Doce Coração

O beijo doce de um certo ruivo - Fim


É o dia do funeral da avó.A Íris está cá com a família,estão sentados num banco das filas do meio.A Ambre também veio com o Nathaniel.Perto da coxia está um garoto musculado e descaço,de cabelo ruivo e com um par de patins esmurrados encostados à parede.Agarra na minha mão quando passo por ele e aperta-a com força.

Sentámo-nos na fila da frente,os pais,a tia,o avô,o Totó e eu.Somos uma família,invulgar,embaraçosa,estranha,mas uma família.Como é que eu alguma vez pensei de outra forma? Falta a avó claro,ela era o coração desta famíla,mas nunca mais estará cá.

A cerimónia do funeral decorre e quando acaba a Íris vem ter comigo.

–Lamento amiga_diz ela.-A tua avó era adorável.

A palavra "era" fica-me encravada na garganta,como um pedaço de vidro.Será que me vou acostumar a ela?

A Íris afasta-se e o Castiel vem direito a mim e abraça-me com força,o que não é tão assustador como se poderia imaginar.Dá-me uma sensação boa,de segurança.

–Obrigada Castiel_sussurro para o pescoço dele.-Por tudo.

–Tudo bem_diz ele.-Sempre que precisares.

Afastamo-nos ainda de mãos dadas.

–Então..._diz o ele.-Isso significa que já vais sair comigo?

–Castiel!_dou-lhe um pontapé no tornozelo,ele dá um grito,afasta-se e senta-se nos degraus da igreja a calçar os patins.

***



Estamos em Outubro e as árvores que ladeiam o cemitério estão,lentamente,a ficar vermelhas,bronzeadas e douradas.O ar está fresco e eu aperto o meu cachecol preto em redor do pescoço deixando as pontas caírem,é o último cachecol que a avó tricotou e eu adoro-o.

–Então e eu?_pergunta o Castiel,puxando pelo cachecol.-Não podemos partilhar?

Estamos sentados lado a lado no muro que ladeia o cemitério,a olharmos para a relva recém-cortada e as pedras tumulares.O Castiel desenrola o cachecol,aproxima-se de mim e enrola-o em volta de nós dois.O Totó está a brincar aos nossos pés e a vigiar a bicicleta do Castiel.

–Ainda sinto a falta dela_digo-lhe.

–Bom,nós acostumamo-nos a ter as pessoas por perto_salienta ele,sorri e dá-me uma cotovelada nas costas.

Sorrio.

–Sim é verdade.

O Castiel abandonou os patins,finalmente.O Lysandre tirou-o da equipa de hoquéi,por isso ele seguiu o meu conselho e arranjou um novo passatempo.Infelizmente os seus talentos -se é que tem alguns- também não estão no mundo do ciclismo.

O Castiel agarra no comprido cachecol preto,puxando-me com ele até que os nossos rostos se tocam.Puxa-me o cabelo para trás e vira a minha cara para ele.Beija-me e eu sinto os lábios estremecerem e borboletas no estômago,tenho de admitir que o Castiel sempre tem alguns talentos.

Afastamo-nos a sorrir e o Castiel pega num ramo e arrasta-o pelo muro para o Totó o perseguir.

–Eh Soraia_diz ele sorrindo para mim.-Há quanto tempo é que nós andamos?

–Nós não andamos_respondo-lhe.

–Certo_ele franze a testa.-Então...o que é que nós fazemos exatamente?

–Apenas passamos tempo juntos.

–Passamos tempo juntos,ok_ele está tão perto que consigo sentir a sua respiração,quente e doce no meu rosto.Os dedos dele entrelaçam-se nos meus.

–Tenho estado a pensar nisto_diz ele.-E acho que há vários aspetos desta coisa de passarmos tempo juntos que ainda não experimentámos.É capaz de levar meses e meses,anos até,para sair perfeito.

–Então?_interrogo.

–Então,talvez devêssemos praticar mais,logo à noite.Encontrámo-nos às sete e meia?

Ele inclina-se para a frente e beija-me suavemente,depois salta do muro,pega na bicicleta e afasta-se a pedalar.O Totó corre atrás,tentando morder os pneus.

–Vê isto!_grita,fazendo um cavalinho e tentando afastar o Totó ao mesmo tempo.Previsivelmente,ele despista-se e vai contra um caixote do lixo.Senta-se e esfrega o cotovelo.

–Estou melhorando!_exclama a sorrir.

Ao pôr do sol,algo cintila naquela luz como algo de mágico,um caminho que poderia levar a uma cidade esmeralda,ou talvez apenas a uma noite com um garoto ruivo,giro e desastrado.Desço do muro e corro pelo caminho dourado na direção do Castiel,com o cachecol a esvoaçar atrás de mim.

FIM...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.