Dragões do Norte

O rei contrabandeado


Jon chegou ao porto de Meereen a noite, assim como havia solicitado.

Achar um navio que lhe trouxesse foi fácil. Tinha dezenas deles a seu serviço. Partiu de Porto Branco em um grande cargueiro que havia trazido uma enorme quantidade de peixes salgados.

Passar-se por um marinheiro foi mais fácil ainda. Seu rosto ainda era desconhecido para a maioria de seus súditos. Principalmente aqueles que passavam a maior parte do tempo no mar.

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Dá a impressão de que sabia o que estava fazendo se mostrou uma questão totalemente diferente.

— Cê tem que enrolar as cordas no antebraço – mostrou um velho marinheiro ao seu lado – Se não quando ela deslizar, arranca o couro da tua mão junto.

Fez como o homem lhe instruíra rapidamente na esperança de que seu engodo: que era experiente em um navio, não fosse descoberto.

Durante a maior parte da viagem conseguira improvisar bem e com a ajuda dos dois guardas que Lorde Manderly lhe cedera conseguiu passar a imagem de que ao menos sabia o que estava fazendo.

Teria vindo sozinho, mas lorde Stark insistira que trouxesse alguém, por segurança. Runy e Aric eram conhecedores da rotina em um navio tendo passado a vida toda de serviço em alto mar.

Contudo as explicações sussurradas às pressas não eram suficientes para esconder sua inexperiência completamente.

Nem o enjoo que sentiu nos primeiros dias.

E que dias terríveis foram aqueles.

Felizmente, havia finalmente recobrado o controle do próprio corpo e já não sentia mais vontade de se jogar ao mar.

— Não se preocupa – continuou o marinheiro – Eu também menti pra entrar no meu primeiro navio.

Encarou o rosto castigado pelo sol e sorriu:

— O que me entregou? A falta de jeito ou quase colocar as entranhas para fora na primeira noite?

O velho lobo do mar lhe sorriu:

— Isso e seus guardas.

Olhou para Runy e Aric que nunca estavam muito longe.

— E cê fala emproado demais pra um filho de um vendedor de peixe.

O homem chegou mais perto e cochichou:

— Tá a serviço do rei?

— Algo parecido com isso.

— Já viu ele? O Rei no Norte?

— Algumas vezes. – entre mentir e ser evasivo havia linha tênue.

O homem avaliou seu rosto a procura de mentira. Quando se deu por satisfeito, voltou-se novamente para as cordas.

— Eu queria ter visto o rei – continuou enquanto amarrava as pontas em um nó intricado que Jon procurou imitar, falhando miseravelmente. – Esperava ter visto ele em Atalaia Leste alguns meses atrás, mas só vi o dragão com um ponto preto em suas costas. Ele desceu no castelo e alçou voo logo despois.

— Devia está apressado.

Depois que se tornara Rei no Norte, e até antes disso, Jon sempre se espantava com as aglomerações de pessoas que se amontoavam em todo lugar que ia. Simplesmente para vê-lo.

Perguntava-se, em muitas ocasiões, se as expectativas deles eram alcançadas. Ou se eram desapontados.

— É – concordou o outro - O rei parece tá sempre com pressa. Deve dá muito trabalho fazer tudo que ele faz.

— Tudo que ele faz? – perguntou curioso para saber a opinião de alguém que falava livremente. Percebeu que não podia confiar em metade do que ouvia. Muitos mediam as palavras quando se dirigiam a ele. Quem ousava ofender o rei?

— Você tá mais perto e não sabe?

— Eu sei que ele faz o que reis fazem – ou ao menos era isso o que esperava. Não tinha ideia se a metade das atitudes que tomava eram o que se espera de um monarca. Na maioria das vezes, sentia-se um pouco desconfortável quando punha a coroa e exigia que as pessoas ao seu redor cumprissem suas ordens.

Se ele queria que uma estrada fosse aberta, não iria ele mesmo fazer o trabalho. Como rei, ele mandava alguém que mandava alguém. Seguindo uma cadeia de comando frágil e difícil de administrar.

Graças aos deuses pelo norte ser como é. Se Jon fosse rei de uma corte sulista, já teria jogado a coroa na mão do primeiro desavisado que quisesse e voltado para as montanhas com ou sem Outros.

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Mas o seu reino era de pessoas que valorizavam uma aproximação mais direta, de maneira que não se assustavam muito se Jon fosse avaliar os estoques de comida ao invés de apenas ouvir o relatório de um conselheiro que ouviu de um terceiro.

— Ele faz o que reis deviam fazer – aquiesceu o homem - Mas a maioria não faz. Já estive em todos os portos dos Sete Reinos. Durante o reinado de vários reis. Um louco, um bêbado e um garoto que prometia ser o pior de todos. E durante a minha vida toda, eu nunca me senti como quando Jon Snow foi coroado Rei no Norte.

— Como se sentiu?

— Seguro.

Jon apertou as últimas cordas com força.

— Eu não acho que o rei possa garantir sua segurança. – achou melhor ressaltar - Mesmo com dragões é impossível salvar todo mundo, o tempo todo, em todos os lugares. Embora eu possa lhe garantir que ele gostaria de poder.

— Tá aí a diferença. Esse é primeiro rei que quer ver a gente bem. Que compra comida para o inverno. Ele pode não salvar todo mundo. Mas saber que ele gostaria de poder salvar, já é suficiente pra mim. O inverno que tá vindo será o pior de todos, posso sentir em meus ossos. Um rei que se importa fará toda a diferença quando chegarem as tempestades.

E ele ainda não sabia do que viria junto com as tempestades. Jon sentiu incrivelmente cansado sob o peso de seu fardo.

Deuses não permitam que eu desaponte essa gente. Mostrem-me o caminho.

A distância entre o porto e a grande pirâmide não era muito longa, mas Jon passou três dias sem ao menos conseguir deixar o navio.

Os Imaculados que faziam a segurança da cidade impunham restrições de acesso a quase todas as partes da cidade.

Com a rainha dragão desaparecida, o comando havia sido transferido para seus conselheiros que não vinham fazendo um bom trabalho. Para dizer o mínimo.

Focos de conflito aconteciam em vários lugares, várias vezes por dia. E pelo que entendeu pelas conversas que ouviu, os senhores de escravos vinham ganhando mais terreno, aproveitando-se das incertezas do povo.

Um povo sem um líder se debatendo como um corpo decapitado. As lições de politica de Meistre Luwin sempre certeiras.

Um salvador como Daenerys Targaryen não significaria nada para aquela gente se não oferecesse certa infraestrutura.

Liberdade não alimenta ninguém. Não serve de abrigo.

Como se explica aos filhos pequenos que não tem pão porque agora são livres?

“ Tão se entregando de boa vontade aos bons mestres de Astapor. A Baía dos Escravos vende escravos de novo.”

A liberdade tinha um preço. Muito alto para alguns.

Jon ouvia os marinheiros comentarem tudo que se passava nas cidades governadas pela rainha desaparecida. E não podia acreditar como grandes feitos podiam ser desfeitos com tanta facilidade.

Precisava chegar até as pirâmides. Se avaliasse a situação mais de perto talvez pudesse pensar em algo para ajudar.

Quando finalmente tiveram permissão para desembarcar, foram restringidos ao cais. Aonde descarregariam e voltariam para Westeros.

Em uma tarde, enquanto comia mariscos em uma taverna nas docas tentando pensar em uma maneira de passar pelo boqueio sem que tivesse que se valer de sua posição real, foi surpreendido por um rosto conhecido.

Davos Seaworth.

A Antiga Mão de Stannis Baratheon apareceu displicentemente à porta da taverna. Teria suspeitado de algum estratagema se o cavaleiro não tivesse parado com a mão no batente, atarantado, quando reconheceu Jon.

— Venha tomar uma cerveja preta, meu amigo – chamou antes que o homem estragasse seu disfarce – Sente-se, os mariscos são por minha conta.

— Vossa... – começou Davos, mas foi silenciado por um olhar de Jon.

— Não esperava vê-lo aqui, Sor Davos. Pensei que ficaria nas Terras da Tempestade.

— Não sou mais Mão do Rei.

Porque o rei em questão havia morrido ficou implícito.

— Não posso dizer que sinto muito pela morte de Stannis - admitiu enquanto empurrava a travessa de frutos do mar em sua direção - Não o conhecia. Mas devo dizer que preferia que ele sentasse no Trono de Ferro.

— Contudo está aqui nos domínios da Rainha Dragão.

— Não oficialmente. – agora que firmara um acordo com os Lannisters, tinha que calcular os passos cuidadosamente. Por certo, viajar para ajudar uma pretendente ao Trono de Ferro não pareceria bem à ninguém.

Principalmente já que Daenerys acolheu Tyrion Lannister. Um patricida.

Se um dia tivesse a oportunidade, conversaria com ela sobre as pessoas que mantém pertode si. Um Assassino de Parentes nunca era confiável. Mesmo que fosse justificado, assassinar o próprio pai mostra que a pessoa é capaz de tudo. Nunca se está seguro perto de alguém assim.

— Lorde Stark descreve Stannis como um homem justo - continuou

“Inflexível demais para um mundo em que os que sobrevivem são aqueles que se curvam a favor do vento – acrescentou o pai.”

Mas ainda era mil vezes melhor do que o Rei Menino manipulado pelos Lannisters.

— Ele foi envenenado na segurança de seu castelo – contou Davos - Diante de mim. Por uma pessoa que julgava de confiança. Uma forma covarde de matar, se quer minha opinião.

Havia certa acusação no tom do homem,

— Geralmente os envenenados são assassinados em lugares que jugam seguros por pessoas que acham confiáveis. – Jon achou melhor lembrar – Porque se fosse para fazer uma tentativa aberta de assassinato, melhor usar uma espada.

Davos decidiu deixar suas acusações para outra ocasião.

— Por que está em Meereen? – perguntou finalmente aceitando os mariscos.

— Porque fui tolo o suficiente para prometer o que não devia. E você?

— Uma situação como essa oferece muitas oportunidades.

— Para um cavaleiro?

— Para um contrabandista. Como acha que consegui me tornar um cavaleiro.

À Jon não importava em nada as circunstâncias que levaram o homem a perder os dedos ou ser condecorado. Talvez alguém que sabia como obter vantagem naquele caos fosse o que precisava.

— Conhece a cidade?

— Conhecia bem mais antes de Daenerys Targaryen. As ruas continuam as mesmas, o resto mudou.

— Não há mais escravos.

— Só um bando de gente liberto que não sabe o que fazer com suas vidas.

Isso era uma coisa que havia percebido nesses dias que ficara restrito ao porto. Havia muita gente que costumava usar uma corrente vagando a esmo. Essa gente precisava de ocupação que lhe garantisse comida e abrigo. E precisava imediatamente.

— E o que ganha nessa situação?

— Mão de obra. Estou tentando formar uma frota.

— Quantos navios tem?

— Um.

Jon riu sobre sua caneca de cerveja.

— Devo concluir que já conseguiu os homens que precisava.

— Mais do que isso. Tive que expulsar dezenas de pessoas depois que selecionei os que achei melhores. Não posso oferecer muito, mas um prato de comida é o suficiente pra essa gente.

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Fome e desespero e uma rainha desaparecida. A receita para um desastre.

— Preciso entrar na Grande Pirâmide e falar com as pessoas em comando sem que o mundo repare que o Rei no Norte está em Meereen.

Não podia arrastar o seu reino para outro conflito e não passaria pela cabeça de ninguém que estava ali para cumprir uma promessa que fizera ao tio-avô em seu leito de morte: Ajudar uma tia que nunca viu na vida.

Pareceria para todos que o Rei no Norte procurava uma aliança com a Rainha Dragão para assim conquistarem o mundo todo.

E que possibilidade terrível seria essa.

— Boa sorte com isso. Os conselheiros estão se cagando e fazendo malabarismo com a merda na tentativa de não por tudo a perder.

— Poderia me ajudar? Deve conhecer um meio.

— Por que acha isso?

—É um contrabandista. Contrabandeie-me para dentro da pirâmide.

Sor Davos hesitou por um instante.

— Dois navios – ofereceu Jon.

— O que disse?

— Se conseguir me pôr dentro da pirâmide, acrescentarei duas embarcações cargueiras a sua frota de um navio só.

Não demorou para que a Mão Curta achasse vantagem nessa oferta e concordasse.

Jon esperou que o contrabandista aparecesse logo com uma solução, mas Sor Davos demorou mais três dias antes que viesse encontrá-lo no porto.

Junto dele caminhava um Imaculado.

— Esse é Mosca. Ele nos levará até a Pirâmide.

— Assim tão facilmente? – lhe custava acreditar em tal coisa. Principalmente depois de passar tanto tempo tentando e mal conseguir deixar o cais.

— Iremos como prisioneiros. Seremos levados às celas embaixo da pirâmide. Então Mosca levará uma mensagem sua até as pessoas com as quais deseja falar.

É preciso reconhecer um plano estúpido quando se ouve um.

Seu sucesso dependia totalmente de Mosca, um desconhecido. Que podia muito bem está tramando um estratagema próprio.

Se tudo desse errado se veriam presos nas masmorras inimigas, sem ninguém que soubesse de seu paradeiro.

— O que prometeu a ele?

— Mosca é de Meereen. Foi levado com seis anos, porém reencontrou a família recentemente. Todos escravos. Garanti a entrada de dois irmãos dele na tripulação dos meus novos navios.

Jon encarou Mosca e suspirou resignado. Ele tinha algumas garantias. Deixaria Runy e Aric de sobreaviso e posicionara seus dragões o mais perto possível.

Se fosse preciso abriria a prisão com fogo.

— Que seja então.

Pouco depois, com as mãos acorrentadas, seguiram para a Grande Pirâmide.

Mosca falou rapidamente com o guarda da prisão e logo foram jogados em uma cela.

— Diga a Lorde Varys que estou aqui. Diga que vim porque devo isso a família de minha mãe e que ele deve a ela também.

E então esperaram. Não houve respostas por dias e a estada nas masmorras estavam lhe afetando de maneira estranha.

Sonhava que estava faminto mas havia comida diante de si. Sonhava que estava preso mas correntes podiam ser facilmente quebradas se desejasse.

Não compreendeu de imediato o que seus sonhos significavam até que sentiu-se arder de maneira já conhecida.

Mandou outro recado, bem diferente do primeiro.

Naquele mesmo dia ou noite, não sabia dizer ao certo o Mestre dos Sussurros chegou, iluminando seu rosto com uma tocha.

Junto com ele, vinha Tyrion Lannister.

....................

“ Os dragões têm fome mas não comerão acorrentados. O dragão não é um escravo”

Quando Varys mandou um guarda lhe chamar por causa de uma emergência qualquer, Tyrion ainda estava acordado. Um copo cheio e uma garrafa vazia eram sua única companhia.

Estava acordado porque Daenerys ainda continuava desaparecida. Porque a cidade estava em colapso. Porque os dragões se recusavam a comer.

E principalmente, estava acordado porque falhava em encontrar uma solução para cada um desses problemas.

A emergência de Varys rapidamente alcançou um alto patamar na sua lista de problemas.

Jon Snow, Rei no Norte, estava lá embaixo, preso e desejava lhe falar.

Achou melhor não permitir que Varys tirasse o rei da prisão de imediato como queria a Aranha. Primeiro, ele descobriria a verdade por trás da proximidade dos dois.

“- O quanto conhece Jon Snow? – perguntou e o eunuco se remexeu desconfortável sob seu olhar.

— Pessoalmente, apenas nos encontramos uma vez.

— O que foi o suficiente para que ele acreditasse que pode contar com você.

— Acho que sua graça confia que não tenho interesse em sua morte.

Para Tyrion parecia que Varys chamava as pessoas de Sua graça com muita facilidade. Mas quem era ele para acusar alguém.

Até recentemente chamara um sobrinho de rei. Um menino que substituíra seu outro sobrinho. O qual fora acusado de matar.

Agora estava ali, chamando Daenerys de Sua graça em uma posição de conselheiro que só ganhara pelo simples fato de ter matado mais membros de sua própria família do que qualquer outro ser vivo.

Tyrion, o assassino de Lannisters.

Matara a mãe e o pai. Teria matado Joffrey, provavelmente. Teria matado Cersei, com certeza.

Talvez a alcunha lhe seja apropriada.

— O que ele faz aqui?

— Seu palpite é tão bom quanto o meu.

— Seus passarinhos não informaram sobre a chegada do Rei no Norte na cidade. É de se compreender que seus informantes deixem passar alguma coisa mas não algo assim.

— É difícil seguir um alvo voador. O rei viaja num ritmo impossível de acompanhar. As mensagens sempre chegam atrasadas.

Embora o mais provável seja que a Aranha não achou que fosse conveniente lhe informar da chegada de Jon Snow.

— Acha que ele procura uma aliança?

— Não. No momento só podemos oferecer problemas. Nada que seja atrativo para alguém.

— Um inimigo, então? – Se Jon Snow considerava Daenerys uma ameaça, não podia haver um momento melhor para arrasar tudo que ela construiu como aquele em que se encontravam.

— Se é assim, escolheu uma forma bem estupida de nos aniquilar.

Por certo. Colocar-se na mão do adversário não era a maneira mais sensata de guerrear. Contudo, não podia subestimar o rapaz que conseguiu subjugar o seu estimado falecido pai.

Jon Snow conhecia esse jogo. Sabia como jogar.

— Quais as garantias dele?

Varys tinha que saber.

— Os dragões foram vistos nos Degraus.

— Os três?

— Sim.

E mesmo que fosse apenas um. Com Daenerys e Drogon desaparecidos, Jon Snow não precisaria de muito para destruir a cidade.

E fora provado que o Rei no Norte não se importava em criar o caus.

— O que ele faz aqui? – perguntou novamente de uma maneira que deixava bem claro que não aceitaria uma resposta diplomática.

— Suponho que esteja aqui pela tia.

— Que tia?

Varys deitou sobre ele um olhar significativo de quem tentava transmitir algo que não ousava proferir em voz alta. Como se quisesse que ele entendesse um enigma do qual as pistas eram insuficientes.

Uma tia. Uma pela qual o Rei no Norte se arriscou a ser preso em Meereen.

Lorde Stark não tinha irmãs vivas.

— Lyanna Stark está morta – afirmou buscando uma confirmação.

— Sim.

O eunuco se aprumou na cadeira com uma expressão que dizia que Tyrion devia continuar nessa linha de raciocínio.

Uma tia em Meereen. Uma tia ...

— Mas Daenerys...

Quase disse que Daenerys era um ano mais jovem que Jon Snow. O que não significava nada, considerando que a rainha era 24 anos mais nova que sei irmão Rhaegar, 23 anos mais nova que Princesa Shaena...

A princesa desaparecida...

— Pelos deuses... – a Aranha se recostou novamente na cadeira diante da surpresa de Tyrion – Como isso pode ter acontecido?

— Pelo que entendi, tudo começou com um romance.

— Conte o que sabe – exigiu mesmo sabendo que Varys podia muito bem editar o que sabia e dizer-lhe apenas meias verdades.

— Certa vez, em um reino assolado pela guerra, uma princesa em fuga encontrou por acaso um jovem lorde que guerreava em busca da irmã raptada. O raptor sendo o próprio irmão da princesa. Em meio à desesperança que assolava a todos, os dois encontraram o amor. Casaram em frente a uma árvore e geraram um filho. Esses foram os dias felizes.

— Seus talentos de Bardo deixam muito a desejar, Varys. Sua história nem rima.

O eunuco riu e continuou.

— Porém, logo vieram os dias difíceis e dias ainda piores. Até que, os amantes tiveram que se separar se agarrando apenas a promessa de que um dia se reencontrariam. Mal sabendo que nunca se veriam novamente. A princesa foi morta pelo novo rei que clamava por vingança contra sua família. Tudo que restou ao jovem lorde foi um bebê. Um príncipe que recebeu o nome mais comum de todos.

Varys nunca sobreviveria como menestrel. Contudo sua história fez com que Tyrion desejasse que houvesse mais vinho. Um barril talvez fosse suficiente.

— Como Ned Stark conseguiu esconder um segredo desses?

— Eu calei algumas bocas, é claro. Suponho que alguns subordinados de Lorde Stark que estavam com ele na ocasião saibam da verdade. Mas a lealdade calou a boca destes também.

— Um príncipe de sangue Targaryen escondido no Norte esse tempo todo – então lembrou-se de algo – Meu pai sabia.

— Como disse?

— Meu pai sabia ou suspeitava. Uma vez ele ordenou que eu descobrisse quem era a mãe de Jon Snow. Tudo que consegui encontrar foi uma mulher dornesa chamada Wylla.

— A ama de leite. Não me surpreende que Lorde Tywin tenha enxergado o Sangue do Dragão em meio a feições tão nortenhas. Quando se passa tempo suficiente na corte Targaryen, começamos a reconhecer os padrões. A grandeza e a loucura.

— Ele é louco?

— Não. Muito pior. É honrado.

Um rei honrado. Uma novidade para Tyrion.

— Por que não contou a Daenerys sobre o sobrinho.

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— Não a conheço o suficiente para confiar a informação.

— Eu a conheço o suficiente para saber que ficará furiosa quando souber que escondeu o único parente que a resta.

— Temo que ela não aceite a ideia de um sobrinho tão facilmente. Um príncipe sempre vem antes de uma princesa.

— Ela é uma rainha.

— Autoproclamada.

— Por mérito.

— Assim como Jon Snow é rei.

— Uma dança dos dragões – anunciou os desfecho terrível que aquela situação toda teria.

— É o que precisamos evitar – A Aranha agora parecia temeroso.

— Como acha que poderemos fazer isso? Não se pode controlar o fogo.

— Podemos com gelo. Jon é nossa melhor chance. Ele é o que Daenerys precisa.

— Para quê?

— Para não se tornar igual ao pai.

Ainda remoía o que acabara de descobrir quando Missandei e Verme Cinzento vieram ao seu encontro com a nova mensagem do Rei aprisionado. ”

A chance de ajudar os dragões de alguma forma o fez tomar a decisão.

Tyrion desceu os degraus que levavam ao subsolo sem saber ainda o que faria com o Rei no Norte, mas decidiu que não começaria com as animosidades logo de inicio.

Estava agradecido pela presença de Missandei e Verme Cinzento. Embora, Jon Snow estivesse preso, Tyrion sentiu-se inexplicavelmente vulnerável.

— Abram a cela –ordenou ao guarda com uma coragem que não sentia.

Os archotes iluminaram o rosto de um rapaz que calculava a todos e parecia irritado.

Tyrion curvou-se minimamente.

— Vossa majestade, é uma honra...

— Tem que soltar os dragões – cortou o rei – Eles não gostam das correntes.

— Como ...

— Leve-me até eles.

— Vossa Graça... –tentou intervir Varys.

— Agora – a frieza com que as palavras foram proferidas fez com que a Aranha se calasse.

— Bem sabe que não podemos simplesmente levá-los até os... – Tyrion tentou argumentar.

— Eles não vão comer enquanto estiverem presos – o rei repetiu sua mensagem.

Tyrion trocou um olhar com Varys, mas foi Missandei que reagiu:

— Consegue fazer com que comam?

— Sim – a resposta parecia prepotente por vários ângulos. Porém, duvidar era algo que raramente era sensato quando se referia a senhores de dragão.

Missandei lhe lançou um olhar firme. Era uma chance que não podiam dispediçar.

Com um aceno de Tyrion, Verme Cinzento abriu a cela.

O Rei no Norte deixou a cela em dois passos rápidos. Passou por eles como se não representassem ameaça alguma e começou a seguir pelos corredores das masmorras sem hesitação.

A todos eles não restou nada a mais a fazer se não segui-lo. O mesmo foi imitado pelo companheiro de cela de Jon Snow, ainda desconhecido.

Em instantes estavam diante da porta da câmara que guardava Rhaegal e Viserion.

— Abra – ordenou o rei.

Dessa vez, Verme Cinzento não esperou que Tyrion aquiescesse. A porta foi aberta rapidamente.

Jon Snow desceu até o fundo da câmara, onde não se podia ver nada.

Logo porém, os dragões reagiram. Os correntes tilintaram, enquanto eles se preparavam para recepcionar o intruso.

O rei falou e Tyrion não intendeu coisa alguma.

Havia estado tempo suficiente naquele lugar para reconhecer Alto Valiriano, mas não o suficiente para compreender.

Virou-se para Missandei, pedindo silenciosamente que ela interpretasse.

— Não há nada a temer –traduziu ela – Estou aqui para ajudar.

O rapaz então começou a sussurrar o que percebeu ser uma canção. E cada vez se aproximava mais das bestas. Até que enfim tocou as coleiras de metal.

— Eu pensei que ela fosse a Quebradora De Correntes. Como pode acorrentar os dragões? – Jon Snow pareceu decepcionado enquanto afrouxava o pino que mantinha os dragões presos.

— Não tem permissão para soltar os dragões – Tyrion alertou enquanto se adiantava para impedir.

Rhaegal soltou labaredas que o jogaram no chão. O dragão, agora livre, se pôs entre os dois. Uma barreira protegendo o rei.

Jon Snow simplesmente avançou para libertar Viserion.

Então avançou para a entrada os dragões em seu encalço.

— Onde vai? – questionou Verme Cinzento segurando a lança em posição de ataque.

— Vou alimentá-los. É melhor abaixar sua arma. Os dragões não estão de bom humor e eles têm fome – o rei seguiu caminho ignorando a todos.

O caminho pelas masmorras logo chegou ao fim, a última barreira foi aberta e os dragões abriram as asas para sentir o ar livre.

O rapaz sussurrou algo mais para Rhaegal e montou.

Assim simplesmente.

— Volto logo – garantiu ele enquanto subia ao céu.

Quando os dragões sumiram de vista, Tyrion voltou-se para os outros que ainda olhavam para cima.

— O que diremos a Daenerys se ele não trouxer os dragões de volta?

Não obteve resposta.

...............

Tentar controlar um dragão que não era sua pele era uma tarefa difícil.

Rhaegal resistia a todos os comandos. Jon se perguntava por que o dragão deixou-se montar visto que não aceitava ser guiado.

Até que percebeu que se queria que fosse por um lado era só tentar guia-lo para o outro. Viserion, felizmente, seguia sem resistir.

Jon não tinha um destino certo em mente, apenas seguia para o mais longe possível dos Degraus. Não sabia o que aconteceria se as duas proles de dragão se encontrassem e esse não era o momento certo para descobrir.

Sentiu-se tentado a alcançar a mente de sua montaria. No entanto, conteve-se por respeito a rainha. Esses dragões não eram seus para controlar.

Apenas os alimentaria. Como garantiu.

Por incrível que pareça, o que encontrou foram elefantes. Uma grande manada. Bem cuidada demais para ser selvagem.

Sabia que existiam companhias de mercenários que usavam elefantes em batalha e tinha quase certeza que se deparara com uma.

Todavia os elefantes estavam desprotegidos e Jon não tinha como conter os famintos dragões.

Cinco elefantes se foram rapidamente.

Embora, Rhaegal e Viserion não quisessem voltar a Meereen, não resistiram tanto. Seu humor melhorou bastante depois de estarem de barriga cheia.

Era meio dia quando Jon desceu no topo da pirâmide.

Lorde Varys, Tyrion Lannister e os outros dois desconhecidos lhe esperavam na sacada, assim como Sor Davos.

— Vossa majestade aceita uma taça de vinho – ofereceu o Lannister, entrando no que julgava ser a sala do conselho.

Jon pensou em recusar. Não tinha vontade alguma de passar pelo mesmo que Stannis. Mas estava sedento depois do voo e não sentia animosidade partindo daquelas pessoas. Ao menos não para mata-lo.

Não ainda.

— Onde estão os dragões? – inquiriu o Imaculado, sem tempo para cordialidades.

— Suponho que a procura de um lugar para fazer a digestão.

— A rainha não gostará de...

— A rainha não devia ter prendido os dragões para começo de conversa. – ressaltou sentando-se em um dos bancos de mármore. Muito desconfortáveis.

As outras pessoas na sala o imitaram.

— Os dragões começaram a atacar as pessoas – justificou a garota – Ossos de crianças foram jogados aos pés da rainha. Ela não teve outra escolha.

— Eles são jovens. Não vai ser com correntes que conseguirão controla-los. Eles precisam de treinamento. Pensarei em algo. Nesse meio tempo temos trabalho a fazer.

— Trabalho? – inquiriu ela.

— Vim aqui para ajudar.

— Não entendo porque nos ajudaria.

— Para cumprir uma promessa. É uma longa historia.

— E eu não sei como o Rei no Norte poderia solucionar os problemas políticos causados pelo desaparecimento de nossa rainha – duvidou o Lannister.

— Graças a sua ambição os grandes mestres das Cidades Livres me deram o controle de seu mercado. Meus produtos movimentam a região.

— Isso significa...

— Que posso enriquecer ou arruinar alguém. Disseram-me Lannister, que é bom nesse jogo. Diga, quem devo enriquecer e quem devo arruinar para que mantenha o controle de suas cidades até que Daenerys retorne?

Tyrion lhe deu alguns nomes. Jon escreveu algumas cartas. Já eram fim da tarde quando achou que finalmente tinham avançado.

Então, Rhaegal pousou na sacada e rugiu.

Jon pensou em ignorar as exigências dele, mas o olhar pasmo dos presentes lhe diziam que não conseguiriam resolver nada enquanto o dragão estivesse ali.

— Vou leva-lo para um passeio. Não voltarei hoje. Amanhã quando retornar, quero que um lugar esteja preparado para eles. Um lugar aberto. E então discutiremos o que fazer com os escravos libertos.

Rhaegal tinha um destino em mente.

Voou por uma grande distância pelo litoral até que alcançou um grande porto.

Ali uma armada era preparada.

Parecia que os Grandes mestres tentariam uma maneira mais direta de retomar suas cidades.