Entre Nós

Liam


Eu nunca tive o que reclamar desde que vim morar com Verônica e Patrick. Eu finalmente me sentia em família e agradecia por isso. Era satisfatório saber que eles me viam como filho e eu nunca precisei me preocupar com Liam.

Talvez tenha sido isso, o fato de nossos pais serem abertos aos sentimentos e sempre colocarem em pratos limpos tudo o que sentiam. Nunca houve qualquer tipo de separação entre nós.

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Isso me fez ficar ainda mais próximo de Liam, embora meu coração nunca o tenha visto como irmão, não por ciúmes ou algo do tipo, era algo mais.

— Um doce pelos seus pensamentos — a voz risonha de Lisa me trouxe de volta a realidade, o sorriso bonito e largo estava estampado em seus lábios e ela arrumava o jaleco azul.

— Não gosto de doces — não era uma completa mentira, os únicos doces que consumia vinham de Liam.

— Sei, mas o que estava pensando? — Lisa era uma ótima amiga e uma enfermeira melhor ainda, mas por vezes tornava-se inconveniente.

— Todo o trabalho que tenho pela frente e a reunião para que eu me torne oficialmente o diretor geral. — o som de palmas e a risada, dessa vez baixa, da mulher ao meu lado me fez a olhar, curioso para o ato.

— Aos trinta e sete anos você já se tornou diretor geral e cirurgião chefe de um dos maiores hospitais do país. Como faço para Verônica e Patrick me adotarem? — eu sei e entendia o intuito da fala, mas doía ouvir aquilo.

Não respondi mais, preferindo trilhar tudo o que tinha para fazer hoje.

Pela manhã preencher os prontuários e ir aos quartos dos pacientes, verificar se estavam bem, além de assinar alguns papeis.

Uma da tarde começaria a reunião, Patrick e Verônica estariam presentes e realizaríamos todos os tramites para que eu assumisse sua função.

Quando isso terminasse eu estaria livre e havia combinado de sair com Liam.

O garoto alegava sentir saudades do tempo em que eu não estivesse tão ocupado, mesmo que eu não lembre muito bem de quando eu não tinha tantas tarefas.

Suspirei pesado no fim da reunião, sorrindo em seguida e retribuindo o abraço de Verônica.

— Você vai se sair bem. É um médico ótimo! — apenas concordei com um aceno de cabeça para o que ela disse.

Fiquei alguns minutos cumprimentando a todos que estiveram na reunião e quando finalmente me vi livre, Liam já estava na porta. Parecia impaciente enquanto me olhava, mas sorriu e relaxou, entrando na sala que agora só tinham a mim e ele.

— Achei que perderia meu irmão para aquele bando de velhos interesseiros. — eu poderia apontar diversos erros naquela frase, como o fato de não haver somente velhos ali, uma boa parte tinha a minha idade, e eram ricos o bastante para ter algum interesse no hospital e bom... Liam nunca me perderia, mesmo que quisesse.

Mas não respondi, apenas ri baixo bagunçando os cabelos castanhos e devidamente arrumados.

— Vamos logo, estou faminto — resmunguei, enquanto ia até minha sala. — irei até minha sala, tirar o jaleco, pode me esperar aqui — informei quando chegamos na recepção.

Não esperei alguma resposta verbalizada, seguindo o caminha até minha sala e lá tirei o jaleco, pegando o paletó cinza. Respirei fundo antes de sair, checando a hora no relógio de pulso. 15h53min.

Uma parte de mim queria ficar e cuidar de todos os pacientes e talvez qualquer assunto pendente e outra parte, esta sendo um pouco maior, queria que eu largasse tudo e sem olhar para trás passasse o resto da minha vida cuidando de Liam.

— Estou gostando de alguém — aquela frase me pegou de surpresa, até mesmo quase me engasguei com o suco que tomava.

Não estava realmente surpreso por ele gostar de alguém, Liam sempre estava gostando de alguém. Mas ele nunca falava aquilo de forma tão repentina.

— Ele fez faculdade comigo e nos encontramos no supermercado, fui comprar alguns ingredientes que faltavam para a sobremesa dessa noite, sabia que mamãe está preparando um jantar de comemoração por você ter assumido o posto do pai? — neguei com a cabeça, preferindo não atrapalhar seu monologo, algo que ele fazia sozinho. — Bem, voltando, acabamos nos encontrando no caixa e começamos a conversar, ele parece ser legal e agora acho que vai — ele sorriu, um sorriso pequeno e cheio de dentinhos brancos, tinha um formato único de coração que combinava com os olhos grandes.

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Meu coração apertou, Liam sempre dizia que dessa vez “ia”, mesmo que algo em mim estivesse acostumado a isso, outra parte apertava-se.

— E por quê acha que vai? — questionei, mesmo que minha mente gritasse que não, dessa vez não iria.

— Eu não sei, eu nunca sei na verdade. Mas algo me diz que sim, que May não era a pessoa certa — ri da careta que ele fez ao lembrar da garota.

Havia se relacionado com ela no primeiro semestre da faculdade e não se relacionou com mais ninguém depois disso, ele alegava que era algum feitiço da garota que se alto intitulava bruxa. Eu gostava dela.

— Já escolheram? — a voz do garçom se fez presente, Liam falou animado o prato que queria, comentando vez ou outra algo sobre os ingredientes.

Era algo belo de se ver, sua animação ao falar sobre os pratos que preparava e sua devoção ao comê-los.

Acabei pedindo o mesmo, o resto da conversa seguiu para um rumo ameno, com perguntas triviais e piadas sem graça, ele pareceu esquecer-se completamente sobre o assunto anterior e eu agradeci por isso.

Quando voltamos para casa Liam tinha um sorriso cansado, mas ainda sim era o mais belo que já vi.