Divided

Into the night


“Não consigo mais, meu pé está doendo muito.” Beth lhe disse e Chase parou, lhe ajudando a sentar, escorada em uma árvore.

“Deixe eu ver.”

Ela estendeu a perna em sua direção, ele tirou sua bota e avaliou o tornozelo.

Estava torcido. Levemente inchado e um pouco vermelho. Mas não era nada que um pouco de descanso não fizesse melhorar em um ou dois dias.

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Tinham andando muito pouco, retornando na direção do ônibus, mas tendo que desviar aqui e ali por causa dos errantes. A arma de Beth tinha algumas balas e não queria gastá-las se não houvesse necessidade.

Perderam-se na floresta em um momento, mesmo que Chase tivesse um bom senso de direção.

“Se seguirmos para o leste encontraremos a estrada uma ora ou outra.” Dissera a Beth.

Isso foi antes que a garota torcesse o pé quando fugiam de um grupo de cinco errantes. Escaparam por pouco, mas além de arrastar a si mesmo, Chase agora tinha que ajudar Beth por boa parte do caminho, e isso os deixava muito mais lentos.

Chase estava sem muitas esperanças de encontrar os outros. Beth dissera que Linn tinha morrido. Sam deveria estar com Rick. Sofia provavelmente estava com Daryl ou Carol. E nisso se resumia todos aqueles que realmente queria encontrar, mesmo que gostasse de todos os demais.

Se estivesse sozinho não sabia o que teria feito. Já estivera sozinho uma vez e nada de bom ia resultar de sua solidão se Linn e Sam não tivessem aparecido. Mas com a obrigação de cuidar de Beth, sentia que possuía propósito e isso lhe manteria vivo.

A garota era um tanto irritante, com aquela sua mania de achar que tudo ia ficar bem, que estavam vivos e isso era o mais importante. No que Chase pensava que ela nunca deveria ter amado alguém de verdade. Por que se tivesse, saberia que quando aquela pessoa por quem mataria ou morreria já não existia, ser positivo e otimista seguia impossível.

“Vamos.” Chamou se abaixando a seu lado para ajudá-la a se erguer.

“Estou morrendo de sede.” Ela soltou passando um braço em seu pescoço e começando a capengar.

“Conte-me uma novidade, por favor.” Chase soprou com a boca mais seca que o Saara.

“Isso me lembrou da fazenda de meu pai.” Ela riu a lembrança. “Tinha esse errante que caiu em um dos poços e resolveram tentar trazê-lo para fora... Amarrar uma corda nele e puxar.”

“Entendi essa parte.” Chase soltou, por que ela tinha essa mania de tentar explicar tudo.

Tinha descoberto e aprendido mais sobre Beth Greene em dois dias do que em cinco meses de convivência, na estrada e na prisão. E nem tudo foi felicidade. Mas ela ainda era muito jovem. Tinha uma natureza um tanto doce demais e isso não era nada bom.

Ela calou e Chase deu uma olhada para seu rosto. Estava vermelho e seus olhos marejados.

Tinha sido grosso demais? Pensou.

Não achava que tinha sido. Dificilmente era grosso com as pessoas. Mas depois do que acontecera com todos aqueles que amava, se reservava o direito de não estar em seu melhor humor.

“Desculpe.” Pediu, por que nunca teve vergonhas e nem orgulho de fazê-lo.

Dos três, Linn sempre tinha sido a rancorosa.

“O que aconteceu?” Perguntou, desejava saber sobre o final da história.

O grupo de Rick evitava o máximo falar da fazenda de Hershel. Parecia que muitas lembranças ruins permeavam o lugar.

“Glenn desceu por uma corda e quase morreu.” Ela disse e calou. “Não é uma história engraçada realmente.”

“Do jeito que estou com sede, até a água desse poço eu beberia.” Chase informou arfando levemente.

“Olha.” Beth apontou para o telhado de uma construção à frente.

Chase sacou a arma e se aproximaram com cuidado. Avaliaram o local por algum tempo e não notaram qualquer movimentação.

“Nem tem errantes aqui.” Beth disse muito baixo e muito perto.

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“Pode ter do lado de dentro.”

“Podemos lidar com eles.” Ela foi otimista.

“Com seu tornozelo torcido e eu todo estropiado?” Chase perguntou se erguendo. “Garotinha, acho que você estava muito mal acostumada a ter Rick e os outros lhe protegendo.”

Ela lhe olhou duro, um pouco surpresa, por que sempre tinha contribuído, não era um peso morto. Mas nada disse. Chase olhava para a casa ao longe, no que parecia até uma igreja, e não ligava muito para o que tinha a dizer.

Tinhas momentos que falava sem parar só pelo prazer de chateá-lo durante as últimas quarenta e oito horas. Se ele tinha perdido amigos, ela tinha perdido seu pai e irmã, mas não ia desistir como o percebia a querer fazer.

Não ia desistir de novo.

Entraram na casa sem problemas. Nenhum errante à vista. Lá dentro tudo limpo, água e comida. Um abrigo seguro. Por enquanto.

“Era uma casa funerária, mas não sei para que continuaram fazendo isso.” Chase apontou para os corpos embalsamados.

“Talvez sejam família e amigos.” Ela disse olhando para dois corpos. “Não fazíamos o mesmo?” Perguntou com os imensos olhos azuis a encarar Chase.

“Era diferente.”

“Não, não era.” Beth capengou em direção à escada, para voltar à cozinha. “Queria ter enterrado meu pai.” Ela disse e calou.

Ficou calada pelo resto do dia. Chase deixou que continuasse dessa maneira. Apreciava o silêncio.

Evitaram-se durante o resto da tarde. Chase avaliou o local, encontrou algumas roupas e vestiu uma calça jeans nova e uma camisa por cima de sua camiseta. Gostava daquela coisa velha.

Escutou um som baixo e seguiu em sua direção. Há mais de um ano não ouvia música de verdade, as músicas nos ipods, ou nos CDs não contavam.

Beth estava tocando e cantando baixo. O som não iria atrair errantes, ou acreditava que não. Esperava que não.

Ela parou quando lhe viu e ele se aproximou para sentar ao seu lado, pousou os dedos nas teclas e tocou um trecho de uma sonata de Chopin, ela estava tocando um hino religioso e Chase não era muito religioso.

“Não sabia que tocava.” Ela soltou.

“Não havia pianos na prisão.” Ele resmungou, parando. “E só sei tocar uma ou duas, minha irmã era a artista da família.” Sorriu. “Ela fez aulas de dança, de canto, de piano, teatro... Era mais velha e sempre me levava junto, sempre queria que eu aprendesse também. No fim casou e ficou presa em Cinthyanna... Ela era especial sabe?”

Chase fungou e deixou que Beth tocasse sozinha um pouco mais.

“Conheço essa. Era uma das preferidas da minha mãe.” Beth lembrou começando a tocar a mesma melodia.

“Era a preferida de minha irmã também.” Chase revelou acompanhando Beth, observando suas mãos e batendo com os olhos em seu pulso, encontrando uma cicatriz que nunca percebera.

Como poderia, mal olhava para a garota.

Ela sentiu seu olhar e afastou as mãos das teclas, puxando o casaco e se afastando.

Chase ficou em silêncio a tocar. Beth notou que tinha mãos de dedos compridos e delicados, não rudes, e mesmo calejados e feridos, o modo como ele às usava sobre as teclas, dizia muito do tipo de homem que era.

“Eu também tentei uma vez.” Chase revelou sem parar de tocar, agora só com uma das mãos, as notas mais espaçadas, quase um lamento. “Estava sozinho e assustado. Minha única amiga tinha acabado de se matar, estava sem munição e perdido... Tinha desistido...” Parou. “Foi quando Linn apareceu.”

Beth observou seu perfil, a barba cerrada, os olhos azuis fitando as teclas, um tanto marejados. O abraçou e ele não recuou. Ficou com ele ali um bom tempo, parados e perdidos em um mar de tristeza.

“Vou cuidar de você, ok?” Ele disse depois de um tempo. “Só não me deixe sozinho. Você é um porre, mas é melhor que nada.” Brincou e sorriu sem vontade.

“Eu cuido de você e você cuida de mim... Isso parece bom.”

Ficaram na casa por mais dois dias e teriam partido na manhã seguinte se a casa não fosse atacada por uma pequena horda.

Chase mandou Beth escapar enquanto atraía os errantes. Quando conseguiu fugir, depois de gastar toda a munição que possuía menos uma bala, chegou a estrada para ver um carro a sumir e a mochila de Beth foi só o que ficou para trás.

Estava sozinho novamente.

***

Caminhavam pelos trilhos há algum tempo. Antes por falta de opções, mas depois que viram a mensagem sobre um ‘santuário’, Terminus, pensaram que podia ser um bom lugar para começar.

Seguir o ônibus não dera em nada. Só havia corpos no lugar. Nenhum dos amigos mais achegados estava ali. E, pelos corpos baleados de quase todos os errantes no lugar, provavelmente, alguém deveria ter escapado.

Rick se mantinha calado indo a frente, a perna melhor, quase sem mancar. Carl seguia no meio, evitando tanto ela quanto o pai. Ainda zangado co Rick por causa da morte de Judy, pelo modo como perderam a prisão, como se a culpa fosse do pai pelo Governador ter escapado.

Apesar do ódio que sentia do maldito. Tinha entendido Rick e sua posição de não caçá-lo. Não tinham imaginado que ele pudesse juntar um pequeno batalhão para lhes atacar.

Linn, Daryl e Michonne tinham se aventurado um tempo mais em busca do infeliz quando Rick retirou os demais das buscas. Daryl fora o primeiro a parar. Depois Linn. Mas Michonne nunca.

Não foi por falta de vontade em encontrá-lo que havia parado de procurar o maldito, apenas queria seguir com sua vida. Estar aqui fora arriscando a vida por vingança, quando outros arriscavam as suas para conseguir alimento, remédios e o necessário para que vivessem cômodos, não parecia o certo.

Lembrar-se dos outros lhe lembrou de Chase, Sofia. No que esperava que eles pudessem ter visto as placas do Terminus e seguir naquela ideia de ir ao lugar também.

“Precisamos parar, está anoitecendo.” Rick informou.

“Estamos no meio do nada.” Carl soltou em sua birra adolescente.

Rick ficou calado e Linn não tinha nada a acrescentar as palavras do xerife.

Assim, andaram um pouco mais, encontraram uma estação, onde o galpão vazio podia lhes servir de abrigo e se abrigaram ali. Já estavam na estrada a cinco dias, esgotaram o que haviam conseguido, os cantis seguiam pela metade e tiveram que dividir o último pacote de fritas que encontraram na mochila de Linn.

Fizeram uma fogueira, nada muito chamativo, as chamas mal iluminando ao redor deles, no que o galpão ficava imerso na escuridão, mas as portas ainda fechavam e eram as únicas entradas. Caso os errantes tentassem invadir pelas janelas do lugar, que eram altas, teriam como ouvi-los.

“Vamos continuar seguindo os trilhos?” Carl perguntou para o pai. “Não estamos chegando a lugar algum.”

“É alguma coisa.” Rick apenas disse olhando para o outro lado, cansado das constantes reclamações do filho.

Tinha imaginado que haviam se resolvido naquele dia, antes de Linn chegar. Mas o garoto ainda guardava muito de ressentimento por tudo o que havia acontecido com Judy. Parecia querer lhe magoar de todas as maneiras que pudesse. Não entendia que nada mais que perdê-lo, ou vê-lo em perigo poderia lhe machucar agora.

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Passou o dia a lembrar da prisão e das pessoas que perderam. Glenn e Maggie sempre a procurar um lugar para se encontrarem sozinhos, como dois coelhos. Tyrese e sua raiva cega no final. Beth sempre a cuidar de Judy, sem se importar com o trabalho de babá. Daryl e seus silêncios, mas sempre sorrindo satisfeito quando estava ao redor de Carol ou Sofia. Hershel e sua mania de querer lhe tornar um fazendeiro. E até conseguindo por um tempo.

Em algum momento tinha visto o mundo pelos olhos do velho companheiro. As pessoas que se ajudavam. As cercas a lhes proteger. Pessoas para cuidar. A terra fértil para que se dedicassem a ela e tornassem aquele pequeno santuário em algo bom e duradouro.

Sam e seus enormes olhos, seus beijos...

Parou. Não queria pensar em Sam.

“Amanhã vamos fazer algumas armadilhas, do jeito que o Daryl me ensinou, vamos tentar conseguir um pouco de carne, não quero me aventurar nas cidades, depois daquele bando que nos seguiu.”

“Se o garoto não tivesse usado a arma não teria acontecido.” Linn soltou jogando um pedaço de madeira na fogueira.

“Se não tivesse atirado ele teria lhe mordido.” Carl falou muito baixo, com raiva e encarando Linn, que apenas o fitou muito fria.

“Não teria.” Ela retrucou e Rick sabia que estava certa, Carl havia se precipitado.

“Deveríamos ir dormir agora.” Disse para que a discussão não fosse avante. “Fico de vigia no primeiro turno.”

Carl se ergueu e começou a se afastar em direção ao fundo do galpão.

“Onde vai?” Rick perguntou e ele parou.

Olhou para Linn e ergueu as sobrancelhas. Rick não entendeu de imediato, mas ao perceber que o filho mexeu as pernas inquieto, não demorou a entender.

“Fique perto.” Avisou.

“Não vou demorar.”

Sabia que era um tanto constrangedor ir ao banheiro agora, principalmente ao lado de uma garota, quando viveram meses usando os banheiros da prisão, gozando de muita privacidade.

“Estamos mal acostumados.” Disse para si mesmo.

“Com o quê?” Linn perguntou colocando a espada ao seu lado.

“As comodidades da prisão: Banheiros, água encanada, comida fácil.”

“A comida nunca foi fácil.” Linn disse a lembrar de todas as vezes que se arriscaram por mantimentos.

“Sabe o que quero dizer.” Rick respirou fundo.

“Sim, sei.”

Ele olhou para seu rosto e ela parecia mais velha.

“Acha que eles são boas pessoas, lá no Terminus?” Linn perguntou preocupada.

“Não sei, mas temos que tentar. Podemos sondar antes, verificar...”

“Olha o que o Papai Noel me deu de presente.” Uma voz de sotaque carregado soou às suas costas, e Rick sentiu o cano de uma arma em sua têmpora.

“Fica na sua ruiva.” Um deles apontava a arma para Linn e chutava a espada para longe.

“Viram o que eu disse, estávamos na trilha certa.” Um se achegou e soltou com a voz arrastada se aproximando de Linn.

“Cala boca Len.” O que estava atrás de Rick ordenou.

“Não queremos problemas.” Rick tentou, mesmo que soubesse que de nada adiantaria.

Eles não pareciam boas pessoas e a maneira como olhavam Linn não deixava dúvidas quanto a isso.

“Isso é interessante, não é rapazes?” Ele afastou a arma e depois voltou a apontá-la para sua testa, dando um passo para o lado para olhar Rick com mais clareza. “Se não queria problemas, por que estrangulou nosso amigo Lou?”

Rick estreitou os olhos e se deu conta que um deles era o cara que lhe viu embaixo da cama. Estava escuro, mas não havia dúvidas.

“O Lou não era o melhor amigo do mundo, e não era um cara muito esperto também.” O chefe falou muito calmo. “Mas fazia parte do meu bando. Você deve entender o que quero dizer.”

De repente ouviram uma confusão ao fundo e um cara gordo e barbudo veio arrastando seu filho.

“Carl!” Rick tentou se erguer mais o chefe deu um ponta pé em sua perna e ele caiu de joelhos novamente.

“Encontrei ele nos fundos Joe.” O barbudo falou. “Estava armado.” Mostrou a arma que apontava para Carl. “Eu reivindico ele, Joe.”

“Não, não, não Dan.” Joe, o chefe soltou sorrindo. “A mulher e o garoto são de todos.”

“Eu reivindico ser o primeiro, então.” Dan soltou antes que qualquer outro se pronunciasse.

“Ok!” Joe sacudiu a arma, depois se voltou para Rick. “Viu o que vai acontecer aqui, estranho? Vamos gozar do garoto, da ruiva, na sua frente e depois matar vocês.”

O tal Dan puxou Carl para longe do centro e o jogou no chão, bem sobre a cama que Rick tinha preparado para que ele descansasse.

“Largue meu filho.” Murmurou entre dentes ao observar o homem maior subjugar seu menino, enquanto Carl tentava escapar, chorando e gemendo enquanto o homem lhe machucava.

“Pai!” Carl gritou desesperado e Linn soube exatamente o que ele estava sentindo.

“Não precisa fazer isso, é só um menino.” Ela quase implorou para o homem que lhe apontava a arma.

“Calma ruivinha, que a próxima é você.”

Enquanto ele falava com Linn, Rick tentou escapar, e a arma de Joe disparou. Uma pequena confusão se formou, com Carl conseguindo se libertar de Dan e Linn tentando tomar a arma do que lhe rendia.

Mas nenhum deles teve êxito.

“Agora você me deixou puto, seu desgraçado.” Joe avisou a Rick se aproximando enquanto limpava o sangue do nariz quebrado na manga da jaqueta.

Carl estava de novo sob o homem barbado e Linn caída, o rosto machucado, rendida. Mesmo sob a mira da arma, ela só pensava em alcançar a lâmina escondida em sua bota, mas o homem não tirava os olhos dela.

Virou para Rick e o viu cambalear. O cara atirou próximo ao seu ouvido e ele ainda estava desnorteado pelo barulho. Conhecia a sensação também. Carl gritava agora e o homem já tinha baixado sua calça, o prendendo com o corpo e tentando retirar sua roupa íntima, ao mesmo tempo em que procurava deixar suas pernas abertas.

Rick levantou e Joe o agarrou cingindo seu corpo, a rir de seu desespero.

“Olhe o que temos aqui, ele tem culhões." Joe riu mais alto e sacudiu Rick em seu abraço. "Olhe em volta estranho e me diga o que pode fazer?”

Ele não esperava. Ninguém esperava. Linn meio que sentia que seria a única opção no mundo em que, ou você era a presa, ou a fera.

Rick mordeu o pescoço de seu captor. Cravou os dentes na carne de sua jugular e o mutilou com força, sem dó ou piedade, cuspindo logo em seguida, o sangue e tudo o que arrancou dali.

Joe gorgolejou e caiu. O bando encarou o xerife atônito, quando não deveria.

O mundo era dos errantes e precisavam ser piores do que eles em algumas ocasiões. Linn pensava tentando se aproveitar para tirar a arma do que lhe rendia, mas vendo ele ser alvejado na cabeça antes e cair aos seus pés.

Foi um tiro certeiro. Antes que alcançasse a arma próxima, uma flecha atingiu um que estava à esquerda observando Dan com Carl e que tinha se virado para atacar Rick, após se recuperar do susto, enquanto o xerife avançava sobre o que estava bem atrás dele, o derrubando e socando, várias vezes antes de se levantar.

“Solta o garoto desgraçado.” Rick ouviu Linn falar com a arma a apontar para Dan, no que o miserável usava seu filho como escudo.

“Eu mato ele.” O cara gritava com a faca na garganta do menino.

De repente ele urrou e largou Carl, uma mão tateando as costas onde uma flecha estava alojada em seu ombro, o varando de lado a lado.

Daryl se aproximou das sombras e ia finalizá-lo, quando Rick fez um gesto com a mão pedindo que parasse.

“Ele é meu.” Disse passando por Linn e Carl, atingindo o homem com a faca e o estripando sem dó, piedade ou qualquer remorso.

“Linn?” Alguém gritou as costas da ruiva e logo um corpo grande a abraçava quase a chorar. “Achei que estivesse morta.” Chase soprou contra seu ombro, lhe abraçando forte.

“Chase?” Ela sussurrou contra seu cabelo, o abraçando de volta, bem quando Rick se afastou de Dan e se aproximou de Carl.

“Como está? Onde ele lhe machucou?” Rick perguntava a tocar em seu filho, as mãos e o rosto ensanguentados, a imagem da selvageria.

Carl nada falou. Apenas abraçou o pai sem se preocupar com sua aparência, a calça já erguida, mas ainda aberta, o corpo trêmulo e assustado como nunca estivera em sua vida.

"Tive tanto medo pai." Chorou contra seu peito.

Rick olhou em volta. Viu Daryl, Chase e Linn, mas não os via realmente. Só podia recordar a cadeirinha ensanguentada de Judy e o corpo de Sam destroçado sob os escombros.

Aquele Rick que não pudera proteger quem amava jamais voltaria à vida. Esse novo e selvagem, frio e monstruoso não deixaria.

“Eu estou aqui filho. Nunca vou perder você. Ninguém nunca vai te machucar. Nunca.” Rick prometeu.