Dias Mortos

11: E nada impede a loucura voltando



Quando cheguei até a mansão, Penélope estava na porta com um olhar pesado sobre o horizonte longínquo.

– Onde esteve até essas horas, já é noite.

Olhei para o céu, estranhando sua lua crescente junto as brumas de chuva, esse lugar era todo do contra. Mas ainda sim, imaginando asas voando sobre o céu escuro...hó sim, isso não era nada bom.

– Acho que...fiquei animada em andar por ai.

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Ela me deu um olhar desconfiado, mas me deixou entrar e agradeci por isso. Me sentei no velho sofá de veludo vermelho, sentindo cansada e um pouco estúpida de não ter conseguido nada, além de uma ameaça de morte.

– Pegar chuva em Egerver nunca é bom, venha vamos até a cozinha -a segui para o corredor escuro, onde já na mesa xícara se um bule estava apostos. Nos sentamos e ela me serviu com algo roxo e de cheiro forte -Chã de cardo, são ótimos estimulantes.

Beberiquei um gole, sentindo um leve formigamento na ponta da língua, sendo logo banhado por um sabor agridoce, era mesmo muito bom.

– O que está havendo? -perguntei a ela, enquanto a mesma parecia mais distante do que o comum, ela apenas suspirou de maneira dramática.

– Outras duas mortes no centro, a cidade está uma loucura total -ela bagunçou os cabelos de forma selvagem -Nós somos obrigados a cuidar de tudo, mas como se nem mesmo soubemos o que está causando isso! -então pareceu se controlar e me deu um meio sorriso -Amanhã iremos nos preparar, enfrentar almas sádicas em busca de corpos não é muito simples como se imagina.

– Como se prepara para isso? -perguntei enquanto ela se retirava da cozinha, a mesma não parou de caminhar enquanto sua voz, assombrava a mansão.

– Amanhã verás, mas acho que não irá gostar.

O silêncio sendo interrompido apenas pelo leve sopro do vento e as investidas da chuva contra janela, fazia surgir um clima pesado em toda a casa solitária. Deixei o chã pela metade, caminhando com medo da minha própria sombra.

O que Magda quis dizer com “magia negra a sua volta”, eu estava me sentindo boiar em um mar furioso, sem saber no que me segurar ou pedir ajuda. Me arrastei até quarto improvisado, me jogando na cama com a roupa molhada mesmo. Gostaria de conhecer uma pessoa que pudesse me responder algumas coisas.

O circo nunca me pareceu mais convidativo, eles teriam de saber quem era Felícia, me explicar mais sobre magia negra e até mesmo....saber quem sou.



Acho que tirei um cochilo, pois acordei com barulhos de sinos badalando alto e alguns gritos. Me sentei rapidamente, por um momento minha cabeça rodando então segui para janela. As pessoas estavam saindo de suas casas, gritando umas com as outras enquanto um nevoeiro ralo fazia uma dança macabra pelas ruelas.

Abri a porta do quarto, tropeçando alguma coisa em meio a escuridão e descia as escadas, onde na sala Penélope encarava a grande janela com os olhos brilhantes e Julian estava tremendo logo atrás de si, segurando um tipo de ursinho com olhos caído.

– O que está havendo? -perguntei me aproximando de sua fisionomia fantasmagórica, ela por um momento continuou paralisada, enquanto os gritos e os sinos rasgavam a noite. Quando se virou para mim, seus olhos estavam quase loucos.

– Estamos sob ataque.

Fiz uma careta, sentindo meus olhos se arregalarem e grudei meu rosto na janela. As pessoas pareciam com medo, ou batendo entre si. Havia uma máscara de terror em seus rostos enquanto eu via uma mancha escura sujar as pedras gastas da rua: sangue.

– O que é estar sobre ataque? -perguntei sentindo a histeria tomar conta da minha voz, mas Penélope parecia um pouco fora de si e muito calma, ela se agachou acariciando os cabelos de Julian que fungava com medo e sorriu de forma macabra, torcendo a cabeça do pobre garoto sem piedade.

Gritei levando minhas mãos até a boca e cambaleando para trás, enquanto ela soltava uma risada cavernoso e trazia suas mãos como garra para cima de mim. Eu tremia, enquanto de relance via o pequeno e frágil corpo de Julian, com os olhos brancos encarando o nada.

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Penélope estava louca!

Corri para fora, pisando em terra e sentindo toda minha roupa gruda com ar fria da noite. As pessoas choravam, se jogando na rua e se lamentando em cima dos corpos de olhos brancos e a bocas abertas em um grito mudo.

– Garotinha, seu destino sempre fora a morte -sorria Penélope caminhando com lentidão até mim, porque ninguém ajudava! As pessoas pareciam não enxergar a mim, eles apenas gritavam, sob o sangue que inundava a rua.

– O que está havendo? -gritei para uma mulher, que apenas se deteriorou em pó quando a toquei. Gritei voando para trás, enquanto Penélope sorria como uma faca afiada e louca, flutuando até mim.

Tudo parecia um verdadeiro caos e destruição, me virei novamente esperando que Penélope tivesse me esquecido, mas ela estava discutindo de forma agressiva com o mesmo homem barbudo, que me mostrou onde era a fronteira. Senti meus olhos pinicarem, quando ele a pegou pelo pescoço e jogou conta uma janela, todos estavam fora de si!

Acho que nunca deveria ter vindo para esse lugar, quem sabe meu lugar era ter ficado mesmo no sanatório...eu deveria morrer, porque onde iria a desgraça me acompanhava.

Então gritei, quando algo agarrou meus ombros, gritei me debatendo enquanto via a cidade sangrando ficando para trás e as copas negras da floresta me cercarem. Consegui ficar de pé, enquanto alguém me arrastava para a floresta a dentro gargalhando e girando uma brilhante faca entre os dedos.

Me debati, mas só consegui me machucar, claro que a pessoa em sai era mais forte que eu. Notei com horror, enquanto sombras de dentes afiados se mostravam nas lacunas das árvores, me chamando...sibilando com uma voz cavernosa o meu nome.

Então com uma força descomunal me jogou ao chão, me arrastei querendo correr ou pegar uma pedra para lutar, mas já era tarde. Quando me virou para si senti o frio da faca contra minha garganta, a última coisa que vi antes de gritar sentindo sua lamina perfurar meu pescoço, foram dois paredes de olhos verdes, sorridentes, macabros e cheios de felicidade.

Então a escuridão me engoliu.