Encenando o Amor

Mas não havia também coragem para acabar com tudo


Mais um dia começava para Akira. O mundo real que conhecia era um tanto chato. As únicas coisas realmente importantes eram sua mãe, suas histórias, e Violet. No dia anterior ainda teve o prazer de acompanha-la até sua casa. Mas ainda não sabia porque Violet estava chorando quando a encontrou. Talvez alguém teria dito alguma coisa rude para ela? O garoto realmente não sabia. Akira se aprontou para a escola e foi até a cozinha. Sua mãe o recebeu com um sorriso.

–Ohayou!

–Ohayou. - disse Akira ainda pensativo.

–Você está estranho hoje. – disse a mãe do garoto, desconfiada. – E ontem chegou tarde. Está me escondendo alguma coisa, Akira?

–Gomen, ontem eu encontrei uma colega na rua, e ela precisava de ajuda para voltar para casa.

A mãe do garoto suspirou aliviada.

–Que bom que não era nada demais. Eu ficaria chateada se você me não me contasse que tem uma namorada. – Akira que estava comendo, quase engasgou e sua mãe riu. - Seria muito bom se você tivesse uma namorada.

–Okaasan, preciso ir agora. –Akira deu um beijo no rosto de sua mãe e foi andando eu direção à porta. O trajeto foi como todos os outros dias. Nada de interessante. Ninguém interessante. Quando chegou ao colégio estava distraído. Nem reparou que Violet estava encarando-o. Continuou andando tranquilamente até sua sala. Violet estava seguindo-o, e ele não percebia. Quando chegou e sentou-se em sua cadeira percebeu que a loira estava parada em pé encarando-o. Os dois iriam permanecer calados se observando para sempre se Violet não tivesse tido a atitude de iniciar a conversa.

–Ohayou, Akira-kun.

–O-Ohayou, Violet-sama!

–Eu queria te agradecer por ontem. – “Se aquele maluco tivesse me pegado, não sei o que seria de mim” pensava Violet “mas não posso contar para Akira sobre ontem, preciso de uma mentira, rápido!”-O-Obrigada mesmo!

–Mas, Violet-sama, o que estava fazendo tarde da noite nas ruas?

–Estava saindo da casa de uma amiga. E você?

–Eu? E-Eu estava andando pelas ruas procurando um pouco de inspiração.

“Droga!” pensava Violet “Eu ainda nem comecei a fazer a história!”.

O sinal tocou e Violet foi caminhando até seu lugar. Teve a sensação estranha de estar sendo observada. Olhou rapidamente para Akusa. Ele a observava com ódio. Violet sentiu um frio na espinha e desviou o olhar. O professor havia chegado então Violet encontrou algo para observar. Óbvio que conseguia fingir muito bem estar prestando atenção nele. Talvez servisse para ser atriz? Não parecia ser uma má ideia. Ganhar dinheiro para fazer o que mais sabia fazer. Mas viver nessa mentira pelo resto dos seus dias. Aquilo seria agoniante. “É o preço que se paga por ser diferente” pensava. E suas histórias? Estariam elas condenadas a serem esquecidas por Violet? Condenadas a serem esquecidas no fundo de uma gaveta que jamais seria aberta? Violet ainda não sabia. Talvez a vida estragasse seus planos. As aulas iam passando e Violet continuava fingindo prestar atenção. Até que o sinal tocou. Asayo veio andando até Violet, que sorriu. As pessoas iam saindo, havia poucas pessoas na sala de aula.

–Nee,Violet, você anda meio estranha ultimamente. Aconteceu alguma coisa que você está escondendo de sua melhor amiga?-perguntou Asayo,desconfiada.

–N-Não, Asayo!Estou bem, pode ter certeza!- disse Violet, forçando um sorriso- Vamos indo, estamos perdendo tempo à toa.

Asayo assentiu e foi caminhando até a porta com Violet. Akira estava na sala ainda. Tentando se concentrar na folha de papel em branco. “O que será que escrevo?” nenhuma ideia passava pela cabeça de Akira. Decidiu sair da sala e andar pelo pátio para tentar encontrar alguma inspiração. Ele via apenas pessoas entediantes. Pessoas que deixavam de fazer o que realmente gostavam apenas para agradar os outros. Akira não via nada de bom naquelas pessoas, então continuou andando. Logo se deparou com a imagem de sua deusa, sentada no pátio conversando amigavelmente com sua amiga. Começou a encará-la do mesmo jeito que um coelho encara uma cenoura. Admirava-a de longe. Sem esperanças de algum dia ter alguma chance com ela. O destino certamente estava brincando com os sentimentos do garoto. Aproximar os dois, sendo que para Akira, Violet era um sonho impossível. Será que ele estava destinado a admirá-la de longe pelo resto de sua vida, ou será que conheceria outra pessoa? Akira não queria viver infeliz mofando e aguardando pela morte em uma poltrona de uma sala vazia. Que tipo de sonhos ele teria no futuro? Seriam os mesmos? Akira estava muito distraído pensando. Nem percebeu que Akusa tirava Violet de sua paz de forma violenta. Akusa puxava o braço de Violet violentamente e ia arrastando-a. Akira voltou a olhar na direção de Violet, mas estranhou o fato da loira não estar mais ali. Asayo estava com uma expressão assustada e olhava fixamente para algum ponto distante. Akira achou aquilo muito estranho, mas preferiu deixar quieto. Continuou a andar procurando por inspiração.

Enquanto isso, Akusa arrastava Violet pelos corredores, praticamente vazios por ser intervalo. Violet se deixava ser arrastada por Akusa. Ela queria ver até onde a loucura de Akusa chegava. Ele tinha uma expressão de ódio que assustaria qualquer um. Porém Violet continuava com uma expressão neutra. Akusa parou em frente a uma porta de uma sala de aula. Violet não sabia da existência daquela sala. Ela não sabia muito sobre o próprio colégio, por não ter vontade. Akusa a empurrou para dentro da sala e fechou a porta. Violet olhou para a sala e viu que Takuto e Fuuta estavam lá também. E eles riam dela. Violet continuava com sua expressão neutra. Violet imaginou o que fariam. No bolso de seu casaco carregava sua faca. A mesma que usou para cortar a perna de Akusa. Violet levou horas para tirar o sangue da faca.

–Não está assustada, Violet?- Akusa perguntou em um tom interessado. Violet achou estranho o fato dele não ter usado um tom irônico.

–O que vai fazer?-perguntou Violet, em um tom irônico- Vai bater em mim até eu pedir pela morte? Até eu chorar, ou até eu implorar para que pare? Não vai rolar, desculpa.

–Não se preocupe, você não será machucada. Mas talvez outras pessoas paguem pelo o que você fez. - disse Takuto, devolvendo o tom irônico.

–Vai matar minha família?- disse ironicamente. Ela sabia que Akusa não era tão perigoso quanto diziam. Era só um menino mimado e fraco. Queria mostrar que era forte então apelou para força física. Por dentro era um menino chorão que tentava se mostrar forte.

–Não, isso me traria problemas. Mas eu poderia mexer com outra pessoa importante para você. Alguém por quem o seu coração bate forte.

“Meu coração já bateu forte para alguém?” Violet tinha sentimentos. Ela só não sabia que os tinha. A loira ingênua achava que tinha um coração de gelo. Incapaz de amar ou sentir algo por ninguém. Estava enganada. Seu eu interior era algo muito mais profundo do que seu “segredo”. Sua alma estava sendo devorada dia após dia por suas mentiras. Estava em um poço sem fundo. Não havia luz nem salvação. Não havia nada. Mas não havia também coragem para acabar com tudo.

– Me diga por quem meu coração bate forte. Nem eu mesma sei.

–Fala sério, Violet. Deve ter alguém especial para você.

–Me conte quem é.

Akusa rangeu os dentes com raiva.

– Pare com essa ironia, Atsuchi. Hoje decidimos não fazer nada com você, mas se continuar desse jeito talvez mudemos de ideia. - disse Akusa. Akusa era uma pessoa que já estava afundando em sua loucura. Não enxergava salvação e talvez nem tivesse.

O sinal tocou e Violet foi andando em direção á porta sem dizer nada. Como alguém que estava fingindo que não escutava. O silêncio era a melhor arma. O silêncio preocupa as pessoas. Violet sabia usá-lo muito bem.

Akira andava tranquilamente pelos corredores para voltar para a sala de aula e então viu a loira. Tinha uma expressão fria. Uma expressão que nunca o jovem Akira esperou ver no rosto de Violet. Ver aquela expressão naquele rosto tão bonito foi estranho. Aquele rosto que sempre sorria. Aquele rosto que declarava uma pureza de alma. Akira decidiu não perguntar aonde ela tinha ido, pois iria como confessar que estava observando-a. Logo atrás de Violet vinha o grupo de Akusa. “Será que Akusa tem alguma coisa á ver com o sumiço de Violet no intervalo?” pensava Akira.

O tempo havia passado e já havia anoitecido. Violet estava em sua casa fazendo o dever e de repente ouviu o toque para mensagem de seu celular.

“Violet, hoje vou chegar bem tarde porque tenho compromisso do trabalho. Espero que entenda. Um beijo, mamãe.”

“Os compromissos de trabalho dela são festas com bebidas, cigarros e pessoas idiotas. Que tinham tudo para serem normais, mas escolheram acabar com suas vidas se entregando a vícios. E pensar que já cheguei a invejá-los. Agora estou sozinha em casa. Posso fazer o que eu quiser. Mas isso não é tentador, não tenho nada para fazer que seja mais importante que os meus deveres.”

Akira estava em casa tentando ter ideias. Já havia passado uma hora e ele ainda estava olhando para a folha em branco tentando ter ideias. Fechou os olhos e tentou se lembrar de seu dia. Nada muito importante. Então se lembrou do sumiço de Violet. Aquilo poderia ser uma boa ideia. Não sabia ainda qual título colocar, mas havia acabado de ter uma interessante ideia para sua história. Qual seria o nome de sua princesa? Se colocasse o nome de Violet ficaria muito estranho. A garota desconfiaria de algo. Pensou mais um pouco e decidiu colocar o nome de Léa. Era bonito e fácil de decorar. O garoto começou a escrever.

Léa era só mais uma princesa. Não que princesas não sejam especiais. Mas acabam sendo todas iguais. Todas elas vivem para depois conquistar uma coroa de rainha para então governar o reino. Aquele não era o sonho de Léa. Léa queria que sua vida fosse totalmente diferente. Léa queria fazer parte do povo. A coroa de rainha não havia sido feita para ela.

Certa manhã andava pelos jardins de seu palácio. Estava entediada. Nada acontecia, sua vida se resumia em treinamento para ser uma boa rainha. Quando algo iria mudar sua vida? Ela não podia fazer nada para mudar. Seguranças estavam ao redor do castelo...

–Não!-gritou Akira-Preciso de algo mais forte! Preciso de mais inspiração!

Akira rasgou a folha. Não tinha conseguido fazer isso antes, mas tinha conseguido fazer isso agora. Talvez aquele fosse mesmo o destino de Akihito. Ele conseguia determinar o destino de Akihito, mas não conseguia determinar o próprio. Akira não se sentia dono da própria vida. Akira não se sentia muito importante. Akira fora excluído a vida inteira por ser um pingo colorido no meio de pessoas normais. Violet era uma exceção. Akira conhecia exceções no meio daquelas pessoas de cor cinza escuro. Exceções que ele agradecia por ter em sua vida, pois se fosse sozinho talvez ele não suportasse viver. Talvez suas histórias permanecessem incompletas por toda a eternidade. Talvez sua própria história permanecesse incompleta para sempre.

Akira deitou-se com esperança de encontrar ideias. Sem sucesso. O garoto continuava com a mente em branco. E se ele passasse o resto da vida sem escrever mais nada por conta de falta de ideias? Aquilo era um pesadelo. Não fazer o que mais gostava por falta de ideias. Aquilo parecia o inferno. Sua vida sem suas histórias seria sem graça. Viver um amor não correspondido. Passar o dia inteiro vegetando deitado em sua cama. Viver seria um tédio.

O garoto decidiu dormir, porém não conseguiu. Passou a noite inteira acordado pensando em o quê fazer para o concurso.

Violet foi se deitar e a mãe já havia voltado. Sua irmã estava dormindo fora. Sempre mentindo que ia à casa de uma amiga, quando na verdade ia á festas para depois dormir com um garoto qualquer. “Ela entrega seu corpo com muita facilidade. O tipo de prostituta que não cobra nada.". A garota adormeceu, e sonhou que ela era normal.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.