Erva Doce Amarga

Para Emily com amor, de Debie.



Desabafou.

_ A culpa não é minha! José foi quem decidiu tirar tudo dele.

_ Aqueles documentos são falsos, Emily?

_ Eu não sei de que documentos você está falando.

_ Conte a verdade, e eu lhe entrego esta carta.

Ela pensou antes de dizer.

_ Eu só queria que ele sofresse por ter matado o meu pai.

_ Tony matou seu pai? Como sabe disso?

_ José me disse.

A mágoa era clara na voz tremula e no olhar triste dela.

_ José mentiu pra você, Emily. Acha que ele mataria o pai da melhor amiga de sua filha? E pior, acha que ele colocaria em risco a vida dela?

_ José disse que o homem errou o tiro, que era para me matar também. E, além disso, o pai dela armou uma cilada para acusar meu pai de roubo.

_ Emily, eu estou vendo que você esta desconfiada de que nada disso é verdade, por que se fosse, ele teria ido atrás de você até acha-la. Se ele fosse esse homem, não teria uma filha como Debie. Você se lembra de como ela era?

As lembranças a fizeram chorar.

Simon pensou em deixa-la ainda mais vulnerável. Aquela cartinha escrita por Debie seria seu golpe de misericórdia.

_ Emily, se isso que dizem sobre os mortos, que eles andam vagando entre nós para terminar algo inacabado, é verdade, então eu acho que depois de hoje o espírito de Debie poderá descansar em paz, quando você ler a carta que ela ia lhe entregar naquele dia.

Então ele deu a carta para ela.

Com muitas lágrimas nos olhos ela leu. Na verdade era apenas um bilhete com poucas linhas, mas com palavras que encheram o coração de Emily. mas também lhe trouxeram arrependimento.

Simon ainda a observava quando ela abaixou a cabeça e com os olhos fechados pediu perdão a Debie. Ainda chorava, como se lavasse sua alma e purificasse seu espírito, já que ela foi enganada por José.

_ Emily, - disse Simon – sei que nesse momento ela te perdoa, se você a perdoar. Mas há alguém que também quer pedir perdão a você. Certamente seu pai espera por isso também.

Sob o sinal de Simon, Raquel levou Tony até a sala e finalmente ele estava frente a frente com Emily.

Muito emocionados, os dois se abraçaram pedindo perdão um ao outro, o que foi concedido das duas partes.

Depois do abraço, Emily disse que ia consertar os erros que cometeu por causa da mentira de José, e foi embora.

Tony agradeceu seu médico.

_ Você é mais do que um psiquiatra, é um amigo. Obrigado por ter se preocupado comigo e com Raquel, Simon.

_ Mas, como José pôde ser tão crápula? - disse Raquel indignada.

Simon explicou.

_ O que aconteceu foi que naquela época, quando o pai de Tony ainda estava vivo, em seu testamento concedeu a José o direito de assumir a empresa e todos os seus bens, caso Tony ficasse doente, inválido, ou falecesse. José aproveitou a bobagem que Tony fez e armou uma emboscada quando soube que Vinni ia ao banco e que Tony também ia, para falar com ele como prometeu a sua filha. Eles matariam Tony, e Vinni seria acusado, pois tinha oportunidade e motivo.

_ E como ele faria isso, Simon? – perguntou Tony, curioso, pois era uma história tão estranha que ele mesmo não se sentia parte dela.

_ Ele seria a testemunha ideal, e diria que a esposa e filha dele estiveram na empresa e foram expulsas, e que Vinni o ameaçou... Ele teria dito qualquer coisa. Mas quando os bandidos foram executar o serviço, por serem amadores, erraram o alvo duas vezes, ao atirar no homem errado e ao atirar em Debie. Eu vi a gravação do banco, arquivada no processo.

Raquel não entendeu como ele conseguiu.

_ Como? Só um advogado poderia fazer isso.

_ Bem, Desde alguns dias atrás eu sou seu novo advogado. Não queria dizer por que queria fazer uma surpresa, mas as coisas tomaram um rumo diferente.

_ Mas você não é...

_ Psiquiatra e advogado também, e jardineiro nas horas vagas.

Ele sorriu para os dois, mas encarou Raquel, e Tony percebeu, porém não se importou que houvesse algo entre eles. Pediu que ele explicasse o que pôde ver na gravação.

_ Quando ele apontou a arma pra você, você abriu os braços para proteger Debie, mas ela estava esquivada olhando para Emily que gritava e então a bala passou por baixo do seu braço e a atingiu o pescoço dela.

Raquel colocou as mãos no rosto. E Tony tentava se lembrar.

_ Ela estava ao meu lado?

_ Não, estava atrás de você, mas se estendeu para ver o que aconteceu com Vinni. Nem mesmo o bandido sabia que isso ia acontecer.

_ Devia ter me matado. Debie e Emily estariam juntas! – disse triste.

_ Não diga isso, meu amor! – disse Raquel abraçando seu marido. Até hoje ela estaria chorando sua ausência, como nós a dela!

_ Bem, - Simon achava que era hora de deixar o casal – vou para casa e depois verei o que fazer para convencer Emily a testemunhar e reverter sua situação, Tony.

Tony apertou a mão dele.

_ Obrigado, Simon. Não tenho palavras para agradecer.

_ Fico feliz em vê-lo agora confiante.

_ Aquela maldição foi destruída graças a você. Serei eternamente grato.

Raquel ficou em silencio, mas seu olhar dizia ”Eu também!”.

Alguns meses se passaram. Tony recuperou sua empresa, sendo Emily sua assistente agora. Com o testemunho dela, um inquérito foi aberto, e a investigação do assassinato de Debie e Vinni que constava como sem solução nos arquivos da polícia foi solucionada, concluida e arquivada, e José foi condenado a 35 anos de prisão.

Simon estava orgulhoso de si mesmo, e feliz por ter dado tudo certo com Tony, principalmente por ele ter conseguido recuperar seu império Tomy.

Mas ainda faltava para Tony recuperar sua vida pessoal.


( Ver no último capítulo a carta escrita por Debie)