Sangue do meu sangue.

A frase tinha significado diferente para os Dothraki. Dany as usava para se dirigir aos seus Ko. Agora, enquanto esperava Jon Snow entrar, sentia como se realmente pudesse proferir as palavras verdadeiramente. Em seu sentido literal.

Ele era de seu sangue.

O último que restava.

Daenerys não esperou pelo Rei no Norte na orla. Achou que o trono de pedra poderia lhe dar a firmeza que precisaria para aquele encontro.

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Sabia que Jon Snow buscava por alguma coisa. Viera atrás algo dela.

Uma aliança?

Talvez ele quisesse ser rei de mais do que o Norte. Possivelmente ele achava que ela compartilharia seu trono.

Seus pensamentos eram inundados por especulações.

As suas mãos se fecharam em punhos em seu colo.

Missandei entrou primeiro com Tyrion logo atrás.

E então, o Rei no Norte acompanhado do homem que, segundo lhe informaram, foi Mão de Stannis Baratheon.

Contudo, Dany não deu muita importância para fato do conselheiro do irmão do Usurpador está ali debaixo de seu teto. Tão focada como estava no rei ao seu lado.

Um rapaz. Que não devia ser muito mais velho do que ela. Sabia que era jovem, mas as coisas que ouvia sobre ele, a fez imaginá-lo diferente.

—Você está diante de Daenerys Nascida na Tormenta da Casa Targaryen … - começou Missandei como tantas vezes antes.

Mas a voz dela foi se perdendo diante do pulsar em suas veias que se fez ressoar em seus ouvidos.

SANGUE DO MEU SANGUE. Uma voz gritava dentro dela.

Com uma emoção que só poderia ser entendida por alguém que conhecia a solidão de ser o último. De não ter mais ninguém.

Jon Snow, o rapaz, a encarava sem reserva alguma. Sua capa de pele adornada de ouro o tornava maior. Seu olhos cinzas, por sua vez, o tornavam mais velho. Pareciam ter visto demais.

O conjunto o deixava intimidante.

—… Quebradora de correntes …

Sua expressão parecia querer transmitir algo. Uma mensagem só para ela.

—….Khaleesi do Grande Mar de Grama…

O rei trocou um divertido olhar com Sor Davos. Teve a impressão que riam-se a suas custas.

— … e mãe de dragões – terminou Missandei por fim.

— Bem- vindo a Pedra do Dragão, meu lorde – começou Dany, com o intuito de que a forma de tratamento arrancasse o sorriso do rosto dos visitantes – Espero que a viagem tenha sido favorável.

O Cavaleiro das Cebolas reagiu de imediato:

— Com todo respeito, vossa graça – começou ele – Mas Jon Snow não é nenhum lorde. Ele é o Rei no Norte.

Daenerys fingiu certa confusão.

— Não sou uma especialista em história westerose, mas pelo que sei o último Rei no Norte foi Torrhen Stark que jurou fidelidade a Casa Targaryen. Se não estou enganada um Juramento de Fidelidade é perpétuo. E perpétuo quer dizer para sempre. Então, só posso supor, meu lorde – desafiou segurando o olhar do rei novamente – Que veio aqui renovar o voto de seu ancestral.

Ele não tinha mais o ar de riso. Parecia um pouco desapontado, no entanto.

— As suposições são sempre falhas e sujeitas aos caprichos de nossa própria vontade – Jon Snow falou pela primeira vez – Aconselho que pare de fazê-las. As coisas nunca tendem a acontecer como supomos. Uma lição que deve ter aprendido enquanto realizava os seus muitos feitos.

O tom dele era calmo e comedido e Daenerys se obrigou a permanecer assim também.

— Veio de muito longe apenas para quebrar juramento com a casa Targaryen.

Jon Snow riu:

— Estava certa em dizer que não conhece bem a história westerose – ele encarou Tyrion – Não achou que devia explicar a sua rainha o outro lado de Juramento de Fidelidade? Agora que chegou em uma terra desconhecida exigindo votos e joelhos dobrados.

Sua Mão não teve tempo de responder:

— Deixe que eu lhe explique, vossa graça – as palavras ecoavam pelo salão, cortantes como navalhas – Um Juramento de Fidelidade é feito em duas partes. O vassalo jura fidelidade e obediência. O Senhoril, por sua vez, jura estender segurança, apoio e justiça. Essa parte parece que os senhores, reis e rainhas tendem a esquecer.

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Jon Snow deu dois passos em sua direção.

— Diga, a Casa Targaryen cumpriu sua parte no acordo quando Rhaegar sequestrou Lyanna? Ou quando seu pai cozinhou meu avô na própria armadura enquanto seu primogênito estrangulava-se tentando salvá-lo?

Mais três passos e ele estava a meia distância dela.

— Guarde seu discurso sobre juramentos e os direitos que acha que tem para quem se impressiona com esse tipo coisa. Por certo, eu não me impressiono e tampouco o Norte, o qual represento.

— Meu pai era um monstro e peço perdão pelo mal que ele fez a sua família. - Daenerys sabia que as acusações sobre as barbaridades de Aerys Targaryen estavam apenas começando.

A expressão dele abrandou um pouco.

— Tive um avô que matou o outro. Não peça desculpas pelos feitos de seus ancestrais. São os meus também. Não estamos condenados pelos feitos passados nem acorrentados a juramentos antigos.

Havia sinceridade naquelas palavras e verdade nos olhos do rei.

— Vamos escrever nosso próprio caminho, está bem? - seu tom agora era gentil.

Sentiu que Jon Snow tentava uma conexão. Ele oferecia uma chance. De quê, ela não sabia ao certo.

Contudo, não fecharia essa porta ainda.

— Saiam – Daenerys ordenou, torcendo para está fazendo a coisa certa.

Missandei foi a primeira a expressar sua incerteza.

— Minha rainha?

— Falarei com… - parou a procura de uma forma de tratamento segura – nosso visitante a sós.

— Vossa majestade – interviu sua Mão – talvez fosse mais prudente…

— Saiam todos – ordenou novamente, se levantando – Agora.

Tyrion baixou a cabeça em conformidade. Missandei lhe lançou um olhar preocupado enquanto se retirava.

O Rei no Norte permaneceu em silêncio a avaliando depois de liberar a sua escolta também.

— Um novo caminho, você diz - começou Dany por fim. Mas Jon Snow avançou e suas palavras se perderam.

Quando estava a menos de dois passos parou.

— É bom conhecê-la – falou ele por fim – Meistre Aemon ficaria feliz.

Daenerys tentava de todas as maneiras manter a mente focada no que aquele encontro representava para os seus interesses políticos, mas apenas um pensamento se repetia:

— Sangue do meu sangue – acabou sussurrando baixinho.

— O que disse? - Agora era Jon Snow que parecia confuso.

Daenerys aprumou-se e tentou passar uma confiança que não sentia.

— É bom finalmente conhecê-lo também, sobrinho. Cheguei a pensar que não responderia ao meu chamado.

— As circunstâncias me obrigaram.

Tais palavras, ditas de maneira tão displicente, não carregavam o peso que deveriam em outras circunstâncias.

— Veio obrigado – riu-se Dany.

— Sim, pela necessidade.

— A julgar pela forma que evitou se associar a mim em Meereen, creio que essa seja uma necessidade bem forte.

Sabia muito bem porque ele veio. O exército da coroa em suas terras e os navios que foram atacados pelos Kraken davam pistas de que Cersei Lannister não cumpria sua parte do acordo.

Agora Jon Snow buscava uma nova aliada.

Os termos que ele ditaria para essa aliança ainda eram incertos.

Dany estava disposta a ceder muito ao Rei no Norte. Só uma louca não veria o que ele pode oferecer estando ao seu lado.

— Tem algo que desejo – Jon Snow parecia relutante pela primeira vez desde que adentrou no salão. - Algo que preciso.

— Sei o que deseja. E estou disposta...- começou antes de ser interrompida.

— O que acha que quero?

Não gostou do sorriso condescendentes que ele exibia. Já tinha visto tal expressão em vários homens, várias vezes. E sentia prazer em fazer com que desaparecessem.

— É rei de metade do meu reino – avançou alguns passos – O que o atrairia até mim, se não a premissa de ser rei da outra metade?

— E diga, tia – as palavras soaram brincalhonas – Se fosse o caso, o que estaria disposta a compartilhar?

— O Trono de Ferro pertence a mim.

— O Trono de Ferro pertence a Cersei Lannister que senta nele. Tudo que tem é uma pretensão.

O rei estava se divertindo.

— Eu serei a rainha dos Sete Reinos. Tomarei o que é meu com fogo e sangue. Eu quebrarei a Roda, Jon Snow – garantiu com a certeza de quem já foi subestimada várias vezes por homens poderosos e os provou enganados.

— Sempre boa em destruir, em conquistar. - suspirou ele – Nunca limpa as cinzas. Nunca enxuga o sangue. É uma conquistadora,não uma governante. Não duraria um ano no Trono de Ferro.

Dany recuou um passo. Ouvira tais palavras de Daario muito recentemente.

— Não sabe do que sou capaz. Não sabe o que passei para chegar até aqui.

— Eu sei de seus feitos. Uma lista longa que gosta que todos nós conheçamos. Quebradora de correntes. Mãe de dragões. Não queimada. - ele recitava – Nenhum desses significa qualquer coisa para Westeros.

— Devo supor que acha que faria um governante melhor. É isso que veio aqui dizer? Que é o rei certo para os Sete Reinos?

— Pouco me importo com o trono.

— Mas não veio se ajoelhar?

— Ambos sabemos que não.

— Então, qual o motivo de sua vinda, Jon Snow?

— Vim barganhar.

— O que pretende me oferecer?

— O Trono de Ferro, é claro.

— Em troca…

— De vidro de dragão – ele respondeu como se isso devesse significar algo para ela.

— O que disse? - Dany pensou em todas as possibilidades. Em tudo que Jon Snow poderia desejar. Governar ao seu lado como seu rei era a maior delas. Mas nunca pensou…

— Obsidiana, também conhecida com Vidro de Dragão é uma rocha vulcânica que, segundo descobri recentemente, está presente em abundância nessa ilha.

— Para quê precisaria de vidro?

Os olhos deles se perderam um pouco enquanto ponderava sobre algo.

— A Grande Noite está chegando – disse por fim - O maior inimigo se ergue além da Muralha. O Rei da Noite comanda um exército de Outros e ameaça cair sobre o Reino a qualquer momento. Preciso de Vidro de Dragão para combatê-lo.

Foi a vez de Daenerys rir. Ele certamente a tomava por tola. A subestimava da maneira mais absurda possível.

— Veio até mim para contar uma história de assustar? - agora sentia-se desapontada e estava decidida a provar que não se deixaria ludibriar – Eu fui vendida, estuprada e enganada. Passei fome e dor. O que me fez chegar até aqui não foi crendice ou fantasia. Foi fé em mim mesma. Em Daenerys Targaryen. Foi a certeza de que nasci para ser a rainha dos Sete Reinos.

— Será rainha de um grande cemitério se os mortos vencerem na Grande Noite. Sem querer menosprezar o seu sofrimento, vossa graça, saiba que o pior ainda está diante de nós – alegou ele – Todo o medo, a angústia que tenha vivido antes será apenas memórias opacas quando o Inverno chegar. E acredite, chegará em breve. Nosso tempo está acabando.

— Não espera que eu acredite…

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— Não espero. - interrompeu resignado - Se estivesse em sua posição, também não acreditaria. Não é razoável. Não vi até aqui tentar fazer que tenha fé no que digo. Não preciso de seu apoio ou confiança. Preciso de sua obsidiana.

Dany voltou a seu acento enquanto ponderava.

— Se aliaria a mim contra Cersei Lannister em troca do seu vidro – resumiu a proposta.

— Interpretou mal as minhas palavras. Ofereci o Trono de Ferro, não uma aliança.

Incompreensão deve ter transparecido em seu rosto.

— Não sou seu aliado. Sou seu parente. Isso significa que lhe devo o respeito que estendo a alguém de meu sangue. Mas não sejamos hipócritas, eu governo mais da metade dos Setes Reinos. Uma coroa entregue a mim contra a vontade, porém eu a aceitei. Continuarei sendo Rei no Norte enquanto os meus súditos me acharem digno. Eu não ajoelho. Como é isso que deseja de mim, não somos aliados.

Daenerys sentiu que conter a raiva seria seu desafio constante enquanto lidasse com Jon Snow.

— Uma barganha é tudo que ofereço – continuou ele – O que você mais deseja em troca do que eu mais desejo.

— Posso conquistar Westeros sem sua ajuda.

— Por certo, pode. É boa em conquistar, creio que já deixamos isso bem claro. Todavia, sua ânsia é forte e descontrolada. Se conhece a si mesma sabe que é verdade. No fim, seria apenas a Rainha das Cinzas.

— Falou com meus conselheiros? - a escolha de palavras dele parecia certeira demais.

— Não, mas sei o que conversaram. Seus conselheiros estão errados em muitas coisa, mas estão certos em temer você.

Abriu a boca para negar e dizer que seus amigos não tinham motivos nenhum para temê-la, mas as palavras se recusaram a sair.

— Não pode fazer tais suposições sobre mim. Não me conhece.

— Ás vezes, sente-se insensível a tudo – os olhos de Jon Snow se perderam em pensamentos – As coisas que deviam doer e emocionar não causam os efeitos que deveriam. Aqueles perto de você são importantes, mas na maioria do tempo gostaria de está sozinha com seus dragões. Deixar as pessoas queridas para trás não dói como esperava que doesse. Seus pensamentos a assustam tanto que teme as decisões que toma, embora que depois de tomá-las não se permite voltar atrás e nunca se arrepende, embora as vezes devesse.

Quando ele voltou a encará-la, transmitindo reconhecimento.

— Não me conhece – repetiu ela – mas conhece a si próprio.

— Você conhece a si mesma?

— Quero acreditar que sim.

— Então entende que posso oferecer um caminho melhor. Eu não ofereço o trono apenas, ofereço o caminho para um reinado.

— Por que veio oferecer uma barganha? Poderia exigir o Vidro de Dragão. Tem poder para isso.

Jon Snow encarou as mão, procurando as palavras. Parecendo um pouco inseguro pela primeira vez desde que chegara.

— É a única que restou. A última da família de minha mãe.

O coração de Dany falhou uma batida.

— Embora as circunstâncias nas quais nos encontramos, com conflitos demais a vista, nos impeça de sermos aliados, não gostaria de ser seu inimigo.

Daenerys concluiu que não estava preparada para tomar qualquer decisão que fosse naquele momento:

— Pensarei em sua proposta. Nesse meio tempo, é meu hospede. Por favor, sinta-se em casa.

— Muito bem. Mas se vou ficar, tenho que escrever ao Norte para contar que não me matou assim que cruzei a soleira da porta e que não me mantém como prisioneiro– ele falou esperando uma confirmação.

— Muito bem mas escreva também que não descartei a ideia ainda.

…………….

Tyrion não sabia decifrar sua rainha naquele momento e isso lhe serviu como um mal presságio. No pouco tempo desde que conheceu Daenerys, nunca falhou em ler as emoções que transmitia, fossem elas boas ou ruins.

Agora, depois da conversa com Jon Snow, a Mãe de Dragões exibia uma expressão impenetrável.

Varys trocou um olhar com ele, ambos compartilhavam a sensação de mal agouro.

A rainha encarava a parte na mesa em que a Muralha estava entalhada fixamente e não demonstrava qualquer intenção de dizer ou esclarecer algo que fosse sobre o que se passara.

Missandei e Varys pareciam decididos a esperar que sua monarca se dignasse a se dirigir a eles. Tyrion não tinha a mesma paciência:

— E então...? - a pergunta não precisava ser mais elaborada do que isso.

— Ele não vai se ajoelhar – Daenerys comentou vagamente, ainda atenta a mesa.

Parecia pouco preocupada com as implicações. O que isso significava para todos ali.

— Se o Rei no Norte não se ajoelhar, uma guerra muito pior do que imaginávamos está diante de nós – alertou – Uma que , sinto em dizer, pode está além de nossa capacidade.

— O poderio militar de Jon Snow pode não ter equivalente mas homens morrem de várias maneiras além do campo de batalha – Varys falou respaldado, talvez, pelas inúmeras mortes que causou sem sequer erguer uma espada.

— Mesmo assim… - começou antes de ser interrompido pela rainha.

— O que sabe sobre o Rei da Noite? - enfim ela ergueu a cabeça para encará-lo.

— Minha rainha?

— O Rei da Noite. Jon Snow comentou algo sobre os Outros e mortos ameaçando o reino.

— Histórias, vossa majestade – respondeu Varys – Contos espalhados para evitar que as crianças entrem na floresta sozinhas.

— Seus passarinhos nada sabem sobre isso, então?

— Me foi informado que Jon Snow está se empenhando para recuperar a Muralha. Os antigos castelos estão sendo reformados e os estoques estão aumentando a cada dia. Parece que o rei no norte está tentando devolver a Muralha seu antigo esplendor.

— Mas você nunca ouviu nada sobre Vagantes Brancos?

— Houve uma carta… - a voz da Aranha se perdeu enquanto pedia sua ajuda com um olhar.

— O Lorde Comandante da Guarda da Noite escreveu aos Sete Reinos contando sobre aparições que seus patrulheiros encontraram além da Muralha. Ele pedia ajuda dos senhores de Westeros para combater um suposto inimigo que se ergueria no inverno. É claro que sua mensagem foi ignorada. Pode perceber que não se trata de algo que se possa acreditar facilmente.

— Você não acredita?

Tyrion ponderou um pouco antes de responder:

— Conheço Jeor Mormont, acho que ele escreveu sobre o que acha ser a verdade.

— Ou tudo não passa de distração. Uma maneira de Jon Snow conseguir manter o Norte. Usando crendice e superstições para abrir seu caminho ao poder.

— Pensei que simpatizasse com o Rei no Norte, Lorde Varys – comentou a rainha – Não foi você quem mais insistiu que eu mandasse aquela carta?

— Meu papel como seu conselheiro, vossa graça, é alertá-la sobre as armadilhas que podem se armar a sua frente. Tento ser imparcial…

— Mas não consegue, não é mesmo – cortou ela- No final das contas você é apenas humano e humanos dificilmente são imparciais. Diga, acha que devo acreditar em Jon Snow?

— Não sem provas, vossa majestade.

A rainha não respondeu. Apenas voltou-se para a mesa novamente. Perdida em pensamentos.

Naquela noite, um banquete foi servido para os convidados.

A grande mesa foi coberta pelo melhor que podiam servir. Nada muito fresco além de peixe. A maioria era comida conservada que trouxeram das Cidades Livres.

Pedra do Dragão estava posicionada em local estratégico entre os dois continentes. Contudo, a ilha em si não tinha muito a oferecer.

Rei e rainha assumiram uma ponta da mesa cada um.

Nenhuma cortesia foi trocada enquanto sentavam-se.

— Por favor, sirvam-se – Daenerys falou para iniciar a refeição.

Nenhum discurso para ressaltar a importância de estarem compartilhando aquele momento. Nenhum brinde e palavras de amizade.

Os monarcas apenas começaram a comer.

Para Tyrion a situação tornou-se insustentável em alguns instantes. Teria que conversar com sua rainha sobre os protocolos da corte muito em breve.

Mas no momento, ele teria que quebrar o silêncio que deixara até Missandei desconfortável.

Resolveu se dirigir a pessoa que oferecia menos riscos.

— Sor Davos – chamou causando certo espanto – Me surpreendo que tenha resolvido se ligar novamente a Westeros. Em Meereen, ficou claro que pretendia seguir um caminho independente.

— O rapaz aqui é difícil de dissuadir. Ainda me pergunto como aceitei voltar a me envolver nessa bagunça.

Tyrion riu por cima de sua taça de Vermelho Dornês.

— Quem o ouve falar, há de pensar que o obriguei a ponta da espada – retrucou o Jon Snow em tom levemente indignado – Reconheça que se apegou a tal bagunça.

— Sabe muito bem que só me interesso por seus navios.

— É claro. - o rei naquele momento parecia apenas o rapaz que era.

Para Tyrion era difícil ligar tudo que ouvira sobre Jon Snow ao jovem que brincava com seu conselheiro. Mas aprendera em Meereen que a sua agudeza para a política só se equiparava a sua aptidão para a guerra.

Não poderia permitisse baixar a guarda diante da juventude do rei. Afinal, percebera em primeira mão como aquele rapaz conseguia manipular situações a seu favor. Uma qualidade que faltava a sua rainha que conseguira tudo até ali com força e vontade. E três dragões, é claro.

— Pensei que desta vez conheceria algum de seus dragões – continuou, decidido a não deixar a conversação morrer naquela mesa.

— Tenho certo receio em trazer minha prole aqui. Ninguém sabe como reagiriam aos dragões de sua majestade. Pode ser perigoso.

Antes que Tyrion pudesse comentar qualquer coisa sobre os rumores que ouvira sobre os dragões de Jon Snow, a rainha interveio:

— Não demonstrou o mesmo receio em Meereen quando montou em meu dragão – Daenerys segurou o olhar do rei com calma e frieza, o que deixava claro seu descontentamento – Sem minha permissão.

Jon Snow, por sua vez, não pareceu abalado pelo tom de acusação de sua anfitriã.

— Não estava lá para dar permissão para coisa alguma. Nem controlar a cidade, muito menos para alimentar os dragões que acorrentou como cães. - o rapaz não percebia a tempestade que se formava nas feições da rainha.

Tyrion sentiu que devia intervir antes que…

— Acha que senti alegria em acorrentar meus filhos? - inquiria Daenerys antes que tivesse a chance – Acha que senti algum prazer? Não conhece meus motivos.

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— O que eu acho é que deixou seus dragões verem as pessoas como comida e agora vive as consequências.

— Seus dragões também já mataram – acusou ela por sua vez.

— Sim. Desde de muito cedo os ensinei que seres humanos podem ser o inimigo mas nunca a comida. Se não entende a diferença, então é compreensível que esteja em tal situação.

Ninguém mais comia.

— Mas graças aos deuses que os dragões também crescem em sabedoria e não temos mais que lidar com esse tipo de problema – Tyrion interveio fazendo um gesto exagerado de levar o garfo até a boca na esperanças que os outros comensais o imitassem.

Então teve-se, possivelmente, o jantar mais silencioso que aquele salão já testemunhou. Porém, Tyrion desistiu de tentar alguma conversa, abraçando o silêncio de bom grado.

Mais tarde naquela noite, teve a oportunidade de remoer os acontecimentos do dia com Varys. O vinho que foi servido parecia insipido diante da tensão que tomara conta do castelo.

— Era esperar demais um pouco de política amigável? - perguntou com um sorriso pesaroso.

— Por muitos motivos, cheguei a conclusão que é melhor assim.

— Não parece algo que falaria alguns meses atrás.

— Não estava assustado o suficiente então.

Tyrion não sabia o que incomodava a Aranha.

— Fico assombrado em pensar no que assustaria você.

— Talvez uma nova Dança não seja tão ruim assim.

— Como pode dizer isso?

— O poder está mais balanceado com os dois em lados opostos. Já parou por instante o que eles representariam juntos. Uma Dança dos Dragões poderia diminuir seu poder e isso poderia ser o melhor para o reino.

— Os dragões deixaram de existir depois daquela guerra.

— E o mundo continuou sem eles.

Varys deixou Tyrion com uma sensação de mau agouro maior do que aquela que sentira mais cedo.

O que a Aranha temia tanto que a alternativa de uma guerra de dragões parecia uma melhor alternativa?

………

Jon descia os degraus de pedra o mais silenciosamente que conseguia. Quando saiu de seu quarto pensou que seria parado pelos guardas em sua porta, mas estes o deixaram passar sem questionamento. Assim como, os homens que guardavam a saída do castelo.

Talvez pensassem que, estando em uma ilha, Jon não oferecia muito risco de fuga. Ou talvez não fosse o prisioneiro que se sentia.

Três dias se passaram desde do banquete e não vira nem ouvira da rainha desde então.

Davos insistia que a espera era uma espécie de protocolo quando se tratava de assuntos políticos e que ele devia ter paciência.

Jon entendia essa premissa em certo nível. Quantas vezes não fizera alguém aguardar, enquanto calculava o momento certo?

Conhecer as estratégias desse jogo pouco aquietava o seu espírito, contudo.

Devia está no Norte. Naquele exato momento podia pensar em meia dúzia de coisas que deveria está fazendo ao invés de está ali.

Aguardando.

Talvez diplomacia não fosse o caminho certo afinal. Talvez devesse ter descido sobre Pedra do Dragão com toda a força. Nesse momento, por certo, já teria navios carregados de Obsidiana chegando à Muralha.

Acima dele, três sombras planavam sobre as águas do mar.

Jon resignou-se e seus pensamentos de destruição se apaziguaram. Lembrou-se que também estava ali por eles. Três jovens dragões que eram preciosos demais. Raros demais. Por eles, tentaria as alternativas pacificas primeiro.

Alcançou a praia e seguiu em direção as formações rochosas desenhadas no mapa de Meistre Luwin. A caverna não era nada discreta. Sua boca abria desafiadora em direção as ondas.

Prevendo pouca luz, Jon acendeu a tocha que trouxera consigo.

A principio não havia nada que indicasse que aquele lugar era a jazida que ele tanto buscara. No entanto, uma sensação etérea que associava aos deuses antigos se fez sentir em sua nuca, confirmando que estava no lugar certo.

Uma antecâmara depois e as paredes brilharam. Jon soltou o fôlego, um pouco desorientado. Estava ali. Mais do que um dia precisariam.

Finalmente tinham uma chance verdadeira. Enfim, a possibilidade de vitória estava bem ali diante dele.

Nas paredes, além da obsidiana, uma história era contada.

Marcas e desenhos de um tempo em que essa mesma batalha foi travada. As Crianças da Floresta deixaram registrado ali tudo que havia acontecido na primeira Grande Noite.

— O que esses desenhos significam?

Jon sobressaltou-se quando a voz de Daenerys ecoou pelas paredes da caverna.

Ela também segurava uma tocha e parecia igualmente maravilhada pelo lugar em que estavam.

— Contam a história da primeira guerra pela Alvorada – respondeu por fim, atento as reações dela. - Unidos, Filhos da Floresta e homens, lutaram pelo um novo alvorecer. O inimigo era implacável como o inverno e trazia a morte consigo. Mas o vivos venceram, a muito custo. Conseguiram trazer uma nova primavera. Em breve teremos que fazer o mesmo.

— Ao seu ver, eu tenho um papel em sua guerra - ela atentava para a parte na parede em que o Rei da Noite estava representado com seu séquito cadavérico.

— Essa guerra é de todos. Creio que faça parte do todo, assim como eu.

— E na tentativa de ser razoável, veio até mim apenas pelo vidro.

— Para falar a verdade, vi muitas desvantagens em me associar a você. As vésperas de uma guerra, tudo que eu menos preciso é de uma incógnita em meu tabuleiro.

— Precisa da obsidiana e dos meus dragões, mas não de mim em particular – ela parecia calcular e a que resultado chegaria, não sabia dizer.

— Você, Daenerys Targaryen, sempre foi um problema. É inoportuno que seja minha tia. Minha família. Se as circunstâncias não fossem como são, meus mineradores já estariam nessa caverna nesse momento, pegando tudo que preciso.

— Para você, então, sou um obstáculo – a frieza que ela tentava transmitir não encobriram as emoções que seus olhos transpareciam.

Jon sorriu um pouco, pensando se alguma vez já tivera uma conversa em que fosse tão difícil escolher as palavras para articular o que sentia.

Com um movimento, alcançou o braço no qual Daenerys segurava a tocha e fez com que ela o encarasse.

— Não é um obstáculo. É da família. E pela família, fazemos concessões. Pela família, refazemos os planos.

Era ruim que fossem parentes. Era pior ainda que fossem parentes que nunca se viram antes. Até agora tudo que sabiam sobre um ao outro eram rumores. Muito deles eram desfavoráveis.

Jon então tomou uma decisão.

Sua mente alcançou Morghon que alçou voou. Graças aos deuses, o deixara perto o bastante.

Então sentou-se em uma pedra próxima cravando seu archote no chão.

— O que está fazendo?

— Esperando.

— Pelo quê?

— Verá em breve – divagou apenas para irritá-la.

Nesses poucos encontros que tiveram, percebeu que a rainha era fácil de irritar. Uma característica que ainda podia lhe trazer problemas mas que no momento sentia prazer em instigar.

Daenerys olhou a entrada da antecâmara indecisa antes de optar por sentar-se também.

— Quanto tempo esperamos?

— Hora do jantar, creio eu. Até lá temos algo a resolver.

—Temos?

— Sim. Os dragões. Somos os únicos senhores de dragões que restaram. Por causa da imprudência da nossa família, eles deixaram de existir por centenas de anos. Recebemos uma nova chance. Não podemos cometer os mesmos erros de nossos ancestrais.

— Naquela época, o reino e a coroa foram o começo da ruína – a rainha parecia muito pequena ali sentada em meio as histórias há muito esquecidas.

— Sim. Mas a briga pelo Trono de Ferro foi apenas a ponta da discórdia. O que causou o fim dos dragões não foi isso.

— O que foi então?

— Medo. O mundo temia os dragões e os Targaryen amarrados a coroa fizeram o impensável. Acorrentaram os seres mais mágicos já conhecidos.

Daenerys parecia mais desarmada do que já a vira. Culpa, concluiu.

— Eu já sucumbi a esse medo. Você tinha razão quando censurou meu tratamento dos meus filhos em Meereen. Por um instante, perdi o controle e usei correntes para recuperá-lo. Fui fraca.

— Dragões não aceitam a fraqueza.

O comentário fez a expressão dela endurecer. Novamente a rainha se armou para um embate.

— Eu sou o sangue do dragão, Jon Snow. Acredite quando lhe digo que aquele momento de falta de discernimento não se repetirá.

— Fico extremamente feliz em ouvir isso. Nos foi dada uma responsabilidade muito grande. Falhar não é uma opção.

— Como controla seus dragões? Chegou até mim o rumor de que pode controlar todos os três aos mesmo tempo. Como faz isso?

— Sou um Warg. Um troca-peles.

Ela o encarou confusa.

— No Norte, é sabido que os Primeiros Homens tinham habilidade de habitar o corpos de animais, e até de outras pessoas. Essa habilidade pode ter vindo de várias origens: dos deuses antigos, das crianças da floresta. Não se sabe ao certo. O que sei com certeza absoluta é que foi passada para os seus descendentes.

— Uma pena que tal dom não possa ser adquirido. Me seria de muita utilidade – o desapontamento era evidente na voz dela.

— Não posso ensiná-la a compartilhar a mente de seus dragões. Mas existe algo que posso.

— Continue -Daenerys sentou-se mais aprumada e havia certa avidez em sua fisionomia.

— Primeiro, notei que tem o costume de alimentar os seus dragões. Foram acostumados a receber comida. Um péssimo hábito que tem que parar imediatamente.

As sobrancelhas delas se fecharam em uma ruga de irritação, mas a rainha não o interrompeu.

— E gostaria que retomasse o treinamento que iniciei com seus dragões em Meereen. Cersei está se armando com aqueles arpões malditos que o pai usou contra mim. Odiaria ver um de seus dragões vítimas daqueles aparatos.

— Suponho que essa ajuda também faça parte do acordo que veio oferecer.

— Não. O que ofereço agora é para os dragões. Pode não acreditar, mais o bem-estar deles é de muita importância para mim. Nem tudo em uma família tem que ser uma troca ou uma busca por compensação.

Daenerys ficou calada, o olhar perdido na parede gravada.

— Leve seu vidro.

— O que disse?

— Pegue a obsidiana que precisar. Não tenho nenhuma utilidade para tudo isso aqui. Minere o que necessita. Nada em troca é necessário.

A surpresa de Jon não foi refreada como gostaria pois um leve sorriso apareceu no rosto da rainha.

— Mas a ajuda que prometeu aos meus dragões seria oportuna.

Ainda havia muito para acertar entre eles. O Trono de Ferro. A coroa de Rei no Norte que Jon carregava. Mas naquele momento, percebeu que havia uma possibilidade para entendimento.

Um puxão em sua consciência fez Jon se levantar.

— Venha, vossa majestade tem visita – estendeu a mão para ela.

Depois de um breve momento de hesitação, Daenerys aceitou sua mão.

Lá fora já era noite. Os dragões estavam pouco visíveis. Sua presença notada apenas pelas chamas que cortavam o ar. Uma prova de sua agitação e descontentamento.

Mas os dragões sessaram seus rugidos quando labaredas verdes cortaram o céu.

— O que está acontecendo?

Daenerys estava fixada em Morghon que iniciava sua descida ignorando os três familiares menores que protestavam.

— Achei justo que conhecesse os meus dragões. Morghon é o mais dócil. Achei por bem começar por ele.

— Mais dócil – repetiu ela incrédula – Esse é o dragão de fogo-vivo.

— Acredite, a ironia também não me escapou.

Ela não tinha medo. Andou em direção a Morghon com passos firmes.

Os outros três dragões se resignaram a voar acima deles numa distância respeitosa. Observando sua mãe, prontos a vir em seu socorro se fosse necessário.

Jon ficou aliviado ao perceber que fora o espetáculo de fogo que sucedeu a chegada de Morghon, os dragões não escolheram a violência de imediato.

Um começo promissor.

Quando Daenerys alcançou a areia, Morghon soltou alguma chamas de aviso. O fogo logo se alastrando.

Ela porém não parou.

A visão dela envolvida pelo lençol flamejante fez algo despertar em Jon. Ele a seguiu.

E de repente, ele não era mais o único.

Havia alguém com ele no fogo.

Daenerys alcançou Morghon e Jon ficou parado enquanto os dois se avaliavam.

Ela estendeu a mão e seu dragão baixou o focinho para receber o carinho.

— Ele é magnifico. - ela se dirigiu ao dragão então - se morghon kostagon sagon sȳz.

O Alto Valiriano parecia diferente quando ela falava. “ A morte pode ser gentil”.

— Sim. Morghon é gentil, mas assim como a morte, ele é implacável. E a julgar pela maneira que busca atenção, acho que ele sabe disso. - tentou ao máximo ignorar o fato que as roupas de ambos foram levadas pelo fogo.

Ela riu. Então, ela o encarou:

— Conhece Alto Valiriano.

— Issa ñuha muña ēngos – ressaltou, lembrando-a de sua linhagem materna.

Havia algo se passando entre eles naquele momento. E Jon assustou-se com sua força. Tanto que achou melhor levar a conversa para campos mais seguros.

— Ele pode nos ajudar. Morghon pode ensinar seus dragões a caçar. Não é bom que aceitem ser alimentados. A possibilidade de serem envenenados não pode ser ignorada. Nós temos inimigos demais.

— Nós? - inquiriu ela ainda o encarando.

— Sim, nós. A responsabilidade de impedir que os dragões desapareçam novamente é nossa.

— Muito bem então.

O acordo estava feito. De algum modo Jon soube que chegaram a algum entendimento.

Daenerys pareceu chegar a mesma conclusão.

— O inimigo que diz se levantar no Norte – começou ela.

— Sim?

— Me mostre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.