Don't bless me father

Capítulo dezoito: Introdução às aulas de biologia celular - Células Killer.


Instituto de Ensino Eastern (I.E.E.) - 9:45 am - Corredor.

Aline conseguiu uma ida à enfermaria. Nada que a desculpa de problemas femininos dada a um professor que não queria saber absolutamente nada a respeito de problemas do gênero não pudesse fazer. Até ali, estava tudo pronto para seu plano.

Primeiro de tudo, ela teria que estragar a popularidade de Isabelle. Mas não poderia fazer tudo sozinha. Então tratou de marcar uma reunião às escondidas com a Rainha das Cheerleaders, Camille Belcourt. Encontrou a mesma em frente ao próprio armário.

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— Então você veio. - Foi o que Aline disse. A outra apenas se virou para encarar a menina, a cara meio enojada.

— Vim. Quero descobrir como diabos você arrumou meu número, caloura. - A voz dela subiu alguns decibéis. - Aliás, pior ainda, quero saber como você teve a pachorra de achar que poderia me mandar uma mensagem!

Aline riu. - Nós temos um objetivo em comum, Camille. Já ouviu aquele ditado "O inimigo do meu inimigo é o meu melhor amigo"?

— Inimigo? E de quem estamos falando, para sermos claras? - Camille ficou ligeiramente interessada na proposta.

— Isabelle Lightwood. Sebastian Herondale. Aquela menina nova, a tal da Clarissa. Todos eles. Até Alexander vai entrar na roda.

— É mesmo? E por que você acha que eu sou inimiga de algum deles?

— Não se faça de santa, Camille. Todos souberam que o Herondale te deu um fora, e tudo indica que é por conta da menina nova. Soube que a briga no corredor foi épica. E Isabelle tem toda a popularidade que pode ser sua. Eu sei que no íntimo você quer ver ela fora do topo da pirâmide.

Camille respirou fundo... E depois gargalhou. Uma risada genuína saída dela era quase um milagre de Natal, mas a novata tinha talento pra comédia. Demorou alguns minutos para se recompor do susto, mas o fez enxugando as lágrimas. - Ai, escuta aqui, garota... eu não tenho problema nenhum com a popularidade de Isabelle. Na verdade, não ser inimiga dela me faz ter a bela oportunidade de dar uns amassos no irmão dela— que é um puta de um gostoso - e, de brinde, pegar o primo. E eu sou a capitã da torcida, eu fico no topo da pirâmide, sua tonta.

— Mas e quanto a Sebastian? Ele te deu um fora e-

Eu que dispensei Sebastian. Ele foi um idiota, isso é fato. É um babaca imaturo, mas todo mundo sabe que ele é um babaca imaturo, então eu não corria o risco de me magoar de verdade. Além disso, eu só estava tendo um lance físico com ele. - Ela suspirou e conferiu as unhas impecáveis. - Sabe, esse conceito prévio de que líderes de torcida são loiras burras rancorosas que só almejam a popularidade e os garotos gostosos é tão ultrapassado. Sério. Eu não preciso ser a rainha do mundo fora do campo de futebol e, aliás, eu tenho todos os garotos dos quais preciso pra fazer minhas vontades. A garota nova me irrita um pouquinho, mas eu não tenho nada contra ela além dos hábitos agressivos.

— Mas...

— Sem mas. Espero que você desencane disso, Aline, não é? - Camille botou a mão no ombro da mais nova e a encarou com uma expressão condescendente. - Supere e siga a sua vida, tá legal? Sem tramoias e planos ruins, porque isso é coisa de quinta série. E, ah, essa ruga entre as sobrancelhas de tanto pensar em um plano malvado não é nada atraente. - Com seu habitual sorriso falso, ela mandou um beijinho no ar e saiu andando. Mas parou de costas para Aline, virou o rosto e soltou: - E nunca mais me mande mensagem.

Assim que a outra dobrou no final do corredor, Aline soltou um grito de frustração. - Não. Acredito. Nisso! GRRRRRRRR! Menina estúpida! Fica bancando esse ser evoluído. - Socou o armário, mas a mão doeu como o inferno e ela recolheu o punho com um gemido de choro. - Droga! Será que eu tenho que fazer tudo sozinha nessa vida?

Mas ela não iria simplesmente desistir. Seguiu em frente com seu plano, tentando pensar em qualquer outro aliado que lhe ocorresse. Só não contava com uma presença sombria escondida no armário de limpeza do corredor, mas podendo ouvir tudo. Simon, o emogótico - a encarnação terrena das trevas.

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Mais tarde no mesmo instituto - 1:23 pm - Aula de artes.

Clary já havia prendido seu cabelo e arregaçado as mangas para a pintura de artes em que vinha trabalhando naquela semana. Era sua aula favorita depois da Química com Valentim - um professor que parece ser rigoroso e atroz, mas que se mostrou suficientemente simpático com Clary, ainda mais após ela se mostrar um prodígio.

Mas a professora Jocelyn... Caramba! Nunca na vida Clary pensou que as aparências enganassem tanto. Na primeira aula, foi tudo tão afável... Agora ela se comportava como uma verdadeira megera. Sempre criticando algo do trabalho de Clary, encontrando uma razão para fazê-la se empenhar mais, mesmo ela sendo a mais esforçada da turma. Reproduziu os quadros passados como exercício quase com maestria, mas esse quase era o suficiente para uma expressão duvidosa e um "talvez você devesse..." da parte da professora.

Enquanto que Jace, que pintava como se o próprio Jesus Cristo houvesse descido do céu, posto a mão na cabeça dele e tirado todo talento pra pintura possível, ganhava um "Uau, estamos melhorando aqui". Mas, mesmo assim, Clary se sentia motivada e estimulada na aula. E adorava pintar, então usava todo o tempo disponível em sala para se concentrar nisso e em nada mais.

Naquela aula em particular, deveriam pintar algo relacionado ao surrealismo e ela já estava tendo algumas ideias, quando um bilhete chegou ao seu cavalete por meio de correio de turma. A garota ao seu lado, diante do olhar interrogatório de Clary, apenas deu de ombros e apontou com a cabeça para Simon, o emogótico.

Ele a encarava, como se esperasse que ela lesse o bilhete. Ela o fez. Em letras arredondadas e limpas estava o seguinte bilhete:

Preciso te dizer uma coisa. Depois da aula?

Ela achou estranho Simon, o emogótico, ter algo para contar pra ela. Só se falaram uma vez e foi por conta de uma agressão de Sebastian. Mas olhou para ele e apenas assentiu com a cabeça. Ele então desviou o olhar para a própria tarefa - o olhar coberto por delineador.

— O que foi isso? - Jace questionou.

— Hmm... Simon me mandou um bilhete. Quer me contar alguma coisa depois da aula.

— Simon Lewis? O que se veste todo de preto?

— Esse mesmo. É estranho, nós só nos falamos uma vez na vida.

— Ele namorou Isabelle por algum tempo no primeiro ano. Talvez seja sobre ela. - Jace não parecia necessariamente amistoso ao falar sobre o garoto.

— Você não gosta dele? - Clary arriscou perguntar.

Jace suspirou e balançou a cabeça. - Não gostar é algo decisivo demais. Eu não desgosto dele, apenas não o amo como devo amar meus semelhantes.

— Que bom eufemismo pra dizer que detesta o garoto. - Clary riu, mas Jace não achou graça. - Por quê?

— Nada demais, só meu santo que não bateu com o dele, sabe?

— Tudo bem você falar, Jace, você não vai pro inferno por desgostar de uma pessoa, sabe?

— Eu não desgosto dele, Clary. Já disse.

— Desgosta sim. A questão é você dizer o porquê.

— Não desgosto.

— Desgosta.

— Não desgosto.

— Desgosta sim. - Ela sorriu. - Desgosta. Desgosta. Desgosta. Desgosta. Desgos-

— Inferno, tá bom. Eu desgosto dele. Ele é tão... herege. Se intitulando a própria reencarnação das trevas. Além disso ele é... tão gótico. O que ele está tentando provar com isso, sabe?

— Sei. Sei exatamente. Você é tão católico! - Ela riu mais uma vez. - Como você pode desgostar de uma pessoa só por ela curtir as trevas enquanto você curte a luz? É tudo uma questão de ponto de vista.

— Não sabia que Clarissa Parker era a defensora dos góticos satanistas agora.

— Oh, não chore, padrezinho. Eu iria dizer a mesma coisa se Simon, o emogótico, dissesse que você é iluminado demais. - E rindo para si mesma retornou à tarefa.

~*~*~

Não tardou para Simon ir de encontro à Clary após o fim da aula. Ele parecia meio receoso, mas não tanto. Ainda era meio tranquilo, por mais que o delineador passasse a impressão de pessoa perturbada.

— Então... - Clary tentou parecer amistosa, por mais que sua curiosidade quase falhasse com o plano. - O que você tem pra me dizer?

Ele mostrou um sorriso pequeno, esticando o lábio inferior com aquele piercing em argola que ele tinha no canto esquerdo do mesmo. - Eu estava me escondendo no armário de limpeza hoje e escutei uma conversa... hmm... interessante. Aparentemente uma caloura está buscando se vingar do Sebastian, de você, do Alec... De todo mundo desse circulo. Principalmente de Isabelle.

Clary ficou espantada. Quem poderia estar querendo se vingar de todo mundo? O que eles haviam feito de errado para uma caloura?

— Hã... mas...?

— Eu não sei quem foi, então nem gaste seu tempo perguntando. Mas sei que foi buscar a ajuda de Camille Belcourt, que dispensou sem nem pensar duas vezes. Talvez a menina tenha algum ódio infundado pela Izzy ou algo do tipo. Mas não é como se ela fosse uma santa também.

Izzy. Ele tivera intimidade com Isabelle antes, a ponto de continuar chamando a mesma pelo apelido depois do término.

— É, eu sei muito bem disso. - Foi o que ela respondeu. - Eu, hum, vou cuidar disso. Muito obrigada, Simon.

— Não precisa agradecer. Só não conta pra Iz que fui eu quem contei. Não quero que aquela megera pense que eu me preocupo com ela. - Ele balançou a cabeça e soltou um Pfff, antes de acenar pra ela e sair andando. - A gente se vê por aí.

Tá bom, né... Era tudo que ela conseguia pensar após tal demonstração de rancor. Clary precisava descobrir duas coisas: A primeira, mais importante, quem diabos estava planejando uma vingança coletiva?

E a segunda, tão importante para a curiosidade da menina quanto a primeira: Que diabos havia acontecido entre Isabelle Lightwood e Simon, o emogótico?