Percy II

Her love is like a drug / I was tryna hit it and quit it
But lil' mama so dope / I messed around and got addicted

Eu queria gritar para o mundo, gritar para todos os planetas ouvirem que Annabeth Chase é minha namorada. Eu realmente gosto muito dela, cada célula do meu corpo parece entrar em combustão quando ela aparece e eu simplesmente não consigo me controlar. Aqueles olhos, aquele cheiro, aquela boca... Irresistíveis, não há pessoa nesse planeta que não se apaixone pelos olhos de Annabeth, ela é linda por dentro e por fora. E de quebra me entendia. Eu me sinto o cara mais sortudo de toda a face da terra. Nas últimas semanas ela estava sendo uma ótima companhia... Sempre risonha apesar do ar distante, sempre me animando. Ela me contava seus sonhos e ambições e eu as minhas, descobri o que ela gostava, pessoas que confiava... Enfim, cada vez tive mais certeza do que sentia.

A partir do momento que ela disse sim e me beijou pulando e me beijando novamente eu soube que todo o trabalho que passei durante aquela noite valeu a pena. (Não seus pervertidos, eu não dormi com ela naquela noite, mas ela parecia um anjo dormindo).

O fim de semana correu todo dessa forma, abraços, beijos, carinhos, sorrisos... Eu nunca havia visto ela assim tão feliz e nem eu. Nem com... Bem. Ela.

Mas algo me incomodava. Desde que soube o que Luke fez a minha Annabeth eu havia desenvolvido um ódio mortal por ele e o mínimo que aquele canalha merecia era ser preso, eu não achava que ele precisasse morrer, oh não, a morte seria um suave toque de lábios comparado ao que eu queria que ele sofresse. E eu o faria pagar. E eu sabia muito bem com quem eu podia contar para fazer isso.

(...)

Olhei no relógio do meu celular pela centésima vez. Segunda-feira. Quinze horas e vinte e três minutos. Ela estava atrasada vinte e três minutos, resolvi mandar mais uma mensagem.

Vai vir ou não?

Quando estava prestes a apertar o botão de enviar um sino tocou indicando que alguém havia entrado na cafeteria. Era ela. Olhos profundamente azuis com uma maquiagem pesada envolta dos mesmo, cabelo preto picado curto com algumas mechas coloridas e roupas pretas. Era ela, a punk.

– Você tem cinco minutos para dizer o que quer comigo antes que eu vá embora.

– Annie tinha razão sobre você. Esquentadinha. – ela rolou os olhos.

– Você disse que precisava de minha ajuda. No que exatamente? E o que eu ganho por isso?

– Ganha respostas a algumas perguntas que você já fez. E tenho certeza que não se importaria em me ajudar a colocar um patife atrás das grades.

Ela se ajeitou na cadeira.

– Olha Percy... Eu não sei o que você já ouviu de mim por ai... Mas a polícia e eu não estamos nos nossos melhores momentos, saca? Se eles me virem em encrenca mais uma vez eu vou ter que usar macacão laranja e essa com certeza não é a minha cor. E... Eca – ela franziu o cenho – essa frase foi ridiculamente a cara da Piper. Preciso parar de andar com ela. Já.

Fiquei a encarando por alguns segundos. Nos últimos dias ela, Annie e Piper andavam bem próximas, elas quase mutilavam umas as outras, mas acredito que elas estejam se dando bem. Um dia desses Piper apareceu com o cabelo rosa, Thalia estava com maquiagem colorida de hena (foi a Annie quem falou, eu não faço ideia do que seja isso, só sei que demorou uma semana pra sair da cara dela) e a minha loira estava com uma mecha branca (não ficou realmente ruim, mas ela não gostou nada). Elas não se falaram durante toda aquela tarde, mas no final do dia estavam rindo juntas em uma cafeteria por ai. Vai entender essas três.

– Acontece que... Eu preciso de um jeito de por um cara atrás das grades.

– E...?

– E... Você vai me ajudar.

– Porque...?

– Porque tem haver com a sua amiga Annabeth.

– Percy, “amiga” é uma palavra forte, ok? Somos colegas. – rolei os olhos – O que exatamente tem haver com ela?

– Tudo.

– Explique.

– Vai parecer uma história de terror.

– Adoro histórias de terror.

– Ótimo. – bufei. – Vou resumir pra você. Acontece que alguns anos atrás...

Comecei a contar toda a história para a punk que me ouvia atentamente, eu sabia que era errado expor Annabeth daquela forma, mas era ainda mais errado deixa-la a mercê de um criminoso como ele. Ao fim de mim história Thalia estava com os punhos cerrados sobre a mesa e muito vermelha, até que socou a parede.

– Merda! Porque não contou antes?

– Por que... Bom. Achei que ela podia contar pra vocês. – mentira. Eu sabia que ela não contaria.

– Ela não contaria. Mas... O que você tem em mente?

– Honestamente? – ela assentiu – Nenhuma.

– Então... O que você espera que eu faça?

– Bem... Eu espero que me ajude. Eu não sei mais o que fazer! Além de que... Olha, eu não sou bom com essas coisas. E se eu fizer jus ao que eu quero eu vou pra cadeia, pode apostar.

– Acho difícil.

– Eu... Eu queria sei lá. Conhecer uns caras monstros pra poder dar uma lição nele sabe? E depois jogar para o exterior. Qualquer país... Ou denunciar para a polícia mesmo. – Thalia se ajeitou no banco e me encarou.

– A parte dos caras monstros eu posso dar um jeito numa boa. – e então sorriu sinistra.

(...)

Primeiro, eu queria deixar bem claro que de isso não foi ideia minha. Ao menos, não totalmente. Eu sabia que podia contar com a Thalia, mas aquilo foi assustador.

Depois de ver a punk andar para frente e para trás por horas e gritando com mil e uma pessoas no celular eu achei que ela fosse me matar. Quando finalmente conseguiu realmente algo palpável tivemos de esperar por horas e horas a fio sentados na praça até obtermos uma resposta (na verdade, foi até Thalia obter uma resposta. Eu não tinha a menor ideia do que estava rolando ali e ela não me falara também).

Ela assentia freneticamente ao celular e gritava coisas incompreensíveis para mim, até que simplesmente se levantou e me mandou segui-la.

Andamos aproximadamente quinze quarteirões partindo do Central Park, até chegarmos a uma rua pouco movimentada (o que eu realmente achei novidade em Manhattan).

– É ali. – Thalia apontou para um prédio de mais ou menos doze andares, cinza, caindo aos pedaços.

– Eu não vou entrar ali.

– Ah, vai sim boneca. Antes de mais nada, você tem algum parente policial? Sabe, um cara que trabalha na surdina, que vai fazer justiça com aos mãos realmente.

– Parente...? Acho que não. – ela bufou, exasperada. Então estalei os dedos lembrando. – Eu conheço o cara perfeito. Um sargento, amigo da família a anos.

– Então ligue para ele ué.

Como se fosse fácil, pensei. Cara, ele era bom. Mas me odiava de verdade. Não custa tentar não é?

Peguei meu celular e corri em busca dos contatos até encontra-lo. Após sete toques ele atendeu.

O que você quer?

Ah, olá, vou muito bem, obrigado. E você?

Sem tempo para babaquices Jackson. O que você quer?

­– Ok. Certo. Eu preciso da sua ajuda em... Um trabalho. Você pode me encontrar na rua... Thalia, que rua é essa?

– W 44th St com a Quinta. Edificio St. Louis Vg.

­– Certo. Com a Quinta. Acho bom que isso seja realmente importante garoto.

E é.

Então ele desligou na minha cara, delicado como sempre.

– Ele vai demorar?

– Não sei.

– Espero que sim, vem logo boneca.

Então ela me carregou prédio adentro. Ouvi uma pancada e um gemido de dor. Recuei um passo. Será que eu sabia mesmo o que estava fazendo? Não sei, acho que a Thalia pode não ter sido uma boa ideia.

– O que foi?

– E-eu... O que você os mandou fazer?

Ela bufou, olhando para cima e esfregou as mãos nos jeans pretos. Depois olhou em minha direção. Eu já havia ouvido falar daquilo, sempre que Thalia queria intimidar alguém ela lançava aquele olhar. Os olhos azuis pareciam faiscar, como se pequenas tempestades estivessem se formando nas orbes turbulentas. E, o pior, aquilo não me assustava. Tive forças o suficiente para encara-la de volta e ela vacilou o olhar.

– Escuta aqui, você tem o que nessa cabeça? Algas? Você pede a minha ajuda e espera que eu faça o que? Carinho na cabeça daquele babaca? Eu quero que ele sinta dor. Ele fez a Annie sentir dor, nos últimos DOIS ANOS. Você acha que ele merece compaixão? Acha? Acha que ele merece beijinhos depois de jogar Annabeth no chão lá na festa da Piper? Acha mesmo?

Meus punhos estavam cerrados e eu queria gritar com ela, assim como ela estava gritando comigo, mas no fundo eu sabia que ela estava certa. Eu gosto tanto da Annabeth e realmente queria vê-lo sofrer depois que ele fez a minha loira chorar. Ela estava certa em todas as palavras, então apenas trinquei os dentes e respirei fundo.

– Vá em frente.

– Ótimo, sem piti dessa vez princesa.

Ela continuou a andar dentro do prédio e paramos em frente a uma porta.

– Pronto? – assenti.

– E você?

Ela abriu então a porta e considerei aquilo como um sim. A sala era escura e vi dois caras enormes, de costas para mim, um deles tinha um taco de basebol em um das mão, não quis olhar o rosto deles, nem sei se conseguiria. Estavam parados na frente de uma coisa disforme no chão, então vi que a coisa era alguém. Ele era loiro, estava encolhido. Havia sangue saindo da sua boca, e de alguns outros lugares. Sua roupa estava manchada e eu sabia quem era: Luke.

Abri a boca em surpresa esperando uma reação de Thalia, mas ela estava impassível. Olhava para ele sem pena: apenas o nojo era visível em seus olhos. Foi ai que me perguntei quantas vezes ela já havia feito aquilo, seria a primeira vez? Porque, se fosse, ela era realmente muito boa. Eu não tinha sangue frio o suficiente para aquilo. Acho que ela já viu mais coisas do que eu podia imaginar.

– Agrios, Oreios. Bom trabalho. Onde... Onde o encontraram?

O mais alto dos brutamontes disse para Thalia o que acredito ter sido algo como: próximo a casa da Chase. Ela se aproximou de mim e falou alto suficiente para que apenas eu ouvisse.

– Eles não são muito espertos, mas fazem um serviço como ninguém.

Apenas assenti, eu não podia nem falar ainda. Não que eu nunca tivesse visto ninguém levar uma surra, mas então percebi que estava fazendo papel de bobo, mais uma vez.

– Meninos, façam com que ele fique sentado.

Cada um pegou um braço de Luke e o fez ficar ereto, com o rosto virado para ela. Thalia andou até ele e deu dois tapas na cara do mesmo.

– Anda seu frangote, você não tem como já estar morto.

O loiro tremeluziu os olhos, mas ainda não havia os aberto completamente. Sentei no chão e observei o que Thalia iria fazer.

Ela revirou os olhos e lhe deu um chute no estomago.

– Abre logo os olhos filho da mãe! Você já fez algo muito pior a uma menina por ai.

Ele olhou para Thalia com uma expressão confusa. Meu celular vibrava no meu bolso, eu já havia o checado antes. Tinham ligações da Piper, do Jason, de Nico e dela. Mas eu não podia atende-los. Vinte e três mensagens de texto e duas de voz. Eu não podia responder. Se eles não achassem que morri depois de ter sumido o dia todo, ótimo.

– Do... Do que bocê está fafando? - ele tentou falar mas tinha sangue demais em sua boca, mas ele deu um jeito nisso cuspindo.

– Há, você sabe muito bem do que eu estou falando. Reconhece aquele cara ali? – levantei os dedos em um aceno e assenti com a cabeça.

– Confortável ai Castellan?

Ele abriu os olhos em surpresa e tentou afrouxar o aperto em volta de si, até descobrir que não sairia dali tão cedo.

– O que vocês querem?

– Nós? Nada de mais. Deixe Annabeth em paz.

Ele sorriu de lado, como se pudesse mandar em algo por ali, e vi seus dentes pintados de vermelho.

– E por que eu faria isso?

– Por quê? Oh, é bem simples – Thalia caminhou até o taco de basebol e o pegou nas mãos.

– Não tenho medo de você.

Ela olhou para ele e sorriu, fria. Agora sim eu estava com medo dela.

– Deveria ter. – ela levantou o taco e mirou no quadril do loiro. Fechei os olhos a tempo de ouvir Luke gemer de dor, se encolhendo. – Vamos tentar de novo, pode ser? Você vai deixar Annabeth em paz porque você não quer outra visitinha minha.

– Porque não iria querer? Você até que é bonitinha.

Por Poseidon, esse cara não tem medo de morrer? Outra pancada.

– Escuta aqui, isso está muito divertido, mas vai acabar.

– Você sabe que assim que eu sair daqui vou denunciar vocês, não é? E podem apostar, eu vou pegar a Annabeth.

– Você quer dizer se sair não é? – ele engoliu em seco. – Cara, você não vai querer nem pensar no nome dela depois de sair daqui. Você conhece a história da sua vida? Ah, não? Então vou lhe contar, ou melhor, o Percy vai.

Ela se apoiou no taco e olhou em minha direção. Senti minha garganta seca. Aquilo era loucura.

– Pobre Luke, eu te desculpo pelo soco que você me deu, agora que conheço as circunstâncias... – ele franziu o cenho.

– Circunstâncias?

– É, sabe, já fiquei sabendo de seus problemas mentais. Você tem alucinações sabe? Como visões... Um problema que você herdou da sua mãe.

– O que você sabe sobre a minha mãe?

Thalia lhe deu um chute no estômago.

– É indelicado interromper alguém. Preste atenção na história.

Engoli em seco e continuei.

– Ninguém acreditará em uma palavra do que você disser, você não terá como provar nada, pra ninguém. Nem mesmo sobre ter feito algo para Annabeth. Coitadinho... Sempre quis que Annie fizesse algo a mais com você. Foi ai que as alucinações chegaram.

– Não tenho provas? E todas esses machucados no meu corpo?

– Oh, não te contei? Você tem tendências suicidas, coitado. Eu e Thalia o encontramos por acaso, andando por ai, com um taco de basebol. Você podia ter se machucado feio.

Ele franziu o cenho, negando.

– E quem acreditaria no que vocês estão dizendo? Precisam de um laudo médico.

– E nós temos um.

– Sabe como é – Thalia se manifestou – um certo médico loiro muito gato me devia um favor. – Apolo, assim que ligamos ele topou fazer tudo o que Thalia lhe disse, preciso comentar que achei estranho?

– Vocês não vão sair impunes dessa. Eu vou atrás de você Thalia.

Ela sorriu, com escarnio.

– Escute e preste muita atenção. Você nunca vai encostar nem um dedo em mim, não vai tocar em nenhum fio de cabelo meu. Sou filha de gente importante sabe? Gente influente. Se você acha que os pais de Annabeth mandam em alguma coisa, tente conhecer meus pais. Ou pior, tente conhecer meus amigos. As pessoas conhecem muita gente nos becos sabe? Manhattan é um lar para todo tipo de gente, e é fácil encontra-los. Se eu sequer imaginar que você pode estar planejando algo contra qualquer pessoa que eu conheça... Pode apostar, eu vou te levar pra dar uma volta e você não vai voltar pra casa. Talvez eu até leve esses meus amigos de novo. – ela deu um tapinha nas costas de um dos brutamontes que fez com que Luke estremecesse. – Além do mais...

– Jackson seu filho da mãe! Tem telefone para bonito? – uma voz grossa e imponente retumbou pela sala e então gelei. Ótimo. Ele chegou.

– Ah não, - Thalia reclamou chorosa. – Esse ai é o seu amigo de família?

– Algum problema? - perguntei sem entender, enquanto Luke olhava para ele, em busca de socorro.

– Quando eu te falei que não estava em bons lençóis com a polícia, bem...

– Grace. Há quanto tempo, já faz alguns meses que você não aparece na delegacia.

– Vocês se conhecem? – eu estava viajando legal naquela conversa.

– Sargento Ares Zhang. Somos quase amigos íntimos.

– Certo, certo, odeio sentimentalismo. O que vocês querem?

– Bom... Preciso que tire aquela sujeira ali. – apontei para Luke.

– Mas que p... Jackson! Que merda você fez dessa vez?

Resumi a história para Ares que apenas ouvia em silêncio.

–... E então, aqui estamos nós. Pode me dar uma forcinha?

O cara estava com uma expressão assustadora, andou até o Castellan e lhe deu um chute no estomago. Certo, aquilo doía mais que qualquer chute que Thalia tenha dado.

– Eu conheço a garota, filho da mãe. - e então cuspiu na cara do loiro. E então eu tive medo do que poderia acontecer a Luke pela primeira vez. – Pode deixar, eu vou jogar ele no buraco mais fundo que eu encontrar.

– Mas você não pode...!

– Você também não podia estuprar meninas benzinho. Jackson, Grace. Deem o fora. Vocês dois, - ele apontou parta os grandalhões que não pareciam tão grandes assim ao lado de Ares. - eu ainda posso precisar de vocês.

Thalia apenas fez o que ele disse, e eu a segui. Quando chegamos lá fora a escuridão já dominava a rua, era realmente muito tarde e eu provavelmente estava ferrado.

– O que faremos agora? – perguntei, ela me olhou séria, mas agora seus olhos já não me davam medo.

– Reunião de família.