Enquanto nós esperamos

Capítulo 03- Eu acho que amo você?


Estava tirando um cochilo até ouvir a porta bater. Levantei com dificuldade e
abri a porta. Era a enfermeira de novo... Ela disse que eu tinha sessão de terapia hoje. Meu Deus! Eu tinha me esquecido. Fui para o banho e logo me troquei, me enxugando mal. Coloquei uma calça jeans, uma blusa com mangas curtas e um par de sapatilhas. Andei às pressas até a sala de terapia e vi todos lá, até Josh. Ele me deu um papelzinho discretamente: "Desculpe não ter te acordado. Eu achei que você dormia tão bem, que não queria quebrar isso. Afinal, você tem passado noites em claro.". Como ele sabia? Olhei para Josh e ele sorriu. Ele havia feito a quimioterapia e tinha se saído bem. Fico feliz por ele.

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—Quer falar Josh?— perguntou Jass, a terapeuta

—Passo...— murmurou ele

Eu suspeitava que ele não queria desabafar. Sempre que Jass pergunta se ele
quer falar, Josh diz não ou passo.

A sessão de terapia acabou rápido e Josh me chamou para irmos tomar um sorvete. Era uma ideia divertida, fazia muito tempo que eu não tomava sorvete. Vesti o casaco e fomos. As ruas pareciam estar mais diferentes, estreitas, mas na verdade não estavam. Eu nunca mais andei por aqui, nunca mais vi o sol puro como via todos os dias. Sentamos em uma das mesinhas e pedimos sorvete. Josh estava muito vermelho. Era fofo.
Um gatinho ronronou nas pernas dele e ele tirou um petisco do bolso e deu para
o bichano. Eu adoro nisso nele, o fato de ele amar os animais.

—Eu te chamei aqui para te falar uma coisa...— disse Josh, vermelho— Mesmo com pouco tempo de conhecimento de nós dois, eu...

—Josh?

—Eu acho que amo você, Emma.

Ficamos em silêncio profundo. Nesse momento, era possível ouvir um alfinete
cair no chão. Ficamos nos olhando em silêncio, nos comunicando pela linguagem dos olhos. Dizendo tudo e ao mesmo tempo nada. Estudei cada detalhe de seu rosto. Uma pequena cicatriz cortando no canto de sua testa, o queixo barbudo, perfeitamente cortado. Os olhos cinzentos românticos e tímidos, os lábios grossos e os cabelos loiros mel... Eu não sabia se sentia o mesmo. Talvez sim. Eu nunca amei ninguém... De verdade. Eu acho...

—Josh eu...— tentei falar

—Eu não quero que tome uma decisão precipitada. Eu quero que seja de coração.

—Mas eu gosto de você. Muito. Só não tenho certeza...

—Ei...— ele sorriu e pegou minha mão— Não tenha pressa. Eu não vou a lugar algum.

Sorri. Josh era definitivamente o cara mais legal do mundo.
Quando terminamos o sorvete, caminhávamos pelas ruas até chegar no hospital. Olhei para Josh e ele olhou para mim, sorrindo. Abracei ele com força num movimento rápido. Josh enterra o rosto em meus cabelos. O calor irradia do ponto onde seus lábios tocam no meu pescoço, lentamente espalhando-se pelo resto do meu corpo. A sensação é tão boa que suspiro, desejando mais daquilo.

Eu acho que o amo. Acho que quero estar mais que tudo ao lado dele. Isso é tão ridículo, nos conhecemos a pouco tempo... Eu acho isso estúpido. Eu passei a não acreditar em amor a primeira vista, mas comecei a duvidar depois de conhecê-lo. Uma voz completamente idiota sussurrou na minha mente: Romeu e Julieta se apaixonaram de primeira vista. Nossa... Era um dos momentos mais românticos da minha vida e eu pensando em Shakespeare! E mais um motivo porque eu vou morrer sozinha.

—Eu te espero o tempo que for preciso.— ele sussurrou

Josh me soltou e ficou vermelho como uma pimenta. Chegamos até o hospital e a enfermeira Smith me comunicou que eu tinha um telefonema. Deve ser a Bella ou meus pais. Fui até a sala de telefonemas e atendi. Eram meus pais.

—Oi Emma...— era meu pai

—Oi papai. Como estão as coisas?

—Está tudo bem... E você? Bella foi lhe visitar?

—Está tudo bem comigo. E Bella não veio me visitar.

—Não? Hm... Vou ligar para ela.— ele suspirou— Me sinto péssimo por não estar aí.

—Pai, se o senhor não estivesse aí, eu não estaria aqui. Obrigada por pagar meu plano de saúde.

—O mínimo que posso fazer por você minha filha...— papai fungou— Eu vou passar para sua mãe.

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—Tudo bem...— o telefone ficou mudo até minha mãe atender

—Oi querida. Está tudo bem?

—Sim, sim. Eu estou até... Feliz.— sorri sozinha

—Que ótimo meu amor. Eu...

A ligação começou a falhar. Não duvido. Deviam estar em outro país. Até eu não escutar mais a voz de minha mãe. A enfermeira Smith disse que eu tinha que ir
lá na sala 130 às 15:00, Jass estaria lá com quase todas as mulheres. Mas antes,
resolvi passar na Ju.

Entrei na pediatria e vi Ju deitada na maca brincando com um cubo mágico. Ela acenou para mim e eu fiz o mesmo. Sentei na maca com ela e Ju me perguntou:

—Então... Como vai?

—Bem eu acho...

—Você gosta dele Emma. Admita!— riu Ju

—O quê?! Como você sabe? Quer dizer...

—Eu tenho meus contatos.— ela piscou— Desde de que ele viu uma garota
chorando no banco de espera de um hospital, ele tem estado mais sorridente, apaixonado...

Eu era a garota. Josh sorriu para mim no dia em que eu soube que ficaria no
hospital. Destino? Não sei...

Conversamos muito. Era incrível de como Ju era inteligente e sábia com apenas sete anos. A maca dela era bem grande, cabia para duas e eu deitei ao lado dela. Ficamos conversando olhando para o teto branco do hospital. Ju me falou de sua história de vida, sobre ter perdido sua mãe para o álcool e seu pai ter caído em
depressão após ela ter partido. Contou sobre suas três irmãs, que uma delas tem esquizofrenia. As mais velhas já eram casadas e moravam em outro país. Ju me contou que seu maior sonho é ver sua família unida novamente, com a sua mãe, seu pai, ela e suas irmãs. Era o sonho mais lindo que eu já tinha ouvido. Olhei para o relógio e vi que já eram quase 19:00. Eu perdi o encontro com Jass na sala 130. Não ligo, depois ela me diz o que era ou repete.

Ju e eu ficamos desenhando e montando quebra-cabeças de 2000 peças (é mais difícil do que você pensa!). Nunca me diverti tanto. Ju era a irmã que eu nunca tive, a amizade feminina que eu nunca possui. Até que eu deitei na maca com ela para ler uma história que me pediu.

Pouco tempo depois eu dormi, junto com ela, na maca. Senti Ju colocando o
lençol por cima de mim. Já era um pouco mais tardar, e eu senti cutucadas no meu ombro. Abri os olhos e era Josh. Ele sorriu e eu olhei para os lados, tentando lembrar onde eu estava. A pediatria estava escura, apenas refletia a luz da janela.

—Só queria saber como você estava...— cochichou ele

—Estou bem...

—Pensei que estaria hoje com Jass.

—Eu ia, mas fiquei aqui com Ju.— sorri

Josh estava de joelhos falando comigo. Sentia a respiração ofegante dele bater no meu rosto. Ele mordeu o lábio e desviou o olhar. Eu sei o que ele queria, mas tinha medo. Podia estar sendo precipitada? Podia. Mas eu só fiz. Segurei seu rosto com as minhas mãos geladas e toquei nos lábios dele com os meus. Meu... Primeiro beijo. Acidentalmente, cai da maca de Ju e cai em cima de Josh. Eu ri e ele também, mas logo nossas risadas foram trocadas por mais um beijo. Foi demorado... Não estou reclamando de nada foi... Indescritível. E lá estavam os dois idiotas, no chão de uma pediatria se beijando sentados, como duas crianças que nunca experimentaram o tal feitio. Brincava com os cabelos dele, arranhando seu coro cabeludo. Até a luz acender. Olho para trás e vejo as crianças olhando para gente como se fossemos invasores ou coisas estranhas que viram quando andavam na areia da praia.

Josh riu da situação. As crianças se olharam confusas. Até Ju se levantou, e tinha um sorriso travesso nos lábios. Josh se levantou e disse:

—Err...Desculpem crianças. Nós já vamos indo—ele deu a mão para eu me levantar

Passei por Ju e ela me deu uma piscadela. Eu... Realmente beijei ele? Meu coração batia tão forte que meu peito doía. Chegando na sala, deitei na maca e Josh pegou os lençóis do armário. Tinha cheiro de sabão em pó. Ele me cobriu e deu boa noite. Senti que ele precisava de uma resposta. Eu precisava ter certeza. Eu amo, ou não Josh Vegga.

Na manhã seguinte, acordei cedo por conta da enfermeira, que me chamou novamente para a sala 130. E lá estava Jass. Ela fez um sinal para eu acompanha-la. Senti o beijo de Josh novamente pregado em meus lábios. Fiquei vermelha só em pensar naquela cena, mas não nego, eu desejo muito mais daqueles.

Jass me levou para uma sala onde havia um gigante espelho. Olhei em volta e vi mesinhas com maquiagem, perucas e faixas. Acho que o dia de beleza é hoje, que ela tem tanto falado. Passei a mão nos meus cabelos e olhei minha mão.

Estava com vários fios de cabelo. Começou... Jass andou até mim e segurou minhas mãos, e as apertou com força. Ela suspirou e disse:

—Eu detesto fazer isso... Se quiser, podemos esperar cair tudo, eu acho...

—Não.— logo falei— Isso tem que acontecer... E eu sabia que aconteceria. Por
favor, vamos acabar logo com isso.

—Se é isso que você quer...

Havia várias mulheres, algumas se maquiando e ajudando as outras com laços e toucas. Jass me guiou até uma cadeira e ligou o barbeador. Ela suspirou bem fundo e colocou um pano em volta do meu pescoço. Logo ouvi o barulho insuportável do barbeador. Fui observando minhas mechas caírem no chão. Chorei e solucei. Pouco tempo depois, não sentia mais nenhum fio de cabelo na minha cabeça. Jass ficou na minha frente e apertou minhas mãos de novo.

—Emma... Eu sinto muito.— disse

—Não sinta...— solucei— Isso é um peso que tenho que carregar sozinha. —Não precisa ser assim... Temos perucas e...

—Não!— berrei e depois olhei novamente para Jass— Desculpe-me...

Jass sorriu para mim. Ela pegou um pano com bolinhas vermelhas, enrolou na
minha cabeça e fez um nó, para que ficasse caído pelo meu ombro. Toquei na
touca. Jass sorriu. Uma crise de tosse me atingiu. Todos olharam para mim e chamaram a enfermeira com urgência. Vieram quatro enfermeiros e enfermeiras, me colocaram numa maca e me colocaram uma máscara de aerossol. Eu tossia muito, e sentia gosto de sangue na boca. Além de tirar o cabelo, fiquei pior...
Deus... Por que faz isso?

Fiquei a tarde numa sala diferente da minha. A maçaneta girou e era Josh. Ele
também estava sem o cabelo. Josh estava com um gorro e caminhou até a maca em que eu estava. Ele se sentou na beira da maca e perguntou:

—Você está bem?

Assenti com a cabeça. A máscara do aerossol me incomodava, mas não tanto pela presença dele ali. Me constrangia muito.

—Eu... Vou indo então...

Quando recebi alta da minha tosse, fui fazer outro exame, acho que o nome é Hemograma. Entrei na sala do doutor de olhos grandes e ele sacou uma agulha com a ponta do tamanho do meu dedo indicador. Tremi. Ele riu da minha cara de medrosa.

—Eu só vou ver como está seu sangue. Não se preocupe querida, não vai doer.

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—Não vai doer...?

CLARO que ia doer meu senhor!! Fechei os olhos e senti uma picada no meu braço. Ele me deu um curativo da Hello Kitty e eu sai da sala. Pensei sobre eu e Josh, e tentar responder a pergunta que ele me atormenta todas as noites, se eu gosto dele mesmo. Eu me sinto bem perto dele, me sinto saudável, mesmo não estando. Me sinto feliz, me sinto amada. Sorri no corredor. Eu o amo! Amo muito!

Saltei e fui correndo para o nosso quarto, feliz da vida. Iríamos namorar, quem
sabe ter filhos? Não sei, ele me surpreende todos os dias! Pareço uma pateta correndo no hospital. Queria Abri a porta da sala e falei:

—Josh, eu...

Meus olhos não acreditam de primeira, mas eu vi Josh e Emily Keys se beijando. Fiquei em choque, boquiaberta e um futuro choro se aproximando. Emily parou de beija-lo, me olhou e sorriu. Eu estava com vontade de enfiar um machado na cara dela. Olhei para Josh e ele não disse nada, nem sequer olhou para mim. Engoli em seco. Podia ser qual quer garota, menos a Emily Keys! Aliás, não tinha que ser nenhuma garota, tinha que ser eu.

—Emily Keys...—murmurei

—Olá Emma. Prazer.

"Prazer"? Ela está agindo como se não me conhecesse?! Eu devia estar vermelha de raiva, mas apenas assenti e sorri.

—Desejo... Felicidades...

Sai da sala cabisbaixa. Quis enfiar minha cabeça na privada e me afogar em
água sanitária. Como ele teve coragem?! Nunca mais dirijo minha palavra a ele!
Josh nojento...

Eu acho incrível como as coisas mudam tão rápido. Por exemplo eu. Há poucos segundos atrás, eu ria apaixonada nesse corredor, agora eu ando chorando e fungando feito uma otária. E foi exatamente isso que eu fui, uma otária. Não existe garoto perfeito, e eu achava que Josh era perfeito. Eu tenho que me conformar que eu vou morrer sozinha, e isso não está nem um pouco longe de acontecer. Eu precisava de uma ajuda de uma amiga, e então fui atrás de Ju. Entrei na pediatria chorando e Ju conversou comigo por um longe tempo.

Ela ficou mais revoltada que eu. Josh entrou na pediatria e eu enterrei minha
cara no travesseiro, mas espiei. Ju se levantou e o empurrou de leve. Era muito engraçado vê-la assim. Emma! Isso é serio!

—Escuta aqui garoto, qual é o seu problema?!—berrou ela—Você acaba de estragar sua chance de ter uma namorada perfeita!

Josh não tinha reação. Se sentiu inseguro e saiu da pediatria. Ju sentou do meu lado e tentou esfriar minha cabeça. Tentou me consolar, mas eu não ouvia e
nem prestava atenção. Minha mente estava no paraíso das incertezas. Mas teve
uma ideia dela que prestei atenção:

—Que tal você voltar para a escola? Se você receber alta, você pode sair
livremente, mas tem que visitar o hospital todos os dias.

Isso é uma ótima ideia. Mas primeiro, eu preciso receber a porcaria da alta e eu saio daqui, porque encará-lo ficou difícil agora.