Duque piscou mais de uma vez para ter certeza que estava vendo corretamente. Gregory estava no Royale para conversar com ele. O rapaz tinha uma aparência abarrotada, com a camisa amassada e o colete entreaberto, como se ele tivesse saído para uma noite de bebedeira e não havia retornado para a casa. Gregory tinha uma expressão determinada em seu rosto, com seu olhar azul claro encarando diretamente o moreno.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele sabia muito bem qual era o assunto que Gregory queria tratar. O rapaz pediria para que Duque se afastasse de Elizabeth, a deixasse em paz para assumir um compromisso com ele. Mas o moreno não estava nem um pouco disposto a desistir da moça, ainda menos agora que eles finalmente estavam se acertando. Por isso, manteve as feições sérias e cruzou os braços numa postura defensiva:

— Creio que seria uma boa ideia.

Gregory assentiu silenciosamente e seu olhar imediatamente passou para Ethan, que estava logo atrás de Duque. O moreno virou-se para o loiro e levantou as sobrancelhas, tentando dar um sinal silencioso para o amigo que era um momento perfeito para que ele se retirasse. Mas se Ethan compreendeu a mensagem, optou por não obedecer o pedido de Duque.

— Ah, claro. É melhor eu sair daqui- o loiro comentou distraidamente e caminhou até uma mesa mais distante dos dois outros cavalheiros. Sentou-se, apoiou as pernas na mesa, e lançou um olhar preguiçoso para os dois.

— Ethan!- Duque brandiu entre dentes, olhando para baixo. Seu amigo realmente não tinha nenhum tipo de limite.

— O quê? Você é sempre tão calmo e controlado. Uma vez na vida eu gostaria de vê-lo se exaltando e quem sabe entrando em uma briga por causa de Elizabeth. Isso realmente seria digno de um romance. Dois cavalheiros duelando por uma donzela.

— Ah por Deus, Ethan! Você tem cinco segundos antes que eu vá até aí chutar o seu traseiro magro.

O loiro levantou as sobrancelhas, sobressaltado pelo comentário do amigo.

— Creio que não será necessário que aparte uma briga entre nós dois, senhor Lewis. Somos dois adultos capazes de conversar civilizadamente. E eu não seria maluco de arrumar briga no estabelecimento cujo meu oponente é dono. Reconheço uma batalha perdida quando vejo uma- Gregory intrometeu-se na conversa, numa tentativa de apaziguar os ânimos. Duque e Ethan se entreolharam por um segundo surpresos com a intromissão.

— Acho que o senhor entendeu errado- Ethan respondeu franzindo o cenho, descruzando as pernas de cima da mesa- Eu não aparto briga alguma, eu chamo alguém para fazer o serviço. Mas entendido o recado, irei me retirar. Caso haja essa conversa se torne inesperadamente interessante, sintam-se livres para gritar meu nome que eu venho correndo para assistir animadamente a briga.

Duque sacudiu a cabeça, enquanto assistia o amigo passando pelas mesas e desaparecer de sua vista. Já havia se acostumado com o fato de não conseguir traduzir o amigo em palavras. Virou-se para Gregory e esperou que o cavalheiro começasse a conversa. Não fazia a menor ideia de quanto ele sabia da noite passada com Elizabeth, então quanto menos falasse, melhor seria para o seu caso.

— Falando em batalhas perdidas- o rapaz murmurou semi cerrando os olhos- Como você bem pode imaginar, eu vim aqui para conversar sobre Elizabeth.

Duque sacudiu a cabeça enfaticamente, tentando manter uma postura compenetrada. Nunca havia lidado com um noivo de uma dama que estava envolvido, muito menos o noivo de uma dama que pretendia assumir um compromisso sério. No mínimo aquela situação era atípica.

— Especificamente sobre o fato de que você e ela não conseguirem esquecer um ao outro de maneira alguma e de serem incapazes de admitir que gostam um do outro- Gregory fez o comentário de maneira séria, como se estivesse simplesmente falando do clima chuvoso de Londres ou sobre uma notícia que havia lido no jornal daquela manhã. Não de sua noiva nutrindo sentimentos por outro homem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Como o tem tanta certeza do que está dizendo?- Duque arqueou uma sobrancelha, tentando manter uma postura neutra. Queria realmente saber o que dava tanta segurança para o rapaz afirmar algo assim.

— O fato de vocês durante a festa de noivado terem magicamente sumido quase ao mesmo tempo. A maneira como você olha para Elizabeth toda vez que ela entra em um recinto. E a vinda dela até o Pandemônio ontem à noite.

Duque engasgou. Não soube exatamente com o que, já que não estava bebendo naquele momento em especial, mas começou a tossir de surpresa pela constatação de Gregory. Ele havia sido direto ao ponto, sem deixar dúvida alguma do que tinha visto e do que imaginava que teria acontecido. Se fosse possível, ele teria corado em sinal de constrangimento. Aparentemente a discrição que achava estar tendo era um mero fruto da sua imaginação. As evidências estavam muito óbvias, bastava alguém estar atento.

— Sim, pode ser que os indícios que você tenha listado sejam verdadeiros- o moreno não sabia muito bem como conversar sobre aquele assunto com Gregory. Ainda estava em choque pela sinceridade quase brutal do rapaz.

— Não conheço o senhor o suficiente para ter um julgamento correto de sua pessoa. Mas sei que você já magoou Elizabeth e que a deixou partir para Paris sabendo que ela tinha sentimentos por você. Por isso, vim aqui saber quais são suas intenções com Elizabeth? Você realmente está apaixonado por ela?

Duque arregalou os olhos e respondeu de sobressalto:

— Eu sou completamente apaixonado por Elizabeth. Cada minuto que ela esteve na França e eu fiquei em Londres foi uma tortura. Se eu pudesse, me casaria com ela hoje mesmo- suas mãos gesticulavam e o olhar do moreno era firme e franco, não deixando dúvida que acreditava no que falava.

Uma pausa seguiu depois do comentário de Duque. Ele respirou fundo, esperando alguma reação de Gregory. Os dois se entreolharam e o rapaz tinha uma expressão misteriosa em seu rosto. Suas sobrancelhas estavam arqueadas e sua boca curvada em um pequeno sorriso malicioso. Colocou as mãos no bolso, pigarreou e afirmou de maneira despretensiosa:

— Que bom! Não gostaria que a minha amiga mais querida não fosse tratada da maneira que ela merece. Ainda mais que tenho certeza dos sentimentos dela pelo senhor. Se o coração dela for partido, terei que sair de Paris e regressar à Inglaterra para lhe dar uma boa surra- Gregory fez uma pequena pausa- Moral. Uma surra moral.

Duque arregalou os olhos, surpreso com a afirmação de Gregory. A última coisa que esperava era que o cavalheiro demonstrasse seu apoio ao relacionamento do moreno com a Elizabeth. Por um momento, achou que estava escutando coisas que não eram realidade. Ele inclinou a cabeça e perguntou confuso:

— Perdoe-me, mas o que você acabou de dizer?

***

Elizabeth entrou o mais silenciosamente possível na mansão Clark. Seu aspecto era completamente desgrenhado, com o cabelo em uma trança e seu vestido amassado. Se encontrasse alguém de sua família, não teria palavras para explicar o porquê do seu estado. Ela tirou seus sapatos e caminhou na ponta dos pés, subiu a escada e quando achou que estava quase conseguindo chegar em quarto sem que ninguém notasse, escutou a voz sobressaltada de sua irmã:

— Elizabeth Clark! A senhorita volte aqui imediatamente. Tem algumas explicações a fazer.

A moça fechou os olhos e virou-se para encarar a irmão. Não havia escapatória. Havia quase conseguido sair ilesa, mas estava óbvio que não voltasse para casa por uma noite, seus irmãos estariam preocupados e exaltados. Somente nos seus sonhos mais delirantes era conseguiria chegar até seu quarto tranquilamente. June estava usando um vestido simples para o dia. Suas feições eram irritadas, com as mãos apoiadas na cintura e o cenho franzido.

Se não fosse o clima no recinto naquele momento, Elizabeth estaria agradecida que a irmã estava vestida propriamente e não usando uma camisola. Aos poucos, June estava se recuperando e conseguindo fazer coisas simples como vestir-se e sentar-se à mesa para comer. E exatamente por essa vitalidade que estava retornando ao corpo da caçula que Elizabeth estava prestes a levar um sermão.

— Sim, querida irmã. O que exatamente você quer que eu explique?

— Primeiro essas vestimentas. Se eu não me engano, um vestido desses é usado para eventos noturnos. Ou nos últimos meses, repentinamente a aristocracia inglesa decidiu usar vestidos especialmente escandalosos para o café da manhã.

— Não, nesse caso esse vestido eu usei para o Pandemônio de ontem. E talvez eu tenha me alongado um pouco na festa.

June levantou as sobrancelhas e semicerrou os olhos:

— Um pouco? Acredito que você esteja adiantada para o almoço. Fiquei surpresa que não aproveitou e ficou pelo Royale, na companhia do seu querido Duque.

Elizabeth abriu um sorriso enquanto corava violentamente. Somente de recordar dos acontecimentos da noite passada, já sentia um frio na barriga e uma energia fluindo pelo seu pescoço. Sentia-se uma verdadeira libertina. Mas não tinha arrependimentos. Nunca havia se sentido tão adorada na sua vida. Se pudesse, não sairia nunca mais dos braços de Duque.

— Ah, esse olhar eu reconheço muito bem. Era exatamente o mesmo que eu tinha há dois anos quando voltava do Royale em outro Pandemônio. Dona Elizabeth, explique-se agora. E o seu noivado com Gregory? Como que fica essa situação?

Elizabeth não sabia exatamente o que ia acontecer. Sabia que queria ficar com Duque, mas ainda precisava conversar com seu noivo. Não poderia simplesmente deixá-lo na mão. Não que fosse seguir em frente com o compromisso, mas Gregory tinha um espaço especial em seu coração.

Ela estava prestes a falar sobre o assunto para a irmã, falar tudo que estava passando pela sua cabeça quando ouviu a porta da frente se fechando com força e um Thomas muito raivoso subindo as escadas rapidamente. Ele caminhou até Elizabeth e a envolveu num abraço aliviado. O mais velho soltou um suspiro, apertando-a com força.

Mas o alívio durou pouco, porque logo Thomas se afastou de Elizabeth e brandiu com raiva:

— Onde você estava? Eu morri de preocupação! Você simplesmente não volta para casa depois de ir a um cassino. Por Deus, Beth!

— Acalmem-se! Acho melhor vocês se sentarem, vou explicar o que está acontecendo.