Capítulo narrado por Lucinda

Domingo - Sexto més de gestação

Entrei na sala desesperada. Pandy estava deitada na maca e lágrimas de óleo escorriam pelo seu rosto. Mandei os magos saírem da enfermaria e percebi um cabelo ruivo diferente em meio aquela multidão. Uma touca como a da Pandy estava nele. Não havia tempo para pensar naquilo. Precisava me concentrar, fechei a porta com um barulho ensurdecedor.

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Me dirigi a maca o mais rápido possível. Era possível escutar vários barulhos lá fora - entre eles choros, lamúrias, gritos e fofocas entristecidas.

–Vai ficar tudo bem! Vai ficar tudo bem... – Falei para Pandy, mesmo sabendo que não era verdade.

O sangramento havia cessado, mas mesmo assim sua roupa estava manchada de sangue. O líquido deveria estar em muita maior quantidade, mas a roupa vermelha o clamufava. Um sangramento desse nível significava a perda de não somente um, mas dois bebês.

Não poderia chorar. Seria pouco profissional. Mesmo assim, toda aquela dor que Pandy estava passando não deveria ser sentida por ninguém. Nenhuma mãe merecia sofrer tanto.

Liguei a máquina de ultrassom e passei o gel na barriga da Pandy. Tive que me segurar para não olhar para os seus olhos mas, não precisei. Ela soluçava alto o bastante para que os magos e os outros animatronics pudessem ouvir, o que os deixava mais desesperados ainda.

Arrumei todo o equipamento e chequei o útero da Pandy, e como já esperado, os bebês não estavam bem. Mas para minha maior surpresa, eles nem sequer estavam lá.

Pandy deve ter percebido minha pele empalidecer, pois olhou para mim com expressão de pânico muito maior em seu rosto. Por mais que estivesse sofrendo por ela e com ela, não avia tempo para me preocupar com oque se passava pela sua cabeça. Simplesmente não havia uma explicação lógica. Não sabia se ficava feliz ou absurdamente triste.

De repente, uma mini explosão de luz branca veio de trás de mim e me jogou contra a parede. O impacto deveria ter quebrado minhas costelas, mas assim não o fez. Senti me preenchida de pureza e bondade, como se aquela luz fosse feita somente de coisas boas. Ela ficava mais forte e meus olhos se fechavam mais.

–x-x-x-x-x-

Quando abri meus olhos me deparei com a coisa mais entranha que já tinha visto na minha vida - Só perdia para o dia em que havia visto o Mike depilar as costas. Um vulto branco que não possuia forma. Era estranho, impossível de se descrever, era como se ele estivesse envolto por tanta luz que era impossível vê-lo. Mas eu estava o vendo. E não estava gostando daquilo

Para deixar tudo mais esquisito ainda, dois seres iluminados com tons de cinza estavam ao lado dele. Suas estaturas eram muito mais baixas que a do vulto branco. Ou o branquelo era muito grande.

Enquanto raciocinava, o vulto olhou para mim. Ou pelo menos, eu achei, porque suas expressões eram muito indefinidas. Me aproximei bem devagar. O vulto ainda estava me encarando, tentei abrir a porta sem que ele percebesse, mas a porta estava trancada. Me senti uma completa idiota, não sabia o que fazer.

O vulto começou a se aproximar, eu ainda estava imóvel. Os outros dois vultos o seguiam, o que me deixava mais nervosa. Ele estava bem próximo de mim. Eu estava com medo.

– Vocês gostam muito de morrer, não é? - Falou o vulto, em tom de deboche - Já é a segunda vez que eu salvo um de seus amigos.

Eu não falei nada, continuei calada, com uma expressão de choque. De repente, tudo começou a tremer. Pandy estava desmaiada. Os vultos menores foram bem devagar até Pandy. Eu estava preocupada, não sabia o que eles queriam com ela. Eles começaram a brilhar. Uma ventania muito forte se iniciou. Pensamentos rodeavam minha mente. Milhares de coisas que eu poderia fazer para deter aquilo, e milhares de coisas que gostaria de perguntar, mas era como se meu cérebro estivesse bloqueado por algo mágico. Os dois vultos se transformam em uma espécie de fumaça brilhante e entraram na barriga da Pandy.

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Outra luz branca muito forte me cegou. Os vultos haviam sumido. Olhei para a máquina do ultrassom, que estava pifada. Liguei ela de novo, por preocupação. Olhei a barriga da Pandy. Eu não sabia se ficava espantada ou absurdamente feliz. Os dois bebês estavam lá. Fui até a outra maca em que estava a roupa da Pandy. As vestes estavam totalmente limpas.

Olhei para o chão e vi a chave. Agarrei o objeto rapidamente, com medo que houvesse outro lampejo. Abri a porta. Os animatronics deviam ter percebido a minha expressão de alegria. Foram entrando de pouco em pouco, Foxy parecia um louco. Alguém nos fundos me chamou atenção. Uma garota de cabelos ruivos e olhos rosas estava sentada encostada na parede. Ela estava chorando.

Fui até ela e sentei ao seu lado. Cutuquei sua cabeça e ela virou a cabeça.

–Os bebês estão bem. Nada disso foi culpa sua. – Nunca havia conversado com ela, mas sentia uma estranha vontade de reconfortá-la.

Ela pareceu querer hesitar quando eu falei sobre a culpa, mas não falou nada. Enxugou a lágrima com a mão direita e me olhou com um sorriso carinhoso no rosto.

–O importante é que eles estão bem.

A garota se levantou e foi até a enfermaria, enquanto eu continuava sentada no chão, pensativa. Mas afinal, o que diabos era aquele vulto? E aqueles vultos cinzas? Seriam almas? Almas... dos bebês?