Et in Arcadia ego

Ipsa scientia potestas est


A cabeça de Tom doía, latejava, mas ele ainda estava melhor do que Potter. Ele tinha ficado de olho no outro rapaz enquanto este passara horas se revirando na cama enquanto suava, gemia e gritava coisas incompreensíveis enquanto Hermione tentava tratar dele com várias poções e feitiços. A picada da cobra no braço dele já estava quase totalmente curada, diferente da enorme ferida ovalada no peito de Harry que lentamente começava a cicatrizar. Riddle havia visto Hermione tirar dali o que parecia ser um medalhão dourado, tendo que cortar fora um pedaço da pele do garoto, já que o objeto parecia ter queimado e grudado na pele do outro.

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“Onde você colocou a horcrux?” perguntou Harry, abaixando a camiseta outra vez, depois da amiga ter examinado mais uma vez o machucado.

“Na minha bolsa.” Hermione olhou rapidamente para Riddle, como que para lembrar o amigo da presença dele. “Pensei que seria melhor que nenhum de nós o usasse por enquanto.”

Potter encostou-se nos travesseiros e finalmente olhou o outro rapaz, mesmo que apenas por um momento, antes de voltar a olhar a bruxa.

“Nós não deveríamos ter ido até Godric’s Hollow. É minha culpa...”

“Não. Eu também queria ir, Harry. Realmente achei que a espada pudesse estar lá.”

“Bom, foi uma decisão ruim, não?”

“O que houve?” perguntou Tom, quase sem perceber, fazendo com que os dois o olhassem. Desde que voltaram de Godric’s Hollow, o rapaz não abrira a boca. Ele sabia que era hora de se manter quieto, sabia que Harry, em seu estado delirante, não iria entender nada e que Hermione estaria ocupada demais. “Da onde veio aquela cobra?”

“É, o que houve? Ela estava escondida...?”

“Não. Ela era a cobra... Ou a cobra era ela, não sei. Mas o tempo todo Bathilda era a cobra.”

“O que?” Hermione perguntou, arregalando os olhos.

“Bathilda já devia estar morta por muito tempo.” A imagem da velha bruxa caída o chão do quarto onde a cobra os atacara voltou à mente de Tom. Ele se lembrava de como o rosto dela estava pálido e retorcido, e como toda a casa tinha um cheiro de mofo, coisa podre e sangue. “A cobra estava dentro dela. Você-Sabe-Quem deve ter colocado ela lá porque sabia que nós iríamos até Godric’s Hollow.”

“A cobra tava dentro da mulher?” perguntou Riddle e, pela primeira vez, viu Harry não o olhar com aquela expressão irritada de sempre. “Como isso é possível?”

“Magia.”

“Sim, mas deve ter sido alguma magia muito, muito negra!” murmurou Hermione.

“Lupin disse que tem magia por ai sobre as quais nós nem sonhamos que possam existir,” disse Harry. “Ela não queria falar na sua frente porque ela falava na língua de cobra, ofidioglossia pura. Eu não notei, óbvio, porque eu entendi o que ela dizia. Quando eu entrei naquele quarto, a cobra mandou algum tipo de mensagem para Você-Sabe-Quem, e eu senti isso. Ele estava animado e disse para ela me segurar ali... E então... Ela virou a cobra.” Potter olhou para o próprio braço, fazendo uma careta. “Não era para ela me matar. Ela tinha que me manter ali até ele chegar.”

Potter havia acabado de dizer que entendia o que a cobra dizia ou era apenas impressão? Riddle massageou as têmporas com as pontas dos dedos, sentindo o latejar em sua cabeça aumentar um pouco, antes de ajoelhar-se ao lado de Hermione, no lado da cama do outro bruxo.

“Você entendeu o que a cobra dizia?” perguntou Tom.

“Sim, por quê?”

“Como?”

“Porque eu sou um...” Harry começou a responder, antes de parar abruptamente e estreitar os olhos. “Por que você quer saber?”

“Porque eu entendi também. Você não?” Ele virou-se para Hermione, que sacudiu a cabeça.

“Você é um ofidioglota,” disse Potter, sentando-se e empurrando os cobertores para longe, ignorando os protestos de Hermione. “Você fala a língua das cobras.”

“Claro que não, a única coisa que sei falar é inglês...”

“Você não aprende ofidioglossia,” explicou Hermione. “É como um dom. Pelo amor de Merlin, Harry, deite!”

“Um dom...?”

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“Você que precisa descansar, Hermione. Desculpe, mas você está horrível,” disse Harry, sorrindo meio triste. “Estou bem. Vou ficar de guarda. Onde está a minha varinha?”

Tom viu o rosto a garota fica pálido enquanto ela simplesmente encarava Potter.

“Cadê minha varinha?”

“Harry...” Ela mordeu o próprio lábio inferior e os seus olhos ficaram brilhantes com lágrimas. Riddle franziu o cenho, tentando entender o que estava acontecendo.

Cadê minha varinha?”

Tom arregalou os olhos ao ver Hermione procurar debaixo da cama por algo e, então, mostrar ao amigo a varinha dele, que estava quebrada ao meio, as duas metades permanecendo juntas apenas por um fino pedaço de pena escarlate. Harry pegou o objeto com cuidado e Riddle pôde ver a expressão dele o trair por um momento. Ele estava desesperado.

“Conserte, por favor,” ele pediu, entregando a Hermione.

“Harry...”

“Por favor, Hermione, tente!”

Reparo.”

As duas metades da varinha se conectaram outra vez, mas assim que Potter murmurou um feitiço – Lumus -, esta liberou apenas algumas faíscas. O rapaz então apontou-a para Hermione e falou outro encantamento. A varinha da bruxa apenas tremeu em sua mão e, então, ficou parada outra vez, enquanto a de Harry partiu-se outra vez.

“Me desculpe. Eu acho... Eu acho que fui eu. A cobra veio na nossa direção e eu lancei um feitiço detonador. Ele ricocheteou por todos os lados e deve ter... Deve ter batido...”

“Foi um acidente,” murmurou Harry, finalmente se levantando. “Vamos achar um jeito de arrumar.”

‘Acho que não,’ pensou Tom, olhando para a varinha quebrada.

“Não acho que seja possível, Harry,” disse Hermione. O rosto dela agora estava molhado com lágrimas e Riddle fez uma careta enquanto a ouvia tentar se explicar. “Lembra da varinha de Ron?” Ao mencionar aquele nome, o rosto da menina pareceu ainda mais triste. “Nunca foi a mesma depois do acidente como carro. Ele teve que comprar outra.”

O rosto de Potter se contorceu com desespero por alguns segundos, mas Tom supôs que apenas ele havia notado, já que a garota estava tentando limpar o rosto com a manga da camisa.

“Bom, terei que emprestar a de alguém.” Assim que Harry disse isso, Riddle pegou-se fechando os dedos ao redor do cabo da varinha que havia guardado dentro de seu casaco, mesmo sabendo que o outro rapaz nem mesmo sabia que ele agora tinha uma varinha própria. “Posso usar a sua enquanto fico lá fora, Hermione?”

Pressionando os lábios um contra o outro, Hermione lhe entregou a varinha, a qual Harry pegou e rapidamente saiu da tenda. Assim que o rapaz desapareceu, a garota deixou um soluço escapar e escondeu o rosto nas mãos. Tom apenas franziu o cenho enquanto a olhava. Ela havia quebrado a varinha do outro, sim, mas ele não conseguia fazer magia sem ela? Quer dizer, ele mesmo conseguia.

“Ele não pode fazer magia sem varinha?”

“Claro que não!” gritou Hermione, sua voz soando meio esganiçada enquanto ela se virava para olhá-lo. “A magia é a chave para a magia! Bruxos como nós, acostumados com uma varinha, não conseguem fazer magia sem ela a não ser que tenham muito treino! E nós não temos tempo para praticar! Como eu pude ser tão desastrada!?”

“Não é sua culpa, você estava tentando salvar ele...”

“E ai eu destruí a única coisa que pode deixá-lo a salvo!”

“Olha, se acalme...”

“Não ouse me mandar ficar calma, Tom Riddle!” ela gritou e ele apenas tinha esperanças de que Harry não a ouvir; caso contrário, ele entraria ali correndo e o acusando de machucar a garota. “Você não tem idéia do que está acontecendo! Você não tem idéia de o quão séria é a situação! Um bruxo sem uma varinha é um soldado sem uma arma no meio do campo de batalha! E nós não podemos ficar desarmados agora, entende!?”

“Desculpe-me se ninguém me diz o que está acontecendo!” Tom se levantou em um pulo. “Eu não tenho idéia de como magia funciona porque vocês ficam escondendo isso de mim o tempo todo, como se eu fosse explodir vocês dois caso me expliquem algo! Caso você tenha esquecido, eu estava lá também. Aquela cobra veio pra cima de mim também! Eu talvez esteja mais perdido que vocês, porque, não sei quanto a vocês, mas não é todo dia que uma cobra gigante sai de dentro de uma velha e começa a falar comigo! Também não é todo dia que parece que eu estou tendo uma droga de um ataque do coração no meio de um duelo. Um duelo, deixe-me acrescentar, contra uma cobra gigante!” Riddle gemeu, afundando os dedos nos próprios cabelos. “E minha cabeça parece que vai explodir!”

Hermione ficou em silêncio, observando-o. Rapidamente, ela se sentou ao lado dele na cama, apoiando uma mão no queixo dele para erguer-lhe a cabeça, fazendo-o olhar para ela. O rosto da garota ainda estava molhado de lágrimas, mas os soluços haviam desaparecido enquanto ela deixava a outra mão segurar a nuca dele.

“Você não me disse que não estava se sentindo bem!”

“Você estava ocupada carregando Potter para a tenda,” ele murmurou, fechando os olhos. “Quando chegamos aqui, eu só fiquei deitado lá fora por um momento e pareceu melhorar.”

“Onde que dói, na sua cabeça?”

“Tudo. Por dentro.”

“Certo.” Ela respirou fundo, indo pegar a sua bolsa. “Deite.” Ele fez o que ela mandou, ainda com os olhos fechados enquanto sentia a dor aumentar em sua cabeça. “Beba.”

Outra vez ele obedeceu, abrindo a boca e engolindo o liquido frio que Hermione colocou ali.

“Você disse que parecia estar tendo um ataque do coração.” Tom sentiu seu suéter ser erguido e a mão fria da garota apoiar-se em seu peito. “O que houve?”

“Meu peito estava doendo. Como se algo estivesse apertando ai dentro.”

“Algum feitiço o acertou?”

“Não.”

“A cobra...?”

“Não. A cobra não chegou perto o suficiente e nenhum feitiço me atingiu,” ele murmurou, sentindo a dor de cabeça desaparecer aos poucos. “O que ta acontecendo comigo?”

“Você está nervoso. Foi muita coisa, para todos nós. É normal que o seu corpo não reaja bem.” Hermione puxou o suéter outra vez e, ao fazer, acabou por encostar no cabo da varinha em seu bolso. Franzindo o cenho, a menina abriu mais o casaco e puxou a varinha dali. “O que é isso?”

“Ahm...”

“Riddle?”

“Uma varinha,” ele disse, vendo como a expressão preocupada de antes sumira e agora ela o olhava com desconfiança.

“Posso ver que é uma varinha, mas pode me dizer da onde ela veio?” ela perguntou, girando o objeto em suas mãos e o analisando. “Isso é sangue?”

“Sim.”

“Você roubou?”

“Se eu roubei, então você roubou aquele livro da Bathilda também!” ele falou. “Ela já estava morta, você ouviu o que Potter disse!”

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Hermione o encarou por um momento, antes de virar um pouco o rosto e rir baixo.

“O que?” ele perguntou, tentando esconder o fato de que estava satisfeito de vê-la rir. Era um tanto perturbador vê-la chorando.

“Você sabe o que dizem sobre crianças, não?” Ela riu. “Elas sempre se entregam quando fazem algo errado, tentando se justificar e dizendo que não foi elas. Você acabou de fazer isso!”

“Eu não fiz...”

“Fez sim.” A bruxa respirou fundo, passando uma mão pelos cabelos e o olhando outra vez. “Então você pegou isso da casa de Bathilda.”

“Estava no chão.”

“Na verdade é até bom que você tenha uma varinha, eu acho,” ela murmurou, correndo os dedos pela madeira da varinha. “Nunca sabemos quando seremos atacados. Vai ser bom você poder se defender por conta prória...”

“Potter não vai achar isso.”

“Não, ele não vai, mas vou tentar explicar para ele. É melhor ter você armado do que ter que correr para te defender todas as vezes.” Hermione usou a ponta da própria camisa para tentar limpar o sangue da varinha. “Ou talvez você devesse emprestá-la à ele...”

“Não.”

“Me desculpe?”

“Não. Ela é minha agora. Eu a achei,” ele falou.

“Você ao menos sabe usar uma varinha?” A garota arqueou uma sobrancelha enquanto o olhava.

“Não,” ele respondeu rapidamente. “Mas você vai me ensinar.”

“Oh?” Um sorriso repuxou os cantos dos lábios de Hermione enquanto ela cruzava os braços na frente do peito. “E por que eu faria isso?”

“Porque você prefere que eu saiba me defender do que ter que sair correndo para evitar que eu seja morto toda vez que formos atacados.” Tom sorriu de lado, vendo um sorriso finalmente surgiu no rosto dela.

***

Os dias de Tom passaram a ser cheios de leituras e práticas de magia depois daquela noite. Depois de uma longa conversa, Hermione convencera Harry de deixar que Riddle ficasse com a varinha de Bathilda, sob a condição de que ele a emprestasse a Potter sempre que o rapaz tivesse que ficar de guarda e Hermione precisasse de sua varinha. Depois de muita discussão e bicos, Tom aceitou isso e agora, sempre que Hermione decidia lhe ensinar magia, ela emprestava a própria varinha para Harry. Quando não estavam praticando, era a varinha de Bathilda que ficava com Potter.

A cada dia que passava, Harry parecia gostar mais e mais de ficar sozinho. Ele acordava cedo e saía da tenda, indo procurar comida, checar os arredores, montar guarda por horas enquanto Hermione se ocupava em ler o seu livrinho negro e o novo livro que pegara na casa de Bathilda. Tom se mantinha ocupado praticando magias sem varinha simples ou lendo um dos muitos livros que a garota conseguira enfiar naquela sua bolsinha. No momento, ele estava na metade de Antologia de Encantamentos do Século XVIII e já estava de olho no livrinho negro de Hermione – Os Segredos das Artes Mais Tenebrosas, pelo que ele conseguia ver.

Com a ausência de Harry, Riddle tentava se atualizar no que estava acontecendo no mundo, trouxa e bruxo, em longas conversas com Hermione. De início, a menina parecia hesitante em lhe dizer as coisas, mas logo ela começou a se abrir mais. Hogwarts era o assunto preferido dele. Ele se perguntava como era estudar em um lugar daqueles.

“Eu gosto da Corvinal.”

“Você? Um corvinal?” Hermione riu, sacudindo a cabeça. Ela estava enroscada na poltrona, com o livro de Bathilda em seu colo. “Não, você seria da Sonserina.”

“Mas a Sonserina é apenas para puro-sangues, não?” Riddle perguntou. Ele mesmo não estava tão diferente dela, enfiado debaixo dos cobertores na cama debaixo do beliche, usando um dos pijamas de Harry. “Não sou puro-sangue.”

“Eles também aceitam mestiços.”

“Bom, não acho que eu seja mestiço também.” Ele encolheu os ombros. “Ou talvez eu seja... Como alguém sabe o seu status de sangue?”

“Conhecendo os próprios pais, é óbvio,” disse Hermione. “Oh...”

“É.” Tom lhe deu um sorriso sem graça. “Meio difícil para mim. Você disse que o Chapéu escolhe a casa... Mas no caso de alguém ir para a Sonserina, como o Chapéu sabe que esse alguém não é nascido trouxa?”

“Acho que ele deve se lembrar se ele nunca conheceu os pais da pessoa.”

“E se eu não conheço os meus pais? No caso de Potter, ele ainda pôde ver nas memórias dele, certo? Potter ainda viveu um pouco com os pais,” disse Riddle. “Eu não. Eu nem sei como eles se parecem; eles podiam ser bruxos ou trouxas. E, se fossem bruxos, eles podem não ter estudado em Hogwarts, certo? Então, como o Chapéu Seletor saberia se eu sou nascido trouxa ou não para me mandar para a Sonserina?”

“Sabe de uma coisa?” perguntou Hermione, rindo. “Você faz perguntas demais.”

“A Sra. Cole dizia que minha curiosidade iria me trazer problemas.” Ele riu baixo. “O Dr. Mazarovsky dizia que ela me traria grandes coisas.”

“Curiosidade pode ser uma faca de dois gumes,” ela falou, fechando o livro que estava lendo e o observando. “Mas, para responder a sua pergunta: eu não tenho idéia de como o Chapéu faz isso. Talvez ele sinta a magia? Afinal, ele é um objeto mágico.”

“Então a magia de nascidos trouxas é diferente da magia de puro-sangues...?”

“Não!” Rapidamente, o rosto de Hermione ficou tenso outra vez. “Não há nenhuma diferença entre a magia de um puro-sangue, um nascido trouxa e um mestiço. Aqueles que dizem que um bruxo ou bruxa é mais fraco por causa de pais trouxas são um bando de idiotas.”

“Foi isso que começou a guerra, certo?” Riddle ajeitou-se na cama, ainda enroscado no cobertor, e apontou para o livro no colo da menina. “E a outra guerra, a desse cara, Grindelwald.”

“Sim,” ela murmurou. “Você tem que entender que o mundo bruxo não é tão conto de fadas quanto você pode imaginar...”

“Oh, se for um conto de fadas, deve ser como aqueles dos Irmãos Grimm, com todo o banho de sangue e torturas envolvidas.” Tom riu. “Pelo menos foi isso que eu percebi até agora.”

“É isso mesmo. Bom, assim como no mundo trouxa, existe preconceito e, acredite, o mundo bruxo está abarrotado disso. É horrível. Existem bruxos de famílias mais antigas e tradicionais que acreditam que nós, nascidos trouxas e mestiços, somos inferiores a eles porque nossas famílias não são completamente mágicas. Eles têm a sua própria cultura e se sentem ameaçados quando vêem gente diferente adentrando o mundo deles. Hoje em dia, o Ministério e Você-Sabe-Quem estão espalhando a informação de que nascidos trouxas na verdade roubaram a magia de puro-sangues. É ridículo, claro, não tem como roubar magia assim, mas para se livrarem de nós, esses tradicionalistas vão comprar qualquer mentira.” A bruxa riu fraco. “E pensar que nós já fomos ensinados a não mentir por alguém do Ministério.”

“Como assim?”

“No nosso quinto ano, uma mulher do Ministério virou nossa professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Naquela época, ninguém acreditava que Você-Sabe-Quem havia voltado e ela estava tentando nos convencer de que tudo isso não passava de uma mentira. Preste atenção na mão direita do Harry quando o ver novamente. Ele ainda tem as cicatrizes dizendo ‘Não devo contar mentiras’ no dorso.”

“E... Posso perguntar a razão de Potter estar tão irritado com esse tal Dumbledore do livro?” perguntou Tom. Ele havia ouvido Harry gritar algo sobre como Dumbledore não havia lhes explicado nada e como só havia pedido para ele arriscar a própria vida outra vez. “Ele parece um cara decente, pelo livro. Quer dizer, tirando a amizade com Grindelwald e... Todo o fiasco com os irmãos.”

“Você leu?” Ela apontou par ao livro.

“Sim. Quando você dorme, eu leio um pouco. Você se importa?”

“Na verdade, prefiro que você não o leia. Acho que não quero nem que Harry leia. Skeeter, a autora, não é a fonte mais confiável de informações no mundo bruxo e eu quero ter certeza de que ela não falou nenhuma merda sobre Dumbledore que talvez faça vocês dois terem... Idéias erradas sobre ele.”

Era mentira, mas era tudo o que Hermione podia dizer no momento. Ela sabia que, apesar de Rita gostar de coisas extravagantes, ela era a melhor pessoa para investigar algo. Mas a verdade sobre não querer que Tom lesse mais daquele livro era o medo de que ele encontrasse o próprio nome sendo mencionado ali. Claro que poucas pessoas sabiam que Tom Riddle era Lord Voldemort, mas aquela era Rita Skeeter, a mulher que descobriu sobre a amizade de Dumbledore e Grindelwald, para ela seria fácil ir atrás das origens de Voldemort. E, como Albus havia sido professor dele em Hogwarts, era possível que ele fosse mencionado ali. E eles não precisavam que Riddle soubesse que fora o seu eu mais velho que havia tentado matá-los em Godric’s Hollow.

“Certo,” ele murmurou, olhando para as próprias mãos. Hermione franziu o cenho. A voz dele parecia quieta demais, como se estivesse esperando para dizer algo importante. “Posso pegar outro livro, então? Estou quase terminando aquele do século XVIII.”

“Sim, pode, mas só se conseguir me desarmar em um duelo.”

“Isso é sarcasmo ou...?”

“Estou falando sério.” Hermione sorriu. “Eu lhe ensinei alguns feitiços que podem ser usados em duelos e quero ver se você consegue fazer eles direito. Assim que Harry voltar, vamos lá fora e vamos duelar. Se você tirar a minha varinha, pode ter outro livro.”

A bruxa se perguntou se era possível para um Lord das Trevas parecer tanto com uma criança feliz do jeito que Tom estava parecendo naquele momento.

****