Everything's Better With You

06 - Mercados não são mais legais como antigamente


Prós e contras de fazer compras no mercado

PRÓS:

1- Eu sei que muitos podem não concordar comigo, mas eu gosto de fazer compras.

2- Você se sente útil. Afinal, se tem idade para ir ao mercado sozinho fazer compras, significa que finalmente não é mais uma “criancinha” aos olhos dos seus pais.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

3- Mercados são divertidos. Quando crianças, eu e Savannah fazíamos corrida de carrinho dentro do mercado. Ela sempre me deixava ganhar.

4- E o mais importante: Comida! Acho que não necessita de maiores explicações.

CONTRAS:

1- Acabar comprando algo errado, nem que for sem querer. O resultado é ter que voltar lá para trocar e de brinde ganhar uma bronca pela “falta de atenção”.

2- Às vezes você vai de bom coração e nem recebe o troco como recompensa. Qual é, está pensando que o meu precioso tempo é de graça? Não!

3- Pessoas mal educadas. Sempre tem aquele engraçadinho que quer furar fila no caixa.

***

Um mês havia se passado desde que eu cheguei a Minnesota.

As coisas estavam indo bem melhor do que eu imaginava. Para quem achava que iria morar no “fim de mundo”, com tratores e pastos, até que Shakopee era bem agradável. Eu gostava da tranquilidade que o lugar remetia, bem diferente da barulhenta Califórnia.

Depois de um algum tempo, descobri que Jill era realmente boazinha, ela não fingia isso, era simplesmente o jeito dela, sempre colocando os outros a sua frente. Algumas vezes ela lembrava minha mãe, quando só pensava em nós e esquecia-se dos seus próprios problemas. Sem falar que Jill era uma excelente cozinheira, ela disse que aprendeu sozinha, o que deixava tudo ainda mais surpreendente.

Já o meu pai... Bem, ainda estamos em “fase de teste”. A primeira coisa que eu reparei era que ele não passava tanto tempo no consultório odontológico agora como na época que morava comigo. Ele também parecia um pouco mais calmo. Neste tempo que eu estou aqui, não o vi levantando a voz ou brigando com Jill em nenhum momento. Lembro que ele e mamãe brigavam bastante. Nós não conversávamos muito, não por causa dele, mas por mim. Acho que não estou preparada ainda para isso. Melhor ir com calma.

E Avery? Ah, ela é simplesmente ela mesma. Sim, ela realmente é legal. Não era à toa que ela era popular na escola, todo mundo gostava dela. O jeito dela me lembrava um pouco de Savannah: tinha um bom coração, era sempre legal com todo mundo, essa paixão por moda, filmes românticos e músicas melosas. Só que diferente da minha irmã, ela era tudo isso em dobro e ainda tinha alguns defeitinhos: era um pouco exagerada, um pouco mimada, sincera até demais, falava pelos cotovelos e muito patricinha para o meu gosto. Mas ela era legal, do jeito dela, mas era. Vamos dizer que eu nem “odiava” tanto ela como antigamente, aos poucos você acaba se acostumando com o jeito da pessoa, principalmente se ela mora debaixo do mesmo teto que você.

Também tinha Maddie e Gabe. Eles foram os primeiros amigos que eu fiz aqui e com certeza os mais importantes. Maddie era uma garota responsável, legal, engraçada, preocupada com o meio ambiente — sim, ela até ia de bicicleta para a aula e conseguiu fazer o jornal da escola ser digital, assim economizávamos papel —, adorava ajudar os outros e era uma ótima amiga para todas as horas. Só tinha um defeito: ela amava hóquei. Pois é, ninguém é perfeito. Ela estava no time de hóquei feminino da escola e era muito boa, mesmo eu não gostando muito, cheguei a ver alguns treinos dela.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Já Gabe era certinho demais, não gostava de quebrar regras, vivia lendo pelos cantos, quando não estava na biblioteca estava no jornal. Era muito bom em computadores, gostava de escrever e dizia que um dia seria escritor. Não era fã de esportes, mas os seus outros “talentos” compensavam isso. Entre os “defeitos” eu poderia listar um que me incomodava muito: a lerdeza. Céus, às vezes ele me irritava com isso! Ele era um pouco tímido no começo, mas agora ele já estava mais falante. Até demais. Tanto que adorava pegar no meu pé, ficava me provocando em relação ao Kendall — eu já estava começando a me arrepender de ter falado isso na frente dele —, dizendo que formaríamos um casal fofo, que ficava torcendo para namorarmos. Depois leva um soco e não sabe por quê.

Eu havia ficado mais amiga dos meninos do time de hóquei também. Carlos fazia espanhol comigo e era muito engraçado, vivia com um capacete na cabeça, mesmo durante as aulas. Confesso que no primeiro dia eu fiquei assustada quando o vi assim, mas o professor e os demais alunos não pareceram se importar, acho que já estavam acostumados. Ele era muito bom em espanhol sem fazer esforço nenhum, enquanto que eu me matava para passar nesta matéria demoníaca e minha nota mais alta até hoje tinha sido um B+.

James estava na minha sala de Química. Eu não sei se ele tinha dificuldades, ou apenas dava uma de malandro, mas sempre que o professor pedia para fazermos algo em dupla, sempre tinha uma fileira de garotas querendo fazer com ele e faziam o trabalho tudo sozinhas. Um dia ele tentou fazer um trabalho comigo, mas eu disse que não faria a parte dele, ele teria que me ajudar, então ele me agradeceu, deu meio volta e foi escolher outra dupla.

Logan era o mais inteligente do grupo, na verdade, acho que ele era um dos mais inteligentes da escola. Ele fazia Álgebra comigo e o professor simplesmente idolatrava ele. Não, eu não estou exagerando. Ele sabia responder exatamente tudo que lhe perguntavam e até fazia uma contas complicadas de cabeça. Eu até gosto de matemática, mas nunca vou chegar à paixão que ele tinha.

Além de Maddie, Kacey também faziam Literatura comigo. Era até estranho vê-la longe de Avery, elas meio que pareciam “irmãs siamesas”. Confesso que gostava mais de Kacey quando ela estava sozinha, pois assim eu conseguia enxergar como ela era de verdade: uma garota que adorava ler e uma aluna muito dedicada. Ela também era uma boa ouvinte, era sempre gentil com todo mundo, engraçada e muito romântica. Me contou que adorava romances com uma pitada de mistério e ação. Sabe, eu iria adorar se ela fosse a enteada do meu pai, e não Avery.

— Stef? — alguém estalou os dedos repetidas vezes na minha frente. — Stef? Estou falando com você. Ei!

Falando em Avery...

­— Hm? — resmunguei de má vontade.

— Você escutou o que eu disse? — perguntou.

— Claro... Que não.

Novidades — ela revirou os olhos e voltou a procurar algo na prateleira.

E lá estava eu no mercado. Eu gostava de ir ao mercado, mas hoje eu não estava feliz.

Motivo?

Avery praticamente me fez cair da cama para fazer compras para a festa de aniversário dela. Em pleno sábado! Tecnicamente o aniversário dela era só amanhã, mas ela iria fazer uma festinha lá em casa hoje. Meu pai e Jill concordaram numa boa quando ela propôs isso. O que me deixou um pouco surpresa, meu pai não costumava ser assim tão legal quando ainda morava comigo. Pois é, parece que as pessoas realmente mudam, no caso dele, para melhor, ou não, depende do ponto de vista.

Enfim, ela praticamente me arrastou para o mercado Sherwood, que é aqui perto de casa, para comprar os comes e bebes. Kacey e Hunter também vieram. Não entendia o motivo de eu estar aqui então, o namorado dela dirigia e levava as coisas mais pesadas enquanto que as duas iam escolhendo as coisas. Simples. Não, não, Avery tinha que querer que eu viesse junto! Ela adorava a minha companhia. Queria poder dizer que não gostava tanto da dela, mas nas últimas semanas ela havia subido no meu conceito e não me parecia tão chata como antes. O que a convivência não faz, não é mesmo?

— Certo, o próximo item é... — ela analisou a tela do seu celular, onde ela havia feito uma “listinha” do que comprar. — Bebidas!

— Acho que isso não vai caber aí, Av — disse Hunter, apontando para cestinha quase cheia que ela carregava na mão esquerda.

— Tem razão, amor! — ela concordou um pouco preocupada. — E agora?

— Acho melhor pegarmos um carrinho — aconselhou Kacey, trocando a sua cestinha de mão.

— Boa ideia! Quem vai? — Avery perguntou.

— Eu! — me prontifiquei na hora. Tudo que eu queria era andar um pouco, não aguentava mais ouvir eles falando sem parar. Coloquei a minha cestinha no chão que já estava bem pesada.

— Ótimo! Os carrinhos ficam lá no estacionamento, do lado direito.

— Certo.

— Vamos estar no setor de bebidas, logo ali — ela apontou para uma série de corredores do outro lado onde era possível ver alguns refrigerantes na prateleira de longe.

Assenti e dei meia volta. Olhei para trás uma última vez e vi que Hunter havia pegado a minha cesta, ficando com duas. Ele seguiu Kacey e Avery que já estavam um pouco mais na frente conversando.

Fui em direção à saída. Chegando lá fora, encontrei os carrinhos no lado direito da porta, assim como Avery havia dito. Eu não tinha prestado muita atenção neles quando entramos. Tentei puxar um carrinho, que estava encaixado em mais uma meia dúzia, mas ele parecia estar preso.

— Precisa de ajuda?

Uma voz masculina disse atrás de mim.

— Obrigada, eu... — me virei para ver quem era. Quase não acreditei quando me deparei com aqueles olhos verdes me encarando. — Kendall?!

Sim, era ele mesmo. Em carne e osso bem na minha frente. Ele deve ter mudado a voz, caso contrário eu teria a reconhecido.

— Oi, Howard — ele sorriu. Odeio quando ele sorri desse jeito, dá para ver a sua covinha e isso o deixa fofo. Fica difícil ficar com raiva dele assim.

— Você só pode estar me perseguindo! Não é possível! — exclamei.

Eu nunca fui supersticiosa, mas estou começando a achar que tenho carma ruim. Todo lugar que eu ia acabava encontrando esse garoto. Se isso não for carma, não sei mais o que é.

— Tecnicamente, é você que está me perseguindo. Afinal, esse é o meu local de trabalho — ele deu um sorriso debochado.

Eu quase perguntei “O quê?!”, mas só foi eu dar uma rápida analisada nele para saber que ele não estava brincando. Kendall usava um avental vermelho que tinha um pequeno crachá metálico com o seu nome.

Droga! Ele realmente trabalhava aqui.

— Que seja — dei de ombros, não querendo demonstrar que ele estava certo dessa vez.

— Deixa que eu tiro o carrinho para você — se ofereceu, vindo na minha direção.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Não precisa! — agarrei o cabo do carrinho até os nós dos meus dedos ficarem brancos. — Eu consigo.

Ele parou e jogou as mãos para cima, como se se quisesse dizer: “Ok, manda ver”. Puxei o carrinho com força para trás. Nada. Puxei de novo. Nada. Segurei no cabo do carrinho que estava na frente para tentar separá-los melhor e puxei. Ele finalmente se soltou e deu uma empinada, ia cair por cima de mim se Kendall não o tivesse segurado pela frente.

— Belo trabalho, Howard — ele se controlava para não rir. — Sabe, receber ajuda às vezes não é feio.

— A sua ajuda eu dispenso!

— Deixa de ser mal agradecida, se não fosse por mim você teria se machucado feio.

— Não exagera, no máximo seria um tombinho... — dei de ombros.

Aí vai uma coisa sobre mim: Eu sou uma pessoa muito teimosa. Não iria admitir que ele pudesse estar certo. Nunca.

— Acredite em mim, eu já vi muitos acidentes com carrinhos neste estacionamento.

— Espero que um deles tenha acontecido com você — debochei.

— E aconteceu, quebrei o braço e tudo — ele fez uma careta, como se lembrasse da cena.

Nossa! Que tipo de pessoa fria e sem coração eu sou? Eu falei de zoação e o garoto vem me dizer que se machucou de verdade!

— Caramba, Kendall. Me desculpe... Eu realmente não sabia!

Ele começou a rir. Gargalhar de tanto rir.

Olhei para ele sem entender o que estava acontecendo.

— Eu estava brincando! — ele parou de rir aos poucos e enxugou uma lágrima invisível. — Você tinha que ver a sua cara!

— Não foi engraçado, seu idiota! — dei um murro no ombro dele.

— Aí! — ele reclamou massageando a área acertada. — Caramba, quase tirou o meu ombro do lugar!

— Nem doeu, deixa de ser fracote — balancei a cabeça, achando a cena dele muito exagerada.

— Claro que sim, você não imagina a força que tem. — disse convicto. Eu apenas revirei os olhos. — Que tal um beijinho para passar a dor, hein?

Eu mal podia acreditar na cara-de-pau dele.

— Que tal um murro no seu outro ombro para igualar a dor, hein? — sugeri.

— Pensando bem, nem está doendo mais tanto assim... ­ — ele mexeu o ombro “dolorido” para dizer que já estava melhor.

— Foi o que eu pensei — cruzei os braços e sorri vitoriosa.

— Ah! Tinha uma coisa que eu queria te perguntar.

— Pergunte, mas não garanto que vou responder.

Ele revirou os olhos.

— Lembra-se daquele bilhete que eu te dei no primeiro dia de aula? — perguntou.

— Oh, como esquecer da bronca que eu levei da srta. Gilmore por causa dele? — rebati.

— Enfim, você o leu?

— Não, eu joguei fora.

Ok, isso era mentira, eu não joguei fora. Eu sei, eu sei, deveria ter jogado. Mas acabei guardando no criado mudo, achei que ele poderia ser útil em algum momento futuro.

— Sei, sei — ele fez aquela cara de “me engana que eu gosto”.

— Então, o que tinha de tão importante nesse bilhete? — perguntei.

Ele poderia mentir se quisesse.

— O meu número — respondeu. — Mas você sabe disso.

— Não sabia, não... — fiz a cara mais inocente que consegui.

— Até parece! Você tem cara de ser bem curiosa.

— Nem sou! — mentira, eu era sim.

Foi por causa da minha curiosidade que eu resolvi abrir o bilhete, mas logo me arrependi. Ele só tinha me visto duas vezes na vida e já me deu o número de telefone dele? Tipo, oi?

— Aposto que adicionou o meu número e até colocou um coraçãozinho no lado — ele fez biquinho.

— Primeiro: Eu não adicionei o seu número — isso era verdade —, até porque eu nem sabia o que tinha no papel. — e isso era mentira. — E segundo: Mesmo se eu tivesse adicionado, nunca colocaria um coração no lado do seu nome, né, por favor — fiz uma careta.

Nem no tempo que eu namorava Will eu fiz isso. Nunca coloquei algo como “amor” ou “meu amor” e coloquei um coração no lado. Simplesmente botei o nome dele e deu. Mas isso com certeza era a cara da Avery, tanto que já vi que ela adicionou o Hunter desse jeito.

— Mais alguma coisa? — perguntei, fingindo de interessada.

— Não — respondeu.

— Que bom — forcei um sorriso. — Preciso voltar. Tchau — Comecei a empurrar o meu carrinho em direção à entrada do mercado.

— Tchau! Vejo você à noite.

— O quê?! — parei. — Espera... A Avery te convidou para a festa dela?

— A pergunta deveria ser: por que eu não seria convidado? — rebateu. Ele nem esperou eu falar alguma coisa e completou: — Boas compras, Howard.

E então saiu na direção oposta em que estávamos.

Eu já não estava muita animada para essa festa de aniversário de Avery, depois dessa eu fiquei menos ainda.

***

Voltei para dentro do mercado pensando no motivo de Avery ter convidado ele. Ela disse que seria uma pequena festa, só para os mais próximos. Então, por que ela convidou o Kendall? Ela estava querendo estragar minha vida?

Ok, sei que esse não era o motivo. Afinal, Avery nem sabia dos meus “problemas” com o Kendall, eu não havia contado para ela. As únicas pessoas que sabiam eram Savannah, Maddie e Gabe.

Empurrei o carrinho furiosamente pelo corredor central e não consegui parar a tempo quando um garoto loiro surgiu do nada na minha frente.

— Opa! — ele segurou a frente do carrinho para não ser atropelado.

Não, não era o Kendall. Seria azar demais. Se bem que, eu adoraria “quase” atropelar ele para compensar quando ele fez o mesmo comigo.

Ele estava olhando para mim com os olhos azuis arregalados, ainda se recuperando do susto.

— Ah! Oi, Hunter — disse. — Desculpe, eu não vi você.

Hunter era aquele tipo de cara gato, popular, bom jogador e que faz sucesso com as garotas. Com seus cabelos dourados penteados sempre para trás, olhos azuis, sua jaqueta de couro e o seu sorriso charmoso parecia ter saído direto de um daqueles filmes adolescentes dos anos 80. Ele se parecia com um bad boy, mas agia como o mocinho do filme.

— Isso eu percebi — ele riu, soltando o carrinho. — Aconteceu alguma coisa?

— Não, nada. — menti descaradamente. Só esperava que ter participado dos musicais e peças de teatro quando era criança tenham me ajudado a ser uma atriz mediana. — Por quê?

— Está um pouco vermelha — comentou. Ele parecia não estar acreditando muito em mim, mas logo depois balançou a cabeça. — Enfim, Avery achou que você estava demorando muito e me pediu para te procurar.

— Ah... Sim — tentei pensar em uma desculpa boa, mas não veio nada em mente. Resolvi mudar de assunto. — Elas ainda estão no setor de bebidas?

— Aham, não tinha como carregar tudo, precisávamos do carrinho.

— Claro. Vamos então — empurrei o carrinho em direção de onde elas estavam.

Ele andou ao meu lado com as mãos no bolso da jaqueta.

— Tem certeza que você está bem? — perguntou, parecendo apreensivo.

— Nunca estive melhor — menti.

Dei o melhor sorriso que consegui e acelerei o carrinho.

***

Avery e Kacey passaram praticamente a tarde toda trancafiadas no quarto se arrumando. Se elas já demoraram a se arrumar na festa de boas vindas do ano letivo, imagina agora que é uma festa de aniversário. Principalmente porque Avery é a aniversariante e tudo vai girar em torno dela.

Quando Kacey me perguntou, na aula de literatura da semana passada, se eu já tinha comprado um presente para Avery eu menti que sim. Na real, eu nem estava pensando em comprar nada para ela. Nós nos conhecíamos há pouco tempo e eu nem sabia direito os gostos dela. Então acabei pedindo uma ajuda para Savannah — elas se conheciam melhor, além de teres gostos mais parecidos — que me disse que ela adorava tiaras. Comprei uma muito bonita, porém simples. Eu não ia torrar minha mesada inteira comprando um presente para ela. Como é que eu ia sobreviver o resto do mês se fizesse isso?

Eu até me ofereci para ajudá-la a arrumar as coisas para a festa, mas Avery disse que não precisava, ela e Kacey dariam conta e que Hunter chegaria mais cedo para ajudar com as bebidas. Não discordei. Fiquei no meu quarto ouvindo música no notebook até que minha irmã entrou no Skype e começamos a conversar por vídeo chamada.

Era tão bom poder conversar com Savannah. Mesmo que fosse apenas por uma telinha. Sentia falta de dividir o quarto com ela, de ouvi-la gritando quando via algum inseto, de quando ela chorava por causa de um filme triste, de quando ela ria histericamente, de quando ela me dava um leve sermão de irmã mais velha. Eu sentia até falta das nossas brigas por motivo nenhum.

Parecia que estávamos longe uma da outra por vários meses, mas só havia passado um. Queria que ela estivesse aqui comigo, mas sabia que isso não era possível. Ela tinha a sua própria vida para cuidar: uma faculdade para se preocupar, um namorado que ela amava muito, um apartamento com contas para pagar. Ela já era adulta, mas eu não. Eu só tinha dezessete anos, ainda dependia do meu pai — mesmo não gostando nada disso —, não tinha um trabalho, a minha única responsabilidade era a escola, mas nada. Acho que estava na hora de ir atrás de um emprego, não queria viver à custa do “sr. Howard” por um ano inteiro.

Contei para Savannah como havia sido minha semana. Até que o assunto chegou nele.

— Queria saber como é que esse garoto que você tanto fala! — ela estava sentada no sofá do seu apartamento e dava para ouvir a televisão ligada ao fundo.

— Já te contei como ele é — contei nos dedos. — Chato, irritante, idiota, mal educado...

— Isso eu já sei — ela me interrompeu. — Quis dizer de aparência. Você não tem nenhuma foto dele para me mostrar?

— E por que eu teria uma foto dele, Savannah? Eu, hein!

— Ai, Stef, você entendeu o que eu quis dizer — revirou os olhos. Ela havia pegado essa mania de mim. — Redes sociais. Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat...

— Não tenho ele em nenhuma delas, felizmente — juntei as mãos e olhei para o céu. Quer dizer, o teto do quarto.

— Ele não deve ser assim tão ruim como você o descreve...

E lá estava Savannah Howard, a defensora dos fracos e oprimidos. Por mais que ela confiasse mim, só teria uma opinião formada sobre o Kendall quando o conhecesse. Bem, isso se o conhecesse mesmo. Eu esperava sinceramente que não. Porque se eu conheço bem a irmã que tenho era bem capaz dela adorar ele. Aí sim minha vida estaria arruinada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Tem razão — respondi. — Ele é muito pior.

Savannah respirou fundo, como se estivesse se preparando mentalmente para me dar mais um de seus sermões sentimentais. Às vezes achava que ela estava no curso errado, deveria ter feito Psicologia, afinal, ela adorava dar conselhos para todo mundo e eu era a sua “cliente” favorita.

Uma música começou a tocar bem na hora que ela havia começado a falar. Ela tinha uns vizinhos bem barulhentos, mas desta vez o som não estava vindo de lá e sim da minha casa.

Olhei para o relógio e eram 8 horas pontualmente.

— Nossa, ela consegue ser pontual até em festas — disse surpresa.

— Acho isso uma qualidade, queria ser assim — respondeu. Igual a Avery? Há! — Vou deixar você arrumar.

— Mas eu já estou pronta.

— Você vai assim? — ela apontou para a minha roupa com os olhos arregalados.

Olhei para mim mesma não entendendo qual era o problema. Eu estava de camiseta, um casaquinho, jeans, coturno e deixei o cabelo amarrado em um rabo-de-cavalo.

— Algum problema com a minha roupa? — perguntei.

— Para ficar dentro do quarto, não. Para ir a uma festa, sim.

Revirei os olhos.

— Você sabe que eu não ligo para essas coisas. Desde que eu esteja confortável está ótimo.

— Você não vai mudar nunca, né? — suspirou. Savannah já tinha tentado inúmeras vezes me convencer a “andar na moda”, mas todas as suas tentativas foram em vão. Nós tínhamos gostos totalmente diferentes e eu nunca andaria toda arrumada igual ela. Sem falar que ela usava muito rosa para o meu gosto. Eu nem gostava de rosa, preferia roxo.

— Você já sabe a resposta.

Ela suspirou derrotada.

— Certo, mas solte pelo menos o cabelo — pediu. Fiz que não. — Por favor, só isso! O resto você pode ficar como quiser, não vou falar mais nada.

— Feito — respondi, soltando o cabelo.

Ela bateu palminhas, animada.

— Agora você está pronta para arrasar!

— Menos, Savannah, bem menos. Só vou descer um pouco, ver se Avery precisa de alguma ajuda. Aproveito para comer um pouquinho e depois volto.

— Não! Você tem que aproveitar a festa, recuperar o tempo perdido! Quem sabe você não encontre algum gatinho, hein? Acho que já está na hora de você partir para outra!

Oh, não, acabamos de entrar na zona perigosa. Preciso cortar as “asinhas de cupido” dela antes que seja muito tarde.

— Pare! Nada de “super conselhos” agora. E eu estou bem sozinha — coloquei a mão na tampa do notebook — Até mais!

— Já entendi, você está me dispensando. Apenas divirta-se um pouco, ok? Te amo muito!

— Também te amo. Tchau! — desliguei o notebook e o coloquei na cômoda.

Sai do meu quarto e me certifiquei de trancar a porta. A última coisa que eu queria era alguém invadindo o meu espaço sem permissão.

Do lado de fora o som estava bem mais alto. Estava tocando alguma música do Calvin Harris que eu não lembrava o nome.

Enquanto descia as escadas reconheci algumas pessoas que faziam matéria comigo. Avistei um grupo de garotos de jaquetas vermelhas com a manga amarela que só podiam ser o time de futebol americano. Alguns rostos que eu só conhecia de vista. Mesmo assim, achei que tinha muita gente nesta festa. E ainda era cedo, provavelmente chegaria mais pessoas ainda.

Avery disse que seria uma festa apenas para os mais próximos, eu imaginei algo com no máximo vinte pessoas. Claramente havia muito mais do que isso só agora.

Só que eu me esqueci de um pequeno detalhe: Avery era popular na escola, se dava bem como todo mundo. O que significava que ela deveria ter convidado praticamente o último ano todo e, se duvidar, alguns do 11º também.

Agora entendi o motivo de ela ter comprado tanta comida e bebida. Ela não estava sendo exagerada.

Pelo jeito a “festinha” de Avery era uma festança.