Comecei a observar o cômodo onde me encontrava. As paredes de alvenaria eram de um tom meigo de azul, e por sorte ou maquinação do destino, eu era meio que fissurada por azul. Eu estava deitada em uma cama com uma pilha de almofadas brancas e cinzas sob minha cabeça. Havia um grande guarda-roupa branco à esquerda, tão alto que tocava no teto, eu definitivamente não o ocuparia por completo com minhas simples roupas; talvez eu pediria à “vovó” colocar aquela antiguidade gigante em outro lugar, e substituí-lo por meu guarda-roupa simples de mogno e de segunda mão. A janela se encontrava a minha esquerda, era de madeiramento branco, uma janela muito curiosa por assim dizer; parecia com aquelas janelas de castelos medievais na Inglaterra, dignos de quartos de damas ou de princesas, com uma grande almofada de couro branco (que lembrava vagamente à divãs gregos) na beira da janela; tive um tremendo impulso de correr até ela para olhar a vista, mas me contive onde estava; as cortinas eram um tom mais escuro que as paredes e estava desbotada, o que indicava que era extremamente antiga, mas não parecia ter um grão de poeira se quer e nem teias de aranha. Havia também uma penteadeira de madeira branca ao lado da porta, ela tinha um grande espelho redondo e várias gavetas com puxadores lustrados de prata. A cama estava no meio do quarto. Notei que ele poderia ser maior que metade da minha antiga casa, ou melhor, meu antigo apartamento. Não conseguia me imaginar dormindo e vivendo naquele quarto gigante, não sem longos vestidos elegantes de tons pastéis ou qualquer roupa mais antiga só que elegante, talvez os trajes das antigas damas gregas fosse mais apropriados. Parecia que eu estava fazendo parte de um filme antigo, só que com o figurino errado. Do outro lado do quarto havia uma escrivaninha também branca, com gavetas também de puxadores de prata; com um computador muito moderno em cima, ou foi o que eu pensei, porque parecia muito mais moderno e delicado que meu antigo dinossauro que tinha de chamar de computador; perto da escrivaninha tinha uma cadeira de escritório da cor das paredes. Havia dois criados mudos, um em cada lado da cama, os dois também de madeira pintados de branco, com duas gavetas cada de puxadores também de prata. O quarto todo era uma mistura muito profunda de um quarto medieval e grego. Sem tirar nem por, o quarto era muito bonito e elegante; eu havia amado ele por completo e ia estragá-lo com meus móveis usados e de segunda mão, mas pelo menos o quarto ficaria mais familiar.

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Tive a irritante sensação de que estava sendo observada pelos olhos amarelos de minha avó… “Tomara que seja apenas uma sensação”, desejei com a maior força que pude; já bastava ter que morar ali com pessoas que não conhecia, teria que agüentar elas me observando também?