Evolution: Parte 3

Atordoado


Capítulo 9 – Atordoado

– Jody, Jack!

A voz metálica modificada eletronicamente do supervisor G ecoou no quarto chamando a atenção dos dois agentes Rocket. A mulher de cabelos roxos estava vidrada na tela de um computador, segurando uma xícara quente de café na mesa de estudos, lendo com afinco todos os relatórios sobre a missão pela qual eram responsáveis enquanto o homem de cabelos brancos se debruçava sobre um grande mapa do continente aberto a sua frente. Uma grande faixa vermelha desenhada a caneta demarcava o caminho de Zaffre até Pewter, passando por Celadon, Fuschia e Veridian. Um grande ponto de interrogação estava sobre a cidade de Saffron.

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– A seu dispor senhor! – responderam os dois em uníssono, saltando de seus respectivos lugares e se posicionando na grande tela de projeção em frente à parede do quarto. Subitamente eles sentiram falta de quando o supervisor ainda aparecia em uma tela de televisão, não muito maior do que um videofone. Aquele semblante sempre os assustara agora ficava ampliado e era ainda mais apavorante.

– Espero que tenham boas noticias para mim, agentes, pois não estou de bom humor – rosnou o supervisor – As nossas fontes policias estão cada vez mais incompetentes.

– Senhor, elas não souberam dar nenhuma informação?

– Nada conclusivo, agentes. Eles localizaram em Saffron a menina ruiva que se chama Mary Jane e que estava acompanhando Eevee e os outros dois meninos, mas não há sinal do resto do grupo pela cidade. Estamos vigiando todas as entradas e saídas, além do ginásio e das principais lojas de mantimentos para viagens, mas eles ainda não foram vistos. Ainda assim, a enfermeira Joy confirmou para um oficial que a menina alugou dois quartos no Centro Pokémon.

– Então não há sinal do Eevee nem dos meninos... – disse Jack em voz baixa, deixando o rosto cair enquanto contemplava uma possibilidade em seus pensamentos. Um leve sorriso surgiu ao canto de sua boca – E se...

O homem olhou para sua parceira e a encontrou perdida nos seus próprios pensamentos e esperou pacientemente os segundos extras que ela levou para chegar à mesma conclusão.

– E se eles não estiverem mais com ela? – perguntaram juntos ao supervisor.

– Por que não estariam? – questionou o supervisor, dando espaço para que seus subordinados explicassem sua teoria. Jody tomou a iniciativa.

– Bem, todos os nossos relatórios indicam que o grupo tinha uma trajetória pré-determinada desde que saíram de Zaffre. Não há duvidas sobre isso.

– E essa trajetória não coincide com a suposta passagem deles por Saffron, uma cidade na direção oposta a que eles pretendiam seguir – completou Jack, pegando o mapa esticado em cima da cama e apontando os marcadores e as cidades.

– Sabemos que ambos os meninos tem motivos fortes para seguir a trajetória original e acreditamos, com base nos relatórios, que eles não se desviariam por qualquer motivo. A polícia com certeza não os aconselhou a seguir para lá, ou então saberíamos. Logo, se não há sinal deles em Saffron, é muito forte a possibilidade de que eles não estejam lá. – concluiu Jody, triunfante. O supervisor, porém, não estava tão confiante.

– Isso se nossos relatórios estiverem corretos...

– Eles estão senhor – Tem que estar, pensou Jody para si mesma, pelo bem de todos nós.

– Só tenho uma pergunta: Porque a menina mentiria para a polícia? – questionou o supervisor. Jack e Jody se entreolharam. Eles não podiam ter certeza da resposta e estariam apenas adivinhando, mas acreditavam que o palpite não poderia desviar muito da verdade. Não se os nossos relatórios estiverem corretos.

– Porque eles sabem que temos fontes na polícia, e estão tentando nos confundir – disse Jack, tentando esconder as dúvidas que tinha sobre a teoria que acabara de bolar.

– Muito bem, é possivel... – concluiu o supervisor, sem muito entusiasmo, mas ainda assim arrancando suspiro da dupla de agentes – Vocês tem então uma missão, agentes. Confirmem a teoria de vocês. Quero que procurem novamente o nosso grupo de amigos e garantam que esse tipo de confusão não se repita nunca mais!

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A tela se desligou e Jack e Jody se olharam fixamente, abrindo cada vez mais o sorriso que lhes cobria o rosto. Eles haviam escapado, pelo menos por enquanto, da ira do supervisor G. Além disso, haviam desenvolvido uma teoria que, caso estivesse correta, lhes garantiria um pouco mais de prestigio naquela missão e prestigio era algo que eles não tinham sobrando. Como a cereja em cima do bolo, depois de tanto tempo, eles poderiam novamente sair do esconderijo secreto em uma missão de verdade e por em prática tudo o que aprenderam. É a nossa hora! Pensaram os dois enquanto se abraçavam no quarto.

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Quando Dave acordou seu coração já batia em alta velocidade, mas ele se recusava a abrir os olhos. Passara o resto da noite em um sono profundo e sem sonhos, que o permitiu descansar como há muito o garoto não descansava. O repouso era bem vindo, mas a volta à realidade era algo que Dave preferia adiar. Sabia que se virasse o seu corpo e se permitisse acordar, teria de descobrir o resultado da escolha que deixara a Haunter, e o menino sabia no fundo de seu coração que não iria gostar do que estava prestes a descobrir. Decidiu finalmente abrir os olhos, mas não foi capaz de fazê-lo, remexendo-se desconfortavelmente dentro de seu saco de dormir. Daria qualquer coisa para voltar a adormecer.

Sentiu então um toque suave de algo úmido e não muito grande na sua bochecha direita. Uma lambida! Pensou Dave, surpreso. Seu coração deu um salto e de repente, contra tudo o que o menino acreditava, ele voltou a ter esperanças. Ele estava levando uma lambida, a mais clássica das pegadinhas de seu...

– Haunter! – disse ele, sentando-se e encarando Eevee que estava a sua frente. Logo Dave entendeu que era Eevee que o estava lambendo carinhosamente no rosto.

– Ele se foi não é? – perguntou Dave para seu Pokémon, sem coragem para olhar para o pedaço de grama onde tinha deixado a Pokebola aberta. Eevee balançou a cabeça positivamente, e com um sorriso triste foi deitar-se no colo de seu treinador enquanto ele deixava escorrer as lágrimas que estivera segurando desde a noite anterior.

Esse era o segundo Pokémon de quem se separava e ele não desejava ter que passar por essa experiência novamente. Olhou para os lados e percebeu que estava sozinho. Jake não estava à vista e ele deduziu que o menino mais novo tivesse ido buscar comida, mas mesmo com a sua companhia, ele nunca se sentira tão sozinho em toda a sua vida. Viu-se pensando em sua mãe e todo o carinho e cuidado que ela tinha com ele. Em tudo o que aprendera trabalhando e cuidando da fazenda com seu pai. Havia tanto tempo que não os via que Dave se surpreendeu com a força da saudade que ele tinha guardado dentro de si. Onde eu estou? O que eu estou fazendo aqui? Perguntava-se o menino enquanto abraçava com mais força a pequena criatura em seus braços, que era por si só a resposta para as perguntas que ele se fazia.

Lembrou-se de Machop e do momento em que ele evoluiu em Machoke, e em todos os seus momentos de treinamento e de luta, dentro e fora do torneio que perderam juntos. Lembrou-se da dor de partir sem ele, mesmo sabendo que o amigo seguia em busca de seus próprios sonhos. Onde será que ele está agora? Pensou ele, esboçando um sorriso. Mary Jane lhe apareceu de novo na mente e ele se reprimiu por sentir falta da menina, limpando as lagrimas do rosto e respirando fundo. Ela o traíra, desrespeitou a sua confiança e mentiu para o garoto, mas ainda assim ele sentia que o abandono fora a pior das ofensas que ela cometera. Dave odiava admitir para si mesmo, mas a ruiva fazia falta.

Só não fazia mais falta do que Mindy. Dave se viu novamente segurando o choro simplesmente por imaginar o rosto dela em frente ao seu, tão perto que ele podia sentir. Lembrar-se dela e de tudo que passaram juntos era doloroso de mais, e ele não podia aguentar por muito tempo. Tomou coragem e então se levantou, pronto para encarar a Pokebola vazia. Para a sua surpresa, porém, ela não estava mais ali. O menino girou sobre si mesmo e olhou a volta, mas não havia sinal da pequena esfera vermelha e branca.

– Ei! Cadê a Pokebola? – perguntou em voz alta, para ninguém em especifico. Eevee parecia surpreso também e começou a olhar para os lados, tentando entender o que estava acontecendo, mas sem muito sucesso.

– Que Pokebola? – a voz de Jake vinha de trás de uma árvore e precedeu o seu dono por uns poucos segundos. Jake voltava com cerca de cinco maçãs e três peras, que ele disse que teriam de servir como café da manhã para os Pokemons aquele dia, juntamente com o que restara das rações que ele preparara na noite anterior – Mas que Pokebola é essa que você perdeu? – perguntou ele novamente, olhando a volta do pequeno acampamento.

– A Pokebola do Haunter...

– O que?! – exclamou Jake, virando-se com o susto para o amigo e deixando todas as frutas e galhos caírem no chão.

Dave abafou um pequeno riso, pediu que o menino estarrecido se sentasse e lhe explicou a história da noite anterior. Jake estava tão profundamente mergulhado em seu sono que não lembrava nem mesmo de que tinha participado, ainda que pouco, com algumas falas no início da conversa. Não tinha nenhum resquício de memória sobre os sonhos que Dave desconfiava que Haunter estivesse lhe induzindo a ter, e Dave admitiu que ficava um pouco mais aliviado. Haunter era brincalhão, mas suas brincadeiras raramente tinham qualquer efeito negativo nas pessoas.

– Nossa, por essa eu não esperava Dave. Você tomou uma decisão difícil... – disse o menino, estendendo uma das mãos e colocando-a sobre o ombro do amigo – Mas eu acho que foi a certa...

– Obrigado Jake, de verdade – Dave sentia-se agradecido pelo apoio do garoto e gostou de saber que ele também concordara com a sua atitude – Sabe o que eu não consigo entender? Gastly era obediente e parecia ser um Pokémon tão comum... Como Haunter pode ter se tornado tão diferente?

– Bom, Dave, é bem aceita no mundo Pokémon a teoria de que uma evolução não mexe apenas com a aparência e a constituição física e genética de um Pokémon. Ela mexe profundamente com a personalidade deles também. Imagine você se de repente acordasse em um novo corpo, com todas as suas características diferentes e até mesmo instintos diferentes do que você tinha antes. Imagine uma mudança tão drástica que fizesse com que você se olhasse no espelho e não se reconhecesse mais, se você sentisse o próprio aroma no ar e procurasse de onde ele estava vindo? Imagine que você olhe para suas mãos e de repente elas são outras coisas, completamente diferentes? Isso mudaria você profundamente Dave, em muitas maneiras diferentes. Mais até do que você mesmo entenderia... – Dave não podia negar que a lógica do menino fazia sentido e se pegou olhando para as próprias mãos e dando mais valor ao fato de que elas continuariam sempre as mesmas – Os Pokemons passam por isso quando evoluem, e é mais do que normal que a sua personalidade mude junto. Alguns mudam menos, como o seu Sandslash e o seu Pidgeotto, por exemplo, que até onde eu sei, são bastante parecidos com as suas formas anteriores. Já outros, como o Haunter, mudam mais. É impossível prever como tudo irá acontecer e como um Pokémon vai ficar depois da evolução e isso é uma das coisas que faz desse tópico algo fascinante para se estudar. Apenas uma coisa é certa Dave: um Pokémon evoluído é praticamente um Pokémon novo...

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Dave respirou fundo, olhando para o fogo que o menino mais novo acendera enquanto discursava. Ele nunca tinha pensado em evolução daquela maneira e se pegou olhando para seu Eevee e lembrando-se da sua decisão de não evoluir. Agora eu entendo um pouco melhor o porquê da sua decisão amigo...

Jake continuou a discursar sobre evoluções e Dave descobriu que aquele era um dos temas favoritos do menino mais novo e que ele tinha passado um bom tempo dentro do ginásio de Auburn estudando o processo evolutivo dos insetos, principalmente da família de Caterpie e Weedle. Mas ele fora além, lendo e buscando informações sobre Pokemons de todos os tipos e fases, fascinado pela mecânica genética que os faziam se transformar. Em um momento os termos usados começaram a soar tão estranhos que Dave começou a ignorar o discurso do amigo enquanto fingia entender. Desde que aceitara a companhia do menino mais novo, ele tinha aprendido muito sobre a técnica de fingir que ouvia o que outra pessoa falava.

Juntos,eles tomaram o café da manhã, olharam mais uma vez o mapa para garantir que continuava na direção correta e começaram a se preparar para a caminhada do dia. A manhã teria passado sem acontecimentos maiores se a Pokebola de Haunter não tivesse surgido a poucos metros acima da cabeça de Dave logo depois deles guardarem todos os seus pertences e se prepararem para rumar novamente para a estrada. A esfera, ainda aberta, pairou no ar por um segundo, antes de cair com um baque surdo na cabeça do treinador Pokémon.

– Ai – disse ele, levando uma das mãos à cabeça enquanto a Pokebola rolava, ainda aberta pelo chão. Algo a mais tinha rolado, aparentemente saindo de dentro dela. – O que é isso?! – exclamou o menino, confuso.

Só quando percebeu a Pokebola aberta no chão Dave entendeu o que estava acontecendo. Haunter estava ali, ou pelo menos estivera há poucos segundos. Mas porque? Pensava ele, enquanto olhava para o alto a procura de seu Pokémon liberto, sem, entretanto,encontrá-lo. Dave demorou quase um minuto para perceber Eevee paralisado olhando para um ponto fixo no chão a pouco mais de um metro de onde a Pokebola jazia aberta. O olhar no seu rosto era de surpresa e descrença. Dave seguiu instintivamente os olhos do amigo apenas para encontrar, no chão em meio às folhas, algo que realmente não esperava encontrar. Ali, do lado da Pokebola, como se caído de dentro dela, estava uma pedra do tamanho de um punho, brilhante e azul.

Bem ali, na sua frente, Dave estava olhando para uma pedra da água.

Mas como?! Pensou Dave, cego para tudo o mais a sua volta por aqueles instantes. Aproximou-se devagar, agachou-se e tomou a pedra com a mão esquerda. Ela estava úmida e uma sensação estranha tomou conta do seu corpo assim que ele a tocou. Dave achou que fosse a excitação do momento e não deu muita atenção até que tentou virar o pescoço e não conseguiu. Estava completamente paralisado.

– Dave? O que houve Dave? – pensou Jake, sem entender o porquê de o amigo estava imóvel, agachado no meio do mato com uma pedra da evolução em suas mãos. Dave, entretanto, não era capaz de responder, metade de si furioso, a outra metade rindo da situação inusitada em que se encontrava enquanto pensava: Haunter!

Naquele momento ele pensou ter ouvido, bem no fundo da floresta, a risada inconfundível de seu amigo fantasma. Ele nunca mais ouviria aquela risada novamente.

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O grupo passou toda a manhã pensando em diversas tentativas para curar Dave da paralisia causada pela clássica brincadeira de seu antigo Pokémon fantasma. Jake levou mais de uma hora apenas para entender o que estava acontecendo, já que Dave não conseguia nem ao menos explicar a situação para o amigo mais novo. Eevee, por outro lado, foi inteligente o suficiente para entender sozinho, e ajudou Jake, com algum esforço, a finalmente descobrir o verdadeiro problema.

– O Haunter lambeu a pedra da água e paralisou o Dave?! – exclamou o garoto, quando finalmente compreendeu tudo – Não acredito!

Por um momento Dave pensou ter visto Jake disfarçar uma leve risada, mas o garoto tivera a decência de não rir em voz alta. O menino de Grené achara tudo muito engraçado nos primeiros dez minutos da brincadeira, mas sua paciência havia se esgotado não muito depois, e a metade dele que estava furiosa com seu antigo Pokémon agora tomava conta. Ele estaria bufando de raiva se ao menos fosse capaz disso.

Jake pegou um pedaço de pano que carregava consigo e tirou a pedra das mãos de Dave, secando-a e pedindo a seu Squirtle que a lavasse com água, limpando assim qualquer vestígio da saliva paralisante do Pokémon fantasma. Envolveu-a no pano novamente e a guardou junto com a outra pedra, na mochila de Dave.

Depois disso, Jake tentou alguns métodos para curar Dave sem ter que lhe injetar um remédio para paralisia Pokémon. O menino tinha alguns desses remédios na mochila, mas não sabia o que aconteceria se um humano fosse injetado com o liquido amarelo. Ele tentara até mesmo banhar Dave com um jato d’água de Squirtle – o que serviu apenas para deixar Dave molhado e ainda mais furioso – antes do garoto finalmente se render e tirar o remédio da mochila, enquanto Dave comemorava mentalmente.

A cura foi instantânea e o menino caiu ao chão, exausto, cheio de câimbras e bufando de raiva, enquanto apreciava o fato de poder mexer seus braços e pernas novamente. Nesse momento os dois acharam melhor que almoçassem ali mesmo para somente então seguir viagem. A hora da refeição já estava próxima e Dave precisava se recuperar de uma manhã eu ele apenas conseguia descrever como inesperada. O seu mau humor desapareceu junto com a paralisia e tudo o que o menino conseguia sentir era o alivio da liberdade e a excitação por possuir agora uma pedra da água. Eevee se afastou quando o menino se aproximou da pedra e a pegou com carinho, desembrulho-a do pano que Jake lhe dera e ficou examinando-a, assim como fazia com a sua pedra do trovão.

O grupo almoçou e resolveu seguir viagem com mais velocidade, sentindo que haviam ficado tempo de mais parados em um só lugar, de modo que ainda era meio-dia quando retornaram à estrada no meio da floresta. Pouco depois eles perceberam que a trilha se inclinava levemente para cima, transformando-se aos poucos em uma ladeira o que indicava que eles estavam se aproximando cada vez mais da região montanhosa onde deveria estar o ginásio de Fuschia. O sol anda dominava os céus, mas a brisa úmida e incessante aliada às nuvens escuras que pareciam deslizar montanha a baixo na direção da estrada indicavam que aquilo estava prestes a mudar.

De acordo com Jake, eles deveriam levar cerca de um ou dois dias a mais até chegar ao seu próximo destino, dependendo da velocidade com que caminhassem e Dave não queria perder tempo, por isso caminhava o mais rápido que podia, Entretanto o menino sentia-se estranho e se via constantemente atrás dos companheiros, que não pareciam estar fazendo muito esforço. Ele fazia mais força do que jamais fizera para dar passo após passo e sentia seu corpo com um peso que não estava acostumado a carregar. No começo o esforço não era muito grande e ele creditou tudo à nova inclinação da estrada, mas à medida que a tarde foi passando, ele desistiu de tentar entender e anunciou que tinha alguma coisa claramente errada com ele.

– Deve ser o efeito do remédio Pokémon – declarou Jake, curioso, enquanto o amigo sentava-se na beira da floresta, bufando – Ele funciona como um tipo de relaxante muscular, para relaxar o seu corpo e fazer com que fique mais fácil para se mover, mas isso é o efeito em um Pokémon. Em você eu imagino que talvez ele tenha relaxado um pouco de mais os músculos...

– Um pouco de mais... não diga...– disse Dave, deixando os braços caírem na grama. Ele podia continuar se quisesse, mas tinha que admitir que o descanso era tentador e muito bem vindo. Sentia-se sem forças e nunca antes tinha percebido com tanta propriedade o peso que o próprio corpo tinha.

– Eu imagino que vá passar logo, não se preocupe Dave. No máximo amanhã você já deve estar cem por cento...

– Amanhã? - disse Dave, um pouco decepcionado - Tem certeza Jake?

– Eu sou um estudante e sou novo de mais para ter certeza de alguma coisa Dave, mas esse remédio não costuma ficar muito tempo no sistema de um Pokémon, então mesmo que o seu corpo demore mais, acho que não deve passar de amanhã... – riu o menino, enquanto Dave rolava os olhos.

Haunter eu vou matar você quando a gente se encontrar de novo! Pensou o garoto enquanto olhava a volta e tentava decidir o que fazer em seguida. Já eram quase cinco da tarde e não tardaria a escurecer, e ao contrário do que Jake dissera, o efeito do remédio parecia piorar cada vez mais. As nuvens haviam se aproximado durante a caminhada da tarde e agora elas dominavam o céu, deixando-o cinza e fazendo com que a ameaça da chuva pairasse como uma ameaça sob suas cabeças.

– Vamos ficar aqui essa noite e torcer para não chover. Quem sabe amanhã tudo volte ao normal – disse Dave enquanto Eevee se aconchegava em seu colo.

– Não acho que seja uma boa ideia, Dave - disse Jake, arrancando um olhar cheio de raiva do amigo. Apontando para o céu, ele continuou - Olha, pode começar a chover a qualquer momento e nós estamos no inicio da região das montanhas. Estamos agora mesmo em uma espécie de colina... Não da para chegarmos ao ginásio e não tem nenhum centro Pokémon que nós possamos alcançar hoje, mas se a gente procurar um pouco talvez tenha um abrigo melhor do que o céu aberto...

No estado em que estava Dave daria tudo para ficar parado sem mover um músculo sequer, mas odiava que Jake tivesse razão. Além de tudo, não seria justo fazer com que Jake e Eevee ficassem na chuva por causa dele, então ele se obrigou a concordar. Ainda assim, levantar-se foi um processo difícil.

De acordo com Jake não muito distante de onde eles estavam deveria ter uma cadeia de pequenos morros, os primeiros da grande de cadeia de montanhas que dividia o continente, e com alguma sorte eles encontrariam algum tipo de caverna, ou pelo menos uma protuberância rochosa que servisse de cobertura para uma fogueira de modo que o jantar pudesse ser quente e, com sorte, ser possível manter algumas dos seus próprios mantimentos secos.

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Entraram então na floresta, passando no meio de arvores e pinheiros, percebendo que cada vez mais o chão de mato ficava mais alto e que os troncos e galhos ficavam mais próximas uns dos outros. A luz do dia começou a se esvair e Dave começou a perceber que ao olhar para cima via agora mais folhas verdes do que o céu cinza que estava acima. Seus braços pesavam ao seu lado, balançando como peso morto a cada passo que dava e sentia-se curvado para frente, quase corcunda. Sua mochila nunca pesara tanto, nem quando Eevee insistia em viajar dentro dela.

Foi então que sentiu a primeira grossa gota de chuva cair em seu rosto e para a sua surpresa a sensação foi melhor do que o esperado. A água estava fria e o toque foi muito bem vindo à pele relaxada. A chuva começava a cair devagar e eles ainda não haviam encontrado qualquer sinal de que haveria um abrigo por perto. Nada que ao menos lhes desse um pouco de esperança. Não fazia mais sentido continuar a procurar.

– Jake - chamou Dave, em uma voz mais baixa do que esperava - Jake! - disse mais alto, finalmente atraindo a atenção do amigo - começou a chover e acho que não vamos achar cobertura melhor do que essas árvores.

– Dave, a gente está procurando ha menos de vinte minutos. Mais um pouco e vamos chegar em uma encosta. Vamos!

Menos de vinte minutos? Me pareceu mais de uma hora pensou o menino, surpreendido - Vai você... - disse ele, sem paciência para discutir. Tirou a mochila das costas e deixou-se cair na árvore mais próxima, sentindo mais gotas pesadas explodirem ao seu lado e na sua cabeça. Tirou então uma Pokebola do cinto e a jogou ao amigo mais novo - Se você achar alguma coisa mande o Pidgeotto vir me chamar e eu juro que vou te encontrar, mas eu não consigo caminhar mais simplesmente torcendo para termos sorte - disse ele.

Jake pegou a Pokebola sem acreditar muito no que o amigo estava fazendo. Encaminhou-se então na direção do garoto mais velho, colocou uma das mãos em sua testa para tirar a temperatura e percebeu que ele estava normal.

– Eu estou bem Jake, o efeito do remédio deve piorar antes de melhorar, só isso. Vai. Eu vou ficar parado aqui, fique tranquilo. Qualquer coisa eu tenho o Eevee e os outros Pokemons para me ajudar.

– Tudo bem - concordou o menino mais novo, ainda hesitante e incapaz de esconder sua preocupação - Eu volto em uma hora se não encontrar nada.

Dave viu enquanto seu amigo desaparecia no meio da floresta e o deixava sozinho com Eevee. Sentado, o mato quase lhe chegava aos cotovelos e o menino sentia o incomodo roçar da grama que ficava gradativamente molhada em sua pele, agora mais sensivel. Sacou uma capa de chuva de sua mochila, levantou-se e a vestiu com esforço, tentando se proteger ao máximo da chuva que apertava cada vez mais. Quando voltou a se sentar Eevee se enfiou por entre as pernas do menino e foi se acomodar novamente em seu colo, por baixo da capa.

E assim Dave observou parado enquanto a luminosidade se perdia aos poucos, o tempo passava devagar e a chuva caia com cada vez mais força. Ali, debaixo do teto de folhas, ele sentia as gotas grossas caírem mais grossas e esparsas, mas o barulho indicava que lá fora a chuva caia bem mais fina e com mais força.

Ele se pegou imaginando novamente o que faria se tivesse as três pedras da evolução e tentando imaginar em quem Eevee se transformaria se quisesses de fato evoluir. Agora que sabia um pouco mais sobre a evolução, perguntou-se se queria mesmo que seu amigo evoluísse. Ainda assim, era difícil não sonhar com seu time mais evoluído. Talvez fosse uma boa ideia perguntar ao professor Noah sobre tudo o que está envolvido nesse processo de evolução e o que ele achava do assunto. O professor era, afinal, um especialista Pokémon, e conhecia bem o Eevee, tendo feito alguns exames quando eles ainda estavam juntos em Cardo.

Dave tinha vindo tão longe que mal podia acreditar. Ainda lembrava-se de como achou incrível mesmo a curta viagem que fizera de Grené até Cardo e tudo o que passou antes de mesmo de chegar ao primeiro ginásio. Lutara suas primeiras batalhas, tivera o primeiro encontro com a Equipe Rocket e capturar seu primeiro Pokémon. Agora ele era um verdadeiro treinador, tinha quatro insígnias e cinco Pokémons consigo e estava a tantos quilometro de casa, da sua família e de sua antiga vida na fazenda que nem sabia calcular exatamente quantos. Quando será que eu vou ver o meu pai e a minha mãe de novo? pensou ele, acariciando Eevee por debaixo da capa.

Dave ficou meio acordado meio dormindo, atordoado pelo efeito do remédio e pela chuva que caia, e pouco percebeu a passagem do tempo até que se deu conta de que talvez estivesse escuro de mais para que apenas uma hora houvesse se passado. A floresta estava em um completo breu e ele lembrou-se que Jake prometera voltar em apenas uma hora. Mesmo que o menino tivesse conseguido encontrar um abrigo, Pidgeotto já o teria encontrado para lhe avisar.

A chuva caia mais devagar quando ele olhou para seu relógio e chamou Eevee, que pareceu se assustar em seu colo. Aparentemente o pequeno Pokémon havia adormecido com o carinho do treinador.

– Eevee, já se passaram mais de duas horas e o Jake ainda não apareceu... Será que aconteceu alguma coisa?

Eevee pulou de repente, levantando a capa e jogando água da chuva para todos os lados. Ótimo, agora a capa não serviu de nada... pensou Dave, enquanto puxava ela por cima da cabeça. Seus braços pesavam mais ainda do que há algumas horas atrás e ele achou o esforço de se levantar muito maior do que deveria ser. Eevee, entretanto, estava farejando o chão a sua volta, quase sumindo no meio do mato, a procura de algum rastro de Jake.

Dave perdeu alguns minutos debatendo consigo mesmo o que deveria fazer em seguida. Jake não o deixaria sozinho no meio do mato, principalmente preocupado como ele estava com os efeitos do remédio. Além de tudo, ele teria enviado ao menos um recado com o Pidgeotto que Dave lhe emprestara. Já havia se passado tempo de mais além do limite que o próprio garoto estabelecera de modo que a única explicação razoável era que algo tinha acontecido. E para Dave, isso significava que deveria ir atrás do amigo.

Por outro lado, ele não estava em condições de fazer isto e caso suas pressuposições estivessem erradas, o menino logo voltaria para o local combinado apenas para encontrá-lo vazio, e eles ficariam perdidos no meio da floresta, a meio caminho do ginásio. Apesar disso, Dave acreditava que os sinais eram indiscutíveis e Eevee claramente concordava com o seu treinador, pois continuava farejando e esticando suas orelhas a procura de algum sinal que pudesse explicar o que estava acontecendo. Portanto, juntos, os dois seguiram na direção que Jake havia partido, no meio do breu noturno da floresta.

A chuva agora caia mais fraca e com a limitada luminosidade, a densidade da mata e a crescente dormência de seus músculos, Dave encontrou grandes dificuldades para achar um caminho por entre as árvores. Tropeçara diversas vezes, ralara um dos joelhos, e colecionara arranhões pelos cotovelos, antebraços e até na palma da mão, além de sentir-se coberto de lama da cabeça aos pés. Caminhava com muito esforço e devagar, gritando o nome de Jake e ouvindo enquanto os poucos Pokemons que estavam a sua volta fugiam. Ele contava com os instintos de Eevee não só como guia, mas também para protegê-lo caso algum dos Pokemons selvagens resolvesse causar algum tipo de problema.

Caminharam por cerca de trinta minutos, sem sinal de Jake ou do Pidgeotto de Dave, seguindo o caminho indicado por Eevee. Ele sabia que a pequena raposa não era um grande farejador, mas era o mais habilitado de todo o seu time Pokémon a ajudá-lo em uma busca, agora que Pidgeotto estava emprestado a Jake. Aos poucos a mata foi se abrindo, as arvores começaram a dar mais espaço umas as outras e apesar da chuva fina, um pouco de luz da noite ajudou a iluminar um pouco melhor o caminho, diminuindo consideravelmente o número de tropeções e esbarrões que o menino de Grené dava pelo caminho.

Ele estava quase se jogando ao chão novamente, desistindo da busca infrutífera pela noite, enquanto o enorme cansaço anormal que sentia tomava conta de seu corpo de vez, até que ouviu um grande estrondo e um ganido alto, como um choro de um Pokémon machucado. Eevee levantou suas grandes orelhas marrons e ele viu a expressão de preocupação no rosto do pequeno Pokémon.

– Jake! Jake você está por ai? - gritou novamente Dave, reunindo as forças que lhe restavam e continuando a caminhar. Depois de cerca de duzentos metros ele se viu em uma faixa de cerca de cem metros de campo limpo, sem árvores, com uma grama baixa que terminava em uma parede de pedra onde um pequeno morro se erguia há cerca de cem metros do chão. De fato Jake estava certo. Ali provavelmente eles poderiam encontrar um abrigo para chuva. Ainda assim, o menino mais não estava no limitado campo de visão de Dave.

Ele caiu sobe um joelho quando um segundo estrondo fez o chão tremer levemente e algumas pequenas pedras rolarem da parede rochosa. Dave olhou para os lados, tentando entender o que estava acontecendo, mas não conseguiu ver nada. A chuva estava quase parando agora e ele sentia o frio vento cortar-lhe a pele, mas não conseguia encontrar a fonte do barulho. Eevee, entretanto, olhava fixo para um ponto mais a direita da parede de pedras e Dave seguiu o olhar do amigo, tentando ver o que ele estava vendo.

A princípio tudo o que pôde ver foi a grande parede de pedras, mas então algo em sua base se moveu. Tremeu em um primeiro momento, com mais força do que o normal, e então se afastou do restante da parede, com se dando passos para trás. O que quer que fosse, tomou distancia do buraco que deixara na pedra e voltou a correr em sua direção. Quando atingiu a pedra novamente, um terceiro estrondo ocorreu e Dave ouviu mais uma vez o lamento de um Pokémon, enquanto forçava os olhos para entender melhor o que via.

O que é aquilo? Perguntou-se o menino, tentando partir em velocidade na direção do pedaço vivo de pedra, mas sendo traído por seus músculos. Estava cansado de mais e seu corpo parecia se recusar a responder normalmente, fazendo-o tropeçar e sujar-se mais ainda no chão de grama e terra molhada. Ainda assim, encontrou forças para se levantar e sacar sua Pokedex, enquanto se aproximava da parede de pedra e via um enorme Rhyhorn tremendo, fazendo força para se liberar das rochas onde ficara preso no seu último ataque.

Rhyhorn, um Pokémon de pedra. Seu corpo é inteiramente constituído de placas de rocha sólida. Sua cabeça é triangular e possui um poderoso chifre que é a sua principal arma de ataque. Seu temperamento normalmente é forte, e ele não costuma raciocinar muito antes de investir contra seu oponente.

O grande Pokémon fez um ultimo esforço para se liberar da encosta da montanha até que finalmente conseguiu, quase perdendo o equilíbrio e caindo para trás. Dave então viu que ele não atacava cegamente a montanha como parecia, mas sim uma pequena abertura, praticamente uma fenda, que podia se confundir com uma rasa caverna com não mais do que dois metros de profundidade. E dentro da caverna estava um pequeno Pokémon deitado, tremendo e amedrontado.

O Pokémon tinha quatro patas, uma pelagem clara como creme em algumas partes de seu corpo, mas a sombra da caverna e pouca iluminação da noite impedia que Dave reconhecesse a que espécie exatamente ele pertencia. A Pokedex, entretanto, foi mais eficiente que os olhos do menino.

Growlithe, o filhote Pokémon. Growlithes são muito utilizados pela força policial, se mostrando grandes farejadores, além de incrivelmente leais e obedientes. São do elemento de fogo, sendo capazes de poderosos ataques flamejantes.

– Um Rhyhorn e um Growlithe! – exclamou o menino, enquanto observava Rhyhorn novamente se preparar para um ataque.

Eevee olhou assustado para seu treinador, esperando alguma reação do menino, mas a cabeça de Dave estava trabalhando muito lentamente e o Pokémon de pedra investiu novamente contra o seu oponente. Mais uma vez o duro crânio de Rhyhorn atingiu a parede de pedra e mais uma vez ele ficara preso. Growlithe chorou com ainda mais força, fazendo seu ganido vibrar pela montanha enquanto Rhyhorn ainda fazia força para frente, tentando alargar a abertura que protegia o pequeno Pokémon de fogo.

Percebendo que não conseguiria avançar mais, o Pokémon voltou a tentar se desprender da pedra, o que foi mais fácil dessa vez. A abertura da fenda crescia aos poucos com a investida forte do atacante e logo seria grande o suficiente para que Growlithe virasse um alvo possível a mercê do Pokémon maior. Logo eles teriam que se enfrentar frente a frente e Dave tinha a nítida impressão de que a vantagem iria pender para o lado de Rhyhorn.

– Ei! – gritou Dave, colocando a mão na boca e soltando um forte assobio. Assoprar tão forte exigiu mais esforço do que ele imaginava e sua visão embaçou por um segundo, mas ele não desistiu. Estava decidido a ajudar o Pokémon preso na montanha. Pode ser uma boa oportunidade para treinar também pensou ele, sacando uma Pokebola do cinto – Ei, grandalhão! Você gosta de atormentar Pokemons menores que você? Porque não tenta esse aqui! Vai Oddish!

A pequena erva Pokémon saiu de sua Pokebola e pareceu agradecer o suave toque da chuva que caia cada vez mais fraca, sacudindo as folhas verdes que nasciam do topo da sua cabeça e olhando desafiadoramente para o grande Pokémon de pedra. Ele pareceu ouvir o desafio e olhou diretamente para Oddish, mas então voltou a encarar a fenda onde Growlithe se protegia e arrastou uma das patas no chão de grama e terra molhada, ignorando o Pokémon de Dave e preparando-se para mais uma investida.

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– Tem certeza que vai me ignorar? – gritou Dave, sentindo sua voz falhar e incapaz de ganhar a atenção do oponente. Desistiu então das provocações e mudou de estratégia – Oddish, chame a atenção dele com o golpe que estamos praticando. Use o nó de grama!

Os olhos do Pokémon de Dave brilharam na noite escura com um forte tom de verde claro e Dave viu que próximo aos pés de Rhyhorn a grama emitiu o mesmo brilho. O Pokémon de pedra pareceu não perceber, focado no seu próximo ataque, mas assim que partiu para a investida a grama ao seu lado cresceu, evolveu-lhes as patas e o segurou. O aperto não foi tão forte quando Dave estava esperando e não foi suficiente para prender o Pokémon ao chão, mas forçara-o ao menos a tropeçar antes que o mato arrebentasse frente à força e o peso do Pokémon de pedra.

O ataque teve sucesso em conquistar a atenção de Rhyhorn, que se virou claramente furioso para Oddish. Dave tomou o cuidado de sair da linha de corrida do Pokémon e esperou que ele preparasse sua investida.

– Oddish fique atento – ordenou Dave, apreensivo. O cansaço pesava-lhe muito e ele ainda tentava se convencer de que entrar naquela batalha tinha sido a melhor opção. Apenas o olhar incrédulo de Growlithe, colocando a cabeça para fora da caverna e vendo como um milagre o motivo para o fim de seu tormento conseguiu convencer Dave de que aquilo valeria a pena.

Rhyhorn lançou-se em uma investida enfurecida, batendo no chão com suas pesadas patas de pedra e ganhando velocidade em direção ao pequeno Pokémon de planta. Estava há mais de cem metros de distância, o que deu tempo para Dave se preparar e ele ordenou novamente que Oddish tentasse pará-lo com o nó de grama. Oddish preparou o ataque, mas a velocidade do seu oponente era muito superior e quando a grama se entrelaçou nas suas pernas apenas arrebentou atrasando-o apenas por poucos segundos, incapaz mesmo de faze-lo tropeçar.

– Cuidado! Evasiva! – ordenou Dave, sabendo que se uma daquelas investidas atingisse o alvo era o fim da batalha para Oddish. Sentia-se tenso, mas seu corpo não respondia da mesma maneira, pesando-lhe cada vez mais.

O movimento evasivo foi efetivo, mas Rhyhorn não desistiu, fazendo a curva e investindo novamente, sem para de correr. Era incrível a ferocidade daquele Pokémon. Oddish mal acabara de se levantar e o seu oponente já estava correndo novamente em sua direção. Dave gritou-lhe outra advertência e ele pulou para o lado mais uma vez, escapando por pouco. Dessa vez, porém, ele não esperou que Rhyhorn fizesse outra curva para voltar e usou novamente o nó de grama enquanto o Pokémon de pedra perdia velocidade para fazer a curva. Com isso, o golpe foi muito mais efetivo, fazendo com que as plantas se enlaçassem com mais força nas patas de Rhyhorn e o derrubando quando ele tentou continuar a correr.

– Muito bem Oddish! Agora use o absorver! – disse Dave, prevendo que a batalha estava perto do fim. Ele não estava em condições de continuar por muito mais tempo. Sentia-se ficar sem forças.

Com o adversário caído, ainda lutando para se livrar da grama presa em suas patas, Oddish balançou suas folhas que começaram a brilhar com uma luz vermelha, e lançou do topo de sua cabeça um raio rubro, atingindo Rhyhorn no chão e fazendo-o exclamar enquanto sua energia era lentamente sugada pelo pequeno Pokémon de planta.

Tamanho não é tudo pensou Dave, orgulhoso com o trabalho de seu Oddish. A batalha, porém, ainda não tinha terminado. Sacudindo-se desenfreadamente devido aos dois ataques de planta, Rhyhorn conseguiu se liberar das gramas em suas patas e avançou, mesmo ainda sob os efeitos do ataque absorver, para atacar Oddish. Dave se viu obrigado a fazer com que ele interrompesse o ataque e comandou um movimento evasivo.

– Cuidado!

Por um segundo o Pokémon de planta não foi atingido, e Dave se viu trincando os dentes, enquanto começava a sentir-se tonto. Tenho que me manter focado na luta. Não posso deixar o Oddish sozinho pensou ele, enquanto caia sobre um dos joelhos. Quando Dave olhou de novo viu Rhyhorn investindo novamente, mas dessa vez seu chifre brilhava no que ele reconheceu ser um ataque de chifres. Teve então uma ideia que lhe pareceu arriscada, mas podia dar certo.

– Oddish, pule o mais alto que você puder e caia em cima dele!

Quando Rhyhorn estava a menos de um metro do pequeno Pokémon de planta, ele deu um grande salto, subindo a pouco mais de um metro de altura. Foi exatamente o suficiente para que Rhyhorn errasse o seu ataque e para que ele caísse sobre as suas costas, deixando o Pokémon de pedra desnorteado.

– Agora, use o absorver de novo!

Mais uma vez Oddish balançou suas folhas e mais uma vez o raio vermelho saiu de cima de sua cabeça, atingindo Rhyhorn nas costas e fazendo com que ele exclamasse de dor. Dave acreditava que aquele ataque seria suficiente, afinal, estavam na chuva e Oddish tinha uma clara vantagem de tipo. Rhyhorn, de pedra, estava duplamente em desvantagem e não poderia aguentar muito mais tempo, mas Dave aprendeu naquela noite que quanto mais perto do fim de suas forças, mais selvagem fica um Pokémon como aquele.

Rhyhorn sacudia-se com muita força, sentindo sua energia ser drenada cada vez mais, e estava cada vez mais difícil para que Oddish se mantivesse sobre o grande Pokémon. Quando ele deu uma guinada para frente especialmente forte, Oddish foi lançado para frente, sendo obrigado a interromper o ataque e caindo a poucos metros do adversário. Ele era agora uma pesa fácil para Rhyhorn, que não hesitou em partir em uma investida desenfreada.

Dave sabia que Oddish não conseguiria se levantar e fazer um movimento defensivo antes de ser atingido. Estava próximo de mais de seu oponente. Concluiu em sua cabeça que a batalha estava acabada, mas seu corpo não respondia mais aos seus comandos e ele se viu caindo mole no chão, em vez de sacando a Pokebola para recolher Oddish.

Ele sentiu a grama molhada no rosto e viu o desespero no rosto de Eevee enquanto o pequeno Pokémon marrom olhava de Oddish para seu treinador, sem saber o que fazer em seguida. Sua cabeça estava desesperada enquanto ele esperava ver seu Pokémon de planta ser atropelado por aquele enorme Rhyhorn, mas então pensou ter visto um vulto alaranjado atingir o vulto cinza na lateral de seu corpo, derrubando-o surpreendido no chão. Em seguida teve certeza de sentir o calor de uma forte rajada de fogo cobrir o monte de pedra caído.

Oddish! Pensava ele, desesperando-se ao ver o fogo. Oddish, não! Ele tentou se levantar, fez força com os braços e se jogou a frente, mas caiu novamente na grama. Viu algo brilhando enquanto via um vulto marrom e outro de cor laranja aparentemente batendo nas pedras que ele imaginava que fosse Rhyhorn. É o Eevee? Pensava ele, tentando mais uma vez se arrastar para frente. Lembrou-se de repente da noite em que conheceu seu primeiro Pokémon, quando foi nocauteado por um bando de Ratatas e salvo pelo pequeno Pokémon marrom. Ele havia crescido tanto desde então, como poderia se colocar novamente naquela situação?

Oddish! Eevee! Onde vocês estão? Dave queria gritar, tomado por um desespero que nunca antes tinha sentido. Sua cabeça ainda funcionava, mas seu corpo parecia estar morto. Nem mesmo sua boca lhe respondia mais de modo que era impossível falar. Tentou uma ultima vez, sem sucesso, levantar-se antes de cair de vez na grama molhada e viu um leve cintilar roxo no ar antes de tudo ficar negro e ele perder lentamente a consciência.