Espionagem

Café brasileiro


Feelings [Maroon 5]

Brasil não estava realmente espantado com tudo aquilo.

Quer dizer, espionagem entre países era algo realmente comum –principalmente em se tratando de Alfred Jones. Os EUA tinham um serviço de inteligência muito bom, programas de espionagem e boicote perigosos, dinheiro e muita, muita influência, ou seja, quem quer que se encontrasse na mira do norte-americano, provavelmente se daria muito mal em muito pouco tempo.

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O lance dos boicotes ocorrera bastante na Guerra Fria. Alfred o havia pressionado até que Luciano cortasse relações com o russo. Não que o brasileiro realmente quisesse se afastar de Ivan Bragiski, mas Alfred era mais poderoso e influente que ele, e o latino estivera, durante aquele tempo, na área de influência dos Estados Unidos da América, o que significava que ele certamente teria que fazer o que o loiro pedisse.

Mas tal fato não condizia com seu estado atual. Agora, Luciano da Silva, por mais que ainda sob influência estadunidense, era independente –ou o quão dependente um país pode ser da superpotência mundial –de Alfred. Ou seja, Luciano faria um barraco, e seria um barraco daqueles.

Onde esse loiro tava com a cabeça, perguntava-se Luciano, enquanto dirigia-se à reunião mundial que participaria agora, Quando começou com esse negócio de me espionar?! Afinal, o que havia feito para ter desencadeado a vontade súbita de Alfred espreita-lo? O brasileiro e o estadunidense sempre foram parceiros e, mesmo quando discordava do norte-americano, até pouco tempo atrás sempre estivera em suas mãos, então quando o senhor Jones pensou em espioná-lo?

Tudo bem, ele não se encontrava mais à mercê do jovem de olhos cristalinos, mas certamente continuava sendo seu parceiro comercial e amigo de longa data, então, qual era a da espionagem, afinal?

“Aposto que é por causa do nosso crescimento na última década”, Falara São Paulo, arisca. Aquele seu estado estava sempre de olhos abertos, e era uma das principais conselheiras de Luciano. Era fato que a jovem sempre estivera de olhos abertos com Alfred –principalmente após o golpe militar apoiado por este –mas quando a menina descobriu a espionagem da sua presidente, veio logo contar a ele e especular junto à personificação do Brasil. “Ele deve estar querendo saber alguns segredos de estado. Quer garantir que fiquemos com ele, ‘na linha’”. É, não que São Paulo não gostasse dos EUA –ela gostava –mas estava de vigília com as intensões dele. Definitivamente, seria ruim acabar novamente nas mãos daquela jovem potência mundial.

Por isso que, agora, Brasil encontrava-se a caminho da conferência da ONU, junto com sua presidente, para falar sobre a espionagem do governo estadunidense. Falaria, e falaria mesmo. Nem mesmo Alfred conseguiria impedi-lo de fazer isso.

Ao chegar ao prédio onde ocorreria a reunião, Luciano rapidamente percorreu os corredores. Entrou e, com passos largos e rápidos, dirigiu-se para a sala de reuniões de cara amarrada. Andava olhando para o chão, determinado, quando os olhos verdes se fixaram na porta de madeira imensa que se estendia diante de si. Silva não parou nem por um segundo, entrando deliberadamente na sala.

Encontrou, então, as outras nações esperando por ele. Dessa vez, Brasil chegara exatamente no horário combinado, nem um minuto a menos, nem um minuto a mais. Praticamente um lorde inglês, o pensamento divertido percorreu sua mente, fazendo-o sorrir de leve.

Encarou as nações ao seu redor. Inglaterra o observava com seu olhar sério e sobrancelhas grossas, mexendo as mãos nervosamente, como se temesse algo. No entanto, Arthur Kirkland era o verdadeiro lord inglês daquela sala, e como tal, deixou muito pouco desse nervosismo aparecer. Canadá encontrava-se no canto da sala, sentado em sua cadeira, passando seu olhar de país para país lentamente. Rússia, sentado na cadeira ao lado, assistia à Luciano com aquele olhar divertido e mortal ao mesmo tempo. Um sorriso parecia brotar dos cantos dos lábios do russo, os quais encontravam-se parcialmente escondidos pelo cachecol rosa que o rapaz sempre usava. França o olhava com certa curiosidade, os olhos azuis brilhando. Alemanha parecia sério como sempre, mas Luciano supunha que era porque o loiro estivera sendo observado por Alfred e por isso não estaria muito feliz mesmo. Havia outras nações, mas o brasileiro não as encarou muito. Sentiu-se meio mal por isso, afinal não era só a presença das grandes potências que importava, mas naquele momento não pôde deixar de se importar com o que seria feito pelos mais poderosos.

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O jovem de pele cor de mogno sentou-se em seu lugar, perto das nações sul-americanas e esperou. Alfred estava demorando, e Luciano, com certa raiva, supôs que de propósito. Claro que o norte-americano não quereria prestar contas, e, se tivesse que o fazer, consumaria tal gesto com o mínimo de boa vontade possível.

Os minutos passaram-se demoradamente, e o brasileiro só esfregava uma mão na outra nervosamente enquanto encarava as nações ao seu redor. Há tempos não se sentia mais um pirralho ameaçado pelas grandes potências, mas, naquele momento, parecia que Inglaterra, China, Rússia e França o sufocavam.

Com um estrondo repentino que assustou Brasil, a porta abriu-se e o senhor Jones entrou com passos largos e charmosos:

—Olá, nações! O herói chegou, podemos começar nossa reunião! –O loiro encarou Luciano com malícia no olhar –Luciano, pode começar seu discurso!

Brasil se ergueu, trêmulo. Sim, era sempre ele que abria a discussão da ONU, e daquela vez não seria diferente. Principalmente daquela vez não seria diferente.

O rapaz de pele de canela foi até a frente; discursou com segurança, apesar de sentir um tremor percorrer sua espinha periodicamente. Falou o que tinha a dizer. Começou agradecendo a presença de todos, e aquela cordialidade que sempre tinha que repetir para ficar bonito. Depois, começou revelando a pauta que seria discutida –que todos já sabiam qual seria, de qualquer forma –e iniciou sua breve, mas inflamada, reclamação sobre a curiosidade do norte-americano e seu programa de espionagem. As nações o encaravam e, quando desceu para a mesa gigantesca novamente com o intuito de sentar-se e dar a vez à Ludwig (que obviamente queria juntar-se ao jovem de olhos esmeraldinos em sua lamúria indignada), percebeu que várias nações o olhavam com espanto.

Definitivamente discursos inflamados não eram do feitio da ex-colônia portuguesa, e, certamente por isso todos o encaravam, inclusive o líder da espionagem, com seu inabalável semblante divertido e malicioso; Luciano, entretanto, definitivamente não se arrependia das alfinetadas que dera nos países contribuintes da espionagem, muito menos nas que fizera em relação a Alfred Jones.

◈ ◈ ◈

Finalmente pediram tempo. Assim que saiu da sala para tomar alguma coisa, Luciano sentiu-se aliviado. O clima lá dentro estava ficando meio turvo, mesmo, e todos concordaram que dar um tempo para acalmar os ânimos era uma ideia sensacional. Enquanto os europeus discutiam sobre o que eles achavam que ia acontecer em seguida, Brasil não pôde notar os olhares que recebeu de todos. A totalidade dos países queria saber o que haveria com a relação sempre amigável entre o país do futebol e o representante do capitalismo. Se o brasileiro não estivesse bem no olho do furacão, com certeza acharia aquilo tudo muito mais divertido; não conseguia, porém, conter certa ansiedade e adrenalina que corria em suas veias, e, apesar de estressado, sem dúvida, encontrava-se animado até. As alfinetadas renderam. Talvez São Paulo e Brasília tivessem razão, uns puxões de orelha de vez em quando quebrariam a impressão que todos tinham do Brasil de ser sempre “de boa” com tudo, e daria a ele um ar mais sério e perigoso.

Brasília era sábia. O elemento surpresa quase sempre era efetivo.

Tratou de pegar um café preto da máquina à sua frente. Esta, enchendo a xícara branca que o jovem tinha em mãos, soltou um som agudo e contínuo quando terminou seu serviço, permitindo que Luciano sorvesse, com cuidado, o líquido quente que ali continha.

Bebericou o café, observando o lugar. Curiosamente, não havia muitas nações ali. Estavam todos ou no banheiro ou na sala com comida, porque a única coisa mais importante que decidir o futuro do mundo todo é chegar a tempo de pegar uma das tortinhas de limão do França. Ele era o único que havia ido pegar café em outra sala. A nação suspirou, sentindo os lábios esquentarem por conta da quentura do líquido dentro da xícara. A língua queimou-se um pouco, mas Luciano não ligou, já estava acostumado. Fechou os olhos, acalmando-se, enquanto terminava o café aos poucos. Respirou o vapor, sentindo aquele cheiro incrível. Cafeína, delícia. Sorriu. Estava quase, quase se sentindo em casa e sem aquele terno e gravata desconfortáveis, quando alguém adentrou no ambiente e estilhaçou sua calmaria momentânea.

—Alfred... –Luciano sussurrou, quase se engasgando com o café em sua garganta. Arregalou os olhos verdes quando os azuis o olharam de soslaio, cheios de malícia.

—Luciano, aqui está você! –O estadunidense sorriu, fechando os olhos por um momento. Quando os abriu novamente, não deixou de cravá-los novamente no latino –Você parecia meio revoltado agora pouco, para que tudo isso?

Pra quê?—O jovem de íris de esmeralda semicerrou os olhos –Senhor Jones, você estava me espionando! Grampeou minha chefe de estado, xeretou nos assuntos do meu país sem minha permissão! Por que acha que eu ficaria feliz com você após algo assim?

Senhor Jones?—Alfred sorriu largamente, fingindo surpresa –Desde quando você me trata com toda essa formalidade? Achei que os brasileiros chamavam os amigos pelo primeiro nome... A gente se conhece há tanto tempo, achei que éramos amigos –Aquele sorriso petulante permanecia no semblante divertido da ex-colônia Inglesa, como que o desafiando a dar a resposta que Luciano daria em seguida:

—Bem, não sei no seu país, Senhor Jones, mas no meu, espionagem de segredos de estado é um ato condenável; E, que eu saiba, amigos não espionam uns aos outros como você fez comigo. –Luciano depositou a xícara em cima do balcão em que se encontrava a máquina de café, semicerrando os olhos. Desviou o olhar não mais que breves segundos, o tempo necessário para que Alfred chegasse rapidamente perto de Luciano.

No entanto, Alfred tinha razão. Luciano e ele se conheciam há tempos, o suficiente para que o primeiro pudesse prever a ação de seu colega e erguesse as mãos cor de mogno, agarrando as de Alfred no ar quando este tentou imobilizá-lo.

Brasil, apesar de veloz, não era tão forte quanto o loiro à sua frente, e em questão de segundos se viu de costas para a parede, as mãos bateram contra a estrutura dura e lisa, pressionadas pelas de Alfred, que agora o comprimia com o corpo.

As testas se encostaram e o estadunidense entrelaçou seus dedos nos do rapaz moreno, sorrindo abertamente. Um de seus joelhos apertou-o entre as pernas, e Luciano conteve com dificuldade um gemido de dor.

—Realmente quer arranjar briga comigo, latino? Lembremos quem aqui tem o maior poder bélico do mundo, e a maior influência também –Alfred falou, se deliciando com as palavras que, por mais que desagradassem ao sul-americano, fossem verdadeiras.

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—Foi você que veio arranjar briga comigo, Jones. Eu estava quieto no meu canto, caramba, sempre fui seu aliado, até na segunda guerra com toda aquela besteira e tudo mais, pra que isso agora, então? –Luciano manteve os olhos semifechados, encarando as órbes azuis cruéis do garoto à sua frente. Viu os lábios vermelhos do loiro se comprimirem por um segundo, e o sorriso prepotente dele voltou ainda maior. Seus dentes brancos estavam à mostra.

Luciano soltou o ar devagar, sentindo o hálito de menta do norte-americano bater contra seu rosto. Acabou se arrependendo de ter feito aquela pergunta; sentiu-se tremer de leve; temia que a resposta fosse a mesma que recebera há anos atrás, aquele fatídico dia de 1969: “Por que eu posso, Luciano”.

Como que lendo seus pensamentos, Alfred sorriu à sua frente, agora aproximando a boca de sua orelha esquerda até que encostasse seus lábios nela.

O que foi, Luci?—Jones fez questão de falar em português (coisa bem rara para ele, que só ficava esperando que todos falassem sua língua...) –Com medo?

Luciano engoliu em seco, sentindo uma incontrolável tremedeira percorrer seu corpo ao lembrar-se do erro que cometera em 1964. Oh, imenso erro... pensou, sentindo-se burro ao lembrar de como confiara no estadunidense. O rapaz de olhos azuis se aproximou ainda mais, apertando mais ainda seu corpo contra a parede atrás de si. O joelho do norte-americano o prensou ainda mais ali, e dessa vez o brasileiro não conseguiu conter o gemido de dor. Mordeu os lábios, sentindo o hálito do americano em sua orelha. A respiração do loiro parecia ainda mais alta.

Alfred riu levemente, dando-lhe uma mordida não muito gentil na orelha, o que o fez trincar o maxilar com força. O loiro foi passando os lábios levemente pelo pescoço moreno do outro e, ao chegar na garganta deu-lhe uma mordida com força, marcando a carne escura de Luciano. O brasileiro tentou se encolher, mas as mãos de Alfred permaneciam segurando seus braços acima da cabeça, o que deixava Luciano sem muitas opções. Por mais que girasse desesperadamente as mãos na tentativa de se livrar, não era páreo para os EUA.

O que ele sabia era que tinha que sair dali, ou logo estaria numa situação que seria difícil reverter. Mas como? Como se livraria do loiro? Começou a pensar...

Nesse meio tempo, Alfred continuava mordendo o pescoço de Luciano, rindo com as reações dele. Os dentes do garoto de pele clara ora faziam cócegas, ora machucavam-no, contribuindo para que a confusão no cérebro de Luciano se agravasse. A boca do norte-americano subiu novamente, em direção à orelha direita, mordendo-o ainda com força. Seu pescoço ia acabar marcado com chupões, daquele jeito, mas claro que Alfred não dava a mínima para isso.

—Mmmphh –Fez Alfred, enquanto lambia veementemente o pescoço do brasileiro –Estavam certos... quando, hmm, supuseram que você teria um gosto incrível... –Ao dizer isso, o loiro desceu a boca até a base de seu pescoço, depositando ali alguns beijos. Brasil não conseguiu não ficar imaginando quem teria suposto uma coisa daquelas, e do que os países centrais falavam quando estavam sozinhos.

De repente, Luciano teve uma ideia. Viu a xícara de café ao seu lado, ainda quente e com um pouco do líquido que há pouco bebera. Começou a pensar, pensar, e se....?

Subitamente, Luciano parou de tentar se desvencilhar do loiro, como se tivesse se entregado à vontade do norte-americano. Permitiu que ele segurasse suas mãos com força, o que fez Alfred agarrá-lo pelos pulsos, depois pelo braço, descendo as mãos para sua cintura enquanto beijava seu queixo, não deixando de dar alguns chupões em seu pescoço.

Mesmo que agora Alfred o pressionasse com mais vontade contra a parede, o aperto que o machucava entre as pernas havia cessado, e suas mãos encontravam-se livres. Luciano suspirou, de certa forma, até gostava daquilo. Não podia deixar de lembrar que Alfred já fora um de seus amores platônicos... Mas isso... isso tinha tanto tempo... Ainda assim, sabia que sentia uma leve atração pelo loiro, motivo pelo qual permitiu que os beijos cada vez mais ousados continuassem por mais alguns segundos.

Alfred passou os lábios ao redor dos de Luciano, mordiscando-os de leve. Luci, com uma mão afagava a nuca do estadunidense, com a outra, agarrava a xícara ao seu lado...

Se Alfred quer sentir o gosto de algo brasileiro, espero que curta esse sabor.

Estava quase, quase colando seus lábios nos do brasileiro de uma vez por todas, quando o rapaz de olhos azuis subitamente arregalou as órbes ao sentir uma inesperada sensação de queimação nas costas.

—AHHHGHT! –Urrou o norte-americano quando Brasil virou todo o líquido escuro e quente dentro de sua jaqueta de couro, nas costas, manchando a traseira da camisa branca social que EUA vestia. Alfred fora pego de surpresa, e, por isso, subitamente deu alguns passos para trás, na tentativa de tirar as roupas molhadas –e agora pelando também –de si. Isso deu a Luciano tempo suficiente para desvencilhar-se de Alfred e sair correndo até a porta de madeira no fundo da sala, por onde entrara. –Luciano, seu... maldito. Vou pegar você!

Ao tocar a maçaneta, ainda ousou virar-se para trás, bem a tempo de ver um Alfred furioso fitá-lo, ajeitando os óculos sem tirar de Luciano as órbes iradas. Se olhares matassem, o brasileiro sabia que, ao invés de Luciano, seria um Mortinho da Silva naquele momento. Todavia, como bombas e armas costumam ser mais efetivas que olhares, Brasil continuou vivo o suficiente para provocar:

—E esse sabor, incrível também, né? -Falou de maneira sedutora, e completou com uma piscadela: -É brasileiro.

Antes que fosse trucidado ali mesmo, girou a maçaneta com força, abrindo rapidamente a porta ao ver de soslaio Alfred correr até ele, saindo e fechando-a, para então disparar ao encontro dos outros países. Jones jamais apareceria daquele jeito, enganado e furioso, na frente dos outros, então, por hora, Luciano da Silva sabia que estaria livre das ameaças lascivas daquele loiro.