Quatro dias se passaram. Continuei saindo com os meus amigos, todos os dias nos encontramos, sempre em lugares diferentes. A Madge tomou uma decisão e vai morar comigo, a família dela tem uma condição financeira muito boa, então vão dar à ela trinta mil dólares para usar com o que precisar, mas somente para emergência, é óbvio que eu vou ajudá-la a cuidar dessa grana, que é enorme. Hoje já era Véspera de Natal, eu combinei com a minha mãe que passaria o dia de hoje e amanhã com ela, mas que, no ano novo eu iria participar de uma festa na casa da Johanna.

Há alguns dias atrás eu havia conversado com a Annie sobre eu fazer um cursinho de teatro aqui perto, e eu realmente comecei a fazer. Ontem fui conversar com o meu professor e disse que não poderia apresentar a peça, que eu estava lá mesmo era pra aprender algumas coisas, já que, eu nunca tinha entrado no teatro antes e teria que ir para Universidade. Ele aceitou numa boa.

Acordei e me levantei com pressa. Fui até o banheiro, lavei meu rosto, escovei os dentes e voltei ao quarto. Fiquei observando um porta-retratos que ficava em cima do criado mudo, ao lado da minha cama. Era uma foto minha, da Prim e da minha mãe juntas, em um piquenique no parque. Eu estava muito animada com a mudança, e estava feliz de ter sido aceita na Universidade! Eu sentiria muita falta de Kentucky, dos meus amigos, da minha família... mas o certo seria eu ir o mais rápido possível, não posso simplesmente me sentar e esperar alguém me convidar para participar de algum filme. Meu sonho sempre foi ser atriz de cinema, eu não ligava muito para um diploma. mas eu queria fazer isto, pela minha mãe. Quero deixá-la orgulhosa, ela merece isto.

Deixo uma lágrima cair, olho em direção à porta e vejo Prim, me observando.

– Katniss, você está bem? – ela perguntou, se aproximando e se inclinando para ver o que tinha no porta-retratos.

– Oi Prim, estou sim. Sabe que eu vou sentir a sua falta, não é? E da mamãe também, é claro. É que eu fico preocupada, pois Los Angeles é tão longe, se acontecer algo não vou poder vir correndo. – respondo, acariciando seus lindos e macios fios de cabelo.

– Eu te entendo, também sentiremos sua falta. Tomara que você conquiste algum garoto perfeito lá. – sorri. - Você merece tudo isso e muito mais, eu realmente espero que você se torne uma atriz famosa. – pausa. – Em falar nisso, você vai fazer teste para filmes quando chegar lá? – ela pergunta.

– Não sei, provavelmente não, pois se eu tiver que gravar algum filme terei que desistir da Universidade sabe? Gravar um filme não é algo tão simples, fácil e rápido não. – respondo.

– Katniss, pense comigo, você tem dezoito anos, correto? – ela perguntou. Assenti com a cabeça. – Então querida, a Universidade vai durar cerca de quatro anos, então você terá vinte e dois anos quando sair de lá formada. Eu sei que você ainda vai estar bem nova, mas é melhor você começar a tentar logo. É que você parece uma menina linda de dezesseis anos, muitos diretores vão querer fazer filmes sobre adolescência, e acho que você se encaixaria nisso, sabe? – ela diz.

Não posso negar que ela está certa, eu realmente tenho cara de mais nova e já li algo na internet sobre isso, muitos diretores procuram mesmo atrizes mais novas. Acho que ela quis dizer que, se eu for tentar depois da Universidade, pode ser tarde demais, pois eu já vou estar mais madura, provavelmente com cara de adulta. Continuei calada.

– Katniss, não foge do assunto. Você está com medo? É isso? – ela pergunta, eu a olho com uma expressão divertida.

Acabo de perceber que ela está chamando pelo meu nome toda vez que fala algo, provavelmente ela não está brincando.

– Talvez eu esteja um pouco assustada, sabe? Eu entrei no teatro faz poucos dias, isso é ridículo, eu não me acho talentosa. Apesar que, eu sempre treinei com a Madge. – respondo.

– Katniss, você sabe muito bem que a Madge estuda isso desde os seus cinco anos de idade. Quase tudo o que ela aprendeu ela te passou. E eu vi o seu ensaio no teatro ontem, você tem talento sim. Eu te acho boa nisso. Óbvio que você não tem o talento que a Madge tem, ela é excelente, mas você está quase lá. Porque não treina mais? – ela perguntou, em seguida apoiou as mãos na cintura, como se estivesse fazendo pose.

– É, você está certa Prim, eu vou fazer testes sim. – respondi.

Ela sorriu. Nos abraçamos e descemos para tomar café. Minha mãe estava na cozinha, terminando de preparar waffles.

– Bom dia rainha. – disse enquanto terminava de descer os dois últimos degraus. Ela me olhou e sorriu.

– Bom dia minhas princesas. Dormiram muito, não? – ela perguntou sorridente.

– Na verdade não, nós estávamos conversando lá em cima. – disse Prim, que me olhou e deu uma piscadela. Sorrimos e nos sentamos à mesa.

– Adoro quando vocês estão unidas dessa forma, eu realmente estou muito orgulhosa de você estar indo para a Universidade Katniss, só é uma pena que seja tão longe. – dizia minha mãe, enquanto trazia os waffles prontos para a mesa e se sentava conosco. Sorrimos.

Peguei a caixinha de suco e entornei sobre meu copo. Bebi um pouco e comecei a comer. Uns cinco minutos depois, me levantei e fui para o quarto. Deitei na cama, sem nada para fazer, acabei pegando meu celular e mandando uma mensagem para Madge.

Madge, seja sincera comigo, você me acha talentosa? Quer dizer, você é uma ótima crítica, não tenha pena de mim, por favor, eu preciso de uma nota para minha atuação, tudo que for possível. Me responda logo, beijos.”

Alguns segundos depois ouço o toque do celular, ao olhar, havia chegado uma nova mensagem, abri para ler.

“Sinceridade? Te dou 8,7 mas pra quê isso agora? Isso não muda o fato de você ser uma ótima atriz, sabia que tem atores famosíssimos que eu daria nota 5 para as suas atuações? Vamos lá, se eu descobrir que a sua autoestima está baixa, eu vou dar na sua cara Katniss.”

Eu deveria estar feliz ao ler isso, mas não estou, na verdade sinto um pouco de medo, eu sempre fui muito insegura, e se por acaso eu for um desastre? Eu tenho certeza que só fui aceita na Universidade por causa das minhas notas. Resolvi responder sua mensagem.

“Ridícula, é que eu me sinto insegura e com medo.”

Alguns minutos depois ela finalmente retornou.

“Não sei o por quê disso, não adianta correr atrás agora querida. Eu já te passei metade dos meu métodos de atuação, se quiser posso te ensinar mais coisas, talvez sua nota aumente para 9 ou 9,5, quem sabe?

PS: Não estou sendo boazinha com você, eu realmente falei 8,7 mas é porque eu acho isso, se você fosse minha inimiga eu responderia a mesma coisa.”

Sem hesitar, comecei a digitar:

“Por quê eu acho? Simples, Madge, você atua desde os seus cinco anos, eu comecei com isso quando tinha quatorze. E mesmo assim, a primeira vez que eu pisei em uma aula de teatro foi há dois dias atrás. Você não, tem anos de prática, eu sou uma amadora perto de você. Se eu pudesse dar uma nota para minha atuação daria 4, eu sou horrível amiga. Mas obrigada, e vou adorar que você me ensine mais, quem sabe no final do ano eu me dê nota 5 ou 6. Minha meta é 10, quer me ajudar?”

Dois minutos depois meu celular volta a tocar, olho na tela e era mais uma mensagem dela.

“Claro que quero. Acho que você deve parar de se preocupar com isso, você não vai para Universidade? Lá você vai aprender mais de 1001 coisas novas que nem se passaram pela minha cabeça entende? É claro que você vai me ensinar e tal, mas poxa. Fé amiga, fé, você é boa, só que não percebe. Estou indo descansar agora, beijos”

Não a respondi mais, fiquei com preguiça de digitar. Então desci e fui ajudar minha mãe a preparar a ceia.