POV Mike

Depois que saí da casa da NI, fui direto ao trailer. Não queria que ninguém me visse saindo de lá, não queria ainda mais problemas pra ela. Toda essa coisa às escondidas podia até ser bom em certo ponto, mas era ao mesmo tempo perigoso. Percebi que eu estava mais envolvido com ela do que imaginava, ou que queria. Na verdade não tenho a intenção de me amarrar em ninguém, não mais. Mas com ela tudo acaba sendo diferente. Ela não é aquele tipo grudento que fica em cima de você a todo momento, muito pelo contrário, adoro o jeito como ela se faz de durona e tenta fugir das situações, chega a ser engraçado. Apesar de ser ainda muito nova, NI já é bem madura, e acho que é isso o que mais me atrai. Ela é inteligente e independente, diferente da grande maioria.

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Depois que cheguei em casa, tomei um banho rápido, e fui para o trabalho. Estranhei que perto da praça, onde parece ser o único lugar por onde todo mundo passa, que todos me olhavam de um jeito diferente, como se estivessem com pena, ou algo do tipo. Não entendi o porquê, mas não parei para perguntar o que havia acontecido, apenas continuei andando. Quando entrei no Taylor's o mesmo aconteceu. As pessoas, principalmente aqueles que me conhecem há mais tempo, estavam com os olhos grudados em mim. Já estava me sentindo incomodado com tamanha atenção e estava prestes a ir perguntar o que havia acontecido quando tive que ir para o lado de fora receber mercadorias.

Passei praticamente a manhã inteira descarregando as coisas do caminhão. Já estava cansado de tanto carregar e arrumar caixas no depósito do bar-restaurante. Estava tão entretido pensando que à noite encontraria novamente com a NI que quando dei por mim, já era tarde.

Voltei ao balcão e acabei dando de cara com o senhor Johnson, um velhinho que é conhecido aqui em Ellsworth por reclamar de tudo e todos. Assim que me viu, o velho senhor me deu um forte abraço, mas nada falou, apenas deu um sorriso amarelo e foi embora.

– Será que alguém pode me dizer o que está acontecendo hoje? - Perguntei à um dos garçons. Ele deu de ombros e respondeu não saber do que se tratava.

Percebi que os que me olhavam diferente, eram apenas os que me conheciam há anos. Os que conheciam há pouco sequer notavam a diferença. Até mesmo Jason me olhava daquela forma, e apesar do seu evidente interesse na minha garota, ele era um amigo. Fui até ele, virei a cadeira do lado contrário, sentei-me, apoiando os braços às costas do objeto, e fiquei a encarar o seu olhar. Ele estava tenso, e não falava nada, apenas deu um sorriso meio forçado.

– Então vai me dizer o que ta rolando, ou não?

– Não sei do que se trata. - Ele disse, evidentemente tentando fugir do assunto.

– Garoto de Ouro não queira me fazer de otário. Anda, desembucha, por que todos estão me olhando torto, inclusive você. - Fui rápido e direto ao ponto.

– Não sei como dizer...

– Com a boca. Seria a melhor maneira, não acha?

– Não seja sarcástico. Apenas não tenho as palavras certas no momento.

– Jason, já estou perdendo o pouco de paciência que tenho, então, por favor, diga logo!

– Tudo bem, não diga que não avisei. Aconteceu uma coisa ontem à noite aqui em Ellsworth e todos já estão sabendo. - No exato momento em que ele começou a contar, minha mente fervilhou. Não seria possível que a NI tivesse contado a alguém.

– Como assim, alguém viu e saiu espalhando por ai? - Perguntei sem esperar que ele terminasse de falar. Jason assentiu com a cabeça e um calafrio correu pelo meu corpo. Mas então, ele continuou a falar.

– Na verdade quem viu foi a senhora Mondez. Sabe como aquela velha é fofoqueira. Ela viu a batida e saiu espalhando pra todo mundo.

– Espera, batida? - Havia ficado confuso.

– Sim. Segundo a senhora Mondez, ontem à noite um carro bateu perto da casa dela, e era ninguém menos que Nathalie Rolland que estava no volante, por isso todos estão te olhando desse jeito estranho.

Acho que não tive muita reação, ou então foi algo que realmente deixou-o perturbado, porque Jason não terminou de comer suas batatas fritas. Ele simplesmente desculpou-se por ter contado e foi embora. Eu estava ali, sentado em uma cadeira, relembrando todo o meu passado, e o que aconteceu depois que Nathalie Rolland entrou na minha vida.

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Richard Taylor, o dono do bar-restaurante, viu o meu estado e mandou que eu fosse pra casa. Eu realmente não estava em condições de pensar, muito menos de agir. Ajeitei as cadeiras da mesa em que Jason me contou sobre o ocorrido, deixei-a limpa, e virei-me para ir embora.

Ia saindo pela porta do Taylor's quando dei de cara com a NI. Ela abriu um sorriso involuntário quando me viu, e eu teria feito o mesmo, se por trás dela, Nathalie não estivesse parada olhando na minha direção. Até então NI não tinha visto nada, mas quando percebeu que eu estava tenso, acabou olhando para a mesma direção que eu.

– Quem é ela? - Perguntou como um sussurro, apenas para que eu pudesse ouvir.

Olhei bem dentro de seus olhos, e fiquei a pensar se contava ou não quem ela era.

– Depois conversamos. - Optei por não contar ali, no meio da rua, e sim quando estivesse apenas nós dois. Pelo visto ela não gostou muito da minha atitude, já que deixei-a falando sozinha e fui na direção do trailer.

O que eu não esperava era que tanto Haley quando Nathalie me seguiriam. Uma eu sabia o motivo, já a outra era uma eterna dúvida. Ambas me olhavam, mas cada uma de um jeito diferente.

– Docinho precisamos conversar. - Nathalie disse melosa.

– Docinho? Que palhaçada é essa Mike? - Haley perguntou, e parecia sair faísca em seus olhos.

– NI por mais que esteja parecendo, não é nada do que você provavelmente está pensando,

– E quem é essa ai? - Indagou Nathalie com desdém.

– Não me chama de NI, tenho nome e você sabe muito bem qual é! - Antes que eu pudesse perceber, estava com um braço apoiado na porta, e o outro na cintura. Olhava pra ela como se pelo olhar ela pudesse entender que não havia absolutamente nada a explicar, porém tudo isso foi em vão. Haley parecia frustrada e decepcionada, e mesmo sem ouvir minha parte da história, ela parecia ter acreditado na cena patética que viu.

– Hay, por favor, você não vai cair nesse joguinho, não é?

– Mike eu preciso mesmo falar com você. Docinho, me deixa tentar acertar as coisas. - Nathalie disse, usando novamente aquele apelido ridículo.

– Nathalie eu não tenho nada pra falar com você, por favor, vá embora antes que crie um problema ainda maior.

– Ela é sua namorada, não é? - Ela perguntou

– Não querida, não sou, e por mim você faz o que quiser com esse ogro idiota!

– É isso mesmo que você quer, NI? - Dessa vez olhei tão intensamente para seus olhos acinzentados que pude ver que ela estava em uma espécie de conflito interno. Não sabia em quem acreditar. Sei disso porque já passei por uma situação exatamente igual, e o pior é que era com a mesma pessoa que estava ali na nossa frente.

Haley foi embora sem responder a minha pergunta. Eu tentei ir atrás dela, mas fui praticamente escorraçado. Resolvi esperar até que se acalmasse para que assim pudéssemos conversar civilizadamente. Voltei ao trailer e Nathalie ainda estava lá. Tinha um sorriso vitorioso nos lábios que tentava esconder, mas que pelo tempo de convivência que tivemos eu já sabia reconhecer.

– O que quer aqui? Não pensa nas consequências dos seus atos? - Perguntei ríspido. - Você não tem noção do problema que me criou!

– O agir é muitas vezes melhor que o pensar, Docinho. Não fiz por mal, mas é que ver você com aquela garota....eu não gostei.

– Não me interessa o que você acha ou deixa de achar. Eu quero que vá embora da minha casa agora!

– Mas...

– Sem mas, vai logo.

Nathalie saiu pisando forte, mas eu sabia que aquele assunto ainda não havia acabado, muito pelo contrário, meu verdadeiro problema estava prestes a começar.