Dragões do Norte

A aposta do Rei.



A confusão de vozes na tenda de Mance tornava impossível para Jon distinguir quem falava a seu favor e quem pedia a sua morte. Quando chegou ao acampamento do Rei, ficou surpreso ao perceber que muitos do Povo Livre o viam como inimigo. Uma ameaça ao Rei-Além-da-Muralha.
Nunca viu uma aglomeração tão grande. As tendas se estendiam até onde a vista alcançava. Dezenas de milhares de pessoas, talvez uma centena de milhar. Controlar um número tão grande não devia ser uma tarefa fácil. De maneira alguma ele invejava a posição de Rayder.
Olhando a bagunça que instalara, percebeu que o controle de Mance sobre seus homens era muito relativo. Enquanto a reunião começara com o intuito de discutir a presença dele ali, logo se tornou uma briga de egos. Os líderes de clãs guardavam rixas antigas que eclodiam nas discussões em que tinham posições diferentes.
Enquanto sentava em um canto com Toregg e Sigorn, avaliava a situação e a conclusão que chegava não era nem um pouco animadora. Viu que seus homens percebiam a mesma coisa.
Sigorn olhava o pai com a testa franzida. Styr discutia com uma mulher com máscara no rosto.
—Desse jeito ficarão discutindo até o Inverno chegar- comentou Sigorn.
Todos se calaram quando a entrada da tenda moveu e Fantasma entrou. O lobo passou por entre as pessoas como se fosse dono do lugar. Se tinha uma coisa que podia silenciar todos aqueles brigões era um Lobo de mais de um metro de altura.
—Mantenha sua fera do lado de fora- falou Varamyr Seis-Peles.
—Fantasma fica - discordou Jon, não gostava nem um pouco daquele homem- Acho que estamos perdendo nosso foco, não concorda?-disse se dirigindo a Mance.
—Peço desculpas. Bem sabe que, quando se trata do Povo Livre, é fácil os ânimos inflamarem. Mas agora vamos falar do verdadeiro motivo de estarem aqui.
—Só desci as montanhas porque disse que tinha a informação que preciso. Só por isso perdoei sua mentira.
—Me vali de um pequeno engodo para conhecer melhor um possível inimigo ou aliado. Dificilmente pode me culpar por tentar ver se as histórias são verdadeiras.
—Não culpo. Talvez na sua posição tivesse feito a mesma coisa. Mas no futuro, se tiver alguma dúvida recomendo que pergunte.
—Se é assim Magnar- interrompeu Grande Walrus- Tenho algumas perguntas. São mais de uma década de histórias contadas a seu respeito. A maioria devem ser absurdos espalhados por mentirosos. Mas mesmo assim é melhor esclarecermos algumas coisas.
—Dá pra ver que pelo menos a parte do Lobo Gigante é verdade - comentou Lança- Longa Ryk.
Fantasma estava sentado nas patas traseiras ao lado de Jon e observava tudo com atenção. O lobo sabia que não estavam entre amigos e estava preparado para atacar a qualquer instante.
— No Passos dos Guinchos corre o boato que matou os mensageiros que foram enviados pra fazer comércio e que roubou o rebanho de bisões- quem falou foi Orell, outro Warg.
Uma onda de raiva antiga correu pelas veias de Jon. A lembrança do homem pisando no pescoço de Morghon nunca saíra da sua memória. A sua frente Fantasma rosnou e Orell recuou um passo.
—Aqueles homens vieram até mim para comprar o que não estava a venda. E quando não conseguiram, tentaram me roubar. Então sim, matei todos eles e fiquei com os bisões.
—E o que eles queriam comprar exatamente?
—Se é do Passos dos Guinchos, sabe muito bem a resposta da sua pergunta.
—Mas não pode ser verdade...
—Um dragão- interrompeu Jon, sua paciência se esgotando- Tentaram roubar um dos meus dragões. Por isso queimei todos.
Não contaria, é claro, que sua intenção não tinha sido exatamente essa na época.
—Não pode querer que a gente acredite nessa conversa- objetou o Chorão. Alguma coisa naquele homem fazia o pelos de Fantasma se arrepiarem.
—É verdade. Vimos um dragão quando estávamos nas montanhas- afirmou Mance.
O ar na tenda mudou completamente.Pelo jeito a maioria do Povo Livre tinha ouvido falar dos seus dragões mas não acreditavam no que ouviram. Não podia culpá-los, era muito mais fácil negar o improvável do que acreditar nele.
—Quantos ?- perguntou Morna Máscara Branca. Ela parecia menor, mais encolhida por causa do assombro.
—Três.
—Mas como...-a pergunta de Grande Walrus morreu em sua boca.
—Isso não posso responder. Até agora não sei- confessou.
— É verdade que matou um Outro?
—Sim. Eu tava lá quando aconteceu- respondeu Toregg- Jon tinha apenas sete anos.
—Tive muita sorte- se apressou Jon em completar- Graças aos deuses tinha a arma certa, só isso.
Não queria que pensassem que tinha algum dom especial para matar os Outros. Seu sangue esfriava só em pensar na possibilidade de ter pego a flecha errada naquele dia.
—Vidro de Dragão-comentou o Rei.
—Sim, por isso preciso encontrar mais logo. Estamos ficando sem tempo.
—Quer nos fazer acreditar que o ponto fraco dos Vagantes é vidro- duvidou o Chorão.
— Eles mataram dois deles no cominho pra cá- falou Camisa de Chocalho, pela primeira vez na noite- Acertaram flechas neles e eles se desfizeram em gelo.
— Então é verdade- falou Styr se dirigindo ao filho.
— Disse que vamos lutar essa guerra, pai. E falei a verdade.
— Não seja idiota. Nunca vão vencer os Outros.
Jon esperou que Sigorn se alterasse com a reprimenda do pai mas o amigo apenas encarou o velho senhor.
—Ainda não entende mas perceberá, em breve, que todos nós lutaremos. Não há outra escolha- comentou Jon.
—Quando ultrapassarmos a Muralha...-começou Styr.
Se ultrapassarem a Muralha ainda terão que lidar com todo o Sul.
—Não viu o povo lá fora? Somos o maior exército que o Norte já viu.
Jon não queria ter que explicar de novo qual era a falha nesse argumento mas felizmente Toregg lhe poupou o trabalho.
—Vimos apenas um monte de gente amontoada, não vimos um exército.
—Como se atreve, moleque- Styr avançou mas foi parado pela voz do filho.
—Ele tem razão, pai. Não são organizados o suficiente pra vencer no Sul.
—Nós temos um Rei- argumentou Morna.
Jon se virou para Mance, que olhava o embate impassível. O Rei-Pra-Lá-da-Muralha era um homem inteligente, que conhecia muito bem a probabilidade de sucesso que tinham.
—O que pretendem fazer com a Guarda da Noite?-perguntou.
Vamos matar todos, é óbvio- respondeu o Chorão.
—Então esse é o seu plano? Acabar com a Patrulha. E quem vai defender a Muralha quando os Outros atacarem? Com certeza já pensou no que fazer quando os Vagantes Brancos também resolverem ir para o Sul, não é?
—As nossas opções são claras, Magnar- responde Mance Rayder- A possibilidade de morte no Sul ou certeza de morte deste lado. Como vê, não é uma escolha difícil.
—Quando a gente achar o Berrante de Joramum, vamos atravessar a Muralha e depois veremos o que acontece- completou Grande Walrus.
Jon começou a ficar exasperado . O medo dos Outros deixou aquelas pessoas insensíveis a todo o resto.
—Vou dizer o que acontecerá-disse, tentando manter a voz o mais calma possível- Quando atravessarem, se atravessarem, se verão entre dois inimigos. Com os Outros ao norte e os Stark ao sul, não terão a menor chance. Não terão como lutar e não terão para onde fugir. De todo modo estarão mortos antes que o Inverno acabe.
Todos ficaram em silêncio. Styr se sentou lentamente. O homem corria os olhos de Jon para Sigorn e parecia enfim perceber a situação em que se encontravam.
—Sinto muito-disse se dirigindo a Mance- mas não vou compactuar com essa insensatez.
—Mas você tem dragões- lembrou Ygon Velho-Pai - Nunca nos parariam se lutasse do nosso lado.
—Meus dragões tem um propósito. Não vou exterminar um povo inteiro se poder evitar.
—Mas permitiria que a gente fosse exterminado. Tem que escolher um lado, garoto.
—Já escolhi. Eu escolhi o lado dos vivos.
Todos olharam para Jon como se ele tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. Ele entendia, oito mil anos de disputas e ódio não iam acabar da noite para o dia. Mas todos tinham que entender mais cedo ou mais tarde que no fim tudo se resumia a isso. Vivos contra mortos.
—Me deixem sozinho com o Magnar- ordenou o Rei.
Todos começaram a sair relutantes. Quando Orell disse que Fantasma tinha que sair também, o lobo mostrou os dentes. Ninguém mais objetou.
—Um animal como esse me seria bem útil- comentou Mance.
—Fantasma tende a exagerar ás vezes mas nunca está errado. Não tenho muitos amigos entre o seu povo.
—As histórias que ouvimos sobre você, não são as mais agradáveis.
—Não sabia que tinha a fama de tirano.
—Tirano não. Warg , demônio. E também o mais preocupante, sulista.
—Alguns desses são verdade.
—O meu povo teme você, Jon Snow. Um sulista que se tornou Magnar Mag, que controla mamutes, lobos gigantes e dragões. Há muito a ser temido.
—Como disse, estamos do mesmo lado. Lutarei pelos vivos.O Povo Livre não tem nada que temer de mim.
—Mesmo assim se nega a me seguir para o outro lado.
—Não vou liderar meu povo para um massacre. Vai ter que pensar em um plano melhor se quiser que eu o siga.
—E pra você, qual seria o melhor plano?
—Para ter sucesso no Sul terá que fazer aliados sulistas. Não pode forçar seu caminho com a espada nessa situação, Mance. Haverá um derramamento de sangue antes mesmo que chegue na Segunda Dádiva.
—Nunca vamos ser aceitos no Sul, garoto. Há muito rancor envolvido. Os dois lados se odeiam à tempo demais.
—Bem, essa rixa vai ter que esperar até o próximo Verão. No momento temos que fazer uma trégua, não há outra escolha. Depois que o Inverno acabar podemos voltar a nos matar mutuamente como sempre fizemos.
—Está realmente disposto a arriscar tudo nessa fantasia de que podemos nos unir com os sulistas. Que de repente vamos pôr todos os rancores de lado e trabalhar juntos. Não sei o que me surpreende mais, o tamanho desse disparate ou da sua ingenuidade.
—Não é ingenuidade. Estamos lidando com fatos aqui, Mance. Quando o Inverno chegar lutaremos uma guerra que decidirá o destinos dos vivos. De todos os vivos. E as pessoas acabarão percebendo que nossa única opção é nos unir.
—O que faz você pensar que os sulistas se uniriam a nós, mesmo se cogitássemos a possibilidade.
—Quando eles conhecerem nosso inimigo em comum, não terão escolha. Terão que decidir o que é prioridade.
Mance Rayder olhou para Jon de uma forma estranha. Parecia tentar decifrar um enigma muito difícil. Mas o Rei finalmente começava a entender o que ele tentava explicar.
—Não matou aqueles patrulheiros, não é?-perguntou.
—Não. Mandei eles de volta para a Muralha. Pelo menos agora estarão avisados. Saberão que não somos o pior que existe desse lado.
—Esse é um jogo perigoso que está jogando, garoto.
—Eu fiz uma aposta. Arriscada mas necessária. Escolhi ter fé.
—Acha mesmo que temos uma chance de sairmos vencedores depois que toda essa merda acabar?
—Sim- respondeu Jon com convicção.
O Rei baixou os olhos e passou alguns instantes ponderando as coisas.
—Talvez haja uma chance. Talvez esse seu caminho não seja de todo impossível.
Será possível que estivessem finalmente chegando em algum lugar? Pensou esperançoso.
—Só temos que achar uma forma dos Lordes nos ouvirem- comentou. Essa era uma de suas maiores dores de cabeça.
—Talvez Lorde Stark esteja disposto a escutar o filho.
Jon sentiu a cor deixar o rosto. Por essa ele não esperava.
—Você sabe...
—Ora garoto, não é como se guardasse segredo sobre o assunto.
—Só os meus homens sabem sobre isso. Homens de confiança.
—Talvez não tenha deixado claro que queria que guardassem segredo.
Jon amaldiçoou a própria indiscrição. Aquele não era um tópico que gostava de falar mas nunca omitiu, de ninguém que perguntasse, quem era seu pai.
—Não recomendo que negue que é filho de Ned Stark quando estivermos daquele lado da Muralha. Ninguém vai acreditar. Qualquer um que tenha visto o seu pai, vai te reconhecer imediatamente. E talvez isso seja uma vantagem pra gente.
—Se pensa que Lorde Stark nutre algum afeto por mim que pode usar em seu benefício, recomendo que pense de novo- avisou Jon friamente- Eu e ele trilhamos caminhos diferentes há muito tempo. Não chegamos a ser nem conhecidos agora.
—Esse é um assunto pra outra hora. Existem problemas mais imediatos. Primeiro temos que atravessar a Muralha.
—A Guarda da Noite tem que nos deixar passar se quisermos ter alguma chance de sermos aceitos.
—Como pretende fazer com que abram aqueles malditos portões?
—Com diálogo, é claro.
Mance Rayder soltou gargalhada.
—O que te faz pensar que nos ouviriam pra começo de conversa?
—Tenho tem três dragões. Ficarão mais inclinados a uma resolução pacífica quando os virem.
—Ah! A boa e velha intimidação. Pode funcionar.
—Depois que estivermos no Sul é que os problemas começam.
—Não seremos recebidos de braços abertos.
—Exatamente.Por isso é preciso que todo comportamento que crie conflitos seja desencorajado.
—Isso quer dizer...
—Nada de violações, assassinatos ou saques.
—Tem ideia do que está pedindo. Essas pessoas são chamadas de selvagens por um motivo. Não pode querer que eu peça que abandonem seu modo de vida.
—Você é Rei. Comece a agir como um ou não teremos a menor chance.
—Não tenho controle o suficiente para fazer o que está pedindo. Não posso exigir que ajam contrários a sua natureza. Não pode esperar que os seus homens se tornem sulistas também.
—Meus homens farão o que eu mandar.
—É claro que farão.
Jon percebeu alguma coisa mascarada no tom do homem.
—O que quer dizer?
—Naqueles dias que passei nas montanhas percebi algumas coisas, Magnar. O modo que o seu povo o ver.
Jon esperou que continuasse. Não sabia o que isso tinha a ver com que estavam debatendo.
—Alguns acreditam que nasceu de uma Árvore Coração, já menino, como um presente dos deuses. Outros que você mesmo é um deus que tomou forma humana pra nos salvar dos Outros.
—Onde quer chegar?- estava bem ciente das crendices de algumas pessoas que o seguiam. Por mais que tentasse desmenti-las, elas se espalhavam como Fogo Vivo.
—Quero dizer que o seu povo lutará com os Outros de mãos vazias se você pedir. Não posso dizer o mesmo em relação ao meu. Enquanto posso contar com o respeito dessas pessoas que me seguem, isso não chega nem perto da devoção das que seguem você.
—Recomendo que encontre uma solução rapidamente- aconselhou, se levantando para sair -Quando estivermos do outro lado, andaremos sobre areia movediça, com qualquer movimento brusco e impensado, afundaremos.
Mais tarde naquela noite Jon acordou com um movimento na entrada da sua tenda. Por um momento pensou que fosse Fantasma mas pôde sentir o lobo caçando ali perto. A pessoa se aproximou e Jon alcançou a adaga devagar, não queria revelar que estava acordado.
Quando o invasor chegou ao alcance, Jon se virou e em um movimento só jogou o corpo contra o inimigo, o prendendo no chão com a adaga posicionada em sua garganta.
—E pensar que vim aqui na esperança de você me apontar outro tipo de adaga- disse uma voz conhecida.
Jon se afastou dela no mesmo instante. Mesmo sem conseguir ver nada, soube que Ygritte estava rindo dele.
—Não devia está aqui-conseguiu dizer com esforço. O que se diz quando mulheres invadem sua tenda no meio da noite?
— Cansei de esperar que você fosse a minha tenda.
—O quê?- Jon fazia de tudo para controlar as batidas do seu coração. Não gostava quando não tinha o controle das situações.
—Você não sabe de nada mesmo, Jon Snow. Eu pensei que tivesse sendo bem clara.
—É melhor que vá embora- A parte selvagem de Jon gritava que tomasse o que lhe era oferecido mas ainda era muito o menino que Miestre Lwin educou. E essa parte sua ainda era presa a certos pudores.
Ygritte ficou quieta um instante. Jon viu seu vulto baixar a cabeça.
—Me acha feia-afirmou com uma voz baixa.
—O quê? Não!- se apressou em negar. Deuses, o que tinha feito para está nessa situação.
—Qual o problema então?!-Ygritte também começara a gritar.
—Não posso desonrá-la dessa maneira. Não é certo- tentou explicar.
Ygritte riu.
—Sou uma mulher do Povo Livre. Me deito com quem quiser, e não há desonra nenhuma nisso- tentou convencê-lo.
Como ele não respondeu, Ygritte se aproveitou da sua hesitação para se aproximar.
Jon tentou se afastar mas logo se viu sem espaço. Não teve tempo nem para amaldiçoar o tamanho da tenda, quando sentiu ela pegar sua mão.
Pouco depois estava segurando algo macio. Seu corpo respondeu com toda força quando reconheceu que era um seio.
—Não me quer, Jon Snow?
Ela retirou a mão mas Jon manteve a sua onde estava. Em outra ocasião talvez tivesse resistido e colocado Ygritte para fora da tenda. Mas aquela noite estava fria e Ygritte era quente. Naquela noite se permitiu ser um selvagem, um homem do Povo Livre. Que não se deitava com uma mulher por outro motivo a não ser o fato que era isso que queria. E naquele momento ele queria muito.
....
No dia seguinte Mance resolveu cumprir sua parte no acordo e falar sobre a obsidiana. Mas aparentemente não era ele próprio que tinha a informação.
Jon o seguiu por entre o intrincado de Tendas até que deixaram o acampamento. Logo chegaram a floresta e à um represeiro tão retorcido que suas galhas tocavam o chão.
Não viu nada a princípio mas depois que chegou mais perto, pôde distinguir uma figura acocorada perto das raízes da árvore. A idosa queimava alguma coisa em frente à Árvore Coração. Seu cabelo branco despenteados, a cara enrugada e a compleição miúda a deixavam aterrorizante.
Ela se virou. Os olhos nublados pela catarata fixos neles. Era exatamente assim que imaginava as bruxas das histórias da Velha Ama.
—Me perguntava quando viria, Magnar- disse Mãe Toupeira com uma voz bastante sonora para alguém tão pequena.
—A senhora me conhece?
—Conheço o seu rosto desde que pôs os pés nesta terra. Eles veem tudo- disse apontando a árvore com o queixo.
—Viemos aqui- disse Mance- pra falar do Vidro de Dragão. Me disse naquela vez que sabe onde encontrar.
Os olhos da mulher não se desviavam de Jon.
—O caminho para conseguir o que quer é longo,cheio de perdas e sofrimento. Mas tudo isso serão as chamas que forjarão você. O fogo destrói o velho para fazer algo novo.
Jon não entendeu o que a mulher queria dizer.
—Viemos falar sobre o Vidro de Dragão- insistiu.
A mulher suspirou.
—Muito bem. Os Filhos da Floresta buscavam por suas armas na Montanha Quebrada.Nos tempos antigos a montanha cuspia fogo.
—Onde fica essa montanha?
—Ao norte daqui.
—Quanto ao norte?
—O mais ao norte que alguém pode chegar.
—A senhora que dizer nas Terras de Sempre Inverno?- Jon nunca pensou que seria fácil mas aquilo já era demais. Ninguém andava na Planície Congelada, ninguém vivo pelo menos.
—Os deuses protegem a entrada da montanha. Magia antiga impede que os Vagantes brancos a encontrem. Mas a medida que os Filhos das Floresta enfraqueciam, a montanha também enfraquecia. Agora o inverno congelou o que antes fumegava.
—Levaria quase dois meses pra chegar a Thenn, imagine o tempo que levaria pra chegar a essa tal Montanha Quebrada - comentou Mance com a testa franzida.
—Chegar lá vai ser um problema- informou a mulher- Faz muito tempo que aquelas terras deixaram de pertencer aos Filhos.
—Isso não importa- retrucou Jon- Se é lá que está o que precisamos, é pra lá que devemos ir.
—Boa sorte convencendo alguém a ir com você pra aquele lugar.
Jon pensou um pouco sobre isso. A jornada seria mesmo um problema. Mesmo que fosse possível evitar os Outros e seu exército de mortos, ainda havia o problema da viagem em si. Levar mineradores e animais de carga para um lugar tão inóspito era uma tarefa quase impossível. Seria um milagre se sobrevivessem. Minerar a obsidiana e trazê-la de volta seria uma tarefa improvável de ser realizada.
—Qual o local exato dessa montanha? Qual a direção que devemos tomar?- perguntou à mulher.
—Tudo o que sei é que fica ao norte.
—Mas é uma área muito grande para achar uma montanha. Não teremos a menor chance se tivermos que ficar procurando.Estaremos mortos antes de a encontrarmos.
—Tudo o que sei é que quando explodia brilhava tanto que podia ser vista do Mar Estreito.
—Já é alguma coisa. Significa que fica mais para leste- Jon se animou um pouco. Então uma ideia lhe veio a cabeça.
—Podemos ir de navio. Embarcamos em alguns navios de carga e navegamos até lá. A viagem será mais rápida e segura dessa forma.
—Você se esquece que a superfície da água está completamente congelada naquela região. Não há como um navio atravessar todo aquele gelo.
—E você se esquece dos dragões- nada esfriaria a animação de Jon- O gelo não vai ser um problema.
Jon mal conseguia conter a excitação.Finalmente tinha por onde começar. Enquanto retornavam a sua cabeça girava. Depois de todo esse tempo já estava começando a perder a esperança.
—Não temos nenhum navio- lembrou Mance subitamente.
—Conseguiremos alguns assim que estivermos no Sul. Depois partiremos para as Terra de Sempre Inverno e conseguiremos enfim nos armar contra o verdadeiro inimigo.
.....
Mais tarde naquela semana saiu para caçar com Ygritte. Enquanto faziam o caminho de volta, seu ego doía um pouco. Descobriu que ela era muito melhor com o arco do que ele. Fato que Ygritte não deixou de jogar na sua cara.
Jon teria ficado aborrecido com isso se ela não sorrisse enquanto fazia isso. Gostava quando ela sorria.
—É verdade que no Sul, as pessoas moram em casas de pedra mais altas que árvores?- perguntou ela.
—Existem castelos muito mais altos que árvores, mas nem todas as pessoas moram em castelos.
—Sempre quis vê um. Saber como é morar em um lugar tão alto.
—Vou te mostrar um castelo. Prometo.
Ygritte parou e olhou para ele.
—Todos os homens sulistas são como você?
—Como assim?
—Todos eles tratam suas mulheres como me trata?
Jon viu que a curiosidade dela era genuína.
—Existe todo tipo de gente no Mundo, Ygritte. Não sei como todos os homens tratam suas esposas.
—Então sou sua esposa?- a pergunta foi incrivelmente tímida.
—Suponho que sim. Eu roubaria você mas como vou fazer isso se passa todas as noites na minha tenda?
A risada dela tinha o poder incrível de fazê-lo esquecer todo o resto.
....
Alguns dias depois o Rei chamou Jon de volta a sua tenda. Novamente os líderes dos Clãs estavam reunidos lá. A julgar por suas expressões não estavam nada felizes com o que estavam discutindo.
O lugar caiu sob um silêncio pesado assim que Jon entrou.
—Estávamos conversando sobre a sua ideia de nos unirmos com o Sul.
As palavras do Rei tiraram os outros habitantes da tenda de seu silêncio de indignação. Logo as vozes iradas se fizeram ouvir.
—Se pensa que lutarei lado a lado com um sulista, está louco- bradou Grande Walrus.
—Prefiro uma morte dolorosa a me unir àqueles malditos- afirmou Styr.
Uma voz se sobrepunha a outra, sempre mais feroz e revoltada que a anterior. Jon olhou para Mance e esperou que tomasse uma atitude mas o homem se resignou a lançar a Jon um olhar de “eu te avisei”. Pelo jeito o Rei não seria de muita ajuda ali. Sendo assim,resolveu tomar conta da situação antes que espadas fossem desembainhadas.
—Basta- falou firmemente.
Talvez surpresos por causa da sua ousadia e impertinência, eles se calaram. Jon resolveu aproveitar para falar antes que se recuperassem.
—Talvez você escolha uma morte dolorosa- disse se dirigindo a Styr- mas é essa a morte que escolheria para o seu filho.
O semblante do homem mudou. A raiva deixou seu rosto e deu lugar a hesitação. Jon soube que estava escolhendo o caminho certo. Já lidara bastante com a teimosia do Povo Livre nos últimos anos. Aquele era um povo duro e orgulhoso, mas se preocupavam com a família como qualquer um.
—Qualquer decisão que tomarem agora, decidirá o futuro do Povo Livre. Suas crianças nunca terão suas próprias crianças se tomarem a decisão errada.
Enquanto suas palavras faziam o efeito desejados, Jon se sentou. Ficou satisfeito quando os chefes começaram a imitá-lo. Ótimo, preferia discutir com gente sentada.
—Se escolhermos seguir você, Jon Snow, que garantias teremos de que não encontraremos o fim de qualquer maneira?- perguntou Grande Walrus. Embora indeciso, ele parecia menos relutante agora.
Olhou para o Rei. Se perguntou o que Mance achava dessa história de seguir Jon Snow. Mas ele continuava impassível em seu lugar. Seus olhos não deixavam Jon nem por um instante. Sentia que Rayder o testava.
—Não posso garantir que viveremos. Mas garanto que essa é nossa melhor chance.
—Então espera que demos as mãos com os sulistas como amigos e que a gente esqueça todos esses milhares de anos que eles vem nos caçando como animais-perguntou o Chorão, seus olhos lacrimantes derramavam sarcasmo.
—Espero que sejam sensatos o suficiente para agir de forma a garantir nossa sobrevivência.
—Nossa sobrevivência- debochou o Senhor dos Ossos- Fala como se fosse um de nós. Mas todo mundo sabe que nasceu no Sul.
—Talvez seu objetivo seja nos impedir de matar seus parentes Stark- insinuou o Chorão.
Depois de todo esse tempo, o fato de ser filho não deixara de assombrá-lo. Parecia que teria que passar o resto da vida se justificando por causa de seu progenitor.
—Nunca escondi de ninguém de onde venho ou quem é o meu pai. Se vamos lutar juntos nessa guerra tem que confiar em mim quando digo que minha lealdade está com o Povo Livre.
—Se um dia tivesse que escolher entre a gente e a sua família, qual lado escolheria?- perguntou Morna.
Jon não gostava que pensar nesse dia. Nunca se tornaria assassino de parentes, e os Stark eram seus parentes querendo ele ou não. Mas essa não era a resposta certa nessa ocasião. Tinha que ser cuidadoso.
—Sei, há muito tempo, que minha família está desse lado da Muralha.
Nesse momento Jon sentiu um puxão no estômago. Fantasma tentava alcançá-lo, havia uma certa urgência no chamado do animal. Alguma coisa não estava certa.
Deixou-se deslizar do seu corpo e logo estava em pé em uma colina coberta de neve. Sua respiração ficou presa na sua garganta.Ali em baixo uma multidão passava. Mortos até onde podia enxergar. Os Outros, três deles, guiavam as criaturas montados em cavalos cadavéricos. Um Vagante se virou enquanto passava e olhou diretamente para ele.
Jon se virou e começou a correr. Suas patas mal tocavam o chão enquanto fazia seu caminho de volta ao acampamento. Não foi seguido. As criaturas aparentemente tinham um objetivo e estavam focadas nisso.
Enquanto corria sua consciência deixou o lobo e passou para os dragões. Precisava deles no ar imediatamente. Nunca conseguiriam deter tantos mortos sem eles.
Quando retornou ao seu corpo, percebeu todos os olhares sobre ele. Se pôs de pé em um pulo.
—Eles estão vindo- falou enquanto saia da tenda.
Todos os seguiram para o lado de fora. Muitos já haviam sentido que alguma coisa estava errada. Os animais estavam todos agitados. Os cavalos lutavam para se soltar de suas correias. As pessoas começavam a se agitar. Todo mundo sabia o que essa queda súbita de temperatura significava.
—Quantos?- perguntou Mance.
—Não mais que trinta mil. Estão a menos de dez quilômetros.
—Não há como vencermos um número tão grande.
—Meus dragões estarão aqui em breve.
—Quanto tempo?
—Meia-noite no máximo.
—Não vamos durar até a meia-noite.
Ele tinha razão. Em tese trinta mil nunca teriam a menor chance contra quase cem mil. Mas um exército de mortos desse tamanho precisaria de organização para ser contido. Uma organização que não tinham.
—Podemos atacar antes que cheguem ao acampamento- sugeriu Ryk- Isso daria tempo para as pessoas escaparem .
—Não. O melhor local para resistir é aqui- discordou Jon- temos proteção em quase todas as direções. Já sabemos por qual lado os Outros chegarão.
—A entrada Noroeste- esclareceu Mance pensativo- Mas da mesma forma que essa é a melhor entrada também é a melhor saída.
—Só temos que parar as criaturas lá e esperar pelos dragões.
—Se seu plano não funcionar não haverá como fugir. Ficaremos encurralados.
—Também não há tempo para correr nem tirar todo esse povo daqui. Os Outros vão alcançá-los. Boa parte morrerá antes mesmo de deixar as Presas de Gelo.
—Uma parte mas não todos.
O homem se negava a pensar com clareza. Não era certo sacrificar metade das pessoas para salvar a outra. Mas Jon não tinha tempo para discutir agora.
No caminho encontrou Sigorn. O amigo já estava armado.
—Já reuni os homens. Qual é o plano?
—Vamos defender a entrada Noroeste, manter os mortos longe até que os dragões cheguem.
—Jon!- chamou Toregg se aproximando- Um outro grupo está vindo pelo Sul.
O sangue gelou. Nunca contara com um segundo grupo. No sul só havia um grande paredão de pedra, o inimigo teria que pular quase quarenta metros para conseguir alcançar o acampamento. Mas imaginou que isso não seria problema para os mortos.
— O que faremos agora?- perguntou Ygritte, que acabara de juntar a eles.
Jon tentou pensar rapidamente. Não havia como defender os dois lugares efetivamente então tinha que arriscar e escolher um lado. O Noroeste era mais fraco então era ali que deviam concentra suas forças.
— A melhor opção é esvaziar o lado sul- disse para Mance- e montar fogueiras para deter as criaturas que pularem.
— Sabe que isso não vai detê-los por muito tempo.
— Mas no dará espaço para nos concentrarmos no outro ponto de ataque. Quando a parte noroeste estiver segura lidaremos com os Outros no paredão.
—Posso fazer isso- se ofereceu Camisa de Chocalho- posso deter os Filhos da Puta no paredão.
Jon ficou surpreso. Dos homens de Mance Rayder, o Senhor dos Ossos era um dos que nunca esperara que concordasse com um plano seu.
—A ideia é bloquearmos o avanço deles o máximo que pudermos, até que os dragões cheguem.
Olhou para o Rei e esperou que o homem objetasse.
—Faremos como você diz.
Jon sabia o tamanho da responsabilidade que isso significava. Se seu plano desse errado, todos ali morreriam e a culpa seria inteiramente dele.
—Para onde vamos?- perguntou Ygritte.
Teve vontade de mandá-la para um lugar longe dos locais de conflito como Mance acabara de fazer com sua esposa grávida mas sabia que Ygritte nunca iria. Só a conhecia há pouco mais de um mês mas ela já era de longe a pessoa mais teimosa que já conheceu. Então puxou a flecha de Obsidiana e lhe estendeu.
—Mas é a única que você tem-protestou ela.
—Já concordamos que é melhor arqueira do que eu. Sei que não vai errar.
.....
Dividiu seus homens em dois grupos. Sigorn com sua flecha de Vidro de Dragão iria para o sul e Ygritte, com a outra, iria para Noroeste. Pôs os gigantes nas paredes naturais bem na entrada. Fantasma seguiu Sigorn assim ficaria de olho nas duas frentes de batalha. Improvisou uma linha de piche que serviria de último recurso se os dragões não chegassem a tempo.
Todos ficaram em posição e esperaram. Aquele silêncio antes da batalha lhe deixava apreensivo.Conseguia ouvir a respiração nervosa dos homens ao seu lado.
As criaturas entraram no seu campo de visão e ficou surpreso com a velocidade com que se moviam.
— Arqueiros!
Centenas de flechas em chamas foram erguidas. Jon esperou que as criaturas chegassem ao alcance.
— Disparar!
As flechas incendiárias caíram como chuva sobre os mortos. Mas enquanto alguns deles caíam, vários avançavam.
Jon e seus homens recuavam enquanto continuavam a disparar. Quando toda a entrada estava saturada com o inimigo, Jon se dirigiu aos gigantes que tinha postado de cada lado da barreira.
—Agora!- gritou na Língua Antiga.
Os gigantes empurraram as pedras soltas da encosta, que rolaram arrastando tudo que havia pela frente. Em instantes a passagem estava tampada. Centenas de criaturas ficaram soterradas debaixo de vários metros de neve e pedras.
Tudo ficou calmo. Até que a neve começou a se remexer. Os mortos escalavam a montanha de gelo e entulho com uma agilidade impressionante.
Os homens tentavam impedir o avanço das criaturas. Mas claramente estavam em desvantagem.
— Recuem! Todos para trás da linha!
Quando todos estava aquém da linha de piche. Jon disparou a flecha.
O piche pegou fogo. Criando uma parede de fogo que impediu o avanço dos mortos. Mas Jon observou com horror quando um Vagante Branco atravessou as chamas.
O Outro segurou a lança em posição de luta e avançou em sua direção, ignorando todos os outros ao seu redor.
Jon ergueu a espada mas sabia que era inútil. No primeiro golpe a arma se desfez.
No segundo golpe Jon não teve a menor chance. A espada de gelo atravessou seu ombro e ele sentiu uma onda de dor percorrer seu corpo. Não pode impedir que um grito de agonia deixasse sua garganta. Mas quando conseguiu focar novamente o Outro não estava mais ali.
Olhou para o lado e viu Ygritte com o arco ainda em posição. Ela sorriu para ele. Um sorriso de alívio. Ygritte ficava muito bonita quando sorria. Mas seu sorriso desmoronou quando seu abdómen foi transpassado por uma lança de gelo.
—Não!- pensou ter gritado mas sua voz não saiu.
Quando Ygritte caiu, conseguiu ver o Vagante em pé na colina a cinquenta metros de distância. Correu até ela e caiu de Joelhos ao seu lado. Puxou a lança e o sangue jorrou.
—É muito ruim?- perguntou ela com a boca ensanguentada.
—Não- mentiu ele- Você vai ficar bem- disse enquanto pressionava o ferimento.
—Não devia mentir. É péssimo nisso.
—Vai ficar tudo bem. Vou te mostrar um castelo, se lembra. Eu prometi. Não vai morrer agora.
—Você não sabe de nada, Jon Snow- disse ela e seus olhos perderam o foco.
Jon a segurou contra o peito e sentiu toda sua fúria e dor ser emitida em um grito. Demorou um pouco para perceber que o grito não saíra de sua garganta. Só entendeu quando a sombra de Valkius passou em cima dele.
Pelos os olhos do dragão viu a multidão de mortos que se espremia para atravessar a passagem. Voou para a retaguarda inimiga e liberou toda raiva que sentia:
—Dracarys!
As chamas devoravam as criaturas como se fossem feitas papel. Viu, apenas superficialmente, as pessoas passando correndo por ele, fugindo do dragão que avançava em sua direção.
Jon não se moveu. Esperou que as chamas chegassem. O calor foi muito bem-vindo, proporcionou um estranho consolo enquanto Ygritte virava cinzas em seus braços.
Voltou a si a tempo de impedir que Valkius avançasse contras as pessoas. Sua consciência foi puxada para os outros dragões. Morghon e Gaothrax sobrevoavam o paredão ao sul, que ainda estava sob ataque. Os Outros já tinham alcançado o acampamento e avançavam contra o grosso da população que estava encurralada.
Jon tomou o corpo de Gaothrax e criou uma barreira de gelo, paralela ao paredão, separando os vivos dos mortos. Não podia fazer nada sobre as criaturas que já tinha invadido o acampamento mas assim que a parede de gelo em formato de meia lua foi erguida, Morghon pôde agir.
As chamas verdes consumiram tudo imediatamente. Em uma batida de coração tudo que restava do enorme exército de criaturas eram as poucas centenas que conseguiram invadir o acampamento.
Jon olhou para a colina e os Vagantes Brancos tinham partido. Tudo que aconteceu depois foi um borrão. Sua visão era obstruída pelas chamas que Valkius continuava a jogar sobre ele, o dragão parecia saber que ele precisava disso. Se sentia em paz enquanto o fogo corria por seu corpo.
“O fogo apaga o velho para fazer algo novo”
Quando o barulho de espadas e de pessoas gritando cessou, Jon soube que havia acabado.
Por traz da cortina laranja de chamas, viu a multidão se aproximando. O fogo fazia tudo parecer tremido mas pôde reconhecer os rostos de Toregg e Sigorn um pouco mais a frente que os outros. Ver que os amigos estavam bem fez com que ficasse de pé. Mas só começou a andar quando reparou na figura branca correndo em sua direção.
Teve vontade de se abraçar com Fantasma como fazia quando era criança. Mas o lobo parou a uns dez metros de distância. Todas as pessoas pararam com ele.
Os dragões pousaram atrás de Jon. Valkius cuspiu outra rajada de fogo dessa vez para o alto.
Em meio a multidão o Rei avançou. Mance Rayder parou a sua frente. Seu rosto revelava uma palheta de emoções. Incredulidade, temor e várias outras.
Então Rayder puxou a espada. Jon o olhou incrédulo. Será que estava tão transtornado com que acabara de ver a ponto de tentar matá-lo?
—O que pensa que está fazendo?- perguntou.
—Uma aposta- respondeu o Rei.
Com isso o homem cravou a espada no chão e se ajoelhou.
—Eu escolhi ter fé- disse Mance antes de curvar a cabeça em reverência.
Atrás dele, as pessoas começaram a imitá-lo. Em poucos instantes Jon era o único em pé.

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