Do outro lado da linha

Atendimento #033: Politica


Atendimento #033: Politica

Leu o título e pensou em corrupção? Pois é que mente essa nossa não? Bom infelizmente os atendentes não conseguem ficar alheios ao mundo político. Pode parecer impossível, mas volta e meia alguma notícia acaba chegando aos ouvidos de um atendente.

— Agora que deixamos tudo correto podemos dialogar um pouco sobre política, meu caro Ezequiel. — O cliente falava como se estivesse comendo uma batata doce. Pomposo e culto, parecia um leão em cima de uma rocha. — O que você acha do caso do ex presidente ser preso.

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— A...eu...err — O atendente foi pego desprevenido, não tinha argumentos suficientes para forma opinião sobre um assunto que nem se quer dominava. — Bom eu não sei muito sobre isso senhor, mas me informe se o procedimento está avançando está certo?

— Claro meu amigo deixarei vossa persona ciente de cada avanço que ocorrer. — Pigarreou. — Desculpe a indelicadeza, mas como o senhor não sabe muito da operação pratos limpos.

Lembram-se do atendimento anterior onde eu disse que atendentes não podem desvirtuar do assunto? Então. Esse era outro caso desses. O atendente conferiu o registro do cliente, lá dizia claramente “Jornalista influente.”

— Bom senhor não são todos que trabalham em jornais, então não tenho opinião formada sobre isso. Na verdade eu até tenho, mas não quero falar.

— Mas você não acha que fica muito feio para imagem do país ter um ex representante preso? O que os outros países vão pensar de nós?

O atendente cerrou os olhos se irritando com a insistência do cliente em puxar aquele assunto. Sua barriga roncava como um metaleiro fazendo screamo.

— Olha eu quero que o circo pegue fogo, enquanto eu conseguir usar o banheiro de boa, eu não vou sair na rua para tacar fogo em ônibus se é isso que você está querendo ouvir. — bufou em desprezo pela demora do processo. — Essa coisa ai acabou ?

— Se refere ao procedimento que foi informado? — o cliente esperou por algum tempo. Verificou o andamento. — Este se encontra em trinta e dois por cento. — Pigarreou. — Então quer dizer que não se importa com os rumos da nação? Quer dizer que se colocassem um macaco no planalto você não se importaria?

— Mas eu não disse isso! Eu só falei que quero que o circo pegue fogo. Serio mesmo senhor eu não quero falar de política, principalmente com um jornalista.

— Entendi...só uma coisa...

Ezequiel colocou o telefone no mudo e praguejou todos os professores que aprovaram aquela matraca fabricadora de perguntas.

— Senhor vamos manter nossa relação estritamente nessa chamada, está bem? — Ezequiel interrompeu o cliente elevando o tom. Ao fazer isso seus colegas o observaram com espanto. Logo ele viu que a frase saiu com um duplo sentido indesejado. — Conversas, nós estamos aqui para suporte e não conversas está bem? — Enfatizou novamente deixando claro a heterossexualidade presente na chamada.

— Mas é que …

— Pra quê discutir isso, serio? — Ezequiel estava revoltado. — Quando se liga para um prostíbulo você discute política com as meninas também? Quando você pede pizza fala de falta d’água?

— Só me responda como um atendente vê o cenário político?

Ezequiel largou o headphone, odiava tanto conversas desconexas do atendimento que era capaz de pegar o telefone do cliente e depois ligar para ele com ameaças. Não que ele tenha feito alguma vez, não que é isso...eu acho.

— Tá se eu disser você promete parar de encher meu saco com isso?

— Eu juro. — Respondeu o jornalista.

— Eu acho que é tudo uma babaquice sem fim, não tenho tempo para ler e nem ouvir nada dessa porcaria burocrática. Se eu fosse um político influente, coisa que eu não sou, reveria as leis por que essa porcaria parece mais uma festa de adolescentes bêbados de corote com suco em pó!

— Acabou. — Anunciou o cliente sucinto.

— Não, não acabou ainda. — Ezequiel tomou novamente o fôlego. — EU quero mais é que queimem tudo, deixando meu café e bolo chegar até mim tá beleza.

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— E o senador Hilton?

O jornalista fazia referência a um político que tinha sido assassinado no Rio de Janeiro, mais especificamente no cristo redentor pendurado como um cordão.

— Sei lá, nem ligo para aquele babaca, assim como não ligo para você! Aliás essa joça já acabou ou vamos ter de ficar aqui mais meia hora?

— Não senhor Ezequiel, isso foi mais que o suficiente. Agradeço a participação no nosso jornal.

— Nosso O QUE? — A ligação encerrou-se de súbito.

No dia seguinte uma matéria com a seguinte manchete foi publicada no maior jornal do país “Atendentes estão descontentes com seu governo!” “Representante de grande empresa revela sua insatisfação: Eu discuto política quando vou ao prostíbulo”.

Como jornal na mão Ezequiel não acreditava no que via.