Drink Me

Bons Sonhos, Doces Doses


Cai sobre algo gelatinoso, mole e engraçado. Tinha cheiro de morango e, como é minha fruta favorita, não hesitei em morder aquela superfície gosada. Por Deus, como eu gostaria de não ter feito aquilo! O gosto era de gelatina de morango, mas, a partir da minha mordida, a estrutura mole começou a se romper.


Chuá! Agora eu me via num rio vermelho e gelado. Como eu nunca fui boa nadadora, acabei tomando um pouco daquela água esquisita. Aquele calor que eu já conhecia bem ecoava pela minha garganta, que pedia mais e mais. Um gosto de laranja com morango, levemente cítrico, invadiu minha boca. Oh, era delicioso, eu poderia beber o rio todo! Talvez só não o tenha bebido por inteiro, pois tive ajuda de muitos bichinhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eles eram engraçados, do meu tamanho, mas desajeitados. Nós bebemos o rio de morango com laranja, deixando apenas alguma gotas para a terra absorver. Um pássaro amarelo, um canário talvez, não parecia estar se sentindo bem. Achei que seria mais digno ajudá-lo.



- Com licença, senhor pássaro, o senhor está bem?
- Qual de vocês três está me perguntando?
- Três, meu senhor? Eu sou apenas uma.
- Mentira! Estou vendo vocês, trigêmeas!
- Oh, entendi. Talvez o senhor tenha bebido demais. É viciante, eu sei.

O canário começou a rir, uma gargalhada aguda e irritante. Definitivamente, estava bêbado. Como voltaria para casa?


- Senhor, onde o senhor mora?
- No Grande Ninho, nas colinas.
- Eu poderia lhe acompanhar até lá?
- Por quê? Me deixem em paz, meninas! Eu vou à festa!
- Da Rainha de Espadas?
- Isso mesmo!
- Poderia “nos” levar até lá?
- Claro, subam nas minhas costas!
- Ah, senhor, não acho uma boa idéia. O senhor mal se agüenta em pé.
- Queee mentiraaa! Eu to bem! – Sim, ele falava como um bêbado, capengava como um bêbado e negava seu estado embriagado como um bêbado – Mas não as obrigo a ir comigo.
- Mas o senhor pode me dizer qual é o caminho?
- Sigam toda vida até chegar a um grande jardim. Lá, ande mais um pouco até chegar num chafariz. Pulem na fonte.
- Isso não é muito preciso, meu senhor.
- Eu não tenho culpa se nunca fui a pé! Se não querem minha ajuda, que aprendam a voar!

O canário partiu, visivelmente irritado, na direção contrária do sol. Não sabia se era melhor segui-lo ou não, afinal, ele estava fora de si. Achei melhor ir à direção oposta, onde eu encontrei mais uma vez o Tic-Tac.



- Senhor Tic-Tac!
- Você de novo? O que quer?
- Gostaria de saber onde é a festa da Rainha de Espadas, se não for incomodo.
- Ah, claro querida. Achei que iria me cobrar alguma coisa, desculpe-me pela grosseria – Mais uma vez, ele olhou para seu celular – Bem, falta pouquíssimo tempo para a festa, e a rainha odeia atrasos, então é melhor você se apressar! Beba isso e então corra para lá, logo você encontrará um belíssimo jardim. Lá, depois de passar pelo labirinto de arbustos, encontre uma fonte e pule dentro dela.
- O senhor não vem comigo? – Peguei a garrafinha rosa que ele me oferecera.
- Não, querida. Eu ainda tenho que buscar o Leque antes de ir.
- Leque, senhor?
- Sim, Leque, a centopéia. Um amor de pessoa, você deveria conhecê-lo.
- Bem, quem sabe na festa, não?
- Sim. Bem, agora vá! Você tem dois quintos de oito léguas para chegar lá!
- Isso é um tempo?
- Lógico que é. E muito pouco tempo! Vá logo!

Incrível como todos os líquidos deste lugar têm um gosto vulgar que esquenta por dentro, faz arder a garganta e, ainda assim, faz querermos mais. O coelho me dera algo mais doce, meio achocolatado, mas tinha um fundo inconfundível de groselha.


Aquilo me fez despertar. Eu estava disposta a correr milhas a fio na direção que ele me apontou – e foi o que eu fiz. Não sabia de onde eu havia tirado tanto fôlego, mas, em menos de três minutos – seja lá como eles falam por aqui – eu já estava rodeada de flores gigantes, que cantavam alegremente uma música assim:



“Oh, mais uma vez, perdidos.
Será muito difícil pegar carona com os passarinhos?
Agora estão encurralados!
Não, o labirinto os devorou!
Bastava virar uma vez para a esquerda, cinco para a direita e seguir reto até a fonte.
Adeus, amigos!”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Uma música de péssimo gosto, sem dúvidas. Mas talvez me ajudasse dentro das enormes paredes verdes que eu teria pela frente. O letreiro era convidativo. “Bem Vindo a Estrada da Morte!”. Dei ombros, entrando logo no labirinto.



- “Oh, mais uma vez, perdidos!” – Comecei a cantarolar – “Será muito difícil pegar carona com os canarinhos? Agora estão encrencados! O lobo mau os devorou!”... Não, não é isso... Ah, não importa essa parte. “Bastava virar uma vez para a esquerda e cinco para a direita”, ou era primeiro para a direita? Oh, não! Eu me perdi! O que eu faço agora? Para onde eu vou?

Eu não sabia o que fazer, estava tão desesperada que comecei a chorar.



Lá estava eu, às lágrimas, soluçando entre várias paredes de folhas bem verdes, até que uma delicada mão tocou meu ombro.


- Garotinha? – Uma fada verde me cutucava – Você está bem?
- Não, senhora. Eu me perdi aqui.
- Oh, querida, acontece com muitos!
- A senhora também está perdida?
- Não, querida. Eu moro aqui.
- E poderia me indicar a direção para a fonte?
- Qual das fontes, meu anjo?
- A que leva para a festa da Rainha de Espadas.
- Claro, queridinha. Venha, siga-me. Eu vou te guiar até lá.

Seguir uma fada verde era meio desconfortável. Eu era alta demais perto dela, e branca. Ela brilhava, eu era apagada. Não sei se deveria nem perguntar o seu nome. Oh, Deus.



- A propósito, meu anjo – Ela sorriu, tirando um cantil do meio de uma das paredes – Beba isso.

Veneno? Não, ela estava me ajudando, não tinha motivos para me matar – eu espero. Achei melhor virar a garrafa, mais uma vez. O sabor quente de abacaxi com um quê de limão invadiu minha boca. Era, sem dúvidas, bom.



A fada verde sorriu de um modo agradável, então sussurrou qualquer coisa no meu ouvido e me empurrou. Eu cai de costas numa água extremamente gelada, mas, curiosamente, não me molhei.


Na verdade, quando eu abri os olhos, estava rodeada de cartas e peças de dominó que cochichavam entre si. O que estava acontecendo?



- Acho que é um esquilo sem pêlo – Dizia o Dois de Paus.
- Bobagem, é uma chinchila! – Replicava o Valete de Ouros.
- Gente, a “coisa” está acordada – Uma peça de 3/5 de dominó começou a me cutucar.
- Hei, pare com isso, por favor! – Pedi.
- Ooooh! A coisa fala! – Disseram todos.
- Falo sim – Levantei-me – E meu nome não é Coisa, por favor. Me chamo Alice.
- Alice? É uma nova espécie de carta? – Perguntou uma peça de dominó.
- Não, senhor.
- Mas tem o rosto da Rainha de Espadas?
- Oh! A Rainha!? Espero não estar atrasada para sua festa!
- Mas você está na festa.

Olhei a minha volta, entre os espaços que as peças e cartas me permitiam ver, e me vi num salão lotado. Todos que eu encontrei na minha pequena aventura para chegar ali estavam presentes – inclusive o canário bêbado, que enchia a cara de ponche.



Sai logo da rodinha de jogos e fui cumprimentando todos os rostos conhecidos, sorrindo. Festas são muito interessantes, todos se divertem com pouca coisa, é o máximo.


Então, todos ficaram em silêncio. Olhei para os lados, procurando o motivo, então eu a vi. Alta, loira, rosto rígido e carinhoso. Usava uma coroa com o naipe de Espadas, um vestido preto, Lolita.



- Liza?
- Alice?
- Elizabeth! – Corri e a abracei – O que você está fazendo aqui, adorada irmã?
- Eu vim te buscar, Alice querida – Sorriu – Beba isso, já passou da hora de acordar, meu doce.

Mais uma garrafa, um último “beba-me” colado no vidro. O ardido, o calor. O líquido apenas desceu queimando, não deixou gosto nenhum além da ausência na boca.



Abri meus olhos devagar, fitando a grama que me cercava no quintal. Elizabeth acariciava meus cabelos com um livro pesado no colo.


- Liza?
- Desculpa, meu amor, eu te acordei? – Aquele sorriso angelical que eu conhecia bem se aproximou do meu rosto, se transformando num delicado beijo na testa.
- Não, não foi não, Liza, não se preocupe – Sorri de volta.
- É melhor você voltar a dormir, querida irmã. Logo eu vou ao cabaré, trabalhar. Passará bem a noite sem mim?
- Sim, querida irmã. Mas você poderia ler para mim mais uma vez?

Elizabeth sorriu, pegou o único livro que nós tínhamos, um que achamos jogado na frente de um bar, e me alcançou uma garrafa de bebida, algo para eu relaxar e não sentir o frio que fazia.


- Tequila Sunrise. Ingredientes: 5,0 cl Tequila; 9,0 cl Suco de Laranja; 1,0 cl Grenadine. Misturar todos os ingredientes numa coqueteleira com gelo picado. Colocar num copo alto – Bebi um gole do líquido, já sentindo o queimar na garganta - Blackberry Tequila. Ingredientes: 45 ml de tequila; 30 ml de Creme de Cassis; 15 ml de Suco de limão. Bata todos os ingredientes com gelo moído e sirva em uma taça. Decore com uma rodela de limão. Long Island Iced Tea. 4 partes de Vodka; 2 partes de Gin; 2 partes de Tequila; 2 partes de Rum; 1 parte de Creme de Menta (do claro); 4 partes de suco de limão; 1 colher de sobremesa de açúcar; Coca-Cola; 1 rodela de limão para decorar – Já estava me sentindo tonta com o álcool ingerido, logo cairia num novo sono profundo - Coloque todos os ingredientes numa coqueteleira com gelo picado, agite vigorosamente, coe em um copo longo, com pedras de gelo, complete com Coca-Cola e enfeite com a rodela de limão.

Receita de Drink Head Shock. Ingredientes: 1 dose de tequila; 2 doses de Absinto. Modo de Preparo: Coloque a tequila e o absinto em um copo de dose. Beba de uma vez.



Marguerite. Ingredientes: 4 partes de Tequila; 2 partes de Triple Sec; 4 partes de suco de limão. Bater tudo numa coqueteleira com bastante gelo picado. Para servir você passa uma rodela de limão na borda do copo e passe no sal grosso.



Silk Stockings. Ingredientes: 1 1/2 partes de Tequila; 1 parte Creme de Cacau; 1 1/2 partes de Creme de Leite; 1 lance de Grenadine. Colocar todos os ingredientes numa coqueteleira, com gelo picado. Agitar vigorosamente, e coar em um copo para cocktail. Polvilhe com canela.


Drink Frozen Matador. Ingredientes: 1 e ½ dose de Tequila; 2 doses de suco de abacaxi; 1 colher de sobremesa de suco de limão. Modo de Preparo: Bata bem os ingredientes na coqueteleira com gelo e sirva em copo para coquetéis com um pedacinho de abacaxi e gelo moído.


Doces sonhos, querida Alice.



ps: Pode se substituir o Grenadine por Groselha
Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.