E ela entrou no carro, acelerando para longe em seguida. Pena que o longe nunca chegaria. Ouvindo o grito surdo de Gabriel do outro lado da rua, e vendo até mesmo o sorriso de escárnio de Angélica sumiu, ela se virou para frente uma ultima vez. E então o branco invadiu seus olhos. Estava acabado. Sua mente finalmente encontrou paz. E tudo se apagou.

Era vazio. Era tudo vazio. Nada na mente branca dela parecia ter sentido. Algumas pessoas descrevem a dor com excruciante ou coisas assim. Para Juliana era só vazia. Nada parecia ter sentido ou qualquer coisa assim. Sua mente não pensava e seu corpo não respondia. Estou morta? Ela pensava enquanto se sentia afundar na escuridão. Alguns sons pareciam se contorcer a sua volta. Ela sabia que alguém a estava chamando desesperadamente. Não era como se ela pudesse de fato ouvir, mas ela sabia que alguém a chamava. Não apenas alguém, mas sim o seu alguém especial. E então ela sentiu. Sentiu seus olhos se forçarem a abrir e nesse mesmo instante ela encarou uma luz. Mas não era uma luz branca como as pessoas descreviam a morte. Era uma luz azul. Azul como algo que ela já havia admirado tantas vezes. Azuis como os olhos dele. Os olhos do seu garoto. Era o azul dos olhos de Gabriel Sant’Anna.

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E o último pensamento de Juliana antes de se entregar ao vazio, que naquele momento parecia tão quente e acolhedor foi apenas “Então é assim que é morrer? Tocada por um anjo... Com amor.”


Gabriel correu. Correu como se sua vida dependesse disso. Correu como se nada mais importasse. E o que, de fato, importa quando se vê sua vida se desfalecendo bem em frente aos seus olhos. Ele podia se ouvir gritar. Ao longe, sua voz soava desesperada e agonizante. Só de ouvi-la, ele se sentia dilacerado. E foi então que ele se aproximou do carro. Todas as vozes de advertência, o tom preocupado de seus amigos, o som desesperado da voz de seu irmão, nada o fez parar. E foi então que Gabriel tocou no carro. O carro que mantinha o seu coração entre as ferragens. Juliana estava lá. Seu rosto coberto por linhas de sangue. Ela parecia desacordada. E ele não se preocupou nenhum segundo em desesperadamente forçar a porta emperrada co lado do motorista e de qualquer forma libertar Juliana de lá. Que se danassem os paramédicos e suas regras. Ela não poderia morrer. Não ali, não agora, não na sua frente, não sem ele ter feito nada. E não por sua culpa. Ele gritava o nome dela, e sabia disso. Todos estavam olhando aterrorizados de mais para a cena. E foi então que ele conseguiu. Em um movimento bruto ele retirou a porta do lugar, puxando em seguida uma Juliana inerte para fora do carro, a aninhando em seus braços e chamando desesperadamente por seu nome. Sua vista embaçada por lagrimas de desespero e pavor quase não notaram o mínimo instante em que ela abriu os olhos. Por uma fração de segundos, Gabriel a sentiu viva em seus braços. E ele a apertou mais contra si. Com força. Ele não queria perde-la, nem agora nem nunca. Nada mais importava. E Gabriel chorou. Chorou ainda mais. Não se importando com os olhares ao seu redor, fossem eles de duvida, confusão ou pena. Ele não se importava em ser julgado. Não quando Juliana estava quase morrendo em seus braços.


E foi então que tudo aconteceu. Muito rápido, ou horas depois, ele sentiu mãos o tocarem quase que desesperadas. Ele olhou para cima sem poder ignorar o toque, e viu os paramédicos parecendo frenéticos ao seu lado. Ele sabia que eles estavam dizendo algo, mas sua mente simplesmente ignorava.

– Gabriel! – A voz de Miguel o despertou de seu torpor de desespero. - Deixe que a levem agora. Eles precisam cuidar dela.

Os médicos assentiram e o próprio Gabriel, sem dizer nada, levantou-se do chão e cuidadosamente a depositou sobre a maca que era segurança pelos dois homens.

Eles a ergueram e fizeram os primeiros procedimentos de atendimento e logo ela era levada, imobilizada para dentro da ambulância.

– Deixe eu ir com ela. – Gabriel pediu e os paramédicos se entreolharam preocupados.

– É algum parente dela? – Um deles perguntou e Gabriel negou antes de responder.

– Sou o namorado dela. – Diante da afirmativa do rapaz, todo o burburinho pareceu aumentar. Os alunos em volta do local, os professores, os pais de alunos e até os paramédicos pareceram surpresos. – Vocês precisam de uma declaração formal pra entender isso? Não temos tempo a perder. – Gabriel bradou se colocando na ambulância ao lado dela e logo a porta foi fechada, levando para longe, junto com o som da sirene, o coração de Gabriel. A vida e Juliana.\"\"