3 MESES DEPOIS

– Ei, me ajuda com isso aqui.– Giovanna me chamava no jardim.

Ela estava tentando ergue uma cerca de arame até a cerca do jardim.

– No três... Um, dois, três! - levantamos a cerca e a apoiamos em frente a cerca.

– Essa foi a última? - perguntei.

– Sim, agora não passaremos pelo mesmo sufoco do mês passado.

Saquei um canivete e fui em direção à um buraco na cerca branca, onde havia um infectado observando. Passei o canivete pelo buraco umas cinco vezes até ele ceder.

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– De onde vieram tantos infectados como mês passado? - perguntei ofegante.

– Não sei, mas acho que ainda foi reflexo da explosão.

– Talvez... Ainda há alguns deles ao redor da cidade. - observei.

– São pouco comparados aos que invadiram a cidade. - Giovanna passou a mão na testa.

– Sim, sim. Ainda lembro de você encurralada na janela. - eu ri.

– Cale a boca. - ela me deu um empurrão. - Foi só falta de atenção. Eu não sabia que haviam três zumbis atrás da minha porta.

– Normal. Ei, preciso que você fique aqui e cuide da casa. Vou até o centro checar como está a situação, qualquer coisa, me chame pelo Walkie Talkie, ok?

– Tudo bem, mas vê se não some. Dá última vez, quase foi morto. - ela riu.

Caminhei até a saída do jardim.

– Não se preocupe, querida. - me abaixei e peguei uma mala pequena com algumas munições e armas. - Volto logo.

Entrei na caminhonete vermelha velha que eu havia achado há um tempo, joguei minha mala no banco do passageiro e liguei a máquina velha. O ponteiro de gasolina estava na metade, cravado. Dirigi por algumas ruas até o centro da cidade, tudo estava igual: escombros pela rua principal e na praça; um relógio gigante próximo à fonte, e as lojas fechadas. Contornei a rua principal e continue em frente, tentando fazer o mínimo de barulho possível até parar num posto de gasolina intacto abandonado. Desci da caminhonete e corri até a bomba mais perto: ainda estava funcionando.

– Isso! - sussurrei.

Puxei a mangueira e suguei o ar, coloquei a mangueira no tanque e deixei encher. Observei ao redor: nada. A cidade estava intacta, como se não tivesse acontecido um apocalipse ali. Encostei na bomba de gasolina, enquanto lia as pichações escritas atrás da mesma: havia um número de celular, alguns palavrões, desenhos, e etiquetas de marcas famosas. Um marca me chamou muito a atenção, o adesivo da mesma era maior do que das outras: Redjet, uma marca de cigarros que Willian adorava. O adesivo estava ali apenas há alguns meses, era novo e havia apenas uma camada de poeira por cima. O arranquei e o colei na parte de trás da caminhonete, próximo à placa. Saquei meu revólver e o recarreguei, caminhei até a porta da loja de conveniência e observei ao meu redor por alguns segundos.

Fiz força na porta algumas vezes que se abriu facilmente, entrei na loja que havia sido saqueada. Apenas alguns itens ainda estavam nas prateleiras empoeiradas, tais como: alho, fones, alguns CDs, revistas e pacotes de loteria. Caminhei até o caixa e parei em frente à estante do corredor. Haviam algumas revistas, doces, chicletes, balas e preservativos. Peguei os chicletes e os enfiei no bolso direito, e continuei até o caixa. Peguei alguns cigarros e fitas pretas e abri o caixa em si, algumas notas de cinco e dois reais que no total somavam uns 26 reais. Não acho que dinheiro seja uma coisa muito necessária agora, mas como não sou de recusar dinheiro fácil, peguei o dinheiro e guardei. Observei pela vidraça da janela, que dizia 'Loja 24h do Ramon', o sol estava forte e alguns papéis voavam pela rua. Avistei um infectado descendo a pequena ladeira da rua principal à minha frente, ele usava uma calça social preta toda rasgada, uma camiseta social azul claro, gravata preta e um chapéu também na cor escura. Sai da loja e guardei as coisas que peguei no porta luvas do carro. Eu não estava nem um pouco afim de gastar balas com aquele infectado e nem de chamar atenção da trupe dele, então, saquei meu canivete e fui em direção a ele. Cravei o canivete no seu lobo frontal e ele cedeu sem nem ao menos me ver chegando, me abaixei e li o seu crachá: "Jonathan F. Dias - Piloto da categoria B - 2011". Um piloto de avião? Aqui? Não poderia ser verdade, o aeroporto mais próximo daqui fica, provavelmente, em São Paulo. Me afastei do corpo que jorrava sangue escuro, alcancei a caminhonete, ejetei a mangueira de gasolina e entrei na caminhonete.

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– Tudo bem ai? - Giovanna me chamava ao rádio.

– Sim, consegui encher o tanque e está tudo calmo como de costume. - respondi enquanto dirigia pela avenida principal.

– Tudo bem então, volte logo. Câmbio e desligo.

***

– Então, como foi? - Giovanna perguntava enquanto eu fechava a porta de vidro da sala.

– Achei algumas porcarias e algum dinheiro, nada além. Mas você estava certa, achei gasolina no posto. - respondi.

– Yes. - ela fez sinal de vitória. - Ganhei a maldita aposta, eu sabia que teria.

– Certo, certo... Uma coisa interessante que achei no caminho, foi um infectado que vestia roupas de piloto de avião. No crachá dizia que ele piloto da categoria B 2011, achei bem estranho já que não há aeroportos na região.

– Amor, talvez ele estivesse fugindo da cidade na hora que isso tudo começou, mas morreu quando chegou aqui. Bom, pelo menos ele foi longe. - Giovanna respondeu enquanto sentava no sofá.

– É, pode ser.

– Vai sair à noite de novo?

– Vou. - passei a mão no rosto. - Vou dar uma volta até aquele penhasco na entrada da cidade, quero ver como vai o lugar.

– Tudo bem, vou com você hoje.

Olhei desconfiado para ela.

– Tem certeza?

– Sim. Quero checar aquelas explosões na madrugada, já estão acontecendo há semanas. - Giovanna se levantou.

– Vou por isso também, se eles vierem para cá, estaremos ferrados. - respondi.

– Sim, vou me arrumar. Está quase anoitecendo. - ela foi em direção ao quarto.

Sentei em frente a porta de vidro da sala e fiquei observando o quintal e o céu: alguns zumbis ainda tentavam passar pela cerca de madeira, mas sem sucesso. O céu estava em tons de roxo e o sol estava quando se pondo. Tínhamos que sair dali hoje a noite para verificar se as explosões continuavam, elas começaram há algumas semanas e vem nos tirando o sono. Escutamos barulhos abafados no horizonte por alguns segundos, e vemos fumaça subindo em forma de cogumelo. Sabemos que estão fazendo isso para matar os infectados, porém provavelmente há sobreviventes naquela área e eles estão bombardeando sem dó.

* 3 da manhã do dia seguinte *

Descemos da caminhonete na estrada que dava acesso à cidade, e caminhamos até a beira do morro. Estava escuro, então era difícil enxergar a floresta que havia ali embaixo.

– Ainda bem, não há pontos iluminados nem com fumaça. - Giovanna se aliviou.

– Não há ninguém acampando ali. Mas mantenha cuidado, não podemos vacilar. - rebati. - O bombardeio já deve começar.

Sentamos lado a lado na beirada do morro e ficamos com os olhos fixados no horizonte. Giovanna encostou a cabeça no meu ombro e segurei o revólver na mão esquerda. Cerca de dois minutos depois vimos luzes piscando à leste de onde estávamos, e as bombas foram lançadas à distância. Havia uma diferença de dois segundos entre uma bomba em outra, e a fumaça era cada vez maior.

– Vão acabar com São Paulo assim. - Giovanna sussurrou.

– É a intenção. - sussurrei de volta. - Não vai adiantar bombardear, uns vão morrer porém logo mais chegarão mais à cidade. Eles têm de achar a cura, ai sim irá surgir resultado.

Ficamos observando os bombardeios por minutos e dirigimos de volta pra casa.

***

– Ei, acorda. - Giovanna me chacoalhava. - Tem alguns zumbis lá fora.

Me levantei rapidamente e peguei minhas armas na mala.

– Onde?

– Na rua. - Giovanna sussurrava.

Corri até a rua, eu estava sem camiseta agora, mas pouco me importava. Subi no ônibus e atirei na cabeça de dois zumbis que morreram de imediato. Atirei no peito de um zumbi que cedeu, mas levantou novamente, dei dois tiros na boca e ele cedeu de vez. Um zumbi estava tentando escalar o ônibus agora, me abaixei e coloquei uma parte do cano da arma na boca dela, dei um tiro e apenas senti o sangue voando pelas janelas do ônibus.

– Você está... bem? - Giovanna descruzou os braços e se aproximou.

– Estou. - pulei do ônibus. - Você deu conta de algum?

– O do jardim que me alertou, o matei. Não se preocupe. - ela sorriu.

– Há mais deles vindo, vou me preparar e nós sairemos em breve.

– Jimmy...

– Hum? - perguntei enquanto corria pros fundos.

– Nada, esquece... Tenha cuidado.

Assenti com a cabeça e corri para a casa.