Estrela-do-Mar

Reflexo do céu, espelho no Mar


Em sua preguiça, Dalila limpava lentamente a parte debaixo de sua estante de livros, que estava empoeirada; sua mente vagava, como se ainda não tivesse acordado e constantemente ela suspirava, desejosa de voltar para a cama e dormir um pouco mais... Mas ela não suporta sujeira, e por isso vai optar por tirar um cochilo depois de limpar, aproveitar que a sua vida é mega agitada, né?

TÁ, TÁ, TÁ, TA-TA-TA-TA!

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Fez um barulho de batidas na madeira, parecia alguém subindo as escadas apressadamente, e quando ela menos esperava, a porta é escancarada com tudo, Dalila se arrepia toda e como um gatinho assustado, ela fica paralisada, observando a porta aberta, estupefata e com o coração na mão (ou seria com a mão no coração?). Depois uma bota surge na entrada do quarto e com passos leves, agora adentrava pelo aposento, procurando a dona dele.

— Ei, gatinha! Mas como eu iria te enxergar se você está escondidinha aí atrás de tantos livros!

Dalila encarava a invasora de seu quarto com desdém, que chegara fazendo barulho e ainda parecia estar exigindo que sua presença no quarto fosse maior, para que ela pudesse ser encontrada assim que a invadisse. Ela entorna a boca, numa careta azeda, era óbvio que ela sabia que se tratava da Pietra, explosiva e barulhenta. Ela já sabia disso.

— Bom dia. – Ela corteja, indiferente.

Abusada como sempre, Pietra se adianta e se encaixa atrás de Dalila e lhe dá um abraço sufocante.

— Você é tão pequenina, tão gatinha, tão doce. – E vai beijando cada parte do seu rosto que ela é capaz de alcançar estando sentada por trás dela e isso foi o suficiente para retirar toda aquele desgosto que Dalila tinha exposto anteriormente.

— HÁ HÁ HÁ HÁ SUA BOBOCA – A voz de Dalila soa engasgada.

— Só o que eu quero nessa vida é te abraçaaaaaar... – E ela lhe dá mais alguns beijos.

Dalila joga sua cabeça para trás, até encostar no peito da amiga e com seus olhos de gato, ela fita os olhos castanhos claros de Pi.

Tão próximas, Pietra aproveita para observar as sardas de seu rosto e, sem motivo, ela começa a deslizar seus dedos sob sua face e algo pela primeira vez lhe prende a atenção. Os olhos de Dalila, ela nunca havia olhado para eles tão de perto e agora via o que antes não havia notado, no quão azuis e profundos eles são, e ela acaba comparando-os com a pedra Tanzanita, de tão “azulados”. Desde o início ela pensava que eles fossem “negros”, mas agora com a luz ambiente da manhã, ela percebe todo seu esplendor. Pietra acaba deixando um sorriso escapar, ainda fascinada pelos olhos da menina.

— Quero te fazer um convite. – E ela diz, de repente.

— Faça.

— Quero te levar para ir ver as estrelas... As do tipo que eu gosto.

Dalila dá um risinho envergonhado.

— Quando?

— Vamos precisar sair antes do crepúsculo e levar um lanche, ou seja, hoje. Pode ser?

— Tá... Está cedo mesmo, acho que vai dar para organizar alguma coisa, não é? Não vai me levar para nenhum lugar perigoso, hã?

— Nããão, fica tranquila, gatinha. Eu vou cuidar de você. – E Pietra volta a esmaga-la – Hmmmmmmmm, você é tão fofinha, tão lindinha, e essas bochechas rosadinhas? Olha só, parece um milk-shake de morango com pedacinhos de morango. Os pedacinhos são suas sardas, é claro.

— Você já comeu alguma coisa? – Dalila pergunta de súbito, cortando Pietra.

— Já sim, por quê?

— Nada, tive a impressão de você estar com fome...

— Pois eu sei muito bem o que eu quero comer...

Pietra acaba estendendo um sorriso sacana, por instinto, seus olhos brilham de segundas intenções e Dalila acaba correspondendo ficando toda acanhada, até suas bochechas ficarem rubras, e nesse momento brando, de repente o clima muda radicalmente. Pietra acaba sincronizando os seus sentimentos pesados e os brilhos de seus olhos somem, tornando-se vagos e opacos, Dalila percebe, e quando ela ia reagir, a moça acorda e muda de novo sua expressão sorrindo de leve, com medo que Dalila puxe assunto sobre isso, ela deixa o seu rosto cair sobre a bochecha dela e se deixando escorregar até se encaixar em seu ombro, para que a menina não mais olhe em seus olhos.

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Dalila fica pensando no que havia acontecido, muito estranho, mas pelo pouco que elas se conhecem, ela já sabe que a amiga não dirá seus sentimentos tão fácil assim. Mas por ainda sentir que o coração da amiga estava pesado e saber que palavras não curam, ela deseja passar suas melhores intenções e sentimentos para ela. Então ela se levanta, se virando de frente e voltando a se encaixar no colo de Pietra, se sentindo confortável nos braços dela, Dalila toca no maxilar de Pietra, vira o rosto da moça para o seu, ela tenta deixar de lado aqueles olhos frios e lhe beija no queixo, tentando emitir para ela toda a doçura existente dentro de si. E por algum motivo, o toque morno e macio de seus lábios faz Pietra se sentir esquentar e, para ela, esse momento significou “casa”. Ela volta a sorrir, e de chofre ela agarra a menina, a abraçando com força e beijando todo o seu rosto, novamente.

Talvez Pietra tenha uma história sombria, mas é difícil dizer quais são os gatilhos que a fazem lembrar disso... – Dalila pensava consigo.

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Dalila esperava pela amiga em sua própria casa, já que ela mora próximo ao portão da vila, Pietra combinara que ela seria responsável por tudo na viagem, lanches, transporte e o cômodo para ficarem, por isso, ela voltar para a sua casa para preparar alguma coisa para elas levarem e esquematizar com seus pais a ida e a volta.

Enquanto esperava, Dalila brincava com um gatinho na rua. De longe, Pietra fora capaz de reconhecê-la, mesmo ela estando abaixada. O que ela jamais deixaria de comentar consigo mesma, era o quanto Dalila se parecia com uma criança de 8 anos, ou uma mocinha de no máximo 13 anos, mas muito pequena.

E aliás, Dalila nem é tão pequena assim, ela tem 1,56, enquanto Pietra possui 1,67. O que muda tudo para Pietra é o costume de ter convivido muito com pessoas altas, tanto em casa quanto no colégio.

— Chegueeeeei. Então, vamos?

Pietra tentar surpreender Dalila por trás, mas não a assustara realmente, já que ela já havia notado sua presença se aproximando.

— Vamos, meu quindim, papai está esperando no carro, ele vai nos levar na parada de ônibus.

Não era uma viagem longa, apenas iriam se aprofundar ainda mais no interior da cidade, abandonando as luzes e o trafego barulhento e muito habitado, a viagem leva um pouco menos de uma hora, de ônibus. Ao lado uma da outra, conversavam sobre coisas banais.

— Você sabia que os gatos pensam que são gente – Comenta Pietra. – E pensam tanto nisso, ao ponto de quererem também nos beijar, da mesma forma como fazemos? – E ela espera a reação de Dalila ou que ela diga algo, mas a menina apenas espertara os olhos, então com isso, ela continua. – Bem, bem... Acho que todos os animais procuram uma forma de demonstrarem carinho, não é, mas o mais engraçados deles é o gato. Eu tive um quando mais novinha, tirando a bruxa, aquela preta que te assustou outro dia hehehe, então ele vivia comigo, sim, era macho, e às vezes ele ficava muito carinhoso comigo e começava a me olhar de um jeito um pouco... abobalhado, hipnotizado, sei lá. Parecia apaixonado. – Pietra faz uma pausa e olha para Dalila de soslaio.

— Eita!

— Assim, – Pietra puxa Dalila e a prende de frente para ela. – Ele vinha para o meu colo e começava a passar a patinha dele no meu rosto, todo carinhoso, nossa, ele ficava um dengo, e quando ele achava que eu já estava caindo sobre o seu encanto, ele começa a se aproximar de mim, vinha para mim com os olhos fixos nos meus e... Então ele arriscava a me dar um beijo.

Tudo o que Pietra ia dizendo sobre seu gatinho, ela ia atuando, ela realmente acaba agindo como ele, conforme sua descrição, e quando ela mesma não esperava da sua parte, ela acaba lascando um selinho em Dalila. Muito surpresa consigo mesma, ela se afasta da amiga, subitamente.

— MEU SENHOR, ME DESCULPA. – Pietra pede, com as mãos sobre a boca, falando baixo, mas articulando com força suas palavras. – POR QUE VOCÊ NÃO DESVIOU?

Dalila que havia expressado sua surpresa nos olhos, no segundo em que recebera o beijo, agora acaba achando o desespero de Pietra ainda mais engraçado do que ter levado um beijo surpresa.

— Sua idiota, como eu ia saber? Tenho cara de ninja?

— Eu me sinto uma pedófila, pior, você está supertranquila com isso, ora sua...! – Pietra lhe desfere algumas tapinhas na coxa, como se estivesse castigando, mas Dalila apenas ria da situação.

Já estavam próximas do destino, no céu, o crepúsculo pincelava sua tonalidade nas poucas nuvens esquecidas na imensidão azul, sua cor clara, mas morna, era que fazia os olhos sonhadores de Pietra brilharem, hoje ela conseguia confirmar o quanto o seu coração estava em paz.

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Após arrumarem suas coisas e colocarem um pano sobre o capim, as duas finalmente se deitam sob o “mar de estrelas”. Pietra levara sua amiga para um parque e por ser muito escuro e afastado da cidade, ali, era como ver todas as estrelas que insistem em seu esconderem quando estão na cidade. Não era necessário nenhum tipo de truque para ver poeira espacial, estrelas menores ou as “estrelas cadentes”. E por ter sido um dia escolhido, elas não precisavam se incomodar com as nuvens.

As duas passam horas em companhia uma da outra, conversando, jogando dama, xadrez, revelando histórias de suas infâncias e fortalecendo laços. E quando já não sabiam mais o que fazer ou dizer, elas se permitem ficar caladas, apenas observando a imensidão do céu.

— Hey, veja!

Quando menos esperava, as duas presenciam uma chuva de meteoros. Pela primeira vez, em sua companhia, os olhos de Dalila também começam a terem a mesma capacidade de brilhar como os olhos de Pietra. Emocionada, Dalila não conseguia se contiver de tanta alegria em poder ver tantas estrelas-cadente num único tempo.

— Uau, é muito bonito. Hey, você já sabia?!

Pietra levanta o nariz e fecha os olhos de forma boçal.

— Mas é claro que eu já sabia.

— Muito idiota.

Já estava próximo de meia noite e Dalila bocejava de sono e por um momento de desleixo, ela acaba tombando, caindo com tudo com a cara numa árvore de casca grossa, machucando seu rosto.

— Te-te-te... Isso doeu.

Ela passa seus dedos sobre a bochecha e descobre que o machucado deixava sair um filete de sangue.

— Olha só, machucou.

— Deixa comigo, devo ter algum curativo...

Pietra não perdera tempo e foi logo vasculhar alguma coisa na sua bolsa, fazendo comentários consigo mesma sobre onde deve ter colocado o que procura.

— Não, não me diga que você tem curativo aí?

— Ora, olha para a minha cara de desastre ambulante. Pronto, achei.

Enquanto Pietra colocava o curativo em seu rosto, Dalila a observava em contraste com o céu, como sempre, sua visão era do ângulo debaixo, mas isso só ajudara a afirmar as coisas embaçadas que há em seu coração, agora ela via com clareza o que tanto não conseguia entender sobre o tal brilho que ela percebe na amiga. Depois de pronto, as duas ficam um tempo se fitando, Pietra sempre corresponde ao seu olhar, mas nunca entendia o porquê.

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— Pi... Eu estou vendo o universo...

— Seria um pouco difícil de ver daqui. – Pietra sorri graciosamente, mas ainda em dúvida sobre o que ela quis dizer.

— Me acharia louca se eu dissesse que em você, eu vejo um pedaço do céu?

Pietra fica lisonjeada, mas ainda gostaria de ouvir mais um pouco do que ela tem a dizer, então ela move uma sobrancelha, deixando transparecer sua dúvida.

— Acho que, partes do céu conseguiram ver seus próprios reflexos refletidos no mar, com vontade de olharem, não para si mesmos, mas sim para tudo o que compunham o resto do universo, que o “espelho” não conseguia mostrar, essas partes se desfragmentaram e mergulharam na Terra, daqui eles são capazes de contemplar a beleza que viam no “espelho”.

Pietra fica completamente confusa, mas sem poder controlar a sua língua, ela simplesmente fora capaz de continuar o pensamento, mesmo sem saber o que estava dizendo e como o fazia.

— Algumas partes do universo viram o quanto era bonito olhar o espelho, mas curiosos, acharam mais interessante o explorar, por que sabiam que, lá embaixo, apesar de escuro, escondia infinitas belezas... Mas só um pedaço, o mais ousado, decidiu desacoplar do céu, só para que assim pudesse mergulhar no oceano...

Dalila sorrir, ficando envergonhada, mas continua.

— Você foi uma peça do universo que já não queria mais olhar para baixo... – sem pensar, Dalila começa a cariciar o rosto de Pietra.

— Você É uma parte do universo, que não se contentou só com o que seus olhos viam... – Pietra devolve o carinho, fazendo o mesmo em Dalila.

Esperando a carona para casa, as duas ficam na porta do bosque esperando que o pai de Pietra chegasse. Por causa do friozinho, elas aproveitam para ficarem abraçadas. Teria sido um abraço comum entre casais se esse não tivesse sido o primeiro abraço das duas. Ambas ficam desconcertadas, como se fosse um quadrado tentando passar por um espaço circular. Por causa do nervosismo, elas optaram pelo silêncio, mas sem querer a coxa de Dalila esbarra na de Pietra e ela acaba surtando de tanto acanhamento, quase escorregando dos braços da outra. Divertida da situação, Pietra a puxa de volta para ficar de pé e percebe a menina com uma mão tampando a boca e com o rosto vermelhão de tanta vergonha e ela acaba rindo ainda mais da situação. E Dalila passa o resto da espera com o rosto tampado com suas mãos.

Explosões de estrelas

Após esse dia, um carinho incomum nasce entre as duas, se tratavam e se olhavam de forma diferente. Isso nenhuma das duas podiam e nem sabiam explicar. E depois daquilo, Pietra passa a dedicar um tempo de sua vida na companhia de Dalila, seguindo as mesmas rotinas que ela e muitas vezes dormindo na casa dela. Outro dia, num dia sem muitas nuvens, ela até levara seu telescópio para a casa dela e passaram a noite explorando a imensidão celeste.

— O que é isso que você está vendo? – Pergunta Dalila.

— Eu acho que é Vênus.

Pietra cede seu lugar para que a amiga também use o telescópio.

— Uaaau, parece uma mini lua!

— Sim, não é? Ah... Dalila...

Dalila para o que fazia e olha para a amiga de canto, pelo tom calculado de Pietra, ela logo interpreta que a moça quer dizer ou pedir algo.

— O que foi?

— É que esse fim de semana vai rolar uma festa... Meus amigos me convidaram, sabe... E eu estava a fim de ir.

Dalila larga totalmente o que fazia para encarar Pietra de frente, com um olhar impassível, se colocando na defesa.

— Ué, se quer ir...

— É que, Dalila, eu também gostaria que você fosse comigo.

Dalila já estava se sentindo fria por dentro, mas agora ela se sentia completamente congelada, como se uma nevasca acabasse de começar dentro de si.

Festa? O que é isso, afinal? O que as pessoas fazem numa tal de festa? Se drogam? Se escancaram? Perdem a virgindade?

Com medo da resposta de Dalila, pela cara de fantasma que ela acaba fazendo, Pietra começa jorrando as primeiras palavras que lhe vem à cabeça e acaba fazendo com certa agressão em seu tom de voz que sempre fora tão doce e infantil, agora parecera nervoso.

— Sabe, a gente sempre faz muitas coisas que gostamos juntas, você me acompanha... Eu te acompanho... Que tal a gente embarcar nessa? Espero que você não fique com medo, receio ou algo do tipo, e você sabe, eu sempre irei te proteger.

Por sua vez, Dalila, decide aceitar o convite, não por Pietra, mas sim pela experiência e curiosidade de saber o que os jovens fazem nesses lugares.

— Tudo bem, mas você vai me ajudar e me vestir de forma adequada, não quero parecer que sou uma palhaça. E nem pense em me deixar plantada, sozinha no meio de um bando de estranhos. Ok?

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Depois de vários dias na presença de Pietra, as duas ficam um tempinho consigo mesmas. Nesses momentos, Dalila se dedica mais aos afazeres de casa, arrumando ou limpando, é a única coisa que ela sabe fazer quando está sem programação no dia. Enquanto Pietra, uma pessoa totalmente o inverso dela, passa seu dia na companhia de amigos de longo prazo, comendo tudo que encontram na geladeira.

Durante todas as suas tarefas, uma coisa durou dentro de si, a presença de Pietra.

DRIIIIIING DRIIIIIIIIING

Era a campainha e isso foi o golpe mais forte do dia que fora capaz de desligar os pensamentos “Pietra” da mente dela ou quase isso. Agora a pergunta do momento é “quem será? Pietra vai logo invadindo, não pode ser ela...”

— Oi Dandam.

— Mike!

Eram dois amigos de colégio se reencontrando depois de muitos anos sem se verem e por algum motivo, Dalila não correu até ele e pulou no pescoço dele para abraça-lo, ela é contida pelas lembranças que acabam penetrando sua mente.

— Caramba, vou adivinhar. Está de férias e voltou para ver a família?

— Isso mesmo. Vamos dar uma volta? Faz tempo que não caminhamos mais.

— É, e a gente fazia isso muuuitas vezes.

A menina apenas entra de novo na casa para pegar uma chave e calçados e os dois vão direto para uma loja de conveniência comprar sorvete de pote, mas voltam para a vila, ficam caminhando por ela na área de parquinho e ficam conversando ali.

— Muitas pessoas me chamaram para sair hoje à noite para beber umas – Dizia Mikael. – Eu acabei aceitando, né. Mas antes de ir ver muitas pessoas, decidi vir ver você primeiro.

Dalila apenas responde com um sorriso forçado no rosto.

— Quietinha como sempre, né Dalila. Queria que me contasse seus planos, o que tens feito.

Dalila tomba a cabeça para o lado e faz uma careta, entortando a boca.

— Por onde começo... Eu... Acho que estou muito longe dos meus sonhos, então... Acho que, como um construtor solitário, vou ter que erguer uma catedral sozinha...

— Isso é um exagero, mas do que você está falando?

— Vou me inscrever em algum curso relacionado a exatas ou humanas, mas nada sobre biologia... Essa é minha única... É minha... Só tenho essa opção.

— Conte mais.

Cabisbaixa, Dalila vai até um balancinho e Mikael se senta no outro.

— Vou fazer esse curso, conseguir um emprego, juntar dinheiro e algum dia da minha vida, vou usar o dinheiro que conseguir para investir nos meus sonhos.

Seu amigo Mikael percebe toda a armagura que fora dizer aquelas palavras e ainda imagina que, seu medo não vem do tempo que isso pode vir a demorar para acontecer, mas sim de alguma referência de fora, como alguém que guarda dinheiro para fazer uma viagem, mas acaba tendo que gastar para consertar o carro.

Do seu balanço, Mikael toca no ombro da menina, sorrindo.

— Tenha foco. Foco nos amaldiçoa a abdicar de muitas coisas, amigos, família... Mas você estará fazendo por um motivo, você. É errado fazer algo por você? Não, Dalila. Então não tenha medo de ter foco e de abdicar das coisas, como desejos. E pense, quando desejar alguma coisa “eu realmente preciso disso ou só o estou consumindo ou comprando por fazer? ”. A necessidade fica em primeiro lugar e encontre pessoas que apoiam seus sonhos e não pessoas que tentam te fazer rastejar, repito, fique perto de pessoas que te coloquem de pé.

Novamente, Dalila responde com um sorriso, mas se obrigando a não sorrir mostrando os dentes.

— Tudo bem? – Mikael observa a amiga confirmar com a cabeça. – E aí, mas alguma coisa para me contar? Se abra, fala comigo, o momento de agora é para falar. Conheceu alguém... Viajou para algum lugar...?

Ao se lembrar de Pietra, instintivamente Dalila sorrir, mostrando seus dentes e rubor nas bochechas.

— Aaaaah... O que foi? Viajou para algum lugar legal? – Pela reação de indiferença, ele conclui que a alternativa seja a outra. – Então você conheceu alguém? – Mais uma vez Dalila sorrir, começando a ficar mais vermelha. – Aaaaaah, danadinha. Quem é, hem. Quem é essa pessoa que te faz sorrir assim? Acho que em toda a minha vida, esse sorriso apaixonado foi o mais vivo que eu já vi, se é que posso chamar assim.

Ao ouvir “apaixonado”, Dalila vira seu rosto imediatamente para enfrentar o de Mikael.

Apaixonada? Como assim?

Ela tenta agilmente organizar seus sentimentos, mas parece que milhares de bombas foram jogadas dentro de si e todas estão explodindo sucessivamente e em lugares diferentes. Ela abre a boca várias vezes, mas nada consegue dizer. Essa era a resposta que ela tanto estava cavando dentro de si e uma pessoa do lado de fora conseguiu ler isso muito mais rápido do que ela e sem precisar de investigações, cessões de terapia, relatos sobre as coisas que sente. E do nada, ela começa a rir descontroladamente e logo em seguida, ela começa a chorar.

Acostumado a ver a amiga, chorar, Mikael se levanta vagarosamente e na mesma velocidade ele se aproxima da menina e quando seu calor chega nela, ela mesma o agarra com força, se deixando cair em seus braços.

A foça de seu choro era tamanho, que mesmo ela se esforçando para tentar falar alguma coisa, ela acaba não conseguindo, completando por se sufocada em seu próprio choro. Então ela soluça, tosse, chora, gagueja e tudo o que ela consegue dizer é “então era isso?”.