Efeito Borboleta

Um Beijo Inesquecível.


Acordo com os raios solares batendo contra o meu rosto, e me amaldiçoo mentalmente por não ter fechado a fresta da janela ontem à noite. Por dois segundos penso em ficar mal-humorado com a incômoda situação, mas quando inclino meu rosto e percebo uma certa morena deitada ao meu lado dormindo tranquilamente, não fico mal-humorado, e sim agradecido.

O sol que a pouco me irritava agora batia contra os seus cabelos, os deixando com um leve, porém fascinante tom de castanho, dando a ela um contraste angelical, o que soava irônico se comparado a sua personalidade forte e marcante. Aquilo era lindo de se ver, e além do mais, aquilo me era familiar, olhá-la dormir. Quando éramos pequenos eu costumava fazer aquilo sempre, admirar sua beleza enquanto dormia.

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Não sei bem ao certo quando, mas de repente a tristeza me abateu, deixando-me angustiado. Eu havia perdido aquele momento tão adorável por cinco anos, e no final das contas, eu havia sido um completo covarde. Mas a vida era exatamente aquilo, um amontoado de escolhas, fossem elas certas ou erradas. E agora eu teria de viver com a dor de um dia tê-la magoado, teria que carregar sozinho a culpa e a lembrança constante de ter falhado.

Suspiro pesadamente e levo minha mão até seu rosto, tirando as mexas escuras da frente de seus olhos. Com as pontas dos dedos começo a acariciar suas bochechas, depois seu queixo, lábios, nariz, guardando para mim cada mínimo detalhe de sua face. Katniss era a minha vida agora, feria de tudo para vê-la feliz novamente. Nem que para isso eu tenha que passar por cima de todos os meus princípios.

Beijo a sua testa antes de erguer o meu corpo para poder me sentar na cama, coçando os olhos que ardem devido ao sono. Ergo os braços começando a me espreguiçar quando avisto minha câmera sobre uma cadeira próxima a mim.

Para sempre me lembrar deste momento. Pego a câmera e a seguro no ar, direcionando sua lente para o meu rosto.

— Olha eu aqui! — me assusto quando o rosto de Katniss é apoiado em meu ombro, mas o susto não dura mais do que dois segundos, e logo um enorme sorriso surge em meus lábios.

— Olha você aí! — digo, arrancando-lhe uma gostosa gargalhada, e não perdendo tempo logo tiro a fotografia.

Para momentos únicos, uma fotografia única.

Guardo a foto juntamente com a câmera dentro de minha mochila antes de me deitar novamente ao seu lado. Os dois encarando o teto.

— Parece um mundo diferente de ontem. — comento relaxado direcionando meus olhos para ela.

— Isso é porque deixamos uma marca de desgraça na Blackwell ontem à noite. — fala divertida enquanto vira-se para mim, apoiando a cabeça em uma das mãos para poder me olhar melhor.

— Como se ela precisasse de outra. — rio, movendo meu corpo para ficar totalmente de frente para ela — Eu gostaria de fazer algo de bom para a Blackwell e para Arcadia Bay, mas... se eu não consigo nem enviar minha fotografia para a competição, quem dirá ajudar a cidade. — suspiro balançando a cabeça negativamente.

— Todos os artistas são rejeitados antes de serem aceitos, Peeta. Então você tem que mandar uma foto. — incentiva.

— Mesmo que eu esteja estudando na escola e na cidade que você quer queimar? — indago erguendo as sobrancelhas e ela revira os olhos.

— Qual é? Não quero ver Arcadia Bay em chamas. Só digo isso porque estou tentando viver aqui desde... — ela desvia o olhar — Desde que você foi embora, basicamente. — murmura repousando a cabeça sobre o travesseiro, voltando a encarar o teto — Se eu pagar o Marvel e conseguir encontrar a Johanna, talvez eu vá embora daqui... Começar uma nova vida, quem sabe. — ela dar levemente de ombros e ficamos alguns segundos em silêncio.

— Acho melhor levantarmos, tenho que voltar logo para a Blackwell. — mudo de assunto, não me sentindo muito confortável com suas palavras.

— Você tem prova hoje?

— Não, mas para todo caso, eu deveria estar no meu quarto no dormitório masculino neste exato momento.

— Certo, mas é que aqui está tão quentinho... Não quero levantar. — fala manhosa se aconchegando nos lençóis.

Rio de sua ação um pouco infantil enquanto me ponho de pé, indo até a cadeira da escrivaninha para pegar as minhas roupas. A calça eu visto rapidamente, mas quando chega à vez da camisa acabo torcendo meus lábios em uma careta devido ao forte cheiro de cloro que emanava dela.

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— Droga! Minha camisa parece ter sido afogada em um balde de cloro! — praguejo. Katniss ergue o corpo e senta-se na cama, carregando em seus lábios um sorriso cômico.

— Tem algumas camisas masculinas no meu “buraco da moda”, veja se encontra alguma que sirva em você. — diz simplesmente e eu a encaro abismado — O quê? Eu gosto de camisas masculinas, são confortáveis para dormir. — ela dar de ombros e eu acabo rindo.

Abro o seu grada-roupas e encontro uma enorme variedade de roupas, em sua maioria pretas e com detalhes de punk-rock, da qual eu não havia prestado muito atenção na última vez que estive ali.

— E então? — pergunta curiosa.

— Bom, não é bem o meu estilo... — começo, mas ela logo me interrompe.

— Peeta, você não tem um estilo ainda. Pelo menos tente. — ela vem até mim — Você pode sempre voltar no tempo para o seu jeans de marca e sua camiseta genérica de cloro. — sorri divertida.

— Idiota. — rio — Eu gosto da minha camisa e dos meus jeans... mas seria legal experimentar outro estilo.

— É assim que se fala. — ela da um tapinha em meu peito desnudo — Coloque isso e deixe o seu garoto do punk-rock sair do armário! Você pode se arriscar. Pode fazer o que quiser e quando quiser... — um sorriso maroto surge em seus lábios — Por exemplo, desafio você a me beijar.

E naquele exato momento o meu mundo simplesmente parou de girar. Eu diria até que entrou em colapso.

— Como? — pergunto atônito e com os olhos arregalados, sentindo o meu coração começar a acelerar.

Aquilo seria algum tipo de brincadeira?

— O que foi? É muito para você esse desafio? Vamos lá, Peeta. Beije-me, agora. — ela me encara desafiadoramente.

Definitivamente isso não é uma brincadeira.

Prendo a minha respiração, completamente perdido, sem saber ao certo o que fazer. Aquilo era mesmo real ou era somente um truque da minha imaginação? Por um acaso eu estava sonhando? Entreabri meus lábios para soltar o ar que a pouco prendia e a encarei diretamente nos olhos, e foi exatamente ali, encarando aquelas pequenas bolinhas acinzentadas e brilhantes que eu tive a certeza de que era real. Porque mesmo que eu quisesse, jamais conseguiria idealizar de forma tão perfeita o brilho de seus belos olhos. Era mesmo real. Ela estava bem ali a minha frente, pedindo, ou melhor, desafiando-me a beijá-la. E nem em meus melhores sonhos com Katniss Everdeen aquilo chegou a acontecer, por isso, como se tivessem vida própria, meus pés me guiaram até ela.

Seus olhos se arregalaram levemente, parecendo surpresa com a minha aproximação repentina, e sem cerimônia ou receios meus olhos desceram até seus lábios carnudos e rosados, da qual passei a admirar por alguns segundos antes de voltar a encarar suas orbes tempestuosas novamente, como em um pedido silencioso de permissão para o que estava prestes a fazer. E então a resposta veio, silenciosa, mas através de um caloroso olhar.

Aproximo-me um pouco mais de seu corpo, fazendo com que nossas respirações se tornem uma só, e então pego seu rosto por entre minhas mãos, acariciando levemente suas bochechas antes de finalmente colar meus lábios nos seus, em um doce e delicado beijo. No início ela pareceu um pouco surpresa, ou até mesmo retida, mas foi questão de segundos para que estivesse correspondendo com tanta ou mais intensidade que eu. Suas mãos desceram lentamente por minhas costelas, causando-me uma onda de arrepios, e seguiram até o cós da minha calça, onde ela entrelaçou os dedos para poder me puxar para mais perto de si, colando por completo nossos corpos. Seus lábios eram mil vezes mais macios e saborosos do que um dia eu sequer cheguei a imaginar, porém o meu mundo veio a desabar por completo quando sua língua se entrelaçou com a minha, fazendo com que um pequeno gemido de satisfação me escapasse. Foi então que pude senti-la sorrir por entre o beijo, que por sinal, se antes havia começado doce e delicado, agora era intenso, desesperado e até mesmo voraz.

Poderia parecer meio brega ou até mesmo clichê, mas era como se eu houvesse alcançado o céu. Porque era exatamente assim que eu estava me sentindo, nas nuvens. Meu coração estava assustadoramente acelerado, minhas pernas estavam bambas e tinha algo se revirando loucamente em meu estomago. Eu estava extasiado, em completo deleite, e me perguntando como era possível sentir tantas coisas em um único beijo. Eu não queria que ele acabasse. Não agora que eu a tinha bem ali em meus braços, completamente entregue a mim, entregue ao desejo e satisfação que aquele enlaçar de lábios estava nos proporcionando. Eu queria que aquele beijo durasse uma eternidade se possível, mas quando o ar se tornou escasso em nossos pulmões, foi algo inevitável.

Nossos lábios se descolaram lentamente e nossas respirações descompassadas começaram a bater uma contra a outra. Colei nossas testas e abri meus olhos, sendo prontamente hipnotizado por suas orbes acinzentadas que me encaravam intensamente, brilhantes, com um misto de luxuria e satisfação. Afastei-me um pouco de seu corpo somente para poder olhá-la melhor. Suas bochechas haviam adquirido um tom mais rosado enquanto seus lábios estavam inchados e avermelhados por conta do beijo avassalador. Aquilo me fez abrir um enorme sorriso, e conclui que meu estado não deveria estar muito diferente do seu.

Ela pisca algumas vezes, parecendo um pouco perdida e atordoada com o que acabara de acontecer, mas então vejo seus lábios se erguerem em um pequeno e singelo sorriso.

— Uau! Isso foi... foi... — ela busca pelas palavras certas.

— Incrível? Intenso? Espetacular? — completo duvidoso afastando minhas mãos de seu rosto e ela ri levemente.

— Sim, e eu ainda acrescentaria quente a essa sua definição. — ela tenta soar divertida, mas vejo em seus olhos que ela está tentando reprimir o nervosismo — É, você realmente sabe enfrentar um desafio. E pelo visto já não é mais tão medroso quanto antes. — sorri bem humorada.

— Bom, eu fui desafiado pela garota mais rebelde da cidade, então... eu não poderia amarelar, não é mesmo? — ela ri afastando as mechas escuras da frente do rosto — E no pior dos casos, o máximo que eu levaria seria alguns tapas acompanhados de uns xingamentos, então, valeu super a pena arriscar. — acrescento com humor e ela revira os olhos.

— Se você beijasse mal pode ter certeza de que eu faria isso, mas até que você me surpreendeu Mellark.

— Então isso quer dizer que vamos repetir a dose? — pergunto brincalhão arrancando-lhe mais uma risada, mas no fundo aquilo era tudo o que eu mais queria; poder beijá-la novamente e apreciar todas aquelas sensações.

— Se você se comportar, quem sabe? — ela me lança uma piscadela antes de se afastar para ir até a cama — Agora eu posso mandar uma mensagem para a Delly e dizer que ela não tem chance alguma com você, a não ser que ela curta uma relação a três. — gargalho alto com as suas palavras.

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Katniss sendo Katniss.

— Você é tão idiota. — falo tentando conter a risada e ela joga um travesseiro em minha direção - da qual consigo desviar - antes de se jogar sobre a cama.

Ela resmunga algo, mas sua voz sai abafada por conta das cobertas e eu sorrio, ainda sentindo meus lábios aquecidos por conta dos seus. Volto-me para o guarda-roupa e retiro do mesmo uma camisa preta com o desenho de uma caveira, que entrava em perfeito contraste com o meus jeans escuros. Visto-a rapidamente e passo as mãos por meus cabelos, tentando de algum modo arrumá-los.

— Uau! Você está um gato, Peeta! — exclama ao me analisar — Algumas tatuagens aqui, alguns piercings ali e você será um metaleiro.

— Estou pronto para pular do palco, baby. — abro os braços e ela inclina a cabeça um pouco para a direita.

— Talvez não. — ela faz uma careta divertida e eu abaixo os braços — Você já pode ir descendo para tomar o café da manhã, enquanto isso eu vou tomar um banho rápido e já te alcanço, ok? — assinto e ela me entende as mãos, para que eu possa ajudá-la a levantar e assim faço.

Ela se tranca no banheiro e eu saio do quarto, passando a alça da mochila por meu ombro direito enquanto sinto minha cabeça trabalhar a mil por hora. Poderia parecer idiota, mas eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. Ainda custava acreditar que aquilo havia sido real. Eu havia beijado a minha melhor amiga, a garota pela qual estava apaixonado. Eu havia beijado Katniss Everdeen! Céus! Aquilo era surreal para caralho! E eu tinha que admitir, ela estava completamente certa quando disso que eu já não era mais tão medroso quanto antes, porque se fosse há algumas semanas atrás, eu teria simplesmente ficado parado a encarado como um bobo idiota.

Como as coisas poderiam ter mudado tanto em questão de dias?

Desço as escadas e meu estômago logo começa a dar sinal de vida devido ao maravilhoso cheiro que emanava da cozinha. Adentro a mesma e avisto Clara, usando seu típico uniforme do Winchester, enquanto prepara algo no fogão. Aquilo me era tão familiar. Era como quando Katniss e eu éramos crianças.

— Bom dia, Clara. — saldo, apoiando meu ombro no armário ao seu lado.

— Peeta! Céus! Você me assustou. — ela solta uma leve risada enquanto repousa a mão sobre o peito.

— Desculpa, não foi minha intenção assustá-la.

— Sem problemas, querido. — ela sorri, e então me analisa minuciosamente — Hmm... Essa camisa ficou muito bem em você, está ainda mais gato.

— Obrigado. — levo a mão até a nuca um pouco sem graça — E desculpa por ter vindo dormir aqui sem avisar, mas é que aconteceram algumas coisas e Katniss me cham...

— Shh... não precisa se desculpar, querido. Você pode dormir aqui quantas vezes quiser, afinal, você já é de casa, não? — sorrimos — Bom, agora me diga o que vai querer comer.

— Ovos com bacon, sempre. — respondo imediatamente a fazendo rir.

— Isso me lembra de quando vocês eram pequenos e dormiam até eu gritar: “acordem, acordem, ovinhos com bacon!” — acompanho-a nas risadas.

— Com certeza. Nós acordávamos tão rápido. — suspiro feliz ao recordar tais lembranças.

— Depois de tantos anos e de tudo o que aconteceu, é ótimo ver você e a Katniss juntos de novo. — ela se volta para o fogão onde começa a preparar meu café da manhã — Ela não teve boas amizades além de você e da Johanna... — suspira triste — Uma garota tão gentil. Espero que esteja vivendo bem em Los Angeles.

— Também adoraria achar isso, Clara. Mas... — balanço a cabeça negativamente sem conseguir terminar a frase.

— Estamos na mesma página, Peeta. — ela me encara brevemente — Continuo esperando que a Johanna apareça ou envie uma mensagem para Katniss de Hollywood... ou seja lá onde ela estiver.

— Há algum motivo para a Johanna ter ficado chateada com a Katniss e ter partido sem ela? — pergunto enquanto corto algumas verduras para ela colocar na omelete.

— Katniss conseguia chatear todo mundo, menos ela. Elas eram quase grudadas pela cabeça. Lembrava você e a Katniss, mas... a Johanna não era tão estável quanto você. — responde enquanto vira as tiras de bacon dentro da frigideira.

— Eu sou estável? Desde quando? — indago divertido e um pouco confuso — Deve ser por isso que a Katniss gosta tanto dela. — murmuro me referindo ao fato da morena não conseguir chatear a Johanna.

— Peeta Mellark, você está com ciúmes da Johanna? — questiona risonha.

— O quê? Não! De jeito nenhum. — nego rapidamente — Eu sei que fui egoísta quando fui embora. Fico contente por a Katniss ter encontrado uma melhor amiga. — minha voz sai baixa.

— Não, apenas uma amiga diferente. — suas palavras atraem a minha atenção e eu volto a encará-la, deixando de lado as verduras — Na última vez em que vi você e a Katniss vestidos de piratas, eu soube que ela jamais encontraria amigo melhor que você. E quando você assumiu a culpa pelos cigarros, provou isso.

— Obrigado... Mas parece que eu e a Katniss fomos piratas há mil anos. — rimos.

— E isso faz com que eu tenha o que, cem anos? — pergunta brincalhona — Você só tem 18 anos, Peeta. Tem muito o que viver ainda. Ah, a juventude... — suspira sonhadora — Se eu pudesse voltar no tempo.

— Não é isso tudo, Clara. Às vezes a juv... — sou interrompido por um barulho de buzina e logo uma Prim sorridente surge na cozinha.

— Já estou indo para a escola mamãe, Rue acabou de chegar com a mãe dela. — avisa ao abrir a geladeira para pegar uma maçã.

— Mas já? Não vai nem tomar café da manhã? — indaga Clara abraçando-a pelos ombros.

— Vamos tomar na escola. Te amo, mamãe. — se despede.

— Também te amo, pequena. — Clara sorri depositando um beijo em suas bochechas.

— Ei! — chamo atraindo a atenção das duas — E eu? Não ganho beijo de despedida? — pergunto fazendo bico, me fingindo de irritado e Prim solta uma risadinha antes de se aproximar.

— Tchau, Pee. — ela me abraça apertado e eu sorrio, beijando o topo de sua cabeça.

— Tchau snowflake, e boa aula. — seus olhinhos brilham conforme o sorriso surge em seus lábios e ela se afasta, sumindo do meu campo de visão — E eu te amo, beleza?! — falo alto e ouço-a gargalhar.

— Eu também te amo! — devolve e poucos segundos depois ouço o som da porta bater, indicando sua saída.

— Ela sentiu muito a sua falta, tanto quanto a Katniss. — fala Clara e eu me volto para ela, encontrando-a com um enorme sorriso.

— Eu também senti, muita mesmo. E ela parece estar tão bem, como anda o tratamento? — pergunto sentindo meu coração um pouco inquieto.

Pelo que Katniss havia me dito, os problemas de Prim eram bem sérios e aquilo me preocupava bastante.

— Bem. Muito bem na verdade. Ela tem melhorado bastante com a ajuda dos remédios e da psicóloga. Suas crises de pânico também deram uma trégua, antes ocorriam constantemente e agora já faz dois meses que ela não tem nenhuma, o que é um grande avanço. — seus olhos ficam marejados devido à emoção — É muito bom ver a minha menininha sorrindo pela casa novamente, correndo, brincando como qualquer outra criança. Eu sinto que eu finalmente estou acertando como mãe. — as lágrimas começam a escorrer por suas bochechas e eu a abraço.

— Você sempre foi uma excelente mãe, Clara, tanto para Prim quanto para Katniss. — digo com sinceridade.

— Não Peeta... — ela se afasta do abraço para poder me olhar — Eu falhei com a Katniss. Não sei exatamente onde, mais falhei. E agora... Não sei... — ela suspira enquanto enxuga as lágrimas — Só parece ser tarde demais.

— Não, Clara. Não é tarde demais. A Katniss só está com raiva e não sabe como lidar com isso, mas essa raiva vai passar e tudo ficará bem, você vai ver. — sorrio para tranquilizá-la.

— Obrigada, Peeta. — ela sorri e beija a minha bochecha — Agora vá sentar-se à mesa que o café da manhã já está quase pronto. — manda e prontamente obedeço, já que meu estomago havia voltado a reclamar. Após estar sentado confortavelmente, pego o celular para verificar algumas mensagens e acabo encontrando uma de Madge.

Peeta. Obrigada, do fundo do meu coração, por ter me ajudado no telhado. Você foi o único que me apoiou no colégio, o único que realmente se importou. Acredito que você foi enviando para me dar esperanças, mas no fundo você fez muito mais do que isso. Meu pai também está bastante agradecido, e não se preocupe, eu estou bem agora. E mais uma vez, muito obrigada por não ter desistido de mim. Você sempre estará em meu coração.

Beijos da sua amiga, Mad.

Termino de ler com um enorme sorriso no rosto. Era muito bom saber que ela estava bem, que eu havia conseguido salvá-la. Respondo sua mensagem dizendo que assim que puder irei visitá-la, e no mesmo instante Clara põe meu prato sobre a mesa.

— Muito obrigado, Clara. Nunca vou levantar dessa mesa. — falo sentindo minha boca salivar.

— Ótimo. Então você pode limpá-la. — rio com suas palavras e começo a devorar minha omelete com bacons.

Ela se afasta e em poucos segundos retorna com um álbum de fotografias, sentando-se a minha frente antes de abri-lo.

— Ver você de novo fez com que eu me lembrasse de tanta coisa. — começa folheando as páginas — Eu sei que essas fotos não são páreo para o seu trabalho, mas... — ela solta uma risadinha enquanto analisa algumas fotografias.

— Meus fotógrafos favoritos provavelmente tiram fotos parecidas com as suas. — sorrio com sinceridade e então vejo uma foto de Johanna — Hm... Acho que não consigo usar essa roupa como a Johanna. — brinco lhe arrancando uma gargalhada.

— É, acho que não. Mas você tem o seu próprio estilo legal. — ela entra na brincadeira e folheia mais uma página, onde há uma foto minha e de Katniss na cozinha.

— Nossa, eu super me lembro desse dia... — falo ao analisar minuciosamente a fotografia

— Fico contente. O Thomas tirou essa foto com a câmera instantânea dele. — ela sorri melancolicamente — Foi à última fotografia que ele tirou. Ele saiu com o carro logo depois disso, e... e... — ela balança a cabeça negativamente sem conseguir terminar a frase.

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— Eu sei, Clara. Sinto muito. — falo com pesar.

— Eu não mostrei isso a você para ser mórbida. Na verdade, quero que fique com ela... — me entende a foto — Isso é de quando a minha filha era cheia de luz e vida. Ela era tão esperançosa, positiva... tudo o que não é hoje. E essa foi à última vez que vi Katniss realmente feliz. — conclui e guardo a fotografia em minha mochila, como um verdadeiro tesouro.

Ouvimos passos pesados descerem as escadas e logo Katniss surge na sala de jantar, já de banho tomado e com as suas típicas roupas de uma garota do punk-rock.

— Vocês estão em uma sessão de fofoca sobre o quão fodida eu sou? — pergunta ao parar do meu lado.

— O assunto nem sempre é só você, marrentinha. — falo tentando descontrair o clima.

— Katniss, por favor. Está muito cedo para começar uma briga. Em vez disso, coma. — pede Clara, mas Katniss não lhe dá muita atenção e se agacha para sussurrar em meu ouvido.

— Vou manter o guarda ocupado enquanto você vasculha a garagem. — avisa e eu assinto.

— Agora pare de sussurrar ou eu saberei que está falando de mim. — comenta Clara bem humorada, fazendo a morena ao meu lado revirar os olhos.

— Deixa de ser tão enxerida, mãe. Credo, não posso fazer nada por aqui sem que todos queiram se meter. — resmunga emburrada.

— As pessoas não podem nem brincar, Katniss, e você se exalta dessa forma. — suspira pesadamente.

Aproveito essa pequena distração que Katniss está criando para inventar uma desculpa para ir até a garagem.

— Com licença, tenho que usar o banheiro. — aviso me pondo de pé.

— Isso, fuja e vá mijar, enquanto deveria estar era me apoiando. — fala seriamente, mas vejo que no fundo ela está se segurando para não rir. É, até que a marrentinha leva jeito para a atuação.

— Quem está sendo paranoica agora? — ouço Clara perguntar enquanto me afasto — Apenas escute o que está dizendo...

— Ninguém escuta! — exclama Katniss e é a última coisa que ouço antes de adentrar a garagem cuidadosamente.

Vamos lá, Peeta. Hora de se tornar o Sherlock Homes.