ALICE

É, eu me acertei com o Ralf. É, eu devia estar exultante. Mas não estou. Alguma coisa mudou nesses últimos dias. Eu ainda gostava do Ralf, porém não era o mesmo "gostar" de antes. Algo estava diferente.

Ralf fez questão de sentar ao meu lado na sala de aula. E eu fazia questão de prestar atenção no professor, assim podia ignorar o Ralf fazendo declarações de amor o tempo todo. Ele nunca fora meloso desse jeito, e agora esse grude todo estava me enlouquecendo.

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Quando o sinal do intervalo tocou, Ralf me puxou para ele e me beijou. Depois Kyle chamou-o dizendo que queria conversar. Rose, Tessa, Sarah e eu caminhamos juntas para fora da sala.

– Certo, quer falar do que aconteceu ontem? - perguntou Sarah.

– Como assim?

– Não comentamos nada ontem porque já estava tarde e estávamos cansadas. mas agora não tem desculpa. - disse Tessa séria.

– Você e o Eathan, aquele clima todo... - insinuou Sarah. - O que está rolando entre vocês?

– O quê? Nada, não está rolando nada. De onde tiraram isso? - fiquei surpresa.

– Provavelmente tiramos isso do jeito que vocês ficaram se olhando. - comentou Sarah.

– Olha, não tem nada a ver. Eathan e eu somos só... amigos. - pontifiquei decidida.

– Mas você gosta dele, não é? - perguntou Rose.

– Até você, Rose? Não, eu não gosto dele.

– Então por que você está estranha com o Ralf? - quis saber Tessa.

– Eu não estou estranha com o Ralf. - menti. Eu sabia que estava estranha com ele, mas não podia admitir, principalmente porque eu não sabia o motivo.

– É claro que está. - disse Sarah. - O coitado passou a aula toda de volta de você.

– E você nem aí para ele. - completou Tessa.

– Caramba, como vocês são chatas. - comentei.

– Está assim com ele por causa do encontro com o Eathan hoje a tarde? - perguntou Rose.

– Não, eu já nem lembrava disso. - outra mentira. Claro que eu lembrava. - Olha, será que dá para deixar essa conversa para lá?

– Tudo bem. - concordou Tessa. - Mas só por enquanto.
Maravilha. Isso quer dizer que elas ainda vão querer falar mais disso.

O intervalo foi ótimo. Ralf ficou o tempo todo com o Kyle falando de algo inútil. E as meninas esqueceram (pelo menos momentaneamente) essa história de eu estar gostando do Eathan

Como dizem por aí, tudo que é bom dura pouco. O intervalo acabou e voltamos para sala. As aulas seguintes passaram se arrastando, mas finalmente acabaram. Ralf me acompanhou até em casa. E apesar de ele querer ficar comigo, consegui dispensa-lo.

Preparei o almoço e comi sozinha, como sempre, já que meu pai estava no trabalho. Fiz alguns deveres de casa, vi televisão. Fiquei enrolando até a hora marcada com Eathan. Tomei banho e me arrumei correndo, depois fui para a praça. Como eu havia dito ao Eathan, a praça era grande. Queria saber como ele acharia ali. Várias crianças corriam e rolavam pelo gramado.

Sentei em um banquinho de madeira sob a sombra de uma árvore alta. Eu havia chegado um pouco antes do horário e esperava ansiosa. As quatro horas em ponto senti uma mão tocar meu ombro. Olhei para trás surpresa e vi Eathan. Ele deu um meio sorriso sentando-se ao meu lado.

– Como me achou? - perguntei-lhe.

– Segredo. - respondeu ele com um sorriso de lado.

– Não vai contar? - insisti.

– Se eu contar, deixa de ser segredo.

– Certo. - ri.

– E aí, já se resolveu com o Ralf? - perguntou ele em um tom sem emoção.

– Já, já. Desculpei ele. Estamos bem de novo. - forcei um sorriso.

– Que bom. - disse ele olhando para o nada.

– Você está bem? - perguntei analisando-o.

– Sim, só um pouco preocupado com algumas coisas, mas não é nada importante.

– Algo que eu possa ajudar?

– Infelizmente não.

– Se eu não posso te ajudar, posso pelo menos tentar te animar. - disse decidida. - Vem. - levantei e estendi a mão para ele.

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– Aonde? - perguntou curioso. Acho que despertei sua atenção.

– Segredo.

– Ah, fala. - pediu. Ele pegou minha mão e ficou de pé, bem a minha frente, deixando um espaço pequeno entre nós dois.

– Seu eu contar, deixa de ser segredo. - imitei-o

– Certo, Aly. Vamos lá.

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EATHAN


Flashback on

– Hey, Eathan, que bom que veio. Entra. - disse Harry me puxando para dentro do apartamento dele. Seu cabelo alaranjado estava grande e despenteado, pendendo para todos os lados. Seus olhos castanhos estavam circundados por olheiras.

– Noite difícil? - perguntei-lhe, mesmo sabendo a resposta.

– Na verdade foi uma noite ótima. - respondeu ele com um largo sorriso enquanto entravamos no quarto. - A Isa passou a noite aqui. Entende?

– Claro. - a cama dele ainda estava desarrumada. Ainda bem que tive o bom senso de deixar ele e a namorada sozinhos.

– Mas e você, o que fez ontem a noite? - perguntou ele sentando na cama bagunçada.

– Nada. - dei de ombros. - Saí com uns amigos.

– Aí, eu e a Isa marcamos de nos encontrar na casa dela daqui a pouco para ver um filme, ela disse que ia chamar uma amiga dela. Vamos?

– Vamos? Quer que eu vá para casa da Isa com você para quê?

– Para fazer companhia para essa amiga da Isa. Fiquei sabendo que ela é maior gatinha. - comentou ele com um sorriso cafajeste.

– Não, não. Definitivamente não é uma boa ideia. - pontifiquei.

– Ah, vai ser legar, Eathan. Vamos lá. - insistiu.

– Sem chance, Harry.

– Se eu chegar lá sem ninguém para ficar com essa garota, a Isa vai me matar. - reclamou.

– Chama o Max ou o Jeff. - sugeri.

– Não dá. Já liguei para eles. Max viajou e Jeff vai sair com a prima. - contou. - Por favor, Eathan. Quebra essa para mim. - implorou ele.

– Tá, tudo bem. - sei que vou me arrepender.

– Valeu! Vou me arrumar para gente ir.

Ele saiu correndo do quarto, me deixando sozinho. Pude ouvi-lo cantarolando ao longe. Sentei-me perto da janela (o lugar menos bagunçado do quarto) para espera-lo. Uns vinte minutos depois voltou ele trajando tênis all star branco (sujo), bermuda jeans e uma camiseta vermelha, sem manga. O cabelo continuava uma zona.

– Vamos logo, as meninas devem estar nos esperando. - disse ele.

– Certo.

Ele não parava de falar, contando tudo sobre a noite dele com a Isa. Realmente eu não precisava de tanta informação assim. Saímos do apartamento e pegamos o elevador, um ato de preguiça já que o Harry morava no segundo andar.

– Merda, esqueci meu celular. - resmungou ele quando chegamos ao hall de entrada. - Vai lá em cima pegar para mim, Eathan. - pediu.

– Por que não vai você?

– Porque eu vou chamar o táxi. Agora vai, rápido. - ele jogou a chave do apartamento para mim e saiu do prédio.

Sem querer esperar o elevador, subi as escadas correndo. Entrei no apartamento, peguei o celular que estava sobre o sofá e saí. Desci as escadas pulando vários degraus de uma vez. Quando cheguei ao hall ouvi barulho de freada de carro. Saí do prédio correndo e encontrei Harry caído no chão, sangrando. Havia um carro amassado a alguns metros e sangue por todo lado. Corri até o Harry, ajoelhando-me ao seu lado.

– Cuidado ao atravessar a rua. - sussurrou ele sem força tentando sorrir.

E depois acabou. Não pude salvá-lo. Não pude ajuda-lo, nem sequer protege-lo. Não estava lá quando ele precisou. Falhei. Falhei com ele e comigo mesmo. Naquele instante quase pude me sentir caindo, como se já houvessem arrancado-me as asas. Minhas mãos estavam sujas com o sangue dele. Senti alguém tocar meu ombro.

– É tarde demais. - disse a voz ressoante do Gate.

– Ele morreu, Gate. - sussurrei. - Morreu.

– Eu sei, Eathan. Agora precisamos ir. - anunciou. Levantei-me lentamente ficando ao seu lado, mas sem desviar os olhos do corpo estendido do Harry.

– O que acontece agora? - perguntei-lhe com a voz fraca.

– O de sempre. - respondeu impassível.

– Vou cair, não é? Sei que vou, afinal a culpa foi minha.

– Não pense nisso agora. É tarde para se culpar e cedo para se preocupar. Venha. - disse ele me puxando para longe da cena toda.
– Me desculpe, Harry. - murmurei antes de deixar tudo para trás.


Flashback off


– É a nossa vez, Eathan. - chamou Alice tirando-me dos meus devaneios. Estávamos em um parque de diversões, na fila da montanha russa.

– Tudo bem. - disse seguindo-a até o carrinho. Sentamos em um dos últimos.

– Só tem um problema. - anunciou ela meio tensa.

– O que é? - quis saber preocupado.

– Tenho medo de altura. - disse ela envergonhada. Eu ri.

– Por que inventou de vir aqui então? - perguntei-lhe.

– Porque gosto daqui, mesmo tendo medo. - ri de novo. Ela enrubesceu. - Para de rir.

– Tudo bem. Escuta, não tem com que se preocupar, tá? Nada de ruim vai te acontecer. - prometi.

– Obrigada. - ela deu um lindo sorriso. Parecia uma criança genuinamente confortável e confiante.

Assim que o carrinho começou a se mover pelo trilho, ela segurou minha