Era 16 de outubro de 1952, mas antes de começar, quero lhe avisar: Caro leitor, essa história não é um conto de fadas. Não é sobre uma mocinha indefesa e um príncipe encantado que veio a seu resgate. É sobre mim e minha história com outro homem. Sim, desculpe a decepção, mas sou gay e demorei em me assumir assim, abertamente. Espero que entenda e que não deixe que o seu preconceito lhe impeça de me conhecer melhor.

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_ Ele era gay? É gay? – Nicolas colocou a mão no peito e eu o observei.

_ Você quer que eu pare? – ele ficou ponderando. – Você tem algum preconceito? Tenho certeza que isso não vai...

_ Não, pode continuar. – interrompeu-me, com a mão ainda sobre o peito. O olhar vago, ele certamente sentia algo em relação á isso.

_ Bom... – pigarreei e continuei.

Eu tinha 19 anos, tinha acabado de entrar na faculdade. Era um menino quieto e sem muitos amigos, vivia em casa estudando, era a primeira vez que entrava em um lugar onde eu poderia estudar com outras pessoas. Na época, eu era pobre e não restava outra opção para os meus pais a não ser de me educar em casa. Eu era muito grato á isso, por isso, tentei de tudo para conseguir uma vaga na faculdade mais renomada da região e consegui uma bolsa.

Andei pelos corredores carregando minha mala com poucas coisas, os veteranos estavam por lá atrapalhando o caminho, tinha anotado na minha mão o número do meu quarto. “23”, vinte e três. Fui me desvencilhando dos casais que se agarravam no meio, algumas moças me olhavam de cima a baixo, o que realmente me incomodou e me deixou com vergonha.

Ao me deparar com a porta 23 entrei logo, e assim como entrei, fechei a porta, e o silêncio apareceu quase que imediatamente. Me virei e havia um rapaz deitado em uma das duas camas de solteiro do minúsculo quarto, ele lia, abaixou o livro para me observar.

_ Olá. Você deve ser meu novo companheiro de quarto. – eu assenti.

Ele era elegante e tinha os olhos azuis, meio verdes. Ele se sentou na cama e me estendeu a mão.

_ Eron, prazer e você?

_ Nicolas, mas pode me chamar de Niko. – apertamos as mãos cordialmente e eu deixei minha mala em cima da cama vazia.

_ Você vai fazer qual curso?

_ Magistério, e você? – respondi. E ele deu uma leve risada.

_ Esperto. Eu faço economia.

A principio não entendi o seu comentário, mas depois iria entender o porque. Na minha sala de Magistério tinham muitas, muitas meninas. E apenas eu e mais dois rapazes estávamos estudando para sermos professores. Mas, eu era bobinho demais pra entender.

Comecei a arrumar minhas coisas no espaço reservado para mim no armário, organizei os livros e Eron começou a se arrumar pra sair. Tomei um susto quando abriram a porta, um rapaz entrou no quarto. Alto, os cabelos pretos e lisos bem arrumados, de terno creme, e um cigarro pendendo na boca. Seus olhos escuros me mediram de cima a abaixo, e ele logo soltou uma risada sarcástica.

_ Sua nova presa, Eron?

_ Félix! – Eron disse. E eu juro pra você, que na hora, eu não entendi.

_ Você já está atrasado. – ele tirou o cigarro da boca e o segurou nos dedos. E eu fiquei encantado com a elegância de seus movimentos. – Anda, anda. – ele mexeu as mãos, deixando as cinzas do cigarro caírem no chão. - Pode levar seu novo carneirinho, se quiser. – ele me olhou e deu uma piscada.

Tão logo quanto entrou, saiu, e fiquei olhando para a porta fechada.

_ Me desculpa. – Eron me observava. – Esse é o jeito dele mesmo. Não se importe com suas maldades. Você quer ir com a gente?

_ Pra onde?

_ Vai ter um baile aqui próximo do campus para comemorar o começo das aulas. Quer ir?

_ Eu... Quero. – Eron sorriu.

Me olhei no espelho, não tinha como ficar melhor do que aquilo, o meu cabelo desgrenhado e as roupas simples de sempre, um suéter e uma calça social que minha própria mãe tinha feito pra mim. Nunca tinha ido a um baile ou uma festa assim. Tudo o que eu sabia sobre tinha visto na TV.

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_ Está ótimo, Niko. Vamos.

Ao sairmos do prédio da república, um vento gelado bateu em mim trazendo o cheiro de cigarro e bebida. Haviam quatro carros e vários casais. O rapaz que tinha entrado no quarto estava encostado a um dos carros e uma linda mulher loira lhe agarrava a cintura. Ele não parecia nota-la, mas pareceu ficar incomodado quando ela começou a atacar seu pescoço.

_ Ah, criatura! Finalmente vocês chegaram. – ele anunciou alto, chamando a atenção de todos para nós.

Ele se afastou da loira e caminhou até nós. Estendeu a mão para mim e eu a apertei com força, tentando mostrar uma certa segurança.

_ Félix e você, é?

_ Nicolas, mas pode me chamar de Niko.

_ Niko. – ele disse com um tom diferente e sorriu. – Seja bem vindo. Tenho certeza que vamos nos divertir muito essa noite.

_ Que rapaz mais atrevido. – O Niko mais velho me alertou e eu acabei rindo.

_ Concordo, ele jamais teve papas na língua.

_ E o que acontece na festa?

_ Bom... – marquei a página do livro e o fechei. – Não está com fome? Te conto depois que tomarmos o café, pode ser?

_ Ah, claro. Também estou com fome. – ele assentiu.

_ Vou pedir para a Mariana vir te trocar e te espero lá fora para tomarmos o café, tá bom?

_ Tá. – ele sorriu. – Eu estou adorando essa história. – eu assenti com um leve sorriso, andei lentamente com a ajuda da bengala e sai do quarto.