Elementar

A mensagem de um possuído


Carl

O garoto-tigre se chamava Bree e continuou zombando os quatro pelos longos minutos que se seguiram. Carl sabia que Sam tinha um temperamento forte e que a garota não iria tolerar esse tipo de brincadeirinha.

— Você é muito engraçadinho, mas eu sinceramente não me lembro de ter pedido a sua opinião! — Ela ergueu as mãos brutalmente, fazendo uma enorme quantia de terra se desprender do chão e voar na direção de Bree, que continuava rindo.

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Ele desviou da rocha com um pulo voraz. Pousou aos pés de Sam, encarando-a como um felino. Rachel se colocou entre os dois imediatamente, afastando-os.

— Parem com isso agora. Nós não precisamos de mais guerras ou combates. Bree, afaste-se!

O garoto-tigre pigarreou, depois recuou rudemente, sussurrando piadas. Apesar de fria, Carl se sentia confortável e seguro ao lado de Rachel, mesmo tendo acabado de conhecê-la. Jimmy reapareceu com uma garota chorosa ao seu lado.

— O circo dos horrores ficou completo. — Bree atravessou as grandes portas de madeira que levavam todos para dentro do castelo.

— Jimmy, o que você fez com essa garota? — Carl perguntou.

— Dianna, o que está fazendo aqui? Imaginei que estivesse meditando na colina! Sterphy pediu que eu mantivesse você lá! Na boa, volta. — Rachel bateu em sua própria testa, perdendo o controle da situação. — Eu não aguento mais isso! Nunca imaginei que seria tão difícil manter a paz dentro desse castelo. Nossa líder sai apenas algumas horas e tudo fica assim, desorganizado! E ainda tem todos esses humanos-animais lamentando a guerra e os jovens elementares fazendo tantas perguntas! — Terminou com um pequeno berro de fúria. Seu rosto estava vermelho como um tomate. Dianna, a garota-panda que acompanhava Jimmy, saiu correndo do lugar, tremendo de medo.

— Você não deveria ter começado pelo treinamento. Se eles têm tantas perguntas, é simples, responda elas. — Um garoto-águia surgiu pacificamente da mesma porta que Bree saiu. Ele tinha cabelos loiros lisos e o corpo atlético semelhante ao do garoto-tigre. O rosto transbordava paciência. — Temo que você não seja a pessoa certa para ajudá-los.

Rachel revirou os olhos e jogou sua flecha de madeira no chão, afastando-se de todos.

— Bom, vocês devem ser os jovens elementares. — Ele sorriu e se aproximou de Sam, estendendo a mão primeiro para ela. — Meu nome é Tyler.

Mas a garota ignorou e se afastou enraivada.

***

Tyler os levou para a torre mais alta do castelo, para uma sala onde a parede estava abarrotada de livros. Ele se despediu brevemente de todos e correu para fora do lugar. Uma garota gorducha e baixinha desfilou até eles, segurando uma bandeja com chá. Ela tinha um nariz achatado e a pele rosada. O fundo da saia era rasgado, o que permitia que o rabo enroladinho pudesse respirar.

— Posso ser uma garota-porca, mas acreditem, sou limpíssima! — Ela entregou uma xícara para cada um e eles beberam de mal grado. — Me chamo Dudi, assistente do Sr. Fred. Aliás, ele já está pronto para recebê-los.

Foram para um quarto nos fundos da biblioteca. O lugar era um pouco abafado, mas o idoso, trajando um casco enorme de tartaruga no corpo, com seus óculos redondos e o pescoço longo e estirado, não parecia nem um pouco calorento. Carl demorou a perceber que o casco não se tratava de uma roupa, aquilo fazia parte do corpo de Fred.

— O chá da Dudi é realmente péssimo, mas ela é ótima em organizar todos esses livros. — Falava arrastadamente, com uma delicadeza enorme em gesticular. — O que vocês gostariam de saber? Ah, claro, todos querem saber isso.

Carl cogitou o fato de o humano-tartaruga ler mentes, já que eles não responderam o que desejavam saber. Despejou a fumaça de um pote no meio da sala e pediu para que eles olhassem com atenção. Sombras rasgaram a penumbra agilmente, transformando-se em corpos. A voz lenta do homem tornou a ecoar:

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Zear e Hear sempre existiram. Os humanos-animais viviam nos dois mundos paralelos. Zear mantinha a paz e a harmonia. Hear pregava o ódio e o caos. Nunca entraram em conflito um com o outro, apenas aceitavam os ideais alheios. Existem muitas teorias a respeito da criação desses lugares, mas nada é 100% confirmado. Os espíritos da natureza sempre vagavam por Zear, comemorando a saúde dos três mundos (Terra, Hear e Zear) nos seus templos, até que o desequilíbrio começou e a população de Hear proclamou guerra. Eles não se contentavam com o pequeno inferno que era o mundo deles. Precisavam afetar os outros também, e a única forma de fazer aquilo era destruindo a tão preciosa joia dos espíritos, criadas para manter o equilíbrio natural de todos os mundos. Dentro desses anos, nunca houve um ataque tão direto como o que está acontecendo agora. As Serpentes de Hear estão mais fortes do que nunca, o momento certo para atacar. A manobra de fuga feita pelos espíritos para disfarçar o poder é incrível.”

Carl ficou um pouco assustado com aquilo. Não sabiam da existência de Hear até aquele momento. Um mundo de onde todo o mal vinha? As sombras dançavam na frente dos quatro, dramatizando o que Fred narrava, mas havia algo de diferente nele agora.

“Mas essa atitude não será o suficiente para despistar as joias das perigosas presas das Serpentes. Quando tiverem o poder desses artefatos em mãos – e vão ter –, a Terra e Zear finalmente se juntarão a festa e poderão desfrutas das maravilhas do mundo mergulhado no puro e verdadeiro caos. Isso não é um jogo de esconde-esconde. Esse método de “entrar no corpo de humanos” me parece mais coisa de COVARDE!”

A tartaruga estava fora de si, debatendo-se freneticamente contra a fumaça, proclamando palavras estranhas, como um sibilo. Quando voltou a falar ao normal, Carl quase morreu de susto. “Eu vou achar o corpo em que vocês estão escondidos! Eu vou destruir as joias! Eu vou mostrar aos mundos um poder infinito e a verdadeira liberdade que existe no caos!”

O que acara de acontecer? Carl sentiu uma dor no peito e lembrou-se da Serpente o encarando na floresta, torturando-o com os olhos. Ele fitou a tartaruga nas sombras e notou algo esverdeado escorrendo pelos seus lábios, como uma fumaça.

A porta se escancarou com um baque radical. Fred voltou ao normal, mantendo o corpo oculto na escuridão do local. Dudi trovejou pela entrada.

— Eu juro que tentei impedi-la. — A garota-porca apontou para a biblioteca. Carl se virou a tempo de ver uma garota de cabelos avermelhados correndo até eles. Ficou perdido, achando que ela iria abraçá-lo, mas passou direito e jogou o corpo contra o de Jimmy, que gritou espantado:

— Madeline!

***

Bree

Bree acabara de receber a notícia que uma nova humana havia chegado a Vulner. Ele correu para os corredores do último andar, buscando alguns dos seus amigos. Passou por diversas salas de treinamento e procurou até nos dormitórios. Sem sucesso, decidiu que deveria voltar para o pátio, mas antes, precisava ir ao banheiro.

Também estava vazio. As torneiras mal fechadas da pia derramavam pequenas quantias de água, que quebravam o silêncio. Algo se moveu dentro de uma das cabines, provocando um ruído desconfortável. O garoto-tigre pigarreou sem paciência, depois escancarou a porta.

— Que merda é essa? — Seus olhos se esbugalharam ao ver uma névoa esverdeada pairando ali. Ela parecia ter vida e acabou se lançando contra o corpo do humano-animal. Ele sentiu aquele material se espreitar pelo seu nariz, depois pela sua boca e até mesmo pelos ouvidos. Estava entrando nele. — O que está acontecendo? Socorro! — Gritou bastante, mas quando uma garota-coelho chegou, já era tarde. Não conseguia controlar o seu corpo, sabia que algo tinha esse domínio agora, algo bastante ruim e negativo. Estava possuído.

— Você está bem? — A garotinha perguntou, erguendo uma das mãos pacificamente.

— Nunca estive tão bem! — A voz que saiu de sua boca era carregada pelo mal. Por dentro, pedia que a garota saísse dali, que fugisse. Infelizmente, o espírito foi mais rápido e usou as garras de Bree para por um fim na vida daquela jovem.

O sangue espirrou nas paredes e o corpo da coelha desabou no chão gelado, como uma bonequinha de pano. Seus olhos sem vida estavam escancarados e a pele começou a ficar pálida como papel.

— Agora vamos para o verdadeiro alvo. — E com isso, ergueu a mão contra o corpo estirado, que se reduziu a cinzas, depois saiu do banheiro como se nada tivesse acontecido, rindo da terrível situação.