A polícia militar colocou Maurício numa ambulância, havia ocorrido troca de tiros com o policial João e foi ferido na perna.

— Vaso ruim não quebra, não é mesmo? — ironizou o velho delegado Jucá cuspindo saliva escura causada pelo fumo que mascara.

— O tiro não atingiu nenhum nervo ou vaso importante. Em dois ou três dias já poderá ter alta — explicou o paramédico.

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— Bandidos sempre mimados pelo estado. Tudo bem, podem levá-lo. Inspetor Ronaldo, você fez um bom trabalho.

— Não fiz, delegado. O homem fugiu, e quem o capturou foi João — disse o inspetor.

João tentou confortar a mulher e seus filhos. Ela ainda continuou trêmula por conta das ameaças feitas pelo caseiro e da violência repentina dele. O curioso era que os filhos não demonstraram tanta surpresa assim, pareciam acostumados com o que ocorrera.

— Como a senhora está se sentindo?

— Como eu me sinto? Ficamos desde meia noite na mira de um sociopata que pensei ser de confiança. Ele estava louco, esquizofrênico, falando coisas desconexas e perturbadoras. Foi uma experiência inesquecível.

— João, não seja indelicado com a senhora Trajano. Agora o próximo passo será vocês irem ao hospital e de lá a senhora prestará um depoimento na delegacia. Jucá espera ainda hoje o seu depoimento — disse o ruivo.

— Inspetor, o que houve com o Maurício?

— Ele vai ser preso após alta do hospital — o homem viu sobre a cômoda do quarto alguns remédios. — Nós já vamos, com licença.

Ronaldo e João voltaram para o carro. O mais novo viu o inspetor suar frio. Não era comum vê-lo sofrer daquele jeito, exceto quando fracassava em seus casos.

O delegado, com seu proeminente chapéu de boiadeiro, foi um dos derradeiros a sair da propriedade privada da família Trajano. Seriam dias longos e cansativos de trabalho. Quanto à cidade, não se lembrava em nada da pacata que era há anos. Outrora, Caledônia gabava-se por ser calma e pacífica, porém, após os últimos casos inclusive o recente sequestro da família Trajano, ela nunca mais foi a mesma.