Equinócio

Perto do fim


- Eu sou um monstro. – a voz rouca entrecortada.

Do que ele estava falando? Eu o fitei horrorizada sem entender.

- É claro que sim, e eu também, e todos nessa casa. – eu disse, a sobrancelha erguida, os braços ainda esticados na esperança dele retornar ao meu abraço.

- Não. Eu quero dizer que sou horrível, eu sou completamente desprezível.

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- Do que você esta falando? Você, é bom, você, bem, você é importante pra mim.

- Renesmee olhe só para você, olhe o que eu fui capaz de fazer.

Eu não entendia, mas segui seu olhar até meus braços, e alguns hematomas arriscavam aparecer em minha pele, não doía, só a lembrança que ainda machucava. E a dor de ouvir meu nome saindo de sua boca. Eu achava que era impossível ouvi-lo citar Renesmee.

- Esta tudo bem. – eu disse, os braços imóveis, eu queria o abraço dele mais do que qualquer coisa, eu queria fazê-lo parar de chorar, mas ele se afastava cada vez mais. Eu não devia ter me afastando antes.

- Não está, não, não, não esta... – ele disse afundando novamente o rosto em seus joelhos.

Eu ignorei qualquer tentativa que ele tenha feito pra tentar me afastar dessa vez. Sentei bem ao seu lado, e puxei sua cabeça para meu colo, precisei fazer força, mas consegui. Ele deitou a cabeça em minhas pernas, e se esticou, embora o corpo continuasse rígido. Eu afaguei seus cabelos macios, curtos, negros. A outra mão acariciando seu braço, os músculos bem desenhados, as formas traçando caminhos por toda a extensão não só dos braços mas do corpo todo. Quem quer que fosse o imprinting de Jacob, seria uma garota de muita sorte.

- Eu sou uma péssima pessoa. – ele choramingou.

- Não Jake, é claro que não. Você é uma ótima pessoa, de verdade, olhe tudo o que já fez, você é uma pessoa muito boa e é a minha pessoa preferida.

- Renesmee Carlie, você é a única pessoa no mudo a qual eu deveria proteger com todas as minhas forças, e não usá-las para te machucar. Não sei onde eu estava com a cabeça, não sei onde você estava com a cabeça ao colocar... Meu deus, aquelas coisas... Estranhas no meu sonho.

- Jacob Black, saiba que eu posso muito bem me defender sozinha, não preciso de uma babá pelo resto dos dias está bem.

Seu rosto virou para mim bruscamente, o sofrimento fluindo de seus olhos úmidos, me alcançando com mais rapidez do que eu esperava. Não me importava o motivo, ver Jacob sofrendo era mais doloroso para mim do que para ele.

- Então é isso? – ele sentou, posicionando-se de frente para mim, eu precisei levantar o rosto para olhar seus olhos. – Só isso? Eu sou apenas uma babá para você?

- Claro que não...

- Se você esta tão incomodada porque não disse antes Renesmee? Eu podia ter ido embora, eu podia te deixar em paz. Eu farei isso.

- NÃO! – meu grito não saiu tão alto quanto eu esperava, nem surtiu o efeito que eu queria, sua expressão continuava dura, e eu precisei limpar a garganta antes de falar, engolir o choro. – Eu não quis dizer isso Jake, por favor.

- Mas você tem razão, eu não sei o que estou fazendo aqui ainda, atrapalhando a sua vida. Você precisa viver, seu pai quer isso, sua mãe quer isso, você quer não quer? Eu também quero então, vá viver sua vida, vá sair com seus amigos, vá namorar Thomas. Aproveite a parte humana que te resta.

Suas palavras fluíam ácidas, e como se fossem pedras, ele as atirava com força contra mim. Doía, eu não consegui segurar as lágrimas que transbordaram imediatamente do meu rosto, soluçando a cada pedrada que recebia.

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- Eu digo que sou um monstro. Olhe para você, eu preciso ir antes que eu piore as coisas mais ainda.

Meu braço alcançou sua mão antes que ele se afastasse, eu nunca tinha precisado fazer força com Jake, mas aquela me parecia uma boa hora para abusar do meu instinto. Seu corpo bateu bruscamente contra o colchão no chão, num baque. Eu não me importei em saber se estava tudo bem. Ele ainda lutava para levantar. Então eu afastei as lagrimas e me comportei como se estivesse caçando. Meu corpo se jogou por cima de Jacob. Eu não era pesada para prendê-lo daquela maneira, mas eu só precisava que ele me ouvisse, então talvez fosse melhor intimidá-lo.

Sentei em sua barriga, e precisei curvar meu corpo quase deitando sobre ele, para poder segurar seus braços o mais firme que eu conseguia, acima de sua cabeça. Seus olhos castanhos se arregalaram, sua boca rosada de repente virou um ‘o’. Por um breve momento eu me esqueci o que queria, eu não sabia o que ia falar, não era pelo fato do calor escaldante embaixo de mim, talvez fosse pelas batidas de coração que ecoavam em minha cabeça, sem saber qual batimento seguia qual, as respirações ofegantes, o doce hálito de Jake refrescando meu rosto, tão perto do dele. Eu precisei de um minuto, mesmo querendo uns dois, três ou mais, até retomar a linha do meu raciocínio, e lembrar com muito esforço o que havia me levado a fazer aquilo.

- Você só vai piorar as coisas se você for embora. Então trate de me escutar Jacob Black, só existe uma razão para que você saia de perto de mim, uma única desculpa, uma única coisa que não depende de mim. O destino é quem vai tomar conta dessa parte. Você não é meu, não me pertence, eu não posso mandar ou desmandar em você. Mas a verdade é que eu também não posso ficar sem você por perto, sem meu melhor amigo, meu irmão, meu tudo. Eu não me importo que você me machuque as vezes, quebre meu braço se quiser, me ofenda, me chame por todos os nomes horríveis que você conhece, diga que me odeia, mas não me deixe aqui sozinha.

- Você nunca vai estar sozinha. – seu rosto de repente mudando a expressão, indecifrável.

- Talvez eu prefira a solidão, não há nada de errado em ficar sozinha, mas eu não gosto quando alguém me tira esse direito, sem ao menos me oferecer em troca verdadeira companhia.

- Talvez você encontre alguém que lhe ofereça isso melhor do que eu, alguém que lhe dê um tipo de companhia melhor do que um simples trabalho de babá.

- Mas é só você que eu quero. – eu respondi sem me importar realmente com o duplo sentido que aquela frase poderia ter.

Seus olhos se estreitaram nos meus, e eu senti um enorme impulso, que consegui bloquear na ultima hora. Eu não queria entender o que eu sentia. Eu não queria chegar a pensar na possibilidade de querer Jacob para mim, um dia eu o perderia isso era evidente, e eu não sobreviria a essa perda. Não sobreviveria nem agora, sem nada entre nós, quem dirá depois.

Bloqueei para sempre o impulso de beijá-lo. Prometi jamais pensar nisso novamente, não escaparia nem sobre tortura, meu pai jamais saberia e conseqüentemente minha mãe também não. Eu me coloquei de pé em um salto.

- Na verdade, não mando em você. Pode ir embora se quiser. – eu disse rápido demais, me virando e saindo pela janela antes que ele pudesse pensar em me seguir, ou antes mesmo que ele visse a dor e as lagrimas em meu rosto.