Emotional Context

Modulação


Nunca houve dois corações mais abertos,

Nem gostos mais semelhantes,

Ou sentimentos mais em sintonia!” – Jane Austen

— Um dos seus favoritos lhe aguarda Doutora Hooper. – um enfermeiro pôs a cabeça na porta avisando Molly. — Posso trazê-lo?

— Por favor, Gray.

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Estava examinando com cuidado embaixo das unhas de uma vítima quando trouxeram um novo cadáver para o necrotério. Pelo canto do olho vi Molly separar seus instrumentos, colocar suas luvas com um estalo e voltar sua total atenção para o corpo morto à sua frente, ignorando tudo a seu redor.

Quando estava trabalhando, ela era capaz de ignorar até mesmo um elefante na sala, alheia ao que acontecia e nas coisas a sua volta, incluindo minha presença.Sua dedicação ao trabalho era a mesma que a minha quando estava diante de pistas frescas.

Minha mão esbarrou em uma das pinças que estava usando e a derrubei no chão, o barulho acabou atraindo a atenção de Molly.

— Como está indo? – perguntei.

Molly começou a tagarelar com entusiasmo sobre sua análise, as possíveis causas mortis e futuros exames que faria para determinar melhor tudo, contou também sobre sua teoria para a causa – sondei rapidamente com o olhar de onde eu estava o corpo, sua suposição provavelmente era certa.

Durante todo falatório fiquei lhe encarando, seus olhos brilhavam de empolgação e entusiasmo, quando percebeu que falava sem parar ela ficou vermelha e sem graça. Eu nunca demonstrava, mas internamente eu me divertia com as reações de Molly – e eventualmente me aproveitava da situação.

Quem olhava de fora, pensaria que às vezes minha implicância com algumas atitudes de Molly era pura maldade, pelo simples prazer do deboche, mas no fundo não conseguia aceitar nem entender o que levava alguém com sua inteligência – segundo o arquivo que Mycroft possuía dela, Molly Hooper tinha se formado com honrarias, além de ser autora de artigos publicados, ter se graduado e conseguido o PhD praticamente ao mesmo tempo – a agir previsivelmente para tentar conquistar alguém.

“Realmente sua ratinha de laboratório tem notável potencial e talento, se não fosse por... Enfim, uma pena” Aparentemente o histórico acadêmico de Molly tinha surpreendido Mycroft.

“Concordo, irmão meu”

Molly Hooper era inteligente demais para agir de maneira tão óbvia, talvez fosse isso que me irritava e me incomodava tanto, me fazendo ser mais rude que o costume às vezes.

— E você? – ela perguntou por fim passado seu momento de vergonha.

Foi minha vez de falar sem parar sobre os detalhes que comprovavam minha dedução, Molly ouviu tudo com atenção, ela era a única pessoa que conhecia que tinha prazer e se empolgava com esse tipo de estudo.

. . . . . . .

Eu tinha acabado de sair de uma briga – mesmo estando em desvantagem (como naquela noite John tinha um encontro com Sarah, sai para investigar sozinho e eram três contra um). Que tipo de pessoa preferia um programa sem graça como um encontro a adrenalina de uma investigação?

Estava em um táxi, antes de ir para Baker Street iria passar no hospital para conferir minhas culturas, quando o alerta das mensagens de texto soou.

MH: Tive que trazer suas culturas até meu apartamento para evitar que fossem descartadas. Amanhã levo ao Barts.

Pedi que o taxista mudasse a direção enquanto guardava o celular no bolso do casaco. Desci em frente ao prédio onde Molly Hooper morava e como o porteiro me reconheceu, não precisei ser anunciado.

Reconheci a melodia no piano do Pas de Quatre de ‘O Lago dos Cisnes’, o som parou quando bati na porta, alguns segundos depois Molly abriu a porta. Usava pantufas e moletom estampado de gatinhos, era a primeira vez que eu a via tão informal e de óculos...

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— Olá, Sherlock! – me cumprimentou, seu olhar passando lentamente por mim.

— Boa noite, Molly! – encarei-a, aguardando sua reação a mim, Molly sorriu e colocou o cabelo atrás da orelha. Surpreendi-me ao perceber que secretamente estava apreciando isso, Adorável, não?— Mycroft disse em minha cabeça. Ignorei-o. — Vim buscar minhas culturas e...

— Ah, meu Deus! Sherlock tem sangue escorrendo por sua têmpora, entre!

Molly abriu mais a porta me dando passagem, toquei o local que ela mencionou e o senti úmido. Seu apartamento era grande, moderno e muito bem decorado, ouvi-a gritar um ‘sente-se’.

Um gato peludo e malhado pulou em meu colo assim que me sentei no sofá, ali na sala havia uma estante cheia de livros do chão ao teto e a lareira estava acesa. Algum tempo depois ela apareceu carregando uma bandeja numa das mãos e na outra uma maleta de primeiros socorros.

— Trouxe café para você, mas se preferir tem chá. – Molly deixou as coisas em cima da mesa de centro e se aproximou de mim. — Toby, desça daí. – o animal encarou a dona e miou antes de obedecer e saltar para o chão. — Posso? – perguntou indicando minha têmpora.

Dei de ombros.

Delicadamente ela levantou meus cabelos com uma mão e com a outra começou a limpar o sangue, sentia sua respiração quente contra meu rosto, o inconfundível aroma de lavanda do seu perfume e cítrico de seu xampu, Molly agia profissionalmente e só perdeu a postura quando nosso olhar se encontrou... Um rubor se espalhou por suas bochechas e pescoço, contive um sorriso convencido e um comentário atrevido – ela ainda tinha minhas culturas em seu poder.

Rapidamente repassei as notas das coisas catalogadas sobre ela na minha mente, tinha facilmente deduzido sobre seu gato, mas jamais imaginaria que ela usasse óculos, provavelmente o uso era para leitura.

— Mais meio centímetro e eu precisaria dar pontos. – comentou enquanto finalizava o curativo. — Vou buscar suas experiências, aproveite seu café. Ela pegou a maleta e saiu da sala, algum tempo depois voltou sorrindo com um isopor em mãos.

Sinceramente, apesar de facilmente deduzir Molly Hooper, eu não a compreendia completamente. Molly sempre era gentil comigo, ela não era boba e certamente tinha plena consciência do quanto já fui desagradável com ela, mesmo assim suas ações para mim e comigo eram naturalmente boas. Embora desde o começo ela sabia como era com todos ao meu redor, ela agia como uma amiga – independente da minha reciprocidade...

Se John Watson, meu parceiro nas investigações era meu amigo, então talvez eu pudesse me permitir a ser amigo de Molly Hooper, minha parceira de laboratório.