudo, mantendo uma posição de combate. – Não irei me arrepender por isso.

Depois que decidisse, não poderia se arrepender e voltar atrás, era o que valia para Elesis também. De todos os inimigos que já enfrentou, este seria o pior de todos. A excalibur começava a pesar em sua mão, querendo ser solta. Apesar disso e de outras decisões que preferia tomar, Elesis segura firme o cabo da espada e dá o primeiro passo.

Antes que sumisse, seus cabelos se tornam loiros pelas as chamas. Infelizmente, Arthur percebe isso, consegue prever seus movimentos sem dificuldades.

***

Seus olhos ardiam, impedindo de ver o que havia à sua frente. Estica as mãos, sabendo pelo o tato para onde ir, localizando uma árvore ao lado. Ajoelha-se e continua a passar a mão nos olhos, querendo que a dor sumisse. Sua mente podia até estar focado em sua visão embaçada, porém outra parte estava em Elesis. Não sentia mais a mesma ao seu lado, em lugar nenhum.

Ela e Arthur estavam longes e o ninja não poderia fazer nada para intervir. A poção jogada em seu rosto queimava, mas diminuía com o tempo, restando mais nada após alguns minutos. Abre os olhos, sua visão retornando a cada piscada. Acha que foi as chamas que ajudaram, enganado ao começar a ouvir alguns sons estranhos.

— Meu caro Lass, não ache que se livrará de nós tão cedo.

Seu coração acelera, o nervosismo aumentando ao ouvir aquela voz. Nunca achou que ouviria outra vez, apenas em seus pesadelos. Ao tentar levantar, seu rosto é segurado por um par de mãos, que o segura onde estava. Os olhos de Lass arregalam, seu corpo imóvel por ter congelado.

— Vamos, sorria, caro Lass. – Ordena ZIdler, sem soltar seu rosto.

Aproximava-se lentamente do ninja, a distância tornando a sanidade do mesmo quase nula.

Não levou tempo até ouvir as vozes de seus outros tormentos.

***

Elesis avança com as chamas duradas a contornando, prontas para ferir qualquer um à frente. Era mais rápida, porém seus movimentos eram lidos, o que tornava seus esforços, fúteis. A excalibur gira em sua mão quando ataca, as costas do loiro livres para serem acertadas. Por segundos, o rapaz gira com o escudo na frente, Elesis sendo obrigada a recuar com o ataque. Jogou-se para o lado e rolou pelo o chão, a ponta da lâmina indo direto ao se levantar.

Outra vez, seu ataque é interrompido pelo o escudo na frente. Elesis recua com poucos pulos, irritada por suas falhas ao atacar. Arthur permanecia no lugar, o escudo erguido para se defender e rebater qualquer golpe da espadachim. Olhando assim, era uma barreira impenetrável.

— Nunca achei que fosse difícil de acertar um golpe em você, Arthur. – Diz Elesis, mas sem o tom de deboche que parecia ter.

— Passei esses anos observando suas formas de lutar, por isso que sua luta contra Gerard foi tão fácil. – Percebe o olhar de surpresa da ruiva. – Eu falei para ele, se é isso que está pensando.

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— E ainda diz que ele não está te manipulando.

— E não está. Tudo que fiz, foi por minha livre e espontânea vontade. – Explica. – Gerard nunca quis seu mal, pelo contrário, ele se importa demais com você.

— Ele já tentou me matar! Se ele se importasse tanto, nunca teria me machucado. – Grita irritada.

— Gerard não tentou te matar, tudo aquilo era apenas um aviso! – Grita de volta, mas sem perder o controle das emoções. – Acredite em mim, Elesis! Tudo que estou dizendo é verdade, sobre o Gerard e suas razões.

A ruiva abaixa a cabeça, achando que conseguiria evitar que a raiva a dominasse. Seu sangue esquenta cada vez mais, fechando os punhos. Se era isso que Arthur queria, ele tinha conseguido.

— Pare de inventar! – Berra ao correr contra ele.

Arthur solta um suspiro discreto, decepcionado. Já sabia que a conversa com Elesis seria daquele jeito, mas continuava a se surpreender. O rapaz nota o berserk da ruiva ser ativo, ficando parado enquanto ela se aproximava. Quando o punho é erguido, levanta o escudo a tempo de defender.

Elesis sente a mesma sensação de quando atacou o escudo antes, porém maior com a potência do berserk. Seu corpo é jogado para trás com violência, como se fosse atingida pelo o próprio soco. Bate contra o chão e sente as dores surgirem por isso.

— Não estou inventando. – Continua Arthur, abaixando o escudo. – Para Gerard, você é a coisa mais importante que resta para ele.

— Se eu fosse tão importante, ele não me machucaria! – Levanta em um pulo, furiosa. – Faria o contrário!

— Gerard tentou falar, mas você nunca deixa! Você o ataca primeira, é claro que ele precisa revidar.

— Revidar? – Gargalha com um grande sarcasmo visível. – Ele me atacou mesmo quando eu não podia. Se isso é revidar... – Não termina.

— Você é importante para ele, sim! – Persisti. – Eu sou descartável para o Gerard, você não, Elesis. Tudo que ele fez, tudo mesmo, foi por sua causa, não pela a minha ou a dele em si!

Todas as cicatrizes que o ruivo tinha era por Elesis, sempre foi. Por isso que Arthur olhava indignado todas as vezes que via o mesmo sofrer em silêncio, porque ele achava que tudo aquilo valeria a pena. Elesis não sabia, mas ele sim, sabia quanto Gerard sofria todos os dias com seus machucados.

O que tinha dito era para ter acalmado a ruiva, porém fez o efeito oposto. As chamas roxas surgem na lâmina da espada, que são arremessadas em um rápido corte no ar. Arthur ergue o escudo e sente o impacto do poder contra ele.

Elesis desvia para o lado, mas sendo atingida em algumas partes. A dor que sente pelas as manchas são ignoradas, seu olhar continuava fechado pela a raiva.

— Tudo que ele fez foi por minha causa? – Pergunta com a voz arrastada. – Nunca pedi por nada isso. Gerard matou meu pai e você diz que foi por minha causa! Me diga, por qual motivo a morte de Esculd foi necessária para minha vida?! Diga, Arthur!

Era delicado, tanto que nem mesmo ele poderia entrar nesse assunto. Olha para o lado para evitar a pergunta. Elesis se irrita mais ao ser ignorada, avançando com suas chamas. É como se esperava, o escudo é sua principal arma, ele sempre o usaria contra ela. Não podia mais continuar ouvindo aquela conversa sem sentido, precisava terminar o mais rápido possível.

É mais veloz, bruta, quando avança contra Arthur. Ataca com a excalibur coberta pelas as chamas, acertando o escudo e recebendo o ataque de volta. Sente a dor e supera, continuando a avançar.

— Gerard já fez sua cabeça! – Gritava durante os ataques. – Como ele, você é um grande idiota, Arthur!

Quando se preparava para receber o ataque, recua em um deslize. O corte da ruiva passa direto, a lâmina fincando no solo. Arthur investe com uma poção em mãos, antes, atingindo a espadachim com um chute, logo arremessando o vidro. Ao se quebrar no corpo de Elesis, explode, a mesma só parando ao acertar as costas numa árvore.

Sem ar, persisti em ficar de pé, arrependendo-se quando uma dor aguda a atinge no ombro. Rosna ao segurar a faca contra sua pele para retirar, puxando rapidamente. De pé, joga a arma no chão em desgosto. Pelo o que entedia, Arthur não tinha uma espada para usar como uma arma, mas tinha milhares de facas escondidas para serem arremessadas contra ela. O pior era o ataque ser mesmo efetivo, causar uma dor que logo a pararia.

Sacode a cabeça, não aceitando ser derrotada assim. Se perdesse para Arthur, nunca seria capaz de alcançar Gerard.

— Gerard pode até se importar comigo, mas eu não posso falar o mesmo para ele. – Dizia Elesis. Esperava o sangramento das feridas diminuírem. – Eu o odeio, e nada mudará isso. Nem mesmo você, Arthur. Ainda tem a chance de sair daqui vivo, é só dar meia volta e seguir seu caminho sem olhar para trás.

O rapaz estala o pescoço, preparado para continuar a luta sem arrependimentos futuros. Ajeita o escudo e o ergue, já sentindo os futuros ataques da espadachim. Pelo o que sabia da antiga Elesis, ela lutaria de frente, atacaria da forma que se sentisse melhor, sem uma estratégia. Mas ela tinha crescido, observou seu estilo de luta crescer junto com ela, ficando mais esperta a cada derrota.

Elesis ver que o loiro não hesitaria, permaneceria para lutar. Sem muita escolha, parte em sua direção. As chamas douradas são a sua escolha, pois se usasse as roxas, poderia se ferir quando fossem rebatidas. O escudo de Arthur era um item muito forte, toda vez que parava à sua frente, recuava e tentava por outro lado.

Mas após várias tentativas, sua paciência se esgota. Joga as chamas, que eram rebatidas pelo o escudo. Continuava a correr quando sua magia voltava contra ela, passando por centímetros de seu corpo.

— Arthur, pare de chorar e lute como um homem de verdade! Se quer conquistar algo, não precisa de uma arma para isso. – Vinha em sua mente a voz da pequena garota de cabelos vermelhos. – Seu bobo!

— Mas, Elesis... E se eu querer algo que não precise de violência? – O pequeno garoto loiro pergunta.

— E o que poderia ser?

A ruiva avança com a lâmina já em movimento. Arthur fingi não se defender, esperando o tempo certo. Mais alguns passos, então ergue o escudo, a espada batendo contra o vidro do objeto. Elesis é arremessada por suas próprias chamas, rolando pelo o chão e continuando a avançar. Seu corpo já demonstrava machucados por sua própria magia, porém não seria isso que a impediria de continuar.

— Se eu gostar de alguém, apenas preciso falar, né? – O garotinho continua a falar. – Não preciso bater nela.

— É claro que precisa! Papai disse que o amor é um campo de batalha, não importe como.

A ruiva é jogada para trás mais uma vez, sumindo entre as árvores. Arthur estica as pernas antes de se aproximar para o local que a espadachim foi arremessada. Poderia até se defender de todos os ataques que vinham, porém suas energias não durariam muito. Precisa ter a ruiva cansada primeiro, para então contra-atacar.

Seu corpo trava no lugar ao ouvir um barulho, atento pelo o que poderia vim. Quando percebe, firma seus pés no chão e levanta o escudo para frente. O forte vento que vem em seguida é o bastante para arrasta-lo, mesmo que impedisse. Tenta se mover e seu escudo voa para trás, segurando firme para que não o perdesse.

Este era apenas um dos truques que Elesis tinha aprendido com as chamas roxas, que resultava nisso quando misturada com o berserk. Um simples soco no ar e se transformava numa ventania, apesar de não usar toda sua potência. De onde estava, ver Arthur perder o equilíbrio pelo o forte vento, assim correndo contra o mesmo. Troca suas chamas pelas as douradas, não querendo ainda usar as roxas de forma direta.

Pela primeira vez, o escudo não é erguido. Não houve a necessidade de usar a espada, com o berserk ativo, o chute que deu no rapaz fez o mesmo efeito. É acertado na costela, o jogando para o lado pelo o impacto. A excalibur é girada, pronta para ser usada. A espadachim avança, as chamas douradas fazendo a lâmina brilhar. Iria acerta-lo, o escudo não seria levantado a tempo de se defender.

Mas Arthur pega uma das facas em improvisação. Ajoelhado no chão, consegue se defender com rápidos movimentos que acompanhavam os de Elesis. Fica de pé durante isso, recuando em passos cuidadosos, tendo consciência que qualquer erro poderia ser fatal. Sua mão já mostrava dor com o chocar das lâminas, onde tinha a ruiva com a força que era maior que a dele.

Rapidamente, sua faca é trocada pelo o escudo, a espadachim não conseguindo evitar o ataque. Suas chamas a queimam, voltando a arremessa-la contra o chão. Desta vez, leva tempo até ficar de pé, ofegante. Quase cai de lado, dando passos atrapalhados em apoio.

Seu olhar é fixo em Arthur, o rapaz parado, sem parecer atingido por aquele combate. Sua expressão séria era o que mais a incomodava, impossível de lê-la.

— Um campo de batalha? – O pequeno garoto pergunta. Nervoso, continua: - Então, por você, Elesis, eu lutaria o que fosse para conquista-la!

O sentido de conquistar parece bem diferente de anos atrás. O que Arthur queria conquistar agora era sua própria sobrevivência, e a segurança de Gerard.

***

Para não cair, usou a árvore ao lado como apoio. Suas pernas tremiam, junto com todo seu corpo. Tinha fechado os olhos para não ver aquele tormento, mas não era o bastante, pois as vozes podiam ser ouvidas. Sacode a cabeça, sua sanidade desaparecendo a cada voz que ouvia.

Estava ficando louco, tudo que via era apenas uma alucinação.

— Lass, você precisa se acalmar! – Ouve as chamas gritarem. – Está perdendo o controle!

Desencosta da árvore, andando aleatoriamente com apenas seus pés para se localizar. Achava que se afastasse de onde estava seria o suficiente para escapar das vozes, porém elas o seguiam. Não aguentava mais toda aquela pressão, agacha no chão, abraçando as próprias pernas.

Queria que tudo aquilo acabasse.

O tempo parece se distorce, lento como se não houvesse fim para todo o tormento. Sem muita escolha, abre os olhos. Como as chamas tinham falado, estava perdendo o controle. Circulando seu corpo agachado, as chamas azuis formavam uma barreira. Não sentia usa-las, seu medo era tanto que estava anestesiado de qualquer dor ou poder que usasse.

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— Volte para nós, caro Lass. – As vozes voltam.

O ninja abaixa a cabeça, as mãos sobre ela, como se fosse uma proteção. As chamas à sua volta se mexem, tremendo, o que faziam ficarem altas e baixas. Nenhuma parte era queimada, mas poderia ferir qualquer pessoa que ousasse tocar em Lass naquele estado.

Coloca as mãos sobre as orelhas e começa a sussurrar para si que tudo aquilo era apenas uma alucinação. Logo pararia, era o que tanto esperava.

***

Os nervos de Elesis tremiam quando já se esgotavam, principalmente na região da perna. Ficar de pé estava sendo trabalhoso, e muito doloroso. A excalibur pesava quando erguida, piorando a situação que passava. Tinha se passado minutos, vários, desde que continuou a lutar com Arthur.

Do outro lado, o rapaz não parecia tão ferido quanto ela. Tinha alguns hematomas dos ataques, que eram poucos, acertados pela a ruiva. O escudo continuava intacto, como sua expressão séria. Não era nem preciso o olhar para saber que não tinha arrependimento no que fazia.

Elesis olha para o céu, distraindo sua mente confusa por um momento. As nuvens tinham se tonado mais cinzas que antes, o frio aumentando junto com elas. A espadachim esperava ver um raio de sol para esquenta-la, mas nem ao menos isso conseguiu.

Solta um suspiro. Gira a ponta da espada para baixo, enfiando no chão. Enquanto se afasta da arma, arregaça as mangas do casaco de Arthur. Tinha esquecido que ainda estava com o agasalho do rapaz.

— Vamos fazer como antigamente. – Dizia Elesis. – Não vale muita a pena usar a espada, já que você não pode usar uma também.

— Com espada ou não, não vejo diferença. – Responde, preparado para um ataque surpresa da ruiva. – Não se preocupe com isso.

Ergue uma sobrancelha quando ouve uma rápida risada em resposta. Elesis não desmancha o sorriso que fica, parecia nem se importar com a situação que passava.

— Não tem mesmo diferença. – Fala ela, ainda sorrindo. – Porque com espada ou não, eu sempre ganhei de você, Arthur.

Antes mesmo de terminar a frase, seus cabelos escurecem e as chamas roxas são disparadas com os punhos. O rapaz desvia, usando o escudo na frente para revidar. Ao abaixa-lo, a espadachim já estava na sua frente, rápida pelo o berserk. Recua quando os socos são desferidos, as chamas cobrindo eles. Elesis tomava mais cuidado com o escudo, assim se movimentando rapidamente para não dar tempo ao rapaz.

Sem temer as consequências, junta as chamas no punho e soca o chão entre eles. Arthur coloca o escudo na frente, mas seu corpo sendo arremessado pelo o impacto. Ao ficar firme no chão, abaixa o escudo, notando algumas partes de sua pele com manchas, as quais queimavam. Olha para Elesis e ver a mesma nesse estado, com manchas. O diferencial era a recuperação que a ruiva tinha em relação àquilo, que sumia em segundos.

— Seu próprio poder ainda te matará, Elesis. – Fala Arthur, notando o estado exausto da espadachim. – Não teme o que pode acontecer com você?

Quando retoma o fôlego, ajeita a postura. As chamas roxas voltam a aparecer sobre suas palmas, fechando-as quando dá um passo à frente. De longe, arremessa as chamas contra o rapaz, ignorando seu aviso.

Como era de se esperar, são rebatidas pelo o escudo e voltam contra ela. Tinha tempo para se esquivas, mas Elesis permanece no lugar, esticando as mãos. As chamas são pegas em suas palmas, então arremessadas com mais intensidade contra o loiro. Em algum momento, alguém cederia aos ataques.

— Eu não me importo com as consequências! – Grita em resposta. – Tudo que eu tenho para perder, já perdi!

As chamas volta, Elesis desmanchando seus cabelos pretos para o loiro. As chamas douradas surgem de repente, a espadachim avançando contra as roxas. Como antes, a pega com a mão, absorvendo o poder, porém o misturando com as douradas. As chamas ficam mais escuras, logo disparadas em um soco contra Arthur. O rapaz percebe o impacto do ataque, escondendo seu corpo atrás do escudo.

Ele não aguenta, seu corpo desliza para trás, mas é jogado com violência. Rola no chão, a dor atingindo todo seu corpo em forma de queimadura. Ao parar, levanta rapidamente com o escudo na frente.

É lento demais. Elesis já descia a lâmina da espada contra ele, seu berserk ativo com seu olhar de raiva. O escudo é acertado, no entanto, o som de algo de rachando o alerta. Antes que pudesse recuar, o escudo é partido no meio, a espada atravessando com brutalidade. Os vidros partidos voam, os dois pedaços do escudo caiem para cada lado.

Por fim, é atingido por um soco no rosto, o jogando para longe com a força do berserk. Elesis bufa após o ataque, finalmente tendo usado as chamas da forma que tanto queria. Tinha perdido uma boa parte de energia, estava mais cansada. Agora sabia qual era uma das consequências em usar duas chamas ao mesmo tempo.

— É engraçado. – Menciona Arthur. Larga no chão o pedaço do escudo que segurava, não se importando mais com o objeto. – Você odeia Gerard, o jeito que ele luta e tudo mais. Mas... Mas está agindo exatamente como ele.

— Agindo como ele?

— Gerard é o típico cara que sacrifica o que for preciso para conseguir o que quer. – Dizia enquanto passava a mão no local atingido pelo o soco. – Ele sempre foi assim, não importa se faria mal, iria continuar. Dois persistentes.

Elesis avança. Arthur pega outra faca e se defende a tempo, conseguindo acompanhar os ataques da espadachim. Ela estava agindo por impulso, era mais fácil prever seus movimentos assim.

— Não me compare a ele! – Grita irritada, o ataque mais forte por isso.

A faca voa da mão do rapaz, sendo obrigado a se esquivar no próximo ataque. Elesis continua a avançar, sem dar chance para o mesmo fugir, querendo o acertar de toda forma. Arthur dá um salto para trás, tirando a mão do bolso com um pequeno vidro de poção. Joga no pé de Elesis, um vento gelado saindo antes de congela-la no chão.

— Você não enxerga isso, mas todos, sim! – Rebate Arthur, distante de qualquer ataque dela.

— Calado! Já disse para não me comparar ao Gerard! Ele é cruel, você sabe disso!

— Gerard é uma boa pessoa, sempre foi!

Elesis grita, seu berserk sendo ativado sem que se esforçasse. O gelo se parte em sua perna, arrancando-a à força. Ao atingir o pé no chão, a dor domina ambos os membros, impedindo a ruiva de avançar contra Arthur. No entanto, sua raiva era maior que tudo, portanto, as dores foram ignoradas quando correu até o rapaz. Usou a espada sem magia, o que fez seus ataques parecem fúteis, fracos.

Arthur se esquiva de todos, sendo cuidadoso mesmo com a ruiva fraca. Espera o último ataque, assim revidando com um chute na perna da espadachim, o local que mais a afetava. Elesis rosna, quase caindo para o lado. O rapaz acerta outro golpe, então a pegando pelo o braço e arremessando contra o chão. Durante isso, desarma a ruiva, pegando a excalibur para si.

Afastou-se enquanto a viu se levantar, temendo por outro ataque, embora sem uma arma.

— Eu não consigo entender. – Fala Elesis. Fica de pé, sua cabeça ainda girando ao ter sido jogada no chão. – Por que ainda tenta me convencer? Sabe que não adiantará.

Arthur não responde, olha de lado por um momento.

— Diz que se importa comigo, que... – Continuava a ruiva. Solta um suspiro, sussurrando: - Me ama, mas não demonstra isso. Estar tão cego por Gerard que não enxerga o que faz.

— Eu me importo com você de verdade, Elesis. – Fecha os punhos, demorando a continuar. – Mas não posso continuar cego por um sentimento, tenho que agir pelo o que eu acho certo.

— E o certo seria me matar para ficar ao lado de Gerard? – Nega pela a própria pergunta. Era difícil acreditar, tudo que acontecia era um pesadelo. – Acha mesmo isso certo?

— O que seria certo para você, então? Você acha certo matar Gerard pelo o que ele fez, mas não entende o real motivo por ter feito isso. – Ergue o queixo, ignorante. – Sua falta de conhecimento a torna cega do verdadeiro “certo”, julgando simplesmente pelo o que entende mais facilmente. Você é a tola, Elesis.

A espadachim olha ofendida, a expressão se fechando em raiva. Seus cabelos escurecem com as chamas roxas a contornando, rodeando o chão onde estava. Arthur não se intimida, segurou firme a excalibur para que Elesis não a tivesse novamente.

— Meu próximo encontro com Gerard o tornará em um homem morto, com ou sem você lá. – Dizia, a voz carregada pela a ira.

— Morto? – Arthur solta uma risada rápida.

Solta um estalo com a língua e avança contra o rapaz. Por mais que estivesse sendo controlada pela a emoção, tinha noção do poder das chamas roxas. Via que a pele do loiro já possuía algumas manchas, que aumentariam e, se não fossem curadas, o matariam.

As chamas somem quando a dor nas pernas a impedem de continuar. Seus passos diminuem, Arthur notando isso e sendo sua vez de atacar. Sem ter o costume, levanta a excalibur com dificuldade, seu ataque sendo lento até demais. Esse atraso foi o suficiente para Elesis se recuperar e contra-atacar. Ativa o berserk e acerta com um soco na mão do rapaz, arrancando a espada com tremenda facilidade.

A espadachim continuaria os ataques, obrigando Arthur a pegar outra faca para se defender. Atingi com um corte no braço da mesma, recuando em seguida. Elesis para pela a dor, então continua a avançar. Não deixaria o rapaz se distanciar, precisava derruba-lo o mais rápido possível, suas energias não durariam muito; suas pernas piorariam.

Corre com determinação, decidida em ataca-lo com as chamas. Continua a avançar quando o agarra pela a cintura, erguendo seu corpo e arremessando contra o chão. Fica por cima do rapaz, impedindo que se levantasse. Antes que pudesse atingi-lo com os punhos, Arthur enfia a faca em seu ombro. Grita com a lâmina dentro de sua carne, mas isso não a tirou de cima dele, em raiva, o segura pelo pescoço com ambas as mãos.

— Já chega, Arthur! – Fala para o rapaz que se debatia. – Não tem para onde fugir!

As chamas queimam a pele do pescoço do mesmo, as manchas crescendo no local. Ainda se debatendo, acerta um soco na face da espadachim. É solto por uma mão, agarrando a jovem pela a camisa e tentando a tirar de cima.

— Não acabou! – Berra, furioso. – Não deixarei chegar perto de Gerard! Não pode mata-lo!

— Pare com isso! Por que tanto nega a morte de Gerard?!

Consegue se soltar, agarrando a espadachim e a puxando com violência. Acerta com sua cabeça contra a de Elesis, jogando a garota para trás pelo o golpe.

— Porque Gerard já está morrendo! – Grita quando a ataca.

Atingi o chão pela a cabeçada, sua testa doendo intensamente. Apoia a mão no local atingido, logo ouvindo ao rapaz. Arregala os olhos, confusa ao olha-lo. Arthur estava ferido, não fisicamente, mas emocionalmente. O loiro parecia se desmanchar após dizer aquilo.

— Como?

— Gerard está morrendo, ele não durará muito tempo. Não entende a dor que ele passa, e tudo por você! – Joga a mão de lado em indignação. – Não precisa mata-lo, porque você já fez isso, Elesis!

Não tinha sentido Arthur inventar aquilo, pouco importaria para ela. Só não entende por que isso a afeta tanto. O loiro se aproxima e arranca a faca de seu ombro, a dor não sendo sentida por ainda estar pensando no que ouviu. Talvez não acreditasse, achasse que fosse uma mentira do rapaz para atingi-la de alguma forma.

— Ele não está morrendo. – Sussurra, então falando alto. – Se ele estivesse morrendo, não seria tão forte assim! Gerard não está...

Lembra da luta que teve contra o ruivo, que ele parecia tão forte e saudável. Se estivesse mesmo morrendo, não teria sido capaz de lutar daquela forma. Era isso que tanto a perturbava, o fato de mesmo doente, Gerard era imparável.

Arthur rola pelo o chão ao ser atingido pelas as chamas vermelhas. Sente mais dor, não bastando as queimaduras das manchas em seu pescoço e braços. Começava a se sentir fraco por elas, sabendo que as chamas roxas causavam isso, a morte lenta da vítima.

— Está inventando isso. – Murmurava Elesis, ficando de pé. Pela a expressão da ruiva, ela parecia atormentada pela a notícia. As chamas não conseguiam ser controladas, a raiva que crescia em seu peito não permitia.

Arthur não consegue se esquivar de todos os ataques quando a espadachim avança. Socos e chutes, qualquer coisa ela tentava para atingi-lo. Seus olhos se enchiam em lágrimas, não de tristezas, mas de frustação. Saber que Gerard poderia morrer e não fosse por suas mãos a deixava atormentada. Não aceitava isso.

O rapaz tira o último vidro de poção que resta do bolso, largando na frente da ruiva. Sem evitar, Elesis soca o vidro, uma cortina de fumaça escura invadindo sua visão. Fica difícil respirar, tossindo enquanto tentava localizar Arthur. Não o acha, tendo que correr para fora da fumaça.

Respira fundo ao escapar, porém sendo atingida por um chute na costela. Elesis engole o grito de dor e revida no mesmo instante. Chuta na mesma direção, acertando com violência. Só não esperava ser pega pelo calcanhar por Arthur, que ergue a lâmina para baixo.

Elesis berra até sua garganta doer. A faca entra na sua coxa, logo sendo retirada e enfiada outra vez. Arthur desfere repetidas vezes, até atingir no joelho e torce a lâmina. A ruiva não aguenta, grita outra vez e deixa as chamas defende-la.

O corpo do rapaz é arremessado pelas as chamas douradas, largando a perna da espadachim. Ao ser solta, Elesis cai para trás, a dor ainda a dominando. Encolhida, segurava a perna ferida, as mãos se sujando de sangue cada vez que as colocava sobre os cortes. Não sabia o que fazer, sua cabeça estava ocupada pelo o desespero.

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Gemia com as lágrimas escorrendo. A dor tinha se tornado insuportável quando tentou levantar. Não conseguiria se mover, não com aquele machucado. Sentia-se desprotegida estando sozinha, sem ninguém para defende-la. Arthur logo levantaria e a atacaria, e não poderia fugir disso.

Do outro lado, o rapaz ainda estava caído no chão, olhando para o céu. Seu corpo não se mexia, as manchas estavam aumentando, a queimação também. Sabia que se alcançasse o coração, seria seu fim. Mas diferente da espadachim que não parava de gritar, Arthur não demonstrava desespero. O rapaz já tinha aceitado seu destino há muito tempo.

Elesis se vira de lado, tentando achar alguma forma de ficar de pé. Não poderia ter acabado ali, precisava continuar a lutar. Mas a dor piora com cada movimento, por menor que seja.

— Jin... – Murmura o nome do lutador. Lembra que ele estava distante, ferido e sem ajuda. Queria ajuda-lo, não podia deixar o ruivo para trás.

Talvez já estivesse morto, não faria diferença pensar nele. A espadachim se desespera mais ao pensar assim.

— Dói tanto... Faz parar... – Sussurrava com a voz trêmula. Soluça, sentindo-se uma criança por não conseguir ficar de pé. Ainda tinha o desejo tolo de enfrentar Gerard, sendo que nem aguentava Arthur. – Lass!

De repente, grita pelo o nome do ninja. Lembra que tinha o deixado para trás, porém não o viu desde então. Arthur tinha acertado um tipo de poção nele, talvez isso tenho o afetado para não ter chegado ainda. Ou ele podia estar como Jin, morrendo. Esse tipo de pensamento não ajudava, piorava seu estado.

Seu desejo egoísta a consumia, fazia o sentimento de solidão ser verdadeiro para a ruiva. O orgulho que tanto tinha, havia sumido, agora era nada além de uma covardia. Elesis podia até parar o choro, mas não o medo que sentia.

No entanto, a dor maior era a de traição. Arthur era seu amigo, ela não conseguia o ver como um inimigo; mesmo que ele a quisesse morta.

***

A qualquer momento, sentia que iria cair sobre a mesa. Tinha ficado o dia todo fazendo seu trabalho e ainda não tinha terminado. Não teria problema em continuar, se não fosse por sua companhia.

— Com vontade de sair. – Menciona Gerard, sentado em uma cadeira próxima. – Uma bebida seria muito boa.

Arthur para o trabalho e respira fundo. Não tinha como mais ignorar o ruivo.

— Já disse que não pode sair, Gerard. – Fala o loiro, o olhar sobre o papel na mesa. – Qualquer um te reconheceria do lado de fora.

— Mas não tem nada para fazer. – Balança o corpo de um lado para outro, como uma criança. – Você podia, ao menos, conversar comigo. Vai, fala algo interessante.

— Não há nada de interessante para te contar. – Fala emburrado, sua concentração sumindo com a conversa.

Gerard se cala por um tempo, mas não aguentando por muito tempo. Volta a falar, fazendo os olhos de Arthur revirarem. Já estava perdendo a paciência.

— Você poderia sair, sabe. Já pensou em curti um pouco, ir em uma festa. – Dizia o ruivo. Deu uma leve cutucada com o cotovelo no loiro. – Conhecer algumas garotas.

— Não vou sair, nem para conhecer garotas. Estou muito ocupado com o pedido de um cliente, não tenho tempo para se divertir. – Continua a desenhar o projeto de uma espada que entregaria ao cliente.

— Você é muito chato, Arthur. Qual é! Você já deve ter tido algum interesse em alguma garota. – Abre um olhar malicioso. – Me conte.

O rapaz continua seu trabalho, porém não durando muito tempo. Gerard cutucava sua cadeira com a ponta do pé, interrompendo o mesmo. Olha nervoso para o ruivo, suspirando.

— Já disse que não tenho tempo para isso. – É sincero. – Então nunca parei para reparar em alguém especial. Satisfeito?

— Não. – Aproxima o rosto, mais curioso. – Me diga, qualquer paixão boba.

Era mesmo complicado de conversar com Gerard, principalmente quando ficava entediado. Abaixa o olhar para o desenho, escondendo sua expressão nervosa.

— Gosto da Elesis.

— Hã? – O ruivo olha confuso. – A mesma que conhecemos?

— É, ela mesma! – Grita contra a face do rapaz, envergonhado. – Nunca tive outra pessoa além da Elesis como amigo. Então... eu gosto dela.

Gerard recosta na cadeira, cruzando os braços, pensativo. Não parecia tão surpreso quanto esperava ver, ele simplesmente o olhava.

— Aposto que nunca deva ter contado para ela, não é? – Pergunta. – Do jeito que você é covarde...

— Não poderia fazer muita coisa! – Seu olhar demonstrava dor. – Elesis sempre gostou daquele príncipe, nunca olhou para mim da mesma forma. Sou apenas um amigo para ela, nada além disso.

Preferia que o silêncio fosse a resposta de Gerard, mas o rapaz ri. Arthur olha ofendido, não se sentindo no humor para aturar os deboches do ruivo.

— Sei exatamente como é isso. – Responde após parar de rir. O loiro olha confuso. – Já gostei de alguém que não me via da mesma forma. No final de tudo, não tomei coragem para dizer a ela o que eu sentia de verdade.

— E... ?

— E? – Seu sorriso de desmancha, até sobrar nada além de um olhar vazio. – Eu me arrependi. Então, um conselho, não faça a mesma coisa. Ser rejeitado é melhor que ter a dúvida eterna.

Após ter dito aquilo, Gerard não falou mais nada, ficou quieto sem fazer piadas. Arthur volta ao seu trabalho, mas olhando de relance para o ruivo. Era difícil ver o ruivo afetado daquela forma. O que tinha dito era verdade, infelizmente. Agora tudo que conseguia enxergar nele era o arrependimento que tanto o atormentava.

***

Não aguentava as vozes, queria morrer para não as ouvir mais. Lass já estava com o rosto colado ao chão, quase afundando nele. Sua cabeça doía, parecendo explodir a qualquer momento. Não ligava mais se fosse ferir alguém ao seu lado, usou as chamas em si para acabar com aquilo.

Sente sua pele esquentar com o poder, o chão sob seus pés derreterem. Seu sangue começa a ferver, sendo um processo doloroso, que o fazia gritar por isso. O tempo não passava, o veneno que queimava com as chamas parecia nunca acabar. As vozes se distorcem, afetando o ninja de todo jeito. O tempo todo, esteve com as orelhas cobertas, não ousou se permitir a ouvir àquelas vozes.

Então tudo fica em completo silêncio. Tremendo, olha para os lados. As vozes sumiram, tudo que restou foi a dor das chamas ainda esquentando seu sangue. Tinha conseguido tirar o veneno de seu corpo, mas em troca, estava exausto.

O grito que ouve é distante, o alertando. Precisava de mais um tempo para se recuperar, mas ignorou seus instintos. Levanta com ajuda da katana e corre lentamente na direção do grito. Sabia de quem era, por isso de sua preocupação crescer rapidamente.

***

Não sabe quanto tempo ainda restava para ele, mas tinha noção que não era muito. As manchas se mexiam sobre sua pele, aumentavam com cada respirada que dava. Arthur já não aguentava mais aquilo, sentia seu corpo entrar em colapso por isso. Poderia fazer uma poção e se curar da maldição, se houvesse tempo sobrando.

Tudo dói quando se mexe para levantar. Primeiro, virou de lado e com a ajuda dos braços, levantou. Ao conseguir, sua cabeça gira, movendo-se sem perceber. Após um tempo, já tinha se acostumado, olhando em direção a ruiva caída no chão.

Elesis tinha parado de gritar, porém a dor em sua perna continuava a persistir. Qualquer movimento e ela se manifestaria. Suas lágrimas tinham secado, suas bochechas manchadas por elas. Seus olhos se movem ao ouvir passos. Faz um esforço e olha para Arthur, vendo o loiro ficar de pé. Seu coração acelera, o medo volta a domina-la.

Precisava levantar. Ignora a dor ao se mover, desesperada para escapar do rapaz. Nota que o mesmo não estava bem, tinha levantado, mas não se movia, olhava para baixo. Era sua chance, tinha que aproveitar aqueles poucos segundos e se mover.

Enxerga a excalibur distante de onde estava, teria que correr até ela. Conta mentalmente, respirando fundo antes de ativa o berserk e levantar. As dores somem por um momento, mas voltariam em breve. Seu corpo pesava enquanto corria, levando mais tempo que precisava para alcançar a arma.

Quase volta ao chão ao pegar a espada. Sente o peso da lâmina por seu ombro ferido, não ajudando muito ao erguer a lâmina. Não aguentava se ver daquele jeito, tão fraca por ataques bobos que deixaram ser feitos. Era uma tola.

Leva um susto quando um corte fino se abre no seu braço. A faca arremessada causa o ferimento, vindo de Arthur. O rapaz tinha despertado, agora correndo com outra faca em mão para investir em Elesis. A ruiva estremece no lugar, sem saber o que fazer em seguida.

— Isso é injusto, Elesis! Você sempre é mais forte. – Lembra de Arthur falar isso. – Deixe-me vencer uma vez!

— Hunf, perdedor sempre será um perdedor. – Disse ela com o nariz empinado. – Você é fraco, Arthur!

— Eu não presto mesmo para isso. – Falou com um tom tristonho. – Não presto para nada!

— Não diga isso. – Tenta o animar. – Você fez a minha espada, e eu gosto muito de usa-la. Você sabe fazer coisas certas, sim.

— Então, um dia em que lutarmos novamente, partirei com toda força para cima de você. – Falou determinado.

Por que lembra dessas conversas nesse justo momento? Tira esses pensamentos e decidi revidar o ataque. Arthur se defenderia com a faca, então precisaria de um ataque mais forte para parar o rapaz. Portanto, firmou os pés no chão e ergueu a lâmina da espada.

Só mais alguns passos e revidaria.

— Elesis, eu gosto muito de você!

Aperta com firmeza o cabo da espada. Só mais um pouco.

— Eu sei, Arthur. Todo mundo gosta de mim! – Tinha dito, convencida.

Seus pés se movem rapidamente. A lâmina da espada gera um brilho ao se mover, avançando contra o rapaz.

— Não, não assim! Na verdade, eu...

— Te amo.

Elesis não pisca após tudo acontecer de repente. Arthur estava parado à sua frente, olhando para ela com completa serenidade. Antes disso, seus movimentos foram rápidos até para ela, conseguindo nem ter acompanhado.

— Eu te amo. – Repete Arthur. Ele força um sorriso, porém o sangue escorrendo no canto de seus lábios.

Então percebe o que tinha feito. Ele tinha avançado, ela também. Ele avançou com a faca, ela com a espada. As lâminas se chocariam, um deles iria recuar; mas nada disso aconteceu.

Elesis rebateu com toda força o ataque de Arthur. A faca voou da mão do rapaz, mas não tinha notado isso, nem quando continuou a avançar contra ele. A lâmina da espada atravessou o peito do mesmo, permanecendo até a ruiva tomar consciência de tudo.

Seus olhos se arregalam. Não era isso que planejava, era apenas para ter segurado o ataque do loiro. Achou que ele teria força para ataca-la, mas tinha se enganado. Tinha esquecido por um momento que era Arthur com quem lutava, o mesmo garoto fraco que sempre perdia para ela.

Estava tudo errado.

— Eu te amo como amiga, parceira, irmã... – Continua a falar. Elesis o olha, incrédula. – De todos os jeitos. Talvez agora, Gerard não pegue tanto no meu pé.

A realidade acerta como um tiro na ruiva. Ela puxa a lâmina, o sangue jorrando com a ferida aberta, então joga a espada de lado. Arthur cai para trás antes mesmo de ela poder segurá-lo. O chão se torna frio, cruel, quando sentia as dores dominarem seu corpo.

— Arthur! – Ouve Elesis gritar.

Quando o berserk acaba, a espadachim cai de joelhos ao lado do rapaz. Por aquele momento, somente aquele, ela não é egoísta e ignora o que sentia. Põe as mãos sobre o peito de Arthur, uma forma inútil de impedir o sangramento. Quando nota, suas palmas estavam cobertas por sangue, mas pouco importando.

— Arthur, eu vou te salvar! Fique comigo, ok?! – Dizia Elesis, nervosa. Não sabia o que fazer, não tinha poção ou curativos para salva-lo. – Só me dê um tempo para pensar.

Não tinha tempo. Mesmo que impedisse o sangramento, o rapaz ainda tinha as manchas das chamas cobrindo sua pele. Ele morreria de toda forma.

— Tudo... bem. – Gagueja o loiro. Move sua mão trêmula para o bolso da calça, tirando algo com dificuldade. – Não fique... assim.

— Não está bem! – Grita, furiosa consigo mesma. – Você é meu amigo, Arthur! Eu vou te salvar.

O papel sobrado que segurava é esticado para a ruiva. Elesis olha, então nega. Ainda tentava impedir o sangramento, tentava, apenas isso.

— Gerard é boa pessoa. – Fala Arthur, seus olhos quase se fechando. – Aqui... pegue.

— Não. – Nega com a cabeça.

— Tudo que queira saber... está aqui. – Sua mão começava a tremer pela a fraqueza. Só a baixaria quando o papel fosse pego. – Pegue, por favor.

Não adiantaria, Elesis percebe. Suas mãos estavam completamente vermelhas, seu olhar já baixo. Não tinha se conformado, continuava a acreditar que tudo daria certo. Porém, as esperanças não eram mais sentidas.

Olha para Arthur, logo para o papel. Engole as próprias mágoas e segura a ponta do papel, aceitando-o.

— A partir de agora, você está sozinha, Elesis. – Dizia com a voz rouca. Continuou: - Então, tente não quebrar mais as lâminas das espadas, porque... não estarei mais aqui para... conserta-las.

A mão solta o papel, caindo sobre seu peito. Elesis continua a olhar para seu rosto, os olhos para o céu nublado. Ela espera, espera, espera...

Arthur não fala mais. Seu peito para de se mover, seu pulso nem mais sinal há. Elesis aperta os lábios, ainda querendo acreditar que era um pesadelo. Infelizmente, as dores de seus machucados a despertam da pior forma possível. Seus ombros tremem, como tudo. Abaixa o rosto para evitar, mas não consegue.

As lágrimas caem sobre o corpo morto de seu amigo. Não pisca, olhava fixamente para as próprias mãos manchadas por sangue. Só quando a brisa gelada passa por ela, que seu mundo se desmorona. Fecha os punhos, evitando ser fraca, agir fragilmente.

Elesis chora como uma criança. Seus soluços são altos, qualquer um podendo ouvir de longe. Ela segura o corpo de Arthur pela a camisa, sacudindo para desperta-lo.

— Arthur, por favor! Fale comigo. Vamos! – Gritava, afogando-se nas próprias lágrimas.

Então essa era a dor de matar alguém com as próprias mãos. Estava em choque quando percebe que tirou a vida de alguém, principalmente de um amigo querido. A ruiva não aguentava toda essa pressão. As feridas nas pernas e ombro doíam, tudo doía. Queria que alguém fizesse parar.

— Elesis.

Seus soluços diminuem quando olha para o lado. Não reage ao ver Lass, o rapaz com aquela expressão de preocupação quando a ver. Seu estado era tão ruim assim? Não importava. Cala seu próprio choro ao pôr a mão na boca, evitando os soluços. Não queria chorar na frente do ninja, precisava se recompor.

— Estou bem. – Força a voz firme.

Evita olhar para o corpo de Arthur, senão, voltaria a desmoronar.

— O que aconteceu? – Pergunta Lass. Já entendia o que tinha acontecido, mas como, era o que queria saber. – Você não está bem, está ferida!

— Estou bem! – Grita. – Isso são apenas machucados, nada demais. Agora...

Acha um motivo para sair dali. Vira-se de lado, procurando a excalibur. Guarda o papel que tinha pego no bolso, sem interesse em saber o que tinha ali. Tudo que queria era ficar longe de tudo aquilo, apenas para tomar um pouco de ar.

Lass não se move quando a ver tentar levantar. A culpa o consumia por ter deixado a espadachim sozinha lutando. Foi fraco em ter sido atingido pela a poção de Arthur. Agora que menciona o rapaz, olha para ele. Não precisava chegar mais perto para saber o estado dele. Entendia o porquê de Elesis estar tão abalada, segurando o choro.

Ela tinha experimentado pela primeira vez o gosto de matar alguém. Era cruel, Lass sabia.

Elesis levanta, mancando o bastante para voltar ao chão. As dores na perna pioram, a ruiva não conseguindo mais andar. Quando já se preparava para o impacto no chão, é erguida. Lass chega por trás e a pega no colo, não aguentando mais ver a espadachim se torturando assim. Achou que ela se debateria, mas não, a ruiva estava cansada demais para isso.

— Vamos ver o Jin. – Fala Lass. Como ela, também estava cansado.

Elesis concorda. Tinha que ver Jin ainda, ele quem mais precisava de sua ajuda no momento. Deixaria Lass leva-la até ele, então poderia descansar. Enquanto isso, apoia a cabeça contra o peito do ninja. Queria evitar de olhar mais uma vez para o corpo de Arthur.

Fechou os olhos durante todo o caminho. Lass não correu, pois acabaria agitando o corpo ferido da espadachim, então evitava isso. Estavam um pouco distantes de onde estavam no começo, mas não levou muito tempo até chegar lá.

Sente Lass parar de andar de repente. O olha, vendo o rosto tenso dele. Vira o rosto para a mesma direção que ele olhava. Entende o motivo do ninja ficar assim de repente. A ruiva se agita em seus braços e consegue ser solta. Felizmente, estava perto, dando poucos passos até cair ajoelhada ao lado do corpo de Jin.

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— Jin! Jin! – Chamava o ruivo. Nenhuma resposta.

Apoia sua cabeça sobre o peito do rapaz, tentando ouvir algum batimento. Estava difícil, não ouvia nada. Seu corpo começa a estremecer novamente, não aguentando a ideia de perda outra vez.

— Ele está bem? – Pergunta Lass, sem conseguir se mover do lugar.

Leva mais alguns minutos até Elesis concluir. Ergue a cabeça e nega, tocando no corpo do lutador. Ainda sem resposta, por mais que soubesse o resultado. Negava para si, não queria passar por aquilo novamente.

Olha para Lass, o rapaz tenso no lugar.

— Use as chamas! – Pede desesperada. – Rápido, isso pode o trazer de volta!

— Trazer de volta? Então... – Para de falar por um momento. Nega também. – Não dá. Não posso usar as chamas nele.

— Por que não?! Não temos nada a perder em tentar!

— Você não entende. – Não adiantava mais. – Elesis, as chamas não funcionam para isso!

— Eu não me importo! – Berra, furiosa. – Traga o Jin de volta! Traga... ele... – Os soluços voltam. Não aguentava mais, estava destruída por dentro. Aponta para o corpo do ruivo, a mão trêmula. – Por favor.

Lass fecha os punhos. Era difícil olhar Elesis cair daquele jeito, totalmente quebrada. Além disso, Jin estava caído no chão... E continuaria ali para sempre. As chamas não funcionariam nele, seu corpo não reagiria como queria. Era inútil.

A ruiva derrama algumas lágrimas, tentando segurar ao máximo o choro. Lass tenta se aproximar, mas para. Quem seria ele para conforta-la? Tinha sido inútil a todo momento, e agora tudo que poderia fazer era consola-la. Que patético.

— Jin, por favor. – Pedia Elesis. Apoia as mãos sobre o peito do lutador, tentando fechar o corte. – Volta! Por favor, volta!

Seu corpo ainda estava quente, isso é, devia ter morrido alguns minutos atrás. Se tivesse chegado um pouco mais cedo...

Para de se lamentar e olha firme para Jin. Elesis não era uma maga, mas acreditava que umas das chamas poderiam curar. Não desistiria, continuaria ali o tempo que precisasse.

— Elesis. – Diz Lass. Doía ver o esforço em vão da ruiva. – Não adianta.

— As Deusas trarão ele de volta! Jin vai voltar. Eu acredito nisso.

— Não vai...

— Vai, sim! Jin não merece isso, nunca mereceu! – Soluça. – Ele é uma boa pessoa, merece viver.

Era como uma criança, Lass via. Elesis estava presa em um estado mental de rejeição, nada a tiraria daquilo. Logo começaria a chover e a ruiva continuaria ali, acreditando nos poderes que não tinha.

A ruiva permaneceu com as mãos manchadas de sangue sobre o peito de Jin. Implorava mentalmente para a volta do ruivo. Faria qualquer coisa por ele, trocaria sua vida, se possível. Tentava as chamas vermelhas; nada. As douradas; nada. As roxas nem foram precisas, pois o efeito seria oposto.

Começava a esfriar quando as mãos quentes de Lass se colocaram sobre as suas. Olha para o ninja, o mesmo determinado como ela. Não se importava se aquilo não adiantaria, queria ao menos estar ao lado da ruiva para isso.

— Você não pode me deixar assim, Jin. – Menciona Lass. – Ainda temos muito pra conversar.

Elesis fecha os olhos, firme nas pressas. Deixava bem claro que faria qualquer coisa por seu amigo, sacrificaria o que pedissem. Sente as chamas a contornarem, aquecendo do frio. Não poderia deixar Jin assim, não depois de tudo que passaram. Já bastava Arthur, agora ele. Não conseguiria ver um caminho após tudo isso.

Uma dor abre em seu peito, seu corpo aquecendo mais. Quando mais se focava no calor, maior a dor ficava. Sentia suas energias sumirem com isso, começava a ficar fraca.

— Elesis. – Lass chama.

A ruiva abre os olhos, não sabendo reagir ao ver seu corpo coberto por chamas. Não vermelhas, douradas, roxas e muito menos azuis; brancas. A cor era nova para ela, o mesmo para Lass. Demoram até perceber o verdadeiro significado daquelas chamas.

— A chama da cura. – Diz Elesis, surpresa. Olha para a ferida de Jin e a ver diminuir. Percebe algo quando a dor a atingi novamente. – Não é da cura.

— Se não é da cura, então é do quê?

Aumenta a intensidade das chamas, a dor aumentando junto.

— É como uma absorção de feridas. Eu troco minha saúde pelos os machucados de Jin. – Percebe a verdadeira função das chamas. Como tinha dito, sacrificaria o que fosse preciso. – Então isso quer dizer...

Lass ver a intenção de Elesis quando fica séria. As chamas brancas crescem, e a expressão de dor da espadachim junto. Não poderia deixar ela fazer aquilo, era loucura.

— Elesis, pare! Você vai acaba morrendo assim! – Implora Lass.

— Eu não me importo. – Arrasta a voz. – Se alguém precisa sair vivo daqui, este alguém não sou eu.

Não tinha como para-la, também queria Jin vivo. Era um risco a se cometer, que poderia custar a vida de sua amada. Olha preocupado para ela, sua expressão séria pela a dor que sentia. Não tinha nada que podia fazer além de olhar.

Elesis continuou, sentindo uma cicatriz se forma no peito de Jin, logo sumir. Enquanto isso, a ruiva tinha o próprio peito em dor, mas apenas isso, nada de cicatrizes como pensava. Seus olhos começam a pesar, exausta para continuar aquilo. Quase desmaiaria, mas o aperto das mãos de Lass sobre as delas a mantiveram despertada.

Seus olhos brilham quando sente uma batida sob suas mãos. Um sorriso vagarosamente se forma em seu rosto quando sente o coração de Jin voltar a bater, logo a um ritmo normal. As chamas diminuem ao ver o mesmo respirar, suas pálpebras tremerem.

— Jin. – Chama Elesis.

Sente seu próprio coração parar por um momento, talvez pelas as chamas ou por estar tensa. Espera por uma resposta, com medo de não ouvir a que queria.

— Hum. – Um baixo gemido sai do ruivo.

Sua boca se abre, surpresa pela a fraca resposta que ouve. Sua visão fica embaçada novamente pelas as lágrimas, mas dessa vez diferente. Se fosse chorar, não seria de lamentação.

— Gente... – Falava Jin, a voz quase sumindo com sua respiração fraca. – Eu tive um sonho estranho.

Ao rir, as chamas somem, os ombros da ruiva descansando. A dor em seu peito para, a ligação que sentia ter com o rapaz some, felizmente. Tudo que restava é exaustão, sua visão escurecendo aos poucos.

— Tinha uma moça tão bonita lá. Ela cheirava muito bem. – Mesmo com os olhos fechados, Jin sorri. – Parecia com você, Elesis.

— Sei. – Responde a espadachim. Não deixaria o rapaz falar sozinho.

— Mas não contem a Amy que eu achei outra garota bonita. Isso não ajudaria entre nós.

Lass solta um suspiro, rindo em seguida. Mesmo naquele estado, o ruivo agia como uma criança. Acerta um leve tapa no ombro dele, o fazendo se contrair em dor.

— Claro, idiota. Só não faça isso com a gente de novo, certo?

— Não sei do que está falando, mas... – Sua garganta seca. Ergue a mão com o polegar levantado. Aquilo era um “sim’’.

Era bom tê-lo de volta. Olha para Elesis, esperando ver o alívio na face da mesma, porém não acha nada parecido. Seu tormento tinha volta, provavelmente, as dores ficado piores. Ela se move, querendo levantar. A impede ao segurar seu ombro.

— O que vai fazer? – Pergunta, preocupado.

— Arthur, eu posso salva-lo. As chamas vão cura-lo.

— Não, você não pode.

Se tentasse salvar o loiro, seu estado pioraria. Elesis não pensava assim, era seguida por seus sentimentos feridos. Tenta levantar outra vez, mas ao fazer isso, tudo escurece e seu corpo pesa.

Lass abre os braços para segurar a espadachim. Ela pesa contra seu corpo, o ninja a abraçando com cuidado para não a soltar. Fica aliviado ao sentir que a ruiva tinha apenas desmaiado, sua respiração, embora fraca, mostrava sinal de vida. Tinha exagerado quando curou Jin, as chamas brancas tinham se despertado e as usou sem pensar direito.

— Vamos pra casa. – Anuncia Lass.

***

Não sabe quanto tempo teria que ficar ali, mas tinha paciência após tudo que aconteceu. O tempo costumava passar mais rápido quando chovia, percebe. Não conseguia desviar seu olhar da chuva do lado de fora, isso o acalmava.

Abaixa o olhar quando sente Elesis se mover. A ruiva descansava sua cabeça em seu colo, ainda apagada. Lass a trouxe o caminho todo no colo, não sendo um trabalho para ele, assim podia estar próximo da mesma. Agora fazia alguns minutos desde que chegaram na estação, tinha a deitado no banco e sentado do lado. Felizmente, estavam protegidos da chuva que havia começado.

Jin volta, entregando os bilhetes do trem para Lass.

— Acho que eu deveria trocar de camisa. – Diz o ruivo. Não tinha trocado a roupa rasgada e manchada por sangue. – As pessoas acham que eu sou um assassino.

— Na verdade, você é o assassinado. – Não era mentira, apesar disso.

— É... – Murmura, voltando a tomar seu suco de caixinha que havia comprado.

Não consegue ignorar o jeito de Jin. A camisa coberta de sangue não era o que incomodava Lass, e sim outra coisa.

— Como consegue ficar tão calmo após ter morrido? – Finalmente, pergunta.

— Então eu morri mesmo. – Fala para si. Tinha recebido essa notícia, mas achava que era uma piada. – Eu não sei, estou me sentindo bem. Não lembro de muita coisa após ter caído, para ser honesto.

— Acho que sei do que está falando. – Aponta para a própria cabeça. – Daquela vez que tomei um tiro na cabeça. Mas por causa das chamas, eu tinha voltado.

Jin assente, ainda calmo após ter descoberto a verdade.

— Então, valeu por ter me trazido de volta. – Fala o ruivo, sorrindo em agradecimento. – Deve ter sido difícil usar as chamas.

— Não deveria me agradecer. – Fala com pesar. Sente o lutador o questionar com o olhar. – Eu não te salvei, não pude. As chamas azuis não podem ser usadas em qualquer pessoa, se eu tivesse usado em você, teria o matado na hora. Então... desculpa.

— Mas você não usa na Elesis?

— O corpo dela está acostumado com as chamas, é forte para recebe-las. Eu não podia arriscar em você.

Entende o que Lass queria dizer. Se tivesse usado as chamas e não dessem certo, o ninja se culparia por sua morte. Já tinha muitas culpas para carregar, não queria mais uma.

— Então quem foi que me salvou? – Pergunta assustado.

— Elesis. – Fala sem muita animação. – Ela conseguiu despertar as chamas brancas para te salvar.

— Sério? Isso é ótimo! – Fala surpreso.

— Não é! – Disse em um tom alto, evitou gritar. – As chamas brancas não funcionam do jeito que pensa. Ela troca o bem estar pela a dor do outro. As chamas brancas não curam, pelo contrário, servem para matar.

— Como assim?

Suspira.

— Quando encontramos você, Elesis não estava no melhor estado, mas ela sacrificou isso para te reviver. – Olha para a ruiva em seu colo. Toda vez que a via respirar, era um alívio para o ninja. – Elesis quase perdeu a própria vida para te reviver.

— Sério? – Sua calma some. – Se eu soubesse...

— Não fique assim. Elesis passou por muitas coisas, ver sua tristeza não a ajudaria. Apenas agradeça quando ela acordar, certo?

Era o mínimo que ele deveria fazer. Não se sentia bem sabendo disso, tinha se ferido para salvar Elesis e no final de tudo, ela quem o salvou. Mas não se abalaria por isso, faria como Lass tinha falado, abriria um largo sorriso por ela.

Quando tudo fica em completo silêncio, somente o barulho da chuva caindo sendo ouvida, Elesis volta a se mover. Lass olha atento, preparado para qualquer coisa que a ruiva tivesse. Felizmente, não foi preciso, ela apenas acordava.

— Onde... – Pergunta Elesis. Desperta e olha para os lados assustada, demorando perceber que não estava mais na floresta. Continuou alertada. – O que aconteceu?

— Você está bem, Elesis. – Diz calmo. O olhar da ruiva para no seu, a mesma procurando explicações. – Tá tudo bem, não se preocupe.

— Jin! – Grita pelo o ruivo. Ao olhar para o lado, o lutador se aproximado do banco. Elesis segura sua mão, sorrindo em senti-la quente. – Como está?

— Estou bem, Elesis. – Lembra do que Lass tinha dito, sorrindo para a espadachim. – Bem vivo, do jeito que você gosta.

Consegue tirar uma risada boba da ruiva. Via que a mesma tinha dificuldade para falar pelas as dores que sentia, mas que ignorava por causa da preocupação. Não existira alguém melhor que Elesis, pensa Jin.

Solta a mão do lutador, encolhendo seu corpo. O frio que bate contra ela é doloroso. Lembra do motivo de suas mãos estarem cobertas por sangue. Sua garganta se fecha, a sufocando. Tenta evitar a tremedeira, mas não consegue, não aguentava mais segurar tudo que sentia.

— Não chore. – Ouve Lass pedir. Quando o olha, o rapaz estava tão triste como ela. – Não foi sua culpa, sabe disso.

Apoia a mão sobre a testa da ruiva, segurando a atenção dela sobre ele. Via a espadachim se quebrar aos poucos, seus lábios feridos tremerem.

— Eu não queria... – Começa a soluçar. Por que estava tão fraca? Qualquer pensamento relacionado à luta, a derrubava. – Arthur é meu amigo. Eu não queria...

— Eu sei disso. – Sempre soube que aquele momento chegaria. Elesis mataria alguém, mas não esperava ser alguém como Arthur.

A ruiva tenta segurar as lágrimas, as mágoas que machucavam seu peito. Tinha muitas dores, mas apenas uma era insuportável. Gostaria de ter forças para levantar e voltar atrás, ainda tentar trazer seu amigo de volta. Se conseguiu com Jin, por que não com Arthur?

Mas ela não podia. Ao piscar, as lágrimas escorrem e tudo desmorona. Estica as mãos para se segurar em algo, para não afundar mais na escuridão. Não acha nenhum apoio, suas mãos ficam vazias.

Lass não a segura, debruça o corpo sobre Elesis e a abraça. Puxa o corpo da ruiva para perto, impedindo que a solidão fosse a única coisa que ela sentisse. Ele estava ali, Jin e suas amigas quando voltasse. Não havia motivos para lágrimas.

— Não foi sua culpa. – Repete Lass.

Elesis se segura na camisa do ninja, o abraçando forte. Acena enquanto engole as mágoas.

— Não foi. – Dessa vez, Lass não fala para ela, mas para ele. De todas as coisas que fez na vida e considerou errado, o que dizia agora era para isso. Como Elesis, ele precisava se perdoar.

***

A maior preocupação que tinha não era pela a chuva que o molhava ou seu ombro em dor. Nada disso. Respirava ofegante, as gotas de chuva entrando em sua boca enquanto isso. Tinha parado de correr, achava que chegaria a tempo. Mas não tinha.

Seus olhos pesavam com o cansaço, porém não se moveriam para outra direção. Continuariam fixos para baixo, sobre aquele corpo caído. Só tinha chegado até ali por ele, por causa da mana que sentia sair de seu corpo, mas que havia sumido um pouco antes de chegar.

Agora sabia o motivo.

Seus olhos ainda estavam entreabertos, direcionados ao céu. Sua expressão estava calma, não demonstrava ter medo antes de ter chegado ali.

— Gerard, olha, olha! – Ouve a voz dele. – Consegui criar uma poção! Legal, né?

Fechou seus punhos, não querendo lembrar disso. Sacode a cabeça, nervoso. Aquilo não era para ter acontecido, se tivesse chegado um pouco antes, poderia ter evitado.

Ficou ajoelhado ao lado dele. Com as mãos molhadas da chuva, fechou seus olhos que ainda mostravam esperanças. Mesmo após isso, a dor não tinha diminuído.

— Por que fez isso? – Pergunta. – Não era preciso.

Solta um suspiro que abaixa seus ombros erguidos. Apoia ambas as mãos atrás da nuca, segurando-se de alguma forma. Seus lábios tremeram pelo o frio, logo mordidos para evitar que tremesse de tristeza. Sente seu nariz escorrer, fungando.

Gerard passa a mão no rosto, tirando a água que escorria nele. Talvez fosse a chuva que molhava seus olhos e o incomodasse. Fazia tempo desde que sentiu esse sentimento; de solidão e culpa.

É, talvez fosse a chuva que derramava de seus olhos.