Na segunda feira que sucedia todos os acontecimentos do dia anterior, fui rudemente despertada com o som da campainha em uma hora que a mesma ainda não deveria ainda estar tocando. Prontamente resolvi ignorar e rolar para o lado a fim de não escutar mais aquele som irritante e para a minha tristeza, o barulho seguiu insistente até que me obrigasse a ficar de pé, xingando o futuro defunto até, bem... A morte.

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Perceba que eu estava bastante mórbida nos últimos dias. Culpe o fantasma irritante que havia aparecido sem anúncio na minha vida.

Me arrastei em direção as escadas, abrindo a porta em seguida e fechando ainda mais a cara assim que vi quem tinha me acordado.

— O que você faz aqui, seu desgraçado? - Perguntei arqueando as sobrancelhas, com a minha cara mais assassina.

— Sua gentileza é tanta que me comove, olhe as lágrimas escorrendo pelo meu rosto – Adrian disse com uma mão pousada no peito dramaticamente.

—O que você está fazendo aqui a essa hora Adrian? As aulas foram canceladas em respeito à Rayn Miller – Ignorei seu drama e o olhei interrogativa.

— Ah sim! – O tapado pareceu se lembrar e bateu as mãos empolgado – Eu queria perguntar se você vai na festa hoje.

— Você veio até a minha casa e me acordou de madrugada só pra perguntar se eu vou nessa festa estúpida?! – Falei cerrando os dentes. A vontade de mata-lo naquele momento era bastante tentadora.

— Julie, é quase duas da tarde – Ele falou olhando no celular, parecendo perdido.

— O que eu acabei de dizer? Madrugada.

— Você é ridícula. Então, vai ou não?

— Não! É uma festa idiota, com gente idiota!

Naquele exato momento, Rayn decidiu aparecer “magicamente” do meu lado me fazendo dar um pulo de susto.

— Opa, o que você quer dizer com isso?! Eu ia nessas festas.

Segurei o grito que quase saiu de minha garganta e respirei fundo algumas vezes antes de poder responder aquele argumento besta.

— Exatamente onde eu quero chegar, obrigada por provar tão bem o meu ponto Miller.

— Ha há, que engraçadinha.

— Er, Julie você ta falando com que... Ah. Hã, oi Rayn.

— É, ok. O papo está muito bom, mas a minha cama me chama. Obrigada por absolutamente nada e tchau para vocês dois! – Cantarolei, contente de poder escapar daquela discussão maluca.

No entanto, quando ia bater a porta na cara de Adrian, ele a segurou com firmeza e deu um sorrisinho vitorioso. Grunhi irritada, malditos músculos!

— Você sabe que a Stacy não vai deixar você dizer 'não', não é?

— Ainda tenho esperanças – Falei deprimida.

Meu amigo riu e murmurou um “iludida” antes de eu quase quebrar o nariz dele com a porta. A raiva fazia maravilhas para a minha força.

— Você é cruel – Ryan falou rindo ao ouvir os protestos do garoto do outro lado da porta (agora devidamente fechada).

— Muito bom você saber disso, não acha?

O outro deu um passo para trás, assustado com o sorriso macabro que eu ostentava.

— Ok. Depois dessa, acho que eu vou indo. Tchau!

Senti vontade de gargalhar com aquela cena, mas apenas abri mais ainda meu sorriso maléfico.

— Hm, tenho que tentar fazer isso mais vezes.

R.M

Assim que consegui fugir daquela expressão endiabrada no rosto de Julie, pude novamente voltar para o local onde, aparentemente, os mortos ficavam quando ainda possuiam assuntos pendentes. Olhei à minha volta e suspirei. Por que eu tinha que fazer aquilo? Por que eu tinha que morrer?

Ali era um grande escuro, sem fim e frio. Vários fantasmas vagavam sem rumo, murmurando coisas sem nexo e sem esperanças, procurando por algo que não sabiam, fragmentos que faltavam, pessoas que não lembravam.

Eu podia entender que apenas uma coisa todos tinham em comum, além da morte, é claro. Todos ali estavam perdidos; de corpo e mente.

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Naquela primeira vez que havia visto aquele lugar, fiquei confuso; os fantasmas não iriam para o paraíso? Ou pelo menos, para o céu?

Depois do que tinha visto, achava que não.

Assim como durante todos os minutos desde o dia do acidente, repassei em minha cabeça todos os acontecimentos. Com eles vieram a raiva, o arrependimento, a culpa e a tristeza com a qual eu já me acostumava; sentia que ali conseguia me misturar muito bem a todos os outros espectros andarilhos que vagavam ao meu redor.

Por que ter o “poder” de ir ao mundo dos vivos se ninguém me via? Se ninguém me escutava?

Foi o que pensava até o dia do velório. Quando aquela maluca, sem nenhuma pretensão de estar ali, fingindo que chorava por uma pessoa que mal conhecia, gritou na frente de toda a escola e me olhou nos olhos, enraizando uma esperança inútil em meu peito. Eu sabia que algo iria mudar.

Eu queria que algo mudasse.

Perguntas encheram a minha cabeça. Mas a principal era: Como ela me via e por quê?

Já a havia reconhecido de cara, é claro. Como não? A única garota que ousou desafiar Rayn Miller, que ousou gritar comigo em público. Pude ouvir muito bem os boatos e cochichos de desprezo por ela em toda a escola - a vagabunda culpada pelo acidente do amado capitão do time de futebol.

Apenas que, aquilo não era inteiramente verdade.

[West High School, poucas horas antes do acidente]

Eu estava possesso! Como aquela pirralha metida ousava dizer aquilo para mim?! Quem aquela idiota pensava que era?!

Ouvi passos cautelosos as minhas costas e me virei ainda transtornado, dando de cara com a última pessoa que queria ver naquele momento. Era a hora errada para aparecer; não queria e nem podia descontar minha raiva na pessoa errada.

— Rayn? Você ta bem cara? – Scott me perguntou, segurando meu braço com preocupação mas o puxei de suas mãos violentamente. Eu não queria e não ouviria ninguém agora.

— Tenho que ir. Te vejo amanhã – Falei bufando alto e indo em direção ao estacionamento, enquanto pisava duro.

O garoto me seguiu apressado. Grande erro.

— O que?! Você ta brincando, não é? Não pode matar aula de novo! Vai ser expulso cara!

Naquele momento, com um turbilhão de emoções passando por mim, senti explodir com toda a fúria que se acumulava, descontando tudo para outra pessoa. A pessoa que não merecia nada daquilo.

— E quem diabos é você, porra? – Me virei para ele fervendo de raiva – Meu pai por acaso?!

Scott fechou a cara, recuando um passo com mágoa evidente nos olhos claros.

— Não. Sou seu melhor amigo desde a quarta série Rayn. Mas de uns tempos pra cá parece que esqueceu disso.

— Bem, foda-se isso, eu não sou uma criança e não preciso de você para me vigiar e ditar o que posso ou não fazer agora.

Scott balançou a cabeça, parecendo muito decepcionado com a situação e começou a se afastar. Senti vontade de retirar as palavras assim que deixaram minha boca mas me limitei a ignorar aquilo com certo esforço e fui em direção ao carro que havia ganhado dos meus pais de aniversário um mês atrás.

Coloquei a chave na ignição, não sem antes ver meu amigo pelo retrovisor parado no meio do estacionamento, com um rosto que estava igualmente preocupado e decepcionado. A expressão ainda estava engravada na mente quando sai cantando pneu em direção a estrada. O rádio já estava ligado, mas não sabia que musica tocava, minha cabeça estava longe.

Junto à briga com Scott, os pensamentos da garota me enfrentando vieram a tona outra vez e uma nova e maior raiva cresceu dentro de mim. Pude ouvir o barulho de uma buzina, quando afundei meu pé no acelerador sem pensar no perigo que estava correndo. Sem notar que o sinal estava vermelho e infelizmente foi tarde demais para parar.

O caminhão bateu em cheio no carro, me fazendo voar em direção ao volante, enquanto o som de estilhaços invadia meus ouvidos e o gosto de ferro em minha boca era insuportável.

Depois disso, minha visão escureceu.

Me arrependi muito depois por não ter dado ouvidos a Scott quando tive a chance. Na verdade, acho que depois que morri, comecei a perceber e me arrepender de muitas coisas. A escolha de ser popular foi uma delas.

De verdade, o que ser popular tinha me trazido? Amigos falsos? Namorada bonita e interesseira? Festas que me faziam encher a cara e ficar mal no dia seguinte? Nada disso parecia valer a pena e ser bom agora.

Quando Julie gritou comigo aquele dia, antes do acidente, quis estrangulá-la até sufocar, mas agora percebia que tinha razão.

Sinceramente, não sabia o que era mais estranho. Achar que Julie Evans estava certa ou, como eu havia descoberto após falecer, existir um portal que permitia a determinados mortos irem para o outro mundo.

Provavelmente a primeira opção.

Antes que as memórias como a do dia do acidente me atormentassem ainda mais, optei por retornar para o mundo dos vivos e atravessei o portal da mesma forma que havia aprendido dias atrás. Assim que o enjoo passou (sim, fantasmas podiam enjoar!), reparei que estava em um cômodo conhecido. Julie ainda não tinha me visto e dançava uma musica que tocava no rádio.

Desculpe, eu falei dançava? A garota pulava feito uma maluca no colchão, enquanto fazia uma dancinha estranha, fingindo tocar uma guitarra imaginária. Ela usava com um moletom do Mickey, uma calça folgada e meias rosa de abacates, seu cabelo amarrado frouxamente no alto da cabeça devido à dança.

Aquilo era hilário.

— Uau! Por que não fantasmas não tem celular com câmera mesmo? – Falei em voz alta, assustando-a e ela se virou, deixando o corpo cair rapidamente na cama macia.

— O que você está fazendo aqui?! – Gritou com o rosto ganhando um tom vermelho nas bochechas, o que a deixava bastante fofa e... Espera. O que?

— Bem, eu meio que moro aqui agora – Disse ignorando aquele pensamento intrusivo e me joguei na cama apenas para irrita-la. Funcionou.

— Se você não tirar esses pés de fantasma de cima da minha cama agora eu vou te dar um bom motivo para...

O celular de Julie tocou interrompendo-a do seu discurso de como iria aniquilar minha vida inexistente. Pude ver ela marchar até o celular com raiva, tentando salvar sua dignidade da cena que eu havai presenciado.

— Alô? Quem é o futuro defunto?! – Já falei como Julie Evans é simpática? — Ah. Stacy.

A garota revirou os olhos, parecendo muito cansada de repente.

— Não. Stacy, eu não vou nessa festa sem noç... O que? Garota, você ficou doida? - Alguns segundos de tensão se passaram antes que ela socasse uma almofada ao sua frente - Você não ousaria fazer isso. Eu vou te matar, juro! Você já era Montgomery!

Seu suspiro foi alto, pesado e Rayn sabia que a morena tinha perdido o que quer que fosse aquele jogo.

— Que seja, tá bom! Eu vou nessa droga de festa. Para de dar esses gritinhos escrotos antes que eu mude de ideia. Ok, tchau. Até.

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— Então você vai na festa – Apontei à ela, arqueando as sobrancelhas e concluindo o que tinha escutado da conversa.

— Infelizmente é o que parece – Ela abaixou os ombros, derrotada.

— Eu não entendo. Primeiro, por que está tão infeliz? Garotas amam festa não amam?

Ergui outro dedo junto com o indicador que tinha levantado.

— Segundo, preciso descobrir o que a Stacy falou que te convenceu a ir, isso ia facilitar muito o meu trabalho.

Ela soltou um riso anasalado.

— Bom, primeiro, eu não sou sociável o suficiente para gostar de festas e segundo – Ela levantou dois dedos, me copiando em um gesto debochado – Você nunca vai saber.

J.E

Certo. É quase certeza agora que sou uma médium.

Ok, provavelmente não sou. Eu nunca tinha visto nenhum tipo de aparição fantasmagórica, espectral ou de outros mundos antes de Rayn Miller e nunca vi nada depois dele também, então essa teoria não fazia muito sentido.

Mas porque só eu conseguia ver aquele fantasma idiota? Será que tenho poderes especiais desconhecidos até então?

Acho que não. As minhas únicas qualidades são dormir até tarde e comer um prato em cinco minutos, o que não me parece nada especial e eu com toda a certeza não caí numa lata de lixo tóxico.

Ei! Isso ia ter sido legal!

— Julie! – Rayn estalou os dedos na minha cara e franzi a testa, piscando algumas vezes para voltar a realidade.

— Faça isso de novo e dê adeus aos seus dedos – Disse ameaçadoramente.

— É, que seja. Olha eu não quero te apressar...

— Já está apressando – Falei com uma cara de tédio e ele me fuzilou com os olhos. Como sempre.

—...Mas falta quinze minutos para a tal festa que você prometeu ir sob ameaças da sua amiga.

— Não que eu ligue mas porque isso importa para você? No mundo dos fantasmas todo mundo é fuxiqueiro assim também?

— Argh! Só vai logo garota! – Se fantasmas pudessem ficar vermelhos de raiva, Rayn estaria assim.

Ainda rindo, finalmente me levantei do estado vegetativo que eu estava até aquele momento e tentei escolher a roupa menos amassada possível do armário. Optei por um vestido que a própria Stacy havia me dado de aniversário e que eu ainda não tinha usado, aplicando uma maquiagem leve e tentando domar meu cabelo revolto no processo; calcei um salto baixo que estava enfiado no fundo da gaveta para situações como aquela, analisando todo o conjunto no espelho e quase dei tapinhas de congratulação em mim mesma pelo esforço.

Eu já sabia que o dia em que Stacy me forçaria a essa tortura estava próximo e tive que me preparar o máximo possível. Ver tutoriais de maquiagem no YouTube é mais divertido do que parece quando você não está realmente empenhada em acertar.

Desci as escadas, concentrada em não torcer meu tornozelo antes de pelo menos, metade da festa e encontrei Rayn me esperando, com uma pose bastante impaciente.

— Hã, sério? Por que você ainda tá aqui?

— Eu vou na festa com você oras – Ele deu de ombros como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Ah me desculpe, que cabeça a minha! É que eu sempre costumo ir a festas com fantasmas estúpidos.

Ele riu um pouco do meu sarcasmo evidente antes de abrir a porta.

— Julie, pra começar, você nem vai às festas.

É, bem, isso eu não tinha como negar. Optei por não dizer nada e fui em direção ao carro com o rosto emburrado.

[...]

Deveria ter uma lei obrigando melhores amigas que: se a outra dissesse que não queria ir em um determinado lugar, ela teria que aceitar.

Eu estava quase colocando essa regra por escrito depois que um cara derramou sei-la-o-que no meu vestido e Rayn, aquele inútil, me deixou plantada assim que colocamos os pés na casa dizendo que ia “explorar o lugar”. Claro! Como se ele nunca tivesse vindo nessa casa antes.

Após caçar informações de uma garota que me encarou como se eu estivesse atrapalhando sua noite (o que era provável), subi em direção ao corredor onde ficavam os quartos e torcia para que houvesse banheiro em um deles já que meu vestido ao que parecia, não combinava muito com manchas de liquídos desconhecidos derramados nele.

Entrei em uma das inúmeras portas, percebendo meu erro com certo atrasado quando vi um cara deitado lá, o que me fez parar com um passo no ar e comecar a sair devagar.

— Opa, foi mal! Não sabia que tinha gente aqui.

O homem levantou a cabeça com a minha voz e sorriu de um modo estranho para mim, se pondo de pé com dificuldade por conta de toda bebida que devia ter ingerido.

— Sem problemas gata! O que você acha de ficar aqui comigo, hein? Qual o seu nome? A gente pode se divertir juntos!

— Err... Não, obrigada! – Falei me afastando ainda mais ao perceber que ele vinha em minha direção com passos pesados e os braços estendidos.

— Ei, espera. Fica aqui!

Antes que eu cosneguisse alcançar a porta, pude sentir suas mãos agarrando minha cintura com força e grunhi irritada, tentando arranhar e estapeá-lo onde minhas mãos alcançavam, meu coração batendo forte contra as costelas pelo medo.

— Que droga! Me larga, seu idiota!

Eu realmente não sabia medir as palavras quando realmente importava e irritar um pervertido bêbado era a última coisa que eu precisava naquele momento. O desgraçado apertou a minha cintura com ainda mais força e me jogou na cama com raiva, me fazendo dar um grito de susto. Antes que eu tentasse aproveitar a deixa e saltar para longe, o homem cambaleou rapidamente até mim e se jogou contra o meu corpo, rindo de maneira assustadora.

— Para! Para caralho! – Comecei a me debater, o medo me dominando de forma aterrorizante. Foi quando senti o verme lamber o meu pescoço, que todo o sangue se esvaiu do meu rosto e comecei a socar e chutar o homem frenéticamente.

Ele gruniu de dor quando acertei um joelho em seu estômago e começou a levantar meu vestido. Meu coração parou naquele momento e antes que eu pudesse gritar por ajuda à plenos pulmões, o peso do seu corpo sumiu acima de mim. Ainda tremendo, vi o homem cair para trás com um baque tão forte no chão que sabia que uma costela tinha quebrado. Ou pelo menos, era o que parecia.

De forma bizarra, ele se levantou e seu corpo bateu na parede com força enquanto os pés saiam do chão e ele agonizava, segurando o pescoço com desespero, tentando buscar o ar que parecia não chegar aos seus pulmões. Logo depois o desgraçado se jogou no chão (literalmente se jogou sozinho) e virou a cabeça para o lado com um grito contido de dor.

Aquilo era um dente voando?

Eu não estava entendendo nada. O idiota tinha desmaiado, suaa boca sangrava e...

Ah. Meu deus.

— Hã, Rayn? – Falei hesitante e com o som da minha voz, uma figura masculina apareceu em pé, na frente do cara semimorto, ofegando e com a mão em punho, pronto para deferir outro golpe.

— Eu vou matar esse cara – A voz dele tremia de raiva e fiquei com muito medo do estado furioso em que se encontrava.

— R-Rayn? – Ele se virou com uma expressão furiosa que logo se dissolveu ao me ver. Eu deveria estar ridícula! Encolhida, com o vestido amassado, levantado até o alto da coxas e o cabelo todo despenteado.

— Julie... você esta bem? Ele fez alguma coisa com você? – Sua voz atingiu um tom preocupado e ele veio até mim, fazendo eu me encolher mais. Sabia que não deveria ter medo, afinal ele era um fantasma, mas não pude evitar.

O loiro estancou no lugar e me olhou com uma expressão sofrida.

De repente as lágrimas vieram. Tudo o que eu havia segurado veio a tona e comecei a soluçar, meu corpo tremendo de forma bastante vergonhosa.

Rayn soltou um suspiro alto e inconformado.

— Droga! Me desculpe Julie! Quando vi aquele cara com você e fazendo aquilo eu... Não sei! Não era mais eu! – Ele revirava os cabelos de forma perturbada – Eu não posso nem te consolar. Que droga!

Senti ele se sentar na cama, longe de mim e o ouvir suspirar pesadamente. Eu ainda tremia quando, lentamente, me esgueirei para o seu lado da cama hesitante. Meu choro havia parado, mas as lágrimas ainda corriam.

Fique tentada a tocar seus fios despenteados, para acalma-lo daquela raiva que ainda emanava dele mas Rayn foi mais rápido e levantou a cabeça, me olhando nos olhos com intensidade.

— Tá tudo bem – Falei baixinho, fungando um pouco no processo - Não se preocupe.

Um riso pequeno saiu dos seus lábios rígidos pela preocupação.

— Eu sei – Ele passou a mão em meu rosto para limpar minhas lágrimas, mas só senti uma brisa morna – Você é durona.

Ri um pouco e o fantasma sorriu satisfeito.

— Vamos para casa? – Falei, não me importando de parecer uma garotinha pequena.

Agora é minha casa também? – Arqueou as sobrancelhas, tentando parecer mais relaxado com a conversa e me acalmando no processo, ainda que eu tivesse a certeza de que as imagens daquela noite voltariam para me assombrar.

Humanos muitas vezes, podiam ser mais assustadores do que os fantasmas.

— Você meio que mereceu o seu lugar – Sorri fracamente – Mas não vai se acostumando. Eu não sou de dar moleza!

Ele soltou um pequeno riso outra vez e seus olhos começaram a se acalmar, aquela fúria assassina de um tempo atrás já sumindo.

— Me preocuparia se fosse.

Me levantei com as pernas ainda fracas e fomos em direção à saída, conversando durante o caminho para tentar nos distrairmos daquela noite terrível. Rayn parecia esquadrinhar o lugar e se colocar como um escudo entre mim e todo o resto até que estivessemos dentro do carro em direção à minhas casa outra vez.

Eu ainda não tinha nenhuma noção do que sou por conseguir ver, ouvir e falar com Rayn, mas começava a achar, pela primeira vez em algum tempo, que tinha um pouco de sorte por aquilo.

Só um pouquinho, mesmo.