No aparelho portátil de som algum rock progressivo macabro explodia em seus ouvidos. Ele balançava a cabeça automaticamente, muito parecido com aqueles suvenires de cachorros a tremeluzir convulsivamente o pescoço ao menor toque. Em suas mãos o mangá número dezoito de Fairy Tail era devorado em alta velocidade. Algumas raras vezes, entretanto, ele encarava a simétrica coleção de Monsterque vinha formando na prateleira próxima a escrivaninha e lembrava-se da estudante de medicina.

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Semanas haviam se passado após o evento do qual fora abusivamente extorquido pela maléfica mente capitalista de um garoto com um pouco mais de quinze anos de idade, e algumas questões ainda o assombravam. Por exemplo: O que deu nele em se empenhar tanto para agradar aquela garota com uma aliança da largura da fachada do Palácio de Buckingham?

Talvez estivesse sentindo um pouco de solidão após o término de tantos relacionamentos tão desastrosos. Ah, sim, Rony já fora um sujeito mais alinhado e enamorado. Teve uma época de sua vida em que ele usava camisa social, cabelos penteados com gel e fazia teste vocacional para descobrir qual área acadêmica se encaixaria melhor.

Tudo antes do balde de água fria do fim de paixonite adolescente. Houve muitos insultos, uma bela galhada ornamentada de fronte a testa e a acusação obscena de que ele era criança demais para ela por gostar de “coisas japonesas”. Até um cachorro teria mais dignidade se ele continuasse com ela depois de tanto desaforo.

— E aí, cabeça de vento?

A sua doce e insuportável irmã abriu a porta do quarto e interrompeu seu santuário. Ele nem conseguia curtir um dia de folga do serviço com aquela pentelha em casa!

Ela foi se esgueirando para a estante gloriosa de mangás dele.

— Não. — disse num tom monótono, mas ameaçador o suficiente para criar gotículas de suar no rosto dela.

— Não o que? Eu só quero pegar Love Hina... — foi impetuosa.

— Não e não! — exclamou ficando sentado na cama.

— Para de ser insuportável, cabeça de vento! — e mostrou uma língua.

Rony levantou de supetão, os cabelos ruivos amassados pelo travesseiro que servira de apoio na leitura, e tentou agarrar a garota. Gina, uma abreviação carinhosa utilizada pelos parentes e amigos para Ginevra, esquivou como um jogador de hóquei patinando no gelo, e correu pela porta. Ele seguiu-a, obstinado. Ela era desleixada e gostava de fazer orelha em suas revistas somente para irrita-lo. Além do mais era a caçula e isso já era motivo suficiente para ele recusar qualquer coisa a ela.

Com passos de gato, a jovem subiu para o segundo andar e se trancou no banheiro.

— Me dá esse mangá, Gina! — ele sibilou entre os dentes.

— Você precisa arranjar uma namorada, Ron. — ela resmungou pela porta. Os risinhos vitoriosos dela ecoaram pelas latrinas.

Irritado, contrariado e cheio de ciúmes por não conseguir resgatar suaHq, ele desceu as escadas de volta para o quarto. Trocou-se rapidamente, bateu a porta da frente com força e saiu para pedalar um pouco e espairecer.

Talvez estivesse ficando velho demais para passar por aquelas situações infantis.