Do outro lado da linha

Atendimento #031: Fatura


Atendimento #031: Fatura

As maravilhas do callcenter são ilimitadas, não sei porque o mundo não se digladia por uma vaga desse emprego. As faculdades deveriam ter cursos obrigatórios sobre tele atendimentos. O mundo seria muito melhor se, ao invés de médicos, tivéssemos mais atendentes.

Então...vamos voltar a realidade.

Um atendimento PER-FEI-TO precisa de vários requisitos, porém um dos pontos que o cliente nunca entende é o famoso “um momento”

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— Só um momento por gentileza senhora. — Amanda passou a mascar o chiclete com mais força, queria tirar todo o açúcar da goma antes de jogá-la fora. Com um peteleco para cima lançou a massa na mesa de Antônio que grudou instantaneamente ao mouse. — Isso! — Comemorou a boa mira.

— Menina você vai demorar mais uma hora? — A cliente respondia pelo nome de Charlote; seca como uma uva passa que deveria ter sido consumida no natal, mas que só se lembraram dela na páscoa, a mulher tentava descobrir informações sobre sua fatura. — Sabe eu só quero algo simples, não tem dificuldade em ler coisas em uma tela né?

Amanda tirou do mudo mordendo a língua.

— Não, não têm, se tivesse essa profissão teria menos gente tapada. — Antônio retornou para seu lugar naquele instante, colocou a mão sobre o mouse. Demorou alguns segundos para entender que algo estava estranho. — Por que a senhora simplesmente não acessa seu sistema com o cartão.

— Você se encaixa nesse grupinho né querida? Por que por esse tempo todo está parecendo. — Venenosa a mulher tentou irritar a atendente. — Esqueceu que eu não tenho mais cartão? Ou sua memória é menor que a de uma minhoca mesmo?

— Não senhora, infelizmente não esqueci sua voz irritante me faz lembrar sempre. Como a senhora e boa em analogias vamos fazer o seguinte…

— Diga querida. — A cliente já queria açoitá-la com uma cerca elétrica.

— Aguarde mais um momento. — Anunciou rapidamente colocando a chamada no mudo. — Se você ficar querendo me irritar só vai se ferrar queridinha. Sou tipo inspetora de colégio interno, meu castigo e fazer você ficar em silêncio. Tenho o dia inteiro para terminar essa chamada. — Ezequiel chegou com um bolo de chocolate e entregou. Ele a cumprimentou com um beijo no rosto. — Valeu.

Igor era maneiro, brother e tudo mais, porém algo que ele não tolerava era demonstrações afeto explicitas. Não que ele fosse um solteiro mal amado, pelo contrario, nas palavras dele:

“Eu só não deixo todo mundo atender nú por que eu vou ser preso pelo tamanho da minha arma.”

O problema e que os superiores eram velhos e não frequentavam motéis, então dá para imagina o nível de caretisse né? Por isso sempre que os dois recém casados se encontravam ele os observava tentando impedir uma eventual pegação. E naquele momento ele os fuzilava-os com os olhos.

— Eita peste! — Ezequiel constatou o tempo que a garota estava naquela ligação. — Até agora eu estava aqui do teu lado, se tava com perrengue era só falar.

— Mas quem te falou que eu to com perrengue, maluco?

— Não? — Questionou Ezequiel com os olhos grandes no bolo. — Então explica como você está a duas horas e meia em uma mesma chamada?

No telefone dos atendentes sempre mostra, além do telefone e DDD do cliente, o tempo de duração da chamada que está acontecendo. A média de tempo varia de acordo com o que deve ser feito, porém quando esse tempo é muito grande, e vamos combinar que duas horas é só um pouquinho a mais, o supervisor se aproxima e tenta ajudar.

— Charlote o negócio é o seguinte, os correios tentaram entrar em contato com a senhora, a equipe de segurança tentou entrar em contato com a senhora, até minha mãe tentou entrar em contato. Aparentemente a senhora se recusou a atender. Mas pelo que vi vão tentar entregar sua fatura hoje.

— Filhinha, eu não tinha condições de atender. Coloca esse seu cérebro de minhoca pra funcionar.

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— Certo senhora só um momento por gentileza.

— Olha aqui, eu cansei! Não vou esperar porcaria nenhuma! — A cliente começou os gritos. — Eu preocupada por que roubaram o meu cartão e você me fazendo de trouxa, eu só queria uma cópia da minha fatura para levar como prova para a polícia, é realmente tão impossível assim?

Sim, a central de Ezequiel realmente atendia de tudo um pouco...Reparou que a senhora Charlote está falando de cartão de crédito? Pois é...triste não?

O telefone de Amanda permaneceu fora do mudo por mais um tempo. A cliente indignada trouxe até mesmo seu marido e filhos para falar junto ao telefone.

— Minha mãe têm razão moça estamos preocupado com o que pode vir na fatura, ela foi roubada e não foi possível cancelar em tempo. Os bandidos devem ter conseguido comprar algumas coisas.

Amanda, que já tinha comido todo o bolo de chocolate e bebido uma garrafa de café, percebeu que aquela informação era importante.

— Peraê, — falou limpando os restos do doce. — Como não conseguiu cancelar o cartão com antecedência? Bastava ligar.

— Eu fui SEQUESTRADA! — A cliente em fúria gritou ao fundo.

— É, isso explica muita coisa...— Pensou por um segundo. — Só um momento…

— Sua VACA! — A cliente perdeu as estribeiras.

Ao fundo o interfone da residência da cliente tocou, os correios chegaram justamente naquele momento. Amanda tinha acesso a conta da cliente, só não tinha conseguido ler tudo o que foi comprado devido a quantidade de páginas cheias.

— Que bom que ela foi roubada, pensei que ela tinha comprado um carregamento de armas, mil reais em carne e cinco carros para uso próprio. — Falou Ezequiel constatando os itens mais chamativos na conta da cliente de Amanda.