(Desespero…)

— Chegaram. – Anunciou Célia, que observava a movimentação por uma fresta na cortina da janela do quarto de Kali. – Nós não vamos sair daqui ilesos! Que ideia foi essa de chamar a polícia, Victor?

— Cala a boca! Eles não vão fazer nada enquanto tivermos reféns. Eles não podem. E se fizerem algo eu mato um desses dois.

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Kali, que estava amarrada à cadeira do lado oposto à janela, já não chorava mais. Ela estava em choque. Olhava para Rafael ainda desacordado amarrado a uma cadeira do seu lado. Não podia fazer nada. Estava indefesa.

"Vou morrer" – pensou.

O telefone de Victor tocou e ele atendeu rapidamente.

— Senhor Victor Gontcharov? Eu sou o Major Gustavo Liandre e estou aqui para negociar a liberação dos reféns. Eles estão bem?

— A única coisa que vamos negociar, Liandre, são as minhas exigências.

— E quais são elas?

— Quero dois coletes à prova de balas, um carro blindado e a presença da imprensa. Mas a exigência mais importante é: eu quero a liberação do dinheiro guardado em nome de Kali Peres. Vocês têm até meia-noite para resolver tudo isso e nos deixar sair. Se tentarem invadir a casa eu mato um dos reféns. Se tentarem impedir minha fuga eu mato um dos reféns. Se não cumprirem minhas exigências eu mato um dos reféns.

Victor desligou o telefone antes que o major respondesse.

— E agora? – Célia perguntou.

— Esperamos. – Victor respondeu, deitando-se de forma relaxada na cama.

— Você é maluco! – Célia tentava ser racional, percebendo que alguma coisa havia afetado Victor para ele estar fazendo aquela loucura. – Por que tá fazendo isso de repente? O combinado não era esperarmos até o dinheiro ser liberado e depois fugir?

— Eu preciso fugir agora, Célia. Se eu ficar aqui vou morrer. Os esquemas deram errado e os chefes estão no meu pé. Ou saio, ou morro.

— Mas isso que você tá fazendo é insano! Por que você simplesmente não roubou um banco?

— Eu quero os milhões da herança. Por que eu me contentaria com pouco se posso ter muito?

— Idiota! – Célia se exaltou. Você acabou com nossa vida! Você não percebe o quão idiota e imprudente é isso que você tá fazendo?! Você sabe que não vão deixar a gente sair daqui! E se eles não cumprirem o prazo?

— Eu mato os dois se preciso.

— Você não vai matar o Rafael, tá me entendendo? – Célia se aproximou de Victor e o olhou como se fosse matá-lo.

— Tá, tá, eu sei. – Victor deu de ombros. Ele se levantou e caminhou até Kali, segurando o queixo da menina e fazendo-a olhar para ele. Só vai ser uma pena perder essa belezinha aqui.

***

— Vamos entrar! – Felipe disse impaciente. Ele estava com outros detetives e o major Gustavo Liandre dentro de uma van preta estacionada do outro lado da rua.

— Calma, Felipe. – Gustavo disse. – Ficar ansioso assim não vai ajudar em nada.

— Se acontecer alguma coisa com eles a culpa é sua, me ouviu, Liandre?! Eu falei que essa investigação já tinha acabado! Mas você tinha que esperar pra fechar o caso, né? – Felipe disse, gesticulando.

— Não tínhamos provas de–

— Tínhamos todas as provas! – Felipe o interrompeu. – Todos os nomes! Você tava era com preguiça de prender os suspeitos!

— Chega! Eu sou seu superior aqui. Alguém tira esse moleque daqui!

— Eu saio sozinho. – Felipe disse, desvencilhando-se de duas mãos que já o seguravam. Antes de sair, virou-se para Gustavo, dizendo: – Pela nossa amizade, Gustavo, salva eles.

Gustavo afirmou positivamente, vendo Felipe sair cabisbaixo da van.

— Não faça nenhuma besteira, Felipe! – Gustavo gritou antes que Felipe fechasse a porta.

Gustavo era um homem negro, alto e forte, tinha 49 anos de idade e os cabelos já começavam a ficar grisalhos. Conhecera Felipe quando este ainda tinha seus 16 anos. Felipe aprendera os macetes da profissão com Gustavo, que era como um irmão mais velho para ele. Gustavo sabia o quanto os reféns naquele caso eram importantes para Felipe e faria o impossível para que eles fossem salvos.

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— Martin, – Gustavo chamou um rapaz que estava observando as câmeras de segurança das ruas perto da casa. – fique de olho em Felipe. Ele não pode fazer nenhuma besteira.

— Sim, senhor.

Felipe caminhou pela rua pensando no que poderia fazer para ajudar Kali. Seu coração disparava de medo toda vez que pensava se Kali estava bem. Não podia perdê-la. Tentava manter a cabeça no lugar. Tentava pôr em prática seu treinamento de anos para manter o sangue frio em uma situação de desespero. Mas sempre que a imagem de Kali surgia em sua mente, o desespero o atingia.

Ele chegou a uma pequena praça que havia no fim da rua. Era uma praça de grama descuidada, com uma pequena árvore no centro e dois bancos de pedra. Felipe sentou-se em um dos bancos e massageou as têmporas tentando se acalmar. Decidiu ligar para seu tutor.

— Alô? – disse Gregório do outro lado da linha.

— Sou eu, pai.

— Como está, meu filho? Faz tempo que você não me liga.

— Andei ocupado com um caso importante.

— Sei como é. Mas tô sentindo que sua voz tá estranha. – Gregório observou. – O que aconteceu?

— Tem a ver com o caso em questão e o fato de que as vítimas agora estão em perigo.

— Me conte tudo.

E Felipe contou sobre as investigações e o sequestro.

— Qual sua relação com Kali e Rafael? – Gregório perguntou quando Felipe terminou de contar sua história.

— Apenas trabalho. – respondeu com a voz mais convincente que podia, mas sabia que não conseguiria enganar seu tutor.

— A verdade, Felipe. – Gregório repreendeu-o.

— Eu amo a Kali, pai. – Assim que disse isso Felipe começou a chorar copiosamente. Suas mãos tremiam e o medo de perder Kali se tornou maior. Falar aquilo para Gregório foi a gota d'água que faltava para ele se desesperar.

— Filho, me escuta. – Gregório disse após alguns minutos ouvindo o choro de Felipe. – Não é fácil, eu sei, mas você precisa se controlar. Precisa manter o sangue frio. Se você continuar assim vai piorar a situação.

— E-eu sei. – Felipe disse soluçando e tentando secar as lágrimas que não paravam de descer pelo seu rosto.

— Lembre-se do seu treinamento.

— Tá difícil demais, pai. – Felipe sentia o coração apertar.

— Respira, Felipe. – A voz de Gregório tornou-se mais firme, fazendo Felipe tentar respirar. – Respira e inspira. – Felipe fez o que ele falou. – Continua respirando. Se concentra em respirar.

Felipe aos poucos foi se acalmando e parando de chorar. Ele olhou para o céu que estava escuro e nublado. Não havia lua ou estrelas para alegrar a noite.

— Está melhor? – Gregório perguntou depois de algum tempo.

— Obrigado, pai. Você sempre me segura quando eu estou prestes a cair. Não sei o que eu faria sem você.

— Você ainda seria esse garoto esperto e determinado que você é.

Ficaram em silêncio por alguns instantes.

— Me diz que eu estou certo. – Felipe disse. – Que eu não vou ferrar com tudo. Que eu vou conseguir salvá-la.

— Você é meu aprendiz. Te ensinei tudo que eu sei. Você não precisa que eu diga isso pra saber que é verdade.

— Obrigado.

— E eu quero conhecer essa moça, viu? Pra ter te desestabilizado desse jeito ela deve ser muito especial.

— Sim. – Felipe disse, levantando-se decidido. – Ela é.

Felipe desligou o telefone voltando a caminhar em direção à casa de Kali. Estava indo por um fim naquilo.