Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota

A garota que prefere ser traída do que trair


Lire tentava decifrar o que se passava na mente de Lass para vim até seu quarto e pedir para que entrasse. Estava sozinha, sua expressão de raiva finalmente podendo ser mostrada. O rapaz deveria estar esperando um bom tempo para encontrar a elfa sozinha para ter uma conversa.

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— O que quer? – Pergunta, sem se mover da porta.

— Falar com você. – Olha para os lados, impaciente. – Se não se importa, preciso estar no meu colégio daqui a 15 minutos, então me deixe entrar logo. É importante.

— Se for sobre...

— É sobre a Elesis! – Sem uma katana, Lass agradecia. Com uma arma em mão, atacaria Lire sem pensar duas vezes. – Então?

A elfa revira os olhos, ainda sem tomar uma decisão. Brigava consigo na mente, balançando a cabeça enquanto isso. Olha para o rapaz e assente para que ele entrasse.

— Seja rápido. – Fala, afastando-se da porta.

Com um certo alívio, Lass entra. Fechou a porta com cuidado, não querendo chamar a atenção de alguém no corredor. Ao voltar a atenção para a elfa, ela tinha voltado para a cama, onde estava coberta por livros e cadernos. Ignorou esse detalhe e falou:

— Já deve ter percebido que a Elesis e a maguinha não estão conversando. – Ela assente. – Sabe o porquê?

— Nenhuma delas falou nada para mim. Tentei perguntar, mas não tive resposta. – Olha decepcionada para baixo ao lembrar. – É um pouco frustrante isso.

— É, eu sei. É por isso que estou aqui, - Ver o olhar confuso de Lire. – para que você me ajude com a Elesis. Esse é só um dos problemas dela, então quero sua colaboração.

— Como assim? Do que você tá falando?

— Já olhou para a Elesis hoje de manhã, não é? Viu como ela está machucada, de diversas maneiras! Dói ver isso?

Era uma pergunta tola para a elfa. Ela assente, com um olhar óbvio.

— Quer a Elesis de volta? Eu posso ajudar.

Tinha conseguido prender a atenção da jovem na conversa. Tinha acertado em achar que Lire seria a pessoa para isso.

— Eu me sinto uma inútil quando olho para a Elesis e sinto que não posso fazer nada. – Menciona a elfa. Olhou pela a janela, vendo a ruiva ainda treinando. – Você, um idiota, conhece mais minha amiga do que eu mesma.

— Ah, valeu. – Sarcasmo.

Olha para o rapaz séria, determinada em fazer aquilo por sua melhor amiga, e não pelo o ninja.

— Você passa mais tempo com a Elesis, então deve saber o que aconteceu com ela para ficar assim. – Dói admitir. – Gostaria de saber.

Ao soltar um suspiro, Lass toma coragem para falar. Se Elesis descobrisse, ficaria furiosa com ele. Seria morto, talvez.

— Tudo é por causa do Gerard, eu poderia resumir assim, mas... Acho que a Elesis está cega pela a vingança. Na última missão que fizemos, um antigo amigo dela apareceu e disse que era amigo do Gerard.

— Arthur?

— Como sabe?

Seu olhar mostra tristeza, mas sua voz é firme.

— Elesis já me falou dele, é claro. E também, nesses dias, ela parecia ter um pesadelo com ele. – Toda vez que a espadachim acordava desesperada, Lire era a única ao seu lado. – Pelo o que disse, ela não deve ter aguentado a noticia de Arthur ser parceiro do Gerard.

Lass concorda com certa parte.

— Elesis o matou. – A elfa olha surpresa. Era melhor ter dito com mais delicadeza, percebe. – Ele a atacou, Elesis não teve muita escolha e acabou fazendo isso. Os machucados que ela tem agora são por isso, porque ela não quis atacar o amigo.

— É por isso que ela anda com esse olhar de culpa. – Percebe. – Sempre tento curar os machucados dela, mas ela diz que não é preciso. Agora entendo o porquê.

— É por isso que ela não para de treinar, para se tornar forte para o Gerard. Só que, isso já virou uma doença. – Todos já tinham percebido isso, menos a própria Elesis. – E você é a única que pode ajuda-la no momento.

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— Achei que você ou o Jin pudesse. – Mexia nas mechas do cabelo, nervosa pela a conversa. – Por que eu?

— Elesis está me ignorando, o mesmo para o Jin. – Fica com um olhar de raiva. – Até pediria ao Ronan, mas não vale a pena pedir por sua ajuda. Você é a única que sobrou.

Se Arme estivesse ao seu lado, pediria para que ela a ajudasse, mesmo sabendo a resposta. A maga poderia estar distante de Elesis, porém, se fosse para ajudar sua amiga, ela seria a primeira a fazer isso.

— Então, o que eu poderia fazer? – Pergunta, aflita.

— Quero que traga a antiga Elesis de volta. – Um pedido impossível. – Elesis está cega para se tornar forte, esqueceu até mesmo de si mesma por isso. Eu não poderia fazer isso, porque toda vez que ela me olha... – Para de falar. Iria se arrepender por isso. – Ela lembra do beijo que eu dei nela.

Lire olha surpresa, então em raiva. Lass entende seu nervosismo pelo o que diz, era compreensivo. A elfa ficou de pé, não se aproximando.

— Você fez o quê? – Pergunta. – Ficou louco?!

— Eu não queria...

— Quando foi isso? – O interrompe. – Quando?!

— Algumas semanas atrás. – Sussurra.

Lire ouve e suas sobrancelhas se juntam mais pela a raiva. Fechou os punhos para não os usar.

— Elesis está com o Ronan e você faz isso? Já até imagino a cara que ela fez. – Dizia enojada. – Entendo por que não pode ajuda-la.

— Eu já me desculpei por isso, Elesis aceitou. Mas ela não me ver da mesma forma. – Passa a mão na nuca. Não gostava de agir assim, como um coitado. – Eu gosto dela e ela sabe disso. Não pude falar apropriadamente, nem pretendo nessa situação.

— Se está pedindo me ajuda por isso, eu recuso.

— Não é por mim! – Quase grita, irritado. – Só quero o bem de Elesis, nada além disso.

Lass poderia ser um bom mentiroso, pensava Lire, mas não havia motivo para fazer tal coisa. O ninja estava se arriscando ao estar ali, via pelo o nervosismo que ele demonstrava a cada minuto passado.

— Você quer o bem dela? Certo, então. Fará o que eu disser, sem discutir. – É ríspida.

— Diga. – Não vê muita opção.

— A questão dela com a Arme, não sei o que fazer no momento, pensarei depois. A primeira coisa é fazê-la melhorar dos machucados, principalmente na perna. Posso fazer isso. – Falava enquanto andava de um canto para o outro. Lass a acompanhava com o olhar. – Não sei ao certo, mas Elesis irá superar aos poucos a morte de Arthur. Jin poderia ajuda-la nisso, agindo do jeito dele.

O ruivo seria a melhor pessoa para anima-la, nota Lass. Fica feliz em saber que Lire sabia o que fazia.

— Não gostará, mas Ronan ficará com a Elesis esse final de semana. Ele fará ela se esquecer de tudo que aconteceu por um tempo. Enquanto isso, eu cuido dos machucados dela.

Era de prever o olhar de irritação do ninja. Acreditava que a paixão de Lass tinha voltado por Elesis apenas por esse pequeno ato de preocupação por ela.

— Quando eu for embora, pegarei a excalibur da Elesis e manterei bem longe dela. – Diz Lass. – Sem treinos para ela.

— Tente ser discreto.

Lass olha ofendido. Tinha um título de ninja e não era à toa.

— E por último, não menos importante. – Olha para o rapaz, sabendo sua reação. – Fique longe dela. Como você disse, sua presença não ajudará a Elesis.

— É, mas... – Não continua. Entende o pedido da elfa, assentindo com receio. – Tudo bem.

— É só por um tempo. Elesis está com raiva de você, mas logo passará. – Era o que esperava. – Faça isso por ela, não por mim.

Faria assim. Se quisesse ver a ruiva sorrindo como antigamente, precisaria sacrificar certas coisas por isso. A felicidade dela em primeiro lugar, lembra.

— É só isso que tenho até agora. – Fala Lire. – Não sei se dará certo, mas não custa tentar. – Dar de ombros, sorrindo.

Lass sorri de volta. Odiava a elfa, mas com essa parceria que teria com ela, poderia aprender lidar com isso.

— Então é só isso. – Fala o rapaz. Vai até a porta, quase partindo.

— Eu... – Chama sua atenção. – Eu até torceria por você e a Elesis, mas, como você vê, não daria certo. Com Ronan, Elesis está sempre sorridente.

Entendia. Lass assente, olhando para a própria mão sobre a maçaneta. Toda vez que estava ao lado da espadachim, algo de ruim acontecia com um deles.

— Eu sei disso. – Abre um sorriso fraco antes de partir. Já estava machucado o bastante, continuar ali não ajudaria muito.

***

Olhava para as próprias mãos juntas, as chamas brancas crepitando sobre elas. Elesis não conseguia parar de olhar para elas, eram tão belas e puras. Mas toda vez que lembrava de como a conseguiu, apagavam-se rapidamente.

No momento, tentava usar as chamas em seu próprio corpo, nas feridas. Como esperava, não fazia efeito em si, apenas nas outras pessoas. Se funcionassem, sua perna já estaria em perfeitas condições.

Ouve passos se aproximarem e apaga as chamas antes de olhar.

— É como eu previ. – Menciona Ronan ao se aproximar. Deu uma rápida olhada no estado da ruiva, coberta por curativos e hematomas. – Como sempre.

— Eu não te chamei aqui para me dar sermão. – Diz emburrada. – Se fosse assim, iria atrás da Lothos.

Ronan ri. Senta ao lado da ruiva no banco do pátio, o local vazio para um final de semana.

— Preciso me preocupar? – Pergunta, apoiando os cotovelos sobre as pernas.

— Sabe a resposta que darei, então não insista. – É honesta. – Já estou ficando melhor, afinal.

Suas feridas estavam se curando, menos na perna. As dores continuavam fortes, o mesmo quando andava, mancando sem as meias. No momento, não as usava, queria deixa-las escondidas enquanto isso.

— Só estou preocupado. Mas se não quiser falar, não falamos.

Agradece com um aceno. Não queria mais uma pessoa dizendo que ela não estava bem.

Seu corpo estremece ao voltar a lembrar de tudo. Cai de lado contra Ronan, sua cabeça apoiada no ombro do rapaz. É abraçada, o nervosismo diminuindo. Ao lado de Ronan, os problemas pareciam tão pequenos, como se não valessem a pena de serem lembrados.

— Não importa o motivo de sua tristeza, quero vê-la sorrir, Elesis. – Diz o rapaz. – Confio em você, mas quero que confie em mim também.

— Eu confio, mas não para contar o que me incomoda. Então, por favor, não persista.

— Não irei. Sabe por quê? – Sussurra com um sorriso.

Elesis ergue o rosto, perto o suficiente para sentir sua respiração. Era engraçado, lembra da época em que era mais alta que ele, onde sempre o olhava assim, de cima. Agora, era ele quem a olhava dali, sorridente.

— Porque eu te amo, e farei de tudo para não a ver triste. É só dizer e eu faço qualquer coisa para fazê-la sorrir.

Quem falava isso era Elesis. Sempre quando via Ronan chorar, ela fazia algo bobo para anima-lo. Funcionava, por isso de ele tentar fazer o mesmo agora. A ruiva sorrir, lembrando que seu passado tinha momentos felizes para serem lembrados.

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— Poderia me distrair. Qualquer coisa para que eu esqueça, sabe. – Sugere.

Ronan aceita. Segura o rosto da ruiva com a mão, beijando-a com calma. Elesis é pega de surpresa, mas não recusando sua ajuda. Por alguns poucos minutos, ela esquecia das dores e pesadelos. Quando seus lábios se afastam, tudo volta aos poucos.

Elesis ri.

— Não era esse tipo de distração. – Fala. – Queria ver suas magias, são bem legais.

— Isso pode ser um tipo de magia. – Sorri.

— Sim, é. Mas não a que eu quero. – Implora com os olhos. – Por favor.

Ronan não vê muito motivo para recusar, aceitando fazer. Antes de levantar, dá um leve beijo na ponta do nariz da ruiva.

— Preparada? – Pergunta, um pouco distante da espadachim.

— Com certeza.

As magias de Ronan eram belas, simples e divertidas. Tinha acertado em achar aquilo como uma distração, estava funcionando. Era como uma criança, distraia-se com coisas bobas, como uma criação de gelo ou fogo. Gostaria de poder fazer o mesmo, e não invocar chamas que podem a matar.

É por isso que o amava, pelo o rapaz relembrar seu passado, o lado bom dele. Voltava a se sentir como uma criança boba que era antes.

***

Continuava a rir, sentindo falta disso fazia um tempo. Andava com Ronan pelo o corredor do colégio, indo para seu quarto descansar. Nos poucos minutos que passaram com o mesmo, suas tristezas sumiram, menos as dores. Era preciso se esforçar para não mancar tanto perto do rapaz, querendo evitar seu olhar de preocupação.

Segurou seu ombro em apoio quando sentiu-se cansada. Param de andar, não precisando palavras para entender o que a ruiva passava.

— Quer que eu te carregue? – Sugere Ronan.

— Não, eu... – Não entende o porquê de lembrar de Lass. O rapaz tinha a carregado naquele dia, mesmo ela não querendo. Seu olhar se torna tristonho, mas logo some com um sorriso. – Estou bem.

— Eu te ajudo. – Insisti.

A ruiva se afasta, continuando a dizer que não precisava de ajuda. É segurada pelo o pulso, sendo puxada para perto. Até acertaria um soco no rapaz, mas para ao sentir um olhar sobre ela.

Arme tinha parado seu caminho para observar o casal. Elesis abre a boca surpresa, entendendo a dor que a maga começa a sentir. Ela se vira e sai correndo, segurando firme seus livros para não cair.

— Arme! – Grita. – Espera!

— O que foi? – Ronan pergunta.

— Eu já volto.

Solta-se do rapaz a corre atrás da amiga. As dores a acertam após dois passos, querendo poder ter as meias para usa-las no momento. Ignorou, somente agora, e continuou. Percebe a maga correr para as escadas, sabendo que despistaria a espadachim lá.

— Para, por favor!

Joga-se e consegue agarra o pulso da garota, em seguida, caindo no chão. Segura firme para que ela não fugisse.

— Só me escute. – Implora Elesis, o corpo jogado no chão.

— Me largue, Elesis. Não quero ouvir. – Dizia Arme enquanto tentava se soltar.

A ruiva fica agachada no chão, recuperando o fôlego. Não fala, pensa nas palavras familiares de Arme. O tom e o jeito que ela fala lembrou ela, quando Lass implorou para que apenas o escutasse. No final de tudo, não o ouviu nem pretende.

— Arme...

— Me solte! Eu não quero te ouvir. – Nem mesmo a olhava.

Era exatamente como ela. Abaixa o rosto, soltando o pulso da maga. Arme corre ao ser solta, descendo as escadas com pressa. Elesis não se levanta, continua agachada com sua expressão apagada.

Como poderia falar com Arme, sendo que fazia o mesmo com Lass?

***

Apesar de não houver aula naquele dia, Elesis não se sentia bem estando no colégio dos garotos. Nessa manhã, Lothos tinha avisado que iria ver Grandiel no colégio, e que Elesis era para vim junto, caso o assunto parasse na ruiva. No começo, quis protestar, mas sentia que a comandante sentiria algo de errado nela se fizesse isso. Portanto, lá estava ela ao lado de Lothos.

— Não seria mais fácil você ligar para ele? – Pergunta Elesis.

— Seria, mas uma conversa pessoalmente é melhor.

— Velhos. – Pensa Elesis.

Parou em frente à porta do salão de treino. Lothos insistia em chamar Astaroth junto, por isso de estar ali, para encontrar o professor. Todo final de semana, o rapaz treinava no mesmo lugar e horário, como uma rotina.

Elesis não teve muita escolha quando a comandante entrou, sem nem ao menos bater. A ruiva já se preparava mentalmente para as piadas de Astaroth. Porém, ao entrar, não achou mais isso.

— Vamos, quebre logo isso. – Diz Astaroth, debruçado sobre a grande esfera de vidro.

Elesis não sabe como reagir ao ver Lass dentro daquela coisa, como julgava. Não sabia como ele tinha parado ali, nem pretendia descobrir, pois havia Astaroth no meio da explicação.

— O que você está fazendo, Astaroth? – Questiona Lothos, com a mesma cara.

— Ah, Lothos! Veio mesmo visitar o Grandiel. – Dá alguns passos para se distanciar da esfera. – Ele está a esperando lá em cima.

— Você ainda não respondeu minha pergunta.

— Bem, isso aqui é um treino para o meu caro Lass. – Bate no topo da esfera. Olha para o ninja falar algo, que era pouco ouvida. – Treino das chamas azuis.

— Claro. – Sua cabeça cai de lado, ainda tentando entender como que aquilo funcionava. – Então, vou falar com o Grandiel, você me acompanha?

Astaroth já assentia, até ver Elesis parada ao lado de Lothos. Percebe a ruiva somente agora, ficando surpreso por não ter a visto antes. Cruzou os braços, olhando para Lass dentro da esfera. O ninja continuava com a cara fechada por não ter conseguido sair dali.

— E quem vai olhar esses dois? – Aponta para Elesis e Lass.

— Não sou uma criança, Astaroth! Vai se... – Grita a ruiva, sendo interrompida.

— Exato! Vocês não são crianças, isso que me preocupa. – Diz o óbvio.

— Não sei o que você está fazendo, mas o Lass parece bem inofensivo dentro disso. – Menciona Lothos, acenando para ele.

Astaroth suspira, concordando. Não tinha preocupação para ter, nada aconteceria como pensava. Deu um aviso para Lass e saiu do salão com Lothos, dizendo o mesmo para Elesis antes.

— Estou de olho em você, ruiva. – Fala em um tom ameaçador, e brincalhão.

Elesis fez o melhor que podia: Ignorar. A porta do salão se fechou, um frio subindo por sua espinha após perceber que estava sozinha. Não completamente, com Lass, mesmo que distante. Leva um tempo até decidir olha-lo, notando a atenção do rapaz nela.

— Que droga de treino é esse? – Pergunta Elesis. Anda em passos cuidadosos, para não mostrar sua fraqueza. Ainda lembrava da briga que tiveram. – Astaroth ficou louco, como sempre.

Quando percebe, está ao lado da esfera, olhando o rapaz. Não questiona o silêncio de Lass, talvez fosse sua decisão ficar assim.

— Para ser honesta, não gostaria de estar aqui. Lothos me obrigou. – O olha de relance. – Então não ache que estou sendo teimosa, pelo contrário, estou tomando muito cuidado com os meus machucados. Lire está usando alguns medicamentos na minha perna, que estão funcionando, ao menos.

Silêncio. Não aguentava mais ficar sem uma resposta, ficava irritada por isso. Olha de braços cruzados.

— Diga algo, não fique me encarando.

Lass olha para os lados, em dúvida. Solta um suspiro, não tendo muitas opções. Seus lábios se movem enquanto falava, mas nenhuma voz saindo. Elesis junta as sobrancelhas em questionamento, confusa.

— Eu não consigo te ouvir. – Fala.

O ninja assente, com o olhar óbvio. A ruiva compreende, olhando para a estrutura da esfera. Não era um vidro simples qualquer, era um forte o suficiente para segurar qualquer magia. Encosta no vidro e percebe isso.

— Consegue me ouvir, ao menos?

Lass assente. Aproxima o rosto do vidro, pedindo para a ruiva fazer o mesmo. Elesis encosta a orelha, ouvindo com dificuldade a voz abafada do rapaz. Desencosta, dizendo que não adiantaria. Lass bufa, irritado por estar preso ali.

— Aposto que tem um jeito de quebrar essa coisa. – Menciona a ruiva. – Com o meu berserk, deve ser o suficiente.

Lass sacode os braços em negação. Elesis entende, assentindo.

— Desde daquele dia, estou melhor. – Diz ela. – O único problema é minha perna, mas fora isso, estou como antes. Então, aproveitando que você não pode responder, peço para que não fique preocupado comigo. Entendo tudo isso, mas... – Olha de lado. – É irritante. Já disse, não quero ser vista como uma garotinha fraca, então não me trate como uma.

Olha Lass, vendo que ele tinha a ouvido bem claro. O rapaz não fala, por saber que seria em vão. Dentro daquela esfera, ouvia a voz da ruiva distorcida, mas conseguindo entende-la. Quando Elesis parava de falar, o silêncio era maior ali, um pouco cruel se não sentisse a ruiva à sua frente.

Encostou no vidro, as mãos usadas em apoio. Elesis olha atentamente, sabendo que ele tentaria falar algo.

— Você não vai ouvir, mas tente entender. – Dizia Lass. Como do lado de fora, sua voz dentro da esfera era abafada. – Sinto muito por ter feito aquilo, nunca quis te machucar, só fiz porque estava com a cabeça quente. Me preocupo com você, não por acha-la fraca ou uma “garotinha”, e sim porque eu sei que você é forte o bastante para ter um machucado do mesmo nível. Não falo isso por mim, falo por todo mundo. Nos preocupamos com você, Elesis.

Após ter dito, a espadachim espera um momento para saber que ele tinha acabado. Um sorriso é aberto, sincero, e não forçado como Lass estava acostumado.

— Eu não ouvi nada, mas sei que deve ser algo por minha teimosia. Quando você está preocupado, suas sobrancelhas ficam baixas. – A ruiva ri. – Que nem orelha de cachorro. – Ergue as mãos sobre a cabeça para mostrar.

Não gosta da comparação com este tipo de animal, mas concorda. Se isso fosse deixar a espadachim sorridente, aceitaria. Percebe que ela finalmente superava a morte de Arthur, mesmo parecendo culpada em alguns momentos. Foi assim com ele no começo, o mesmo acontecerá com ela.

Ainda apoiado na esfera, percebendo que não teria como mais se aproximar de Elesis além disso, sorri. Tinha dito para Lire que ficaria longe da ruiva durante este tempo, mas parecia esquecer disso no momento.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu te amo, Elesis. – Fala, ainda com o sorriso bobo no rosto.

Finalmente tinha dito, apesar de não ser escutado. Elesis olha confusa, como esperava, mas logo sua expressão muda. A ruiva fica vermelha em vergonha, Lass entendendo a reação da mesma. Provavelmente, com suas poucas palavras, Elesis conseguiu ler seus lábios.

— Não, eu não quis dizer isso! – Grita. – Você entendeu errado!

Não adiantaria gritar, percebe. Estica suas mãos, encostando em cada ponta da esfera. Não pensa duas vezes antes de invocar as chamas para queimar o vidro, aumentando a intensidade quando não sente se romper.

Elesis recua quando ver o azul das chamas. Leva menos de um minuto para a esfera se rachar, transformando-se em pó com o calor. Lass abaixa os ombros quando apaga as chamas, cansado por ter usado quase todas suas energias naquele simples movimento.

— Eu... – Começa o rapaz. Ergue o rosto, sem jeito. – Você entendeu errado. Eu disse “que agoniante”. Não confunda.

Elesis ingere as informações lentamente, levando um tempo para assentir. Seu nervosismo diminui, voltando a sorrir. Ao ver esta expressão, Lass fica aliviado, tinha consertado seu erro.

Seu sorriso se desmancha. Nota que não havia mais um vidro os separando, nada impedia de se aproximarem. As palavras de Lire o atingem, lembrando o motivo de não poder dar mais um passo adiante.

— Só por um tempo. – Lembra-se.

— Eu tenho que voltar ao treino. – Menciona com a voz fraca. Era estranho falar sem ouvir o próprio eco. – Acho melhor você ir ver o Jin. Ele vai gostar da sua presença.

Por um momento, Elesis estranha seu comportamento repentino. Entende, afastando-se até chegar à porta.

— Não se esforce demais, Lass. – Diz Elesis, um sorriso de lado. – Isso pode fazer mal.

O ninja olha para a espadachim, que logo ri por sua expressão. Ela estava usando suas próprias palavras contra ele, estando numa situação irônica. Sem perceber, abre um sorriso.

Quando sentia se aproximar de Elesis, passar da barreira que tinha colocado, a ruiva se vai. Sente-se aliviado, pois sabia que se continuasse, não conseguiria ter parado até encosta-la com suas próprias mãos.

***

Parou de ler quando a dor surgiu. Passa a mão sobre a coxa e respira calmamente, paciente em esperar por aquilo passar. Quando diminuiu, voltou sua atenção para o livro. Esteve ali fazia horas, lendo livros e mais livros que falassem sobre as chamas brancas. Por sorte, achou bastante informações que poderiam ser úteis quando as usasse.

Com as chamas brancas, Elesis poderia curar os outros, em troca de sua saúde por isso. Disso ela já sabia, não era uma surpresa. Maldições que fossem curadas, passariam para seu corpo, porém, com grande chance de serem curadas. Em casos de perda de membro, dependendo da situação, conseguiria curar com grande dificuldade. Além disso, tinha como acelerar o processo de cura de uma poção, e, o que mais chamou sua atenção, alterar as memórias das pessoas. Do mesmo jeito que ela trocava sua saúde com uma pessoa, podia muito bem retirar uma lembrança sua e altera-la.

— Nunca achei que fosse acha-la aqui. – Diz Jin, aproximando-se. – Faz um certo tempo que não conversamos.

Sentada no chão da biblioteca, entre as enormes estantes, Elesis se escondia. Olha para Jin e volta a ler seus livros.

— Aqui é silencioso, é um bom lugar para se concentrar. – Explica.

— Lass fala a mesma coisa. – Sussurra. Chega ao lado da espadachim e se senta. – Já voltaram a se falar?

A última vez que tinha conversado com o ninja havia sido no dia anterior. Foi uma conversa breve, mas que não queria dizer que haviam voltado a ser como era antes. Ainda estava sendo difícil se olharem. Mas esses não eram os principais motivos para não conversar com o rapaz, e sim por não o ver mais como antes. Lass anda muito ocupado, ultimamente.

— Estamos bem, se é isso que quer ouvir. – Diz, sem atenção no ruivo. – Lass parou de me perturbar com esse negócio de eu não estar bem.

— Você está bem? – Com receio, pergunta.

Elesis olha cansada, não aguentando mais essa pergunta. Joga seu livro de lado e ergue seus braços alto o suficiente, despreguiçando. Seu corpo cai contra Jin, não se movendo mais.

— Eu ficaria bem melhor se você comprasse aquele sorvete de chocolate com morango. – Diz ela, a voz em imploração. – É tão delicioso.

— Mesmo?

— Claro! – Fala animada. – Meu corpo tem estado tão quente, ultimamente. Um sorvete cairia bem.

— Por que será? – Entra na brincadeira.

O corpo de Elesis desliza, caindo sobre o colo do lutador. Jin não se move, parecia exausto demais para isso. Achava que teria seu descanso, mas muda de ideia quando a espadachim cutuca seu rosto, implicando.

— Vamos, um sorvete. – Repetia Elesis. – Chocolate e morango! Chocolate e morango!

— Fala como se eu fosse seu namorado.

— Você é! Eu, Eléo, sou seu namorado secreto, Jin. – Começa a ri da cara do rapaz. – Somos um lindo casal!

— É, você me convenceu. – Empurra Elesis para fora, levantando-se. A espadachim continuava no chão. – Vamos comprar seu sorvete.

— Não, agora vamos debater sobre nosso futuro! Quando vamos nos casar? Sieghart poderia ser o padre.

— Sieg pegaria fogo ao entrar na igreja com os pecados que ele carrega. – Estica a mão para a espadachim levantar. – Vamos comprar o maldito do sorvete.

Elesis continua a debater sobre o futuro dos dois juntos. Jin revira os olhos e sai na frente. Não entende a raiva que sente com a Elesis de volta.

— A Amy sabe que você está traindo ela com outro homem?! – Grita Elesis, assim todos ouvindo e concluindo sua missão: Fazer o rapaz passar vergonha.

***

Após dois ataques retrucados, Elesis recuou com sua visão embaçada. Achava que já tinha se recuperado para entrar em um combate novamente, mas estava enganada. Sua perna doía, não conseguindo mais se manter de pé. Abaixa a lâmina da espada e deixa sua respiração ofegante mostrar seu cansaço.

— Já deu? – Pergunta Sieghart, do outro lado.

Embora quisesse negar, Elesis assente. Precisava reconhecer os próprios limites, e esse era o momento certo.

— Amanhã a gente continua. – Diz a espadachim. – Não estou no clima hoje.

— Certo, certo. – Fala Sieghart. Gira a espada e apoia a lâmina sobre o ombro. – Dio, sua vez! – Grita para o asmodiano.

Elesis se afasta enquanto ouvia a discussão entre ambos começar. Antes que pudessem iniciar uma luta, Astaroth interrompe.

— Por hoje já basta. – Falava o professor. – Está tarde, precisam descansar para continuarem amanhã.

Elesis percebe isso ao olhar pela janela, notando o céu escuro. Tinha passado o dia todo trainando, por isso de suas pernas estarem tão cansadas. Guardou a espada que usava e se prepara para ir embora. Gostaria de um bom banho e uma cama, no momento.

— Eléo, você fica! – Chama Astaroth. – Hoje é o seu dia de limpar o salão.

— Hoje? Não posso trocar?

— Claro que não, são as regras.

Sem energias, levaria bastante tempo para limpar o piso do salão. Solta um suspiro, quase caindo para trás em cansaço.

— Eu posso ficar para ajudar. – Diz Lass.

Diferente do olhar surpreso de Elesis, Astaroth olha em reprovação. O ninja parecia exausto com todos os treinos que teve no dia, mas isso não o impedia de ajudar um amigo.

— Terei mais treino daqui a pouco, que diferença faz? – Sussurra o ninja. – Isso será um tipo de aquecimento.

— Se eu ouvir uma reclamação depois por estar cansado, dobrarei os treinos. – Avisa Astaroth, sério. – Eléo, você terá uma companhia. Dia de sorte!

Ela não considerava aquilo como sorte, mas não recusaria uma ajuda, mesmo vindo de Lass. Enquanto os outros iam embora, a espadachim fica parada, esperando todos sumirem para relaxar os ombros tensos.

— Daqui a pouco, venho aqui para te chamar, Lass. – Dizia Astaroth na porta. – Termine essa tarefa rápido.

Elesis olha curiosa para ambos. Quando ficam sozinhos, questiona o que Astaroth queria tanto com o ninja. Olha para ele e ver seu cansaço, maior que o dela. Talvez entendesse por que o rapaz esteve tão desaparecido durante esses dias, por estar treinando a todo tempo com Astaroth.

— Vamos termina logo com isso. – Anuncia Lass, indo em direção ao armário de limpeza. – Você tem suas tarefas, eu também.

Ele parecia nervoso, nota a espadachim.

— Astaroth está pegando no seu pé? – Pergunta enquanto se aproximava do armário.

— Como sempre. – Solta um suspiro. – Eu não quero falar disso, estou cansado e quando fico assim, meu humor não é o melhor.

— Entendo. – Pela primeira vez, Lass não queria falar com ela, agia frio para isso.

Não conversaria com o rapaz, respeitaria o silêncio que ele queria. Não sabia exatamente o que Astaroth e Lass faziam o dia todo, mas tinha uma certa noção que havia as chamas azuis envolvidas. Era o único motivo que achava para ver o ninja tão alterado daquele jeito.

Pela primeira vez, naquela semana, ficava incomodada com seu silêncio.

***

Lass não fazia isso porque queria, era obrigado. Elesis estava melhorando, felizmente, mas ainda faltava muito para ver a espadachim totalmente recuperada. As palavras de Lire ainda martelavam em sua cabeça, lembrando a todo momento que não deveria passar do limite que havia imposto. Elesis precisava de espaço, ele daria.

Olha sobre o ombro, vendo a garota bem distante limpando o chão. Ele fazia sua parte em outro canto, o mais longe possível. Se sentisse a espadachim se aproximando, desviaria para outro lado. Só em estar naquela direção, já se sentia nervoso, imagina perto.

— Não usarei as chamas brancas, se é isso que tanto te incomoda. – A voz de Elesis ecoa pelo o lugar. Não olha para ela, força-se. – Como você, também acho errado usa-las. Prometi a mim mesma que só as usaria em uma situação de necessidade. Até lá, aprenderei controla-las.

Lass concorda, sem usar palavras. Não gostava de deixar a espadachim assim, mas era preciso.

— Sobre o Arthur... – A voz de Elesis pesa. – Estou superando. Os pesadelos são menores, estou me acostumando.

Acostumando, não superando. Arthur não seria esquecido tão cedo.

— Essa semana, eu vou ir ver minha perna. Lothos insisti que eu faça um exame nela. – Suspira. – É bobagem, mas não tenho muita escolha.

Elesis ri sozinha. Lass contorce o rosto, não aguentando mais. Solta o material de limpeza e anda em passos largo onde a espadachim estava.

— Não aguento mais! – Grita.

Agacha ao lado de Elesis, sentada no chão enquanto o limpava. A espadachim olha confusa pela seriedade do rapaz.

— Hã?

— Estou tentando te evitar durante esses dias porque quero a antiga Elesis de volta. – Fala Lass, finalmente desabafando. – Sei que se eu continuasse te pressionando, você pioraria. É por isso que estou te ignorando, mas não tá dando muito certo para mim.

— Como assim? – Ficava mais confusa.

— Eu... – Recua a mão quando sentia se aproximar de Elesis. Não agora. – Você sabe muito bem do que eu tô falando, Elesis. – Diz cansado.

Não aguentava fingir que estava tudo bem ver a espadachim distante dele, era um sentimento horrível. Toda vez que a via com Ronan, seu corpo aquecia em raiva por não ser ele ao lado dela. Tinha aceitado a proposta de Lire, mas percebia que não havia sentido se um deles ficasse triste.

Queria Elesis feliz, sim! Mas também queria estar; ao lado dela, de preferência.

— Tudo parece muito estranho desde que eu voltei do circo. – Dizia, olhando firme. – As coisas se tornaram mais claras, e impossíveis. Você é uma delas, Elesis. Aquilo que eu fiz no circo foi errado da minha parte, eu me desculpo, mas não me arrependo. Eu não conseguia ver outro jeito de expressar isso além de ter feito aquilo.

— Não vamos começar com isso de novo. – Pede ela, perdendo toda a animação ao entender o que Lass queria dizer. – Já tinha dito que eu não queria ouvir, e continuo pensando assim.

— É por isso que as coisas continuam piorando entre nós. – Diz com um olhar óbvio. – Quero que tudo seja como antes, mas não posso simplesmente agir assim, porque há essa coisa... Bem aqui. – Encosta no peito. – E eu não posso esquecê-la. Já tentei e não funcionou, só piorou.

— Então ignore. – Fala séria.

É assustada ao ser segurada pelo o pulso, Lass a puxando para perto.

— Como que se ignora algo assim? Me diga. – Falava no mesmo tom. – Você disse que uma vez sentiu o mesmo por mim, só que hoje em dia, está com o Ronan. Diga, qual de nós dois foi ignorado.

— Sempre gostei do Ronan, sabe disso.

— Sente o mesmo agora? A paixão que você já sentiu, é a mesma?

Elesis não responde, fica surpresa ao perceber isso. A resposta era óbvia, por que não respondia logo? Em vez disso, olha de lado, evitando a pergunta.

— Me ouça uma vez, e prometo nunca mais falar disso novamente. – Continua Lass. – Depois, pode me ignorar, me odiar, fazer o que quiser, mas eu só quero que me ouça.

— Não posso. – Murmura.

— Por que não? – Ela não responde. Aperta seu pulso, tentando chamar sua atenção. – Isso não será nenhum tipo de traição, você apenas me ouvirá. Por acaso, tem medo do que pode acontecer depois? – Toma coragem para perguntar. – Teme se apaixonar por mim outra vez?

Elesis o olha, consegue a atenção dela. Quando pretendia responder, seus lábios se fecham. Via um sentimento de arrependimento na espadachim.

Entende o silêncio. Poderia solta-la, terminar seu trabalho ali e ir embora. Mas não, Lass fez o oposto. Ainda a segurando pelo o pulso, aproxima-se da espadachim. Elesis nota, seu corpo se afastando rapidamente. Quando percebe, tinha deitado no chão, empurrando Lass pelo o peito. Não queria que a distância entre eles diminuísse.

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— Pare, Lass. – Pede com a voz trêmula. Cansada, não tinha força para usar contra o rapaz. – Pare!

— Escute ao menos isso. – Diz calmo. Apesar da espadachim estar deitada no chão, não estava sobre ela, apenas sentado ao seu lado, embora o corpo estivesse inclinado sobre o dela.

— Já sabe a resposta, por que persisti? – Não gritava, queria evitar se cansar por isso. Seus pulsos eram segurados por Lass, totalmente imobilizada. – Saia de cima de mim!

— Se quiser que eu pare, fale. – Dizia com a voz baixa, apenas para ela ouvir. – Uma palavra e eu te solto.

A palavra não sai, Elesis se perdia nos azuis dos olhos do rapaz. Lass estava com o rosto próximo, esperando ouvir a palavra. O aperto em seus pulsos diminui, poderia ser solta se quisesse.

Apenas uma palavra.

Seus olhos se fecham quando sente os lábios de Lass encostarem. Não resistia mais, esperava pelo o viria em seguida.

— Diga. – Sussurra Lass contra seus lábios, provocando a mesma.

Ela não diz, sua boca é ocupada pela a do ninja. A beija quando não ouve uma resposta, pouco se importando por uma após isso. Elesis parece recusar, mas logo retribuindo da mesma forma. Sua mente apaga enquanto sentia o calor do rapaz através do beijo, querendo mais, sua fome aumentando. Suas mãos se movem para a nuca do ninja, o puxando, o beijando com maior ferocidade.

Em questão de segundos, Lass sente perder o controle das chamas. Seu corpo esquenta, o mesmo não notando isso. Tudo que fazia era segurar Elesis pelo o rosto e beija-la, sentindo o gosto de chocolate e morango enquanto isso. Não conseguiria parar se continuasse, sua mente desligava, o poder das chamas escorregando por entre seus dedos.

Afasta-se por um instante, tentando tomar o controle de tudo.

— Mais. – Elesis sussurra.

Não sabia como explicar, mas uma forte sensação a atingia quando beijava Lass. O puxa de volta, todos seus problemas desaparecendo durante isso. Sua perna parava de doer, a culpa que sentia era apagada. Simplesmente, não conseguia soltar o rapaz com a misteriosa atração sentida por essas sensações.

Lass passa a mão por seus cabelos, notando os longos fios se formarem. Como ele, Elesis perdia o controle de si, não notava sua aparência voltar ao normal, seus cabelos se tornarem ruivos. A avisaria, mas tinha a certeza que haveria arrependimento futuro por isso. Havia apenas uma coisa que gostaria de fazer e não era para o que já fazia. Nunca.

Seus lábios são separados, ambos olhando um para o outro sem palavras para serem ditas. Elesis ainda o segurava pela a nuca, o mesmo de Lass com as mãos em seu rosto. Não sabiam o que fazer em seguida, é como se tudo já tivesse sido dito.

Então, após segundos, Elesis sente uma presença. Torna seu rosto para o lado, descobrindo de onde vinha aquela sensação. De primeira vista, não pisca, iludida em achar que era coisa de sua imaginação. Logo, sua expressão é contorcida pela a surpresa, seus olhos arregalados. Por um momento, achou parar de respirar, sentindo-se sufocada.

— Eu não sei se fico surpreso por você ser o Eléo... – Dizia Ronan, parado na porta. – Ou por eu ser o maior idiota de todos.

— Ronan... – Elesis sussurra.

Quando tenta se explicar, o rapaz levanta a mão. Ronan força um sorriso, tentando não se mostrar abalado.

— Não tem pelo o que se desculpar, na verdade, eu que tenho! – Joga os braços de lado, recuando. – Desculpe por interromper.

A porta é batida com força ao partir. Elesis não fica mais um segundo parada, levanta, já temendo pelas as consequências. Empurra Lass, tendo esquecido do rapaz enquanto isso.

— Elesis, pare. – Chama o ninja ao segura-la pelo o pulso. – Deixa que eu falo.

— Você não entende. – Vira-se, sua expressão em desespero. – Ronan é... Eu não queria.

— Ele vai falar para o Grandiel sobre você, posso impedi-lo.

— Não é isso! – Berra, furiosa. Joga a mão de lado, soltando-se dele.

Esse não era o real problema, nem mesmo se passava pela a cabeça de Elesis. Pouco importava se ele contaria seu segredo, o que mais ocupava sua mente era a traição. Traição. Traição.

Balança a cabeça. Isso não podia vim dela, preferia ser traída do quer trair. Seus pés se movem sem perceber, indo para a porta. Existia apenas uma coisa que ocupava sua mente, e precisava ser feito agora.

Lass não a impede quando a ver sair correndo. Viu a expressão de medo da ruiva, viu como ela se sentiu mal por isso. Não era para estar, mas um sentimento de culpa crescia em seu peito. Não por ter feito isso com Ronan, e sim por deixar Elesis naquele estado.

— E é assim que se estraga as coisas. – Menciona as chamas, sua voz sendo um incomodo. – Parabéns!

***

Correu por todos os cantos, desesperada por acha-lo. Não percebia sua perna doer, sua visão era a única coisa que importava no momento. Se estava cansada, não ligou, tudo queria era achar o Ronan. Enquanto isso, corria o risco de alguns dos garotos a ver vestida com o uniforme, e descobrir tudo. Era outra coisa que era ignorada.

Saiu do colégio, finalmente percebendo para onde ele poderia ir. Ronan era o típico cara de querer evitar confusão na frente de todos, por isso de ir para rua, para ficar distante de tudo e a todos; inclusive Elesis.

— Ronan! – Grita ao avista-lo.

O rapaz não parou, devia ter a ignorado, provavelmente. Seus passos eram lentos, Elesis conseguindo o alcançar com sua perna ruim. Esse era um péssimo dia para não ter escolhido usar as meias.

— Ronan! Pare, por favor! – Continua a gritar. – Ronan!

Fica aliviada ao vê-lo para, fazendo o mesmo. Ofegante, apoia-se nas próprias pernas, tentando colocar sua mente em ordem.

— O que foi? – Ouve perguntar. – Tem alguma novidade para me dar, porque eu já sei de duas.

— Não. – Nega com a cabeça. Suas mãos tremem, com medo de erguer o rosto para encara-lo. – Você entendeu errado.

Fecha os olhos quando ouve sua risada, tão forçada que sentia a dor do rapaz. Engole seco, erguendo-se. Achou ter sua atenção, mas Ronan desviava o olhar.

— Por favor, me escute. – Era difícil falar, sua garganta se fechava. Segurava as próprias mãos, trêmula. – Você me conhece, Ronan! Sabe que eu sou a pessoa mais teimosa que conhece. É por isso que estou aqui, vestida de Eléo.

— Ainda tem motivo para isso? – Sua voz sai em deboche.

— Faz dois anos que eu decidi entrar escondida no colégio, e você já deve saber o motivo. Eu queria me tornar forte, achei que não precisava de ninguém além de mim para isso. – Abaixa o olhar, focada nos pés. – No começo foi difícil, mas depois... Depois o Lass apareceu e disse que me ajudaria com isso. O Jin também, ele me ajudou a tornar todos os dias no colégio mais suportáveis.

Toma coragem e o olha. Finalmente, Ronan colocava sua atenção nela, mas sua expressão fechada. Ele tinha o direito de ficar daquele jeito, pensa.

— Quem mais sabe? – Ele pergunta.

— O quê?

— Alguém mais sabe sobre isso? – Olha em desgosto para o uniforme que Elesis usava. – Sobre você ser o Eléo?

Entende o motivo da pergunta, por isso de doer tanto. Quis ignorar, desviar o rosto para o lado, mas não pôde. O olha séria.

— Dos garotos, só o Lass e o Jin.

— Ah, só eles. Porque, é claro, é um segredo que não deve ser contado para mais ninguém, não é tão importante. Nunca deve ter passado na sua cabeça em me contar, não é mesmo?

Elesis segura as lágrimas que queriam cair, não poderia deixar isso acontecer. Não agora.

— Não, nem pretendia. – Fala com a voz vazia. – Se eu te contasse, sei que me impediria sem pensar duas vezes.

— Porque eu me importo com você! – Grita irritado. Elesis se encolhe nos próprios ombros, assustada. – Porque eu sei que você se feriria, do mesmo jeito que está agora, idiota! Eu nunca faria o que aqueles dois fizeram, apoiar você.

— Eles acreditam na minha força!

— Quero ver até onde eles continuariam a acreditar quando a visse morta? – Sua raiva aumentava. – Esse é o problema, Elesis! Você não sabe seus limites!

Seu corpo volta a tremer. As verdades batiam contra ela como tiro, ferindo seus sentimentos amolecidos.

— Achei que confiasse em mim. – Murmura Ronan. – Que não escondesse nada.

— É só isso que eu escondi! Porque...

— Só?! – Olha ofendido. Fechou os punhos, evitando se aproximar da ruiva. – Que tal falar da sua perna, ou do Arthur. Ah, e sobre as chamas brancas?! Desde quando você tem essa chama? Mas deixe-me adivinhar primeiro: Lass e Jin já sabiam, certo?

Não percebe quando abraça o próprio corpo ao ver Ronan alterado daquela forma. Preferia ser atacada fisicamente do que sofrer assim. Nunca conseguiu lidar com conversas, agora não era diferente.

Aperta firme seus braços ao assentir. Jin e Lass sabiam das chamas, sabiam de tudo. Não é uma surpresa para Ronan, ele solta outra risada para esconder o nervosismo.

— Me desculpe. – Murmura Elesis. – Nunca quis que fosse assim.

— Exato. Por que isso... – Aponta para ele e Elesis. – Entre nós, nunca era para ter existido.

— Não é verdade! Quando eu aceitei, era verdadeiro! Eu gosto mesmo de você, Ronan!

— Está ouvindo o que está dizendo?! – Volta a agir irritado. – Elesis, eu não sou cego! Eu vi o que aconteceu quase agora!

— Lass já tinha me beijado antes, eu tinha dito que não queria nada com ele! Aquilo quase agora... – Aponta, pausando o que dizia. Não sabia qual explicação usar. – Não era nada.

— Ah, então não foi só uma vez? – Força o olhar de surpresa. – Bom saber.

O rapaz dá as costas, voltando a andar aleatoriamente. Elesis corre, até parar na sua frente, as mãos esticadas. Ainda queria se explicar.

— Você entendeu errado! Não aconteceu nada entre nós. – Continua a falar.

— “Mais”. – É tudo que fala. Elesis olha confusa. – Foi o que disse enquanto o beijava.

Em poucas palavras, Elesis se cala. Após pensar, lembra de ter dito isso. Suas mãos vão até seu rosto, cobrindo a vergonha que sentia. Não sabia o que tinha acontecido com ela naquele momento, tinha perdido o controle de si.

— Apenas me responda uma coisa. – Pede Ronan. Elesis abaixa as mãos, olhando atenta. – Seja sincera, dessa vez. – Demora até perguntar, tomando coragem. – Você já me amou? Não como amigo ou algo do tipo, mas do mesmo jeito que eu sinto por você.

Elesis leva um passo à frente, parando ao ver o desconforto do rapaz. Abre um sorriso, pequeno e fraco.

— Claro que sim, Ronan. Eu gosto de você, sempre gostei.

— Seja honesta! – Grita. – Chega de fingir!

— Eu gostava de você, mas nunca tive coragem de falar. – Dizia séria. – Mas teve um momento que eu percebi que gostava do... Lass. Só que eu esqueci isso, por isso eu aceitei ficar com você, Ronan. Agora eu sei o que sinto de verdade por você.

— Não, você não sabe. – Nega com a cabeça. – Porque você só aceitou ficar comigo para esquecer o Lass.

Elesis se cala. Nunca havia pensado por esse lado, nem mesmo fazia tanto sentido agora. Porém, ao parar para pensar, consegue entender.

Aproxima-se do rapaz. Segura Ronan pelos os braços, tentando trazer seu olhar para ela.

— Claro que não! Nunca faria isso!

— Você fez, Elesis.

— Não diga bobagens!

— Então me diga por que ficou comigo! – Grita contra a face da ruiva. – Pense bem, tome o tempo que precisar e me diga: Por que você me ama?

Queria contar o motivo. Ronan lembrava as partes boas de seu passado, ele era a única luz no meio de toda aquela escuridão. Mas não fala, percebe algo que a impede. Quando pensava em razões para ama-lo, esse era o único que aparecia; nada além disso.

Isso não era amor.

— Eu te amo. – Sussurra, querendo se convencer. – Eu te amo porque...

Ronan não a impede, ver a ruiva se desmanchar aos poucos. Seus braços são soltos, a espadachim olhando para o chão, pensativa.

— Já deu, Elesis. – Não aguenta mais. – Não irá me convencer.

— Espere um pouco. – Olha desesperada.

— Esperar o quê?! Se me amasse, não pensaria em um motivo! Elesis, pare de se iludir, não fará diferença o que tem para dizer. – A espadachim poderia estar machucada por tudo que acontecia, mas Ronan sentia o dobro, apesar de não demonstrar. – Não tem mais conserto.

Elesis abre a boca para debater. Não tinha o que falar, calando-se. Finalmente, a realidade a atinge, agachando no chão. Seu cabelo é bagunçado por suas próprias mãos, nervosa pelas as consequências. Não queria acreditar que aquilo era real.

Gostava de Ronan, pensava. Não queria que tudo terminasse assim, poderia consertar ainda, tentava se convencer. Nunca se perdoaria pelo o que tinha feito, queria bater em si própria, acabar com a dor que a atingia no peito. As dores tinham voltado, aumentando a cada segundo.

— E tudo isso acaba agora. – Fala Ronan antes de voltar a andar em direção à escola.

O rosto manchado pelas as lágrimas que caíam, é erguido. Elesis entende o que ele pretendia fazer, tornando seu nervosismo maior.

— Ronan! – O chama. É ignorada. – Ronan!

Fica de pé. Precisa impedi-lo, se o deixasse ir, Grandiel e Astaroth saberiam sobre Eléo. Não podia deixar isso acontecer, ao menos isso, poderia impedir.

Algo se passa por sua mente, percebendo quão cruel seria. Olha para Ronan pelas as costas, o rapaz andando sem pensar em parar. Sabia que palavras não seriam suficientes para impedi-lo.

Com a mão ainda tremendo, Elesis a levanta. A partir dali, não teria volta, desculpas nunca seriam o suficiente para consertar. Respira fundo, fechando os olhos, sem coragem para olhar. Faça, pensa firme.

— Sinto muito. – Pede, disparando as chamas brancas contra Ronan.