Alguns dias se passaram, e Mike e eu continuávamos nos encontrando sem que ninguém soubesse. Era estranho vê-lo durante o dia e ter que ser tratada com certa indiferença, e a noite ser uma situação completamente oposta. Parecia ser duas pessoas distintas. Apesar dessa mudança proposital de comportamento, era interessante ver esse outro lado dele. É claro que, ele continuava sendo o ogro que sempre foi, mas quando estávamos só nós dois ali, as coisas eram diferentes.

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Levar aquela situação adiante não seria um problema muito grande se não fosse o fato da insistente mania de dar trela pra qualquer uma que lhe dirigisse a palavra. E era incrível a capacidade que ele tinha em fazer tudo aquilo de propósito. Eu tentava a todo custo não me importar, fazer de conta que não via nada daquilo, mas então, um belo e ensolarado dia, quando saía da Prefeitura para almoçar, eu o vi na praça conversando com Isa, e pelo que pude perceber parecia uma conversa bem amistosa. Não sei se algum deles chegou a me ver porque me virei para ir embora logo em seguida, e acabei esbarrando em Jason.

– Porque sempre nos encontramos assim, nos esbarrando? - Ele perguntou com um sorriso lascivo nos lábios. - Seria o destino?

– Não acredito em destino!

– Pois deveria. Ele está sempre trazendo você até mim. - Revirei os olhos em resposta.

Jason não parecia querer liberar o caminho para que eu passasse, então disse que ele poderia me acompanhar até o Taylor's. Conversamos por todo o caminho como pessoas civilizadas. Sentamos nos bancos próximos ao bar, e ele me olhava como da vez em que nos conhecemos, calmo e tranquilo. Seu sorriso era mesmo encantador, e se fosse uns meses atrás, a essa hora eu estaria caída de amores por ele.

– Notei que não aparece mais por aqui a noite. Até Carlla notou seu sumiço.

– Eu... - Precisei engolir em seco, e pensar em uma resposta rápida. - Não estava disposta, sabe, aqueles dias que toda garota é obrigada a passar, me deixam um caco.

Jason pareceu engolir a história que eu havia contado porque não questionou mais o fato de eu estar sumida. Pouco tempo depois Mike e Isa também chegaram. Ele se espantou em me ver ali com o loiro, mas não podia tirar satisfações, ou então todos poderiam descobrir a nossa farsa. Mike então entrou na "brincadeira" e assumiu o seu lado ogro e cafajeste de sempre. Passou um dos braços pelo pescoço de Isa e mostrou seu sorrisinho sarcástico.

– Então Garoto de Ouro, conseguiu finalmente conquistar o coração da patricinha da cidade? - Perguntou debochado.

– Ah não, meu amigo. Quem me dera ter uma única chance! - O loiro respondeu inocentemente.

– Só eu estou perdida? - Indagou Isa confusa. - Quem é essa patricinha da cidade?

– É a nossa amiga NI! - Mike respondeu apontando na minha direção com uma quase imperceptível piscada de olho.

– Será que podem falar um pouco menos da minha vida? Olha Isa, é até verdade que quando cheguei aqui, eu me interessei pelo Jason, mas então descobri que ele namora a minha irmã...

– Não mais! - Ele disse interrompendo-me. Todos olharam-o surpresos, principalmente Mike. Na certa ele devia imaginar que, Jason estando solteiro, não sossegaria até conseguir um jeito de ficar comigo.

– Espera, vocês terminaram? - Mike perguntou e Jason afirmou com a cabeça.

– Será que a atenção pode voltar pra cá? - Isa deu uma risadinha e eu continuei. - Bom, mesmo antes de saber que o Jason agora esta solteiro, eu já não estava interessada nele...

– Não vai me dizer que você tá pegando o Dennys? - Isa perguntou num tom de desespero na voz, parecia realmente preocupada.

– Aquele cara não é homem pra você, Haley! - Disse Jason.

– Não fale assim, ele é bem legal. - Isa o defendeu.

– Não dá pra manter uma conversa civilizada com vocês! - Eu disse. Já ia me levantando quando um braço repousou em meu ombro.

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– Hey muchachos! Estavam fazendo reunião sem a minha presença? Que feio isso! - Reclamou Carlla.

Ela era a única pessoa no mundo que conseguia pegar qualquer tipo de situação constrangedora e transformá-la em cômica. Eu acabei não almoçando, mas continuei ali até a hora de voltar para a Prefeitura. Poderíamos formar um belo grupo, de não fosse é claro, as falhas investidas de Jason, ou até mesmo as piadinhas de Mike, e o jeito meloso como Isa o tratava.

No caminho de volta, Carlla me acompanhou. Estava inquieta, como se quisesse dizer alguma coisa. Estranhei, porque ela sempre foi de falar o que vinha a mente, mas ali, enquanto caminhávamos, ela nada dizia.

– O que ta rolando? - Perguntei por fim.

– Nada, porquê a pergunta?

– Você não me engana mocinha. Te conheço um pouquinho pra saber que quer dizer alguma coisa! - Ela respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e disse que Lucca estava voltando para Ellsworth. Eu disse não entender o motivo por ela estar daquela maneira, afinal era apenas uma amiga, certo?

– Você não entende!

– O que eu não entendo? Se você não me contar, eu realmente nunca vou conseguir entender.

– Escuta muchacha, a única coisa que vou lhe dizer é que aconteceram algumas coisas enquanto eu estava na Califórnia, e não quero que volte a acontecer. - Ela disse sem ao menos perceber o pequeno sorriso que brotava em seus lábios.

Tentei ainda tirar mais informações, mas ela havia apertado o passo tentando me despistar. Carlla tinha as pernas longas, então andava mais rápido, enquanto eu precisava praticamente correr para alcançá-la.

– Carlla, quer fazer o favor de me contar o que aconteceu! - Acredito que ela tenha se espantado com meu alto tom de voz, ou minhas mãos na cintura, mas foi só por alguns segundos, porque logo em seguida soltou uma gargalhada.

– Pode esquecer, não vou contar absolutamente nada. - Sem saber o que fazer para matar minha curiosidade, uma ideia me surgiu.

– Se você me contar o que rolou por lá, eu conto o que rolou aqui com o caipira ogro. - Acho que aquilo sim fez com que ela mudasse de ideia.

– Isso não vale, é chantagem. Você ta jogando sujo!

– E quando foi que disse que jogaria limpo? Anda me conta, do contrário também não falarei nada. - Carlla estreitou os olhos, me olhando de um jeito fulminante, mas parecia estar vencida. Sua curiosidade era um de seus pontos fracos.

Ela contou que, enquanto estava na Califórnia, Lucca e ela saíram algumas vezes, e na ultima noite de sua estadia lá, elas acabaram se envolvendo mais que deviam.

– Espera, vocês...

– Não, não rolou nada mais que uns beijos.

– Então qual é o problema?

– Ela tem namorada. Não vou ficar de amante de ninguém! - Resmungou.

– Ué, esse é o maior problema? - Ela pareceu não entender o que eu havia dito, então com um sorriso sarcástico eu continuei. - Porque que eu saiba, ela não faz o seu tipo.

Carlla revirou os olhos, porém não respondeu do jeito que eu esperava. Na verdade ela desconversou, alegando que era a minha vez de contar o que havia prometido. Respirei fundo e contei cada detalhe. Por um momento me senti mal, porque estava fazendo algo que já tinha vontade, então tinha apenas arranjado uma maneira de fazer sem culpa. Acredito que ela não tenha notado nada, já que ficou repetindo várias e várias vezes que isso acabaria acontecendo, mais cedo ou mais tarde.

– Eu sabia, eu disse, eu tinha certeza que estavam apaixonados, mas são dois cabeças dura que não enxergam um palmo a sua frente.

– Menos Carlla, sem exageros!

– Exageros? Só um cego não via o que está escancarado na sua cara. Era só uma questão de tempo até acontecer.

– Ninguém pode saber por enquanto. Não quero que meu pai ouça piadinhas por minha causa.

Com as mãos pra cima em sinal de rendição, Carlla concordou em manter segredo, em troca de eu fazer o mesmo com relação a Lucca. Fiz que sim com a cabeça, e selamos nosso acordo. Nos despedimos e dali fui para a Prefeitura. O restante da tarde se arrastou. Eu tinha planilhas e mais planilhas para preencher, tudo muito chato de ser feito. Saí um pouco mais tarde do que de costume e fui direto pra casa.

Ia saindo do banho, vestindo apenas o roupão quando alguém começou a bater insistentemente na porta. Assim que abri, dei de cara com Mike. Ele me olhou de cima a baixo e engoliu em seco. Dei passagem para que entrasse, e corri até o quarto para colocar uma roupa. Peguei a primeira que encontrei na minha frente e fui em direção a sala. Notei que ele tentava espiar por alguma brecha, mas disfarçou quando apareci.

Mike não estava ali apenas porque queria me ver, ele estava ali porque queria saber o que estava acontecendo entre Jason e eu quando estávamos no Taylor's.