Diários

Capítulo 16 - Quadra de Loucos


16º dia, 22h19min

\"Se a vida te dá limões... Venda-os para uma rede de supermercados, você lucra muito mais!\"

-Ahhh! Ahhh! – imagina uma voz de uma menininha de cinco anos te acordando aos gritos – Cloe, Cloe! CLOEEE! Conta uma história, uma história! Conta Cloe!

“Inferno!”

- Não!

- Ahhh! – ela continuou gritando, olhei no relógio. Cinco e Trinta e Cinco.

- Você me acordou de madrugada só para eu te contar uma história?!

- Conta Cloe! Conta!

“Vá se lascar!”

- Desculpa Emilly, mas não dá, não.

- Por que Cloe?

- Porque eu vou voltar a dormir!

- Ah não! Cloe acorda! Acooooorda!

Pense numa criança pulando em cima de você, nada agradável.

- Mãe!

- Anda Emilly – minha mãe a buscou sonolenta. Tranquei a porta e voltei pra cama, doces sonhos, quer dizer nem tão doces porque eu não consegui recobrar meu sonho e depois não sonhei com nada.

Depois meu celular começou a tocar o alarme, o Kyle tinha posto alarme com aqueles toques toscos que já vinham no celular, fiquei com raiva daquele “turururu turururu tururu turu” e acabei derrubando o aparelho do criado-mudo, pelo menos ele parou.

Depois de um banho me mandei para escola, depois da escola me mandei para casa!

A Nicole faltou a aula pela manha.

E quarta-feira é dia de... Não! Não é de feira! É de Educação Física, meu martírio pessoal... Mas hoje aconteceu uma coisa bizarra:

Legal cheguei ao Ginásio, rolou a droga do aquecimento, bem neste momento umas meninas do CEFM chegaram lá e sentaram na arquibancada.

“Ah vá! Chegou a Trupe das Patricinhas Desmioladas...”

Tão logo eu pensei isso elas começaram a cantar o grito de guerra da equipe de vôlei

- Uh! Arra! O ‘cefim’ vai ganhar! E Aê todo o resto vai perder!

“Quanta criatividade... Será que elas pensaram nisso sozinhas?”

Pela primeira vez tive vontade de jogar, só para esfregar esse grito ridículo no rosto de cada uma delas.

O professor começou a pôr as meninas em suas respectivas posições.

Mal eu pus na lateral da quadra senti um empurrão muito forte nas costas e cai de frente, tão logo a Nicole, que estava do outro lado da quadra, caiu também e Dominique também!

Quando me virei dei de frente com um homem numa posição como se fosse um touro, ele quem tinha me acertado por trás. Olhei para os lados e notei que outros homens, vestidos da mesma forma que o primeiro, tinham investido contra Nicole e Dominique.

Eles estavam com calças, blusas e sapatos brancos.

O que me atacou estava babando muito.

Comecei a me afastar, rastejando de costas, daí ele começou a bater os pés, como um touro prestes a acatar.

Reparei que os outros homens faziam o mesmo.

Ao que dava para notar os homens tinham um problema mental.

Tentei ver o que professor estava fazendo, mas ele estava brigando com outro homem, também de branco.

“Agora ferrou!”

- Ahhh! - Dominique gritou. Neste momento as meninas do CEFM entenderam a situação e começaram a correr em direção ao portão do Ginásio, nos abandonaram!

“Filhas-da- Put*&¨! Miseráveis!”

A gente não podia sair porque os homens haviam fechado o portão quando entraram na quadra.

Fiz um sinal para Nicole para correr no três.

Fui mostrando os dedos para contagem.

“Um, Dois, TRÊS!”

Começamos a correr e o homem que estava atrás de mim começou a correr atrás de nós, logo eu e ela estávamos correndo emparelhadas.

- Trouxe celular? – perguntei

- Trouxe, mas está no banco do outro lado.

- Sem problemas – eu sorri – ele não pode correr em mais de uma direção, não é?

Ela entendeu, contamos de novo

- Um, Dois, Três! – ela foi para esquerda e eu para direita, na direção dos bancos, infelizmente o homem ME seguiu!

“Cadê o Ryan quando eu preciso dele?!”

Conseguir pegar o celular dela quando passei pelo banco, mas sem parar de correr

Nicole havia corrido para o portão, mas antes que ela pudesse abrir o portão o outro homem já estava correndo atrás dela.

E logo todas as meninas começaram a correr também! E o professor ainda atracado com o outro cara.

“Perfeito!”

Distração! Três homens não podiam correr em dezenove direções diferentes!

Disquei o número da polícia, enquanto corria. Não imagine a cena, é estranho demais.

- Nicole! – fiz sinal para ela correr para o meu lado – Liguei para polícia, logo chegam, mas temos de abrir o portão

Estávamos correndo emparelhadas de novo.

- Mas tem... Um cara lá... Guardando o portão - ela falava, logo estaria sem fôlego

“O tempo está acabando”

- Vamos!

Começamos a correr para o lado do portão.

- Eu distraio e você abre! – falei

- Certo

Fui para frente do homem e comecei a fazer caretas, ele bufou como um touro e começou a me perseguir

- Ainda não, Nick!

Ela começou a abrir o portão, mas ninguém podia sair até que a polícia chegasse, caso contrário, os homens também sairiam.

Comecei a ouvir o barulho de sirenes e gritei.

- Agora!

Ela abriu e saiu, logo estava de volta com os policiais e apontando para os homens de branco para identificá-los.

Foi preciso três policiais para separar o professor do homem de branco.

Quando finalmente todos foram presos eu caí exausta no chão, não agüentava mais correr.

- Cloe, você está bem?

- Dá para viver... – Nicole tinha corrido até mim, depois de me ver cair – só preciso respirar de novo

- Nós realmente conseguimos – ela falou feliz olhando os homens serem levados pelos policiais – Viva o poder feminino.

- É... Viva. – eu nem tinha mais fôlego.

Mal me levantei e um policial veio até nós.

- Eles são de um sanatório aqui perto, são espanhóis.

“Que ironia...!\"

- Nossa! – Nicole disse aliviada.

- Foi você quem ligou não foi?

- Foi – respondi

- Bom trabalho, quem sabe algum dia você não seja da polícia...

“Nem em sonho!”

- Quem sabe...

- Nós já podemos ir? – Nicole perguntou, ela parecia bastante perturbada com aquela situação.

- Podem sim.

- Até logo. – ela disse displicente e me conduziu para fora do Ginásio.

Começamos a andar de volta para casa, felizmente boa parte do nosso percurso era o mesmo.

- Que dia estranho...

- É... Quem iria imaginar uma coisa dessas?

Comecei a reparar que esse tipo de bizarrice começou depois que conheci o Ryan.

“Deve ser coincidência... Ou não...”

- O que será que vai acontecer amanhã...

- Vai chover... – eu falei enquanto reparava no céu – amanhã... Só vamos saber quando chegar...

- É... Aliás, temos um trabalho de decoração para fazer

- Verdade, e quando você sugeri que o façamos?

- Que tal amanhã?

- Pode ser... Onde?

- Sua casa, pode?

- Pode...

- Por que é assim?

- Assim como?

- Você diz tudo certinho...

- Digo?

- Diz. Não repara?

- Não. Só falo do jeito que me ensinaram, não sei se é certo...

- Mas é!

- Nunca notei...

- Tchau, até amanhã – ela se despediu virando a esquina.

- Até.

Cheguei em casa sem nem sentir minhas pernas, deitei e elas começaram a doer... Fiz minhas tarefas de casa e vim para cá.

Despeço-me por hoje

- “Ut Everto Comitatus” -