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– Droga! - gritou Hugo consigo mesmo deixando o violão de lado.


Ao notar que naquela noite não conseguiria tocar absolutamente nada, o garoto se deitou e começou a contemplar o teto.

Perdera toda a inspiração, tudo por causa daquela conversa idiota que tivera com Lily.

Tivera vontade de gritar na cara da garota que ele era o tal DD, mas não o fez.

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Estava magoado com o fato de que nos olhos da prima, só alguém desconhecido era capaz de se importar com ela. Será que ela não percebe que ele se importa?

Não foi ele que deu aquelas malditas pílulas contra insônia somente porque estava preocupado com sua saúde?

Quem fora que a visitou por um mês na Ala-Hospitalar quando está foi atingida por um balaço na cabeça ao assistir escondida o treino de Quadribol de Corvinal?

Não, pelo jeito isso não significava absolutamente nada para Lily.

Pelo jeito, o único modo de alguém se importar com ela, é se essa pessoa não a conhecer.

Hugo sentia outra vez o sangue subir pela sua cabeça, mas então se acalmou. Sabia que talvez estava exagerando.

Além do mais, aquele não era o momento de se preocupar com tais coisas, ele tinha coisas mais importantes para fazer.

Tinha que treinar sua atuação, que pelo jeito estava deplorável e tinha que tocar violão. Aquele era seu ultimo ano em Hogwarts e quando acabasse, ele iria se apresentar em uma escola de teatro trouxa. Ainda não comentara a ninguém sobre isso, pois não tinha certeza o que sua família acharia de tal informação, tudo que sabia era que é isso que ele mais deseja fazer, infelizmente não sabia se conseguiria ter coragem suficiente para transformar esse devaneio em realidade.


Tuc Tuc Tuc.


Hugo suspirou.

O som era familiar, mas estava com raiva demais.

Por um momento pensou em ignorar as bicadas de Tyto contra a janela, mas então pensou que não era justo descontar sua raiva na coruja.

Lentamente e sem vontade, o ruivo levantou-se da cama e abriu a janela.

Tyto pousou em cima de uma escrivaninha.

Hugo estava surpreso ao ver que em vez de uma carta para DD, havia duas.

Na realidade, uma nem sequer era para DD, era para ele.

Seu coração parou, será que ela descobriu?

Não, aquilo era loucura.

Provavelmente Lily pedira para Tyto primeiro deixar a encomenda de Hugo em sua cama e depois ir direto para DD.

Era a única explicação plausível, pois o garoto percebera que diferentemente de sua carta estar amarrada na pata de Tyto, a coruja tivera carregado com suas garras, mas com o cuidado de não estragar o envelope.


Hugo suspirou e pegou primeiro a carta destinada a si mesmo. Ao abrir ficou surpreso ao notar que era um cartão feito a mão.

O cartão continha uma foto de Lily e Hugo colado. A menina estava banguela de um dente enquanto Hugo tinha um sorvete nas mãos. O Hugo de dezessete anos se sentou na cadeira e admirou aquela velha foto.

Lily na época tinha os cabelos amarrados em dois rabos de cavalo, a menina de seis anos abraçava seu primo e sorria para a câmera enquanto acenava com uma mão para o fotógrafo que era sua tia Gina.

Hugo por sua vez, estava rindo enquanto procurava não desequilibrar o sorvete gigante que em sua opinião, era quase tão grande quanto sua cabeça. Pelo menos, era a visão dele quando tinha seis anos.

No cartão em uma fonte itálica estava escrito "Já disse que te amo? Pois bem, estou dizendo agora"


O garoto olhou para a foto por mais uns segundos, antes de abri-lo.


“Se lembra desse dia?

Estávamos n'A Toca, fazia como uma semana desde que meu dente tinha caído e eu pensava na melhor maneira de gastar os sicles que ganhei da fada dos dentes.

Você por outro lado, estava somente feliz de poder disfrutar o sorvete de casquinha.

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Ainda lembro de como você gritava que aquele era o maior sorvete do mundo e de que provavelmente era do tamanho da torre Eiffel. Na época, eu até concordava, hoje em dia olho pra essa foto e rio de seu exagero, porque sejamos sinceros, esse sorvete tem somente quatro bolas.

Sei que parece idiota eu escolher essa foto para esse cartão, mas a escolhi exatamente por ser aleatória.

É somente uma lembrança de um dia qualquer. A memória de um dia qualquer ao seu lado.

E esses dias sempre foram os melhores. É por isso que você é meu melhor amigo, Hugo.

Você é meu amigo porque você me faz sorrir com bobagens.

Você é meu amigo, porque quando preciso chorar sei que posso ir até você.

Você é meu amigo, porque aguenta minhas loucuras.

Me desculpe se eu fiz fazer você sentir que não me importava.

Você é importante pra mim. Você realmente é.

Ás vezes eu desejo voltar para o dia da foto.

Para esse dia ensolarado nos jardins da casa da vovó. Tomando esse sorvete, olhando os gnomos correrem que nem idiotas e dormir sobre a grama. Éramos felizes com as coisas mais simples e nem mesmo notávamos.

Agora, eu compliquei a minha vida. Eu me esqueço que não preciso de muito para ser feliz.

DD me relembrou disso e eu dei crédito a ele, mas a verdade, é que você foi a primeira pessoa a me mostrar essa realidade.

Eu simplesmente nunca prestei muita atenção a isso.

Desculpe, Hugo.

Desculpe por nunca ter feito você perceber o quão importante você é pra mim.

Você é meu melhor amigo, é meu primo e é a pessoa que mais esteve ao meu lado.

Eu te amo, primo.

Eu te amo, meu amigo.

E sei que isso não é suficiente explicar o que você significa para mim, mas espero que tenha entendido pelo menos um pouco.


Da pessoa que não merece sua amizade,

Lily"


– Mulheres - resmungou Hugo olhando para a coruja - Quando você quer ficar bravo, elas fazem coisas desse tipo... Me diga, você tem esse tipo de problemas com sua namorada?


Tyto lhe deu um beliscão no dedo.


– Vou considerar isso como um sim - sorriu o garoto dando caricias no animal.


Sentia-se bem agora que sabia que Lily o apreciava apesar de tudo. A raiva que sentira por ela há pouco tempo através havia desaparecido, como podia ficar irritado com ela, quando esta lhe manda esse cartão?

Ainda assim, sentiu seu coração apertar ao perceber que ainda tinha que ler a carta de DD.

Suspirou e hesitando, desenrolou o pergaminho.


"Sei que te mandei toneladas de cartas perguntando o porquê de você querer cortar suas relações comigo, não vou mentir e dizer que não quero saber o motivo, mas entendo que se é o que você deseja, tenho que respeitar, mas não consigo.

A verdade é que eu fui idiota.

Pensei que você tinha os mesmos sentimentos que eu tenho por você.

Fui tola, eu sei. Nem nos conhecemos e eu aqui já sonhava com uma vida contigo.

Sei que não confessei antes, mas estou confessando agora e por uma simples questão.

Quero finalmente me livrar de você.

Sei que parece rude, mas percebi que o que estou fazendo não é normal.

Eu me encerrei em um mundo só meu e acabei ignorando pessoas com quem me importo.

Acreditei que somente você se importava comigo, que você era o único que me entendia e que era a pessoa perfeita. Foi um erro meu.

Estava obcecada com a ideia de sua pessoa e admito a mim mesma, que ainda estou.

Sei que você parou de conversar comigo, sei que provavelmente não quer saber mais nada de mim, mas eu preciso que faça um favor para mim.

Eu sempre terei essa imagem perfeita de você e quero me libertar disso.

Eu somente poderei deixar de imaginar quem você é, de como nós poderíamos ter sido juntos se eu finalmente te conhecer.

Sei que o que estou pedindo é muito, mas preciso me encontrar com você.

Preciso te ver para finalmente poder tirar essa minha ideia perfeita de você. Sei que parece loucura e que talvez você não entenda, mas por favor, considere meu pedido.

Sinto que nunca poderei estar em paz, até saber quem você é de verdade.
Por isso, estou revelando minha identidade agora.

Prazer DD,

Meu nome é Lily Luna Potter.


Com carinho,

De sua eterna RD "


Hugo não podia negar de que sim estava surpreso com aquela carta especifica de Lily.

Ele releu com cuidado, não sabendo muito bem o que faria. Obviamente ignorar não era opção, pois já seria muita cara de pau não responder uma carta dessas, principalmente agora que a garota havia revelado sua identidade.

Certo, ele já sabia que era ela, mas era um passo muito grande para sua prima.

Sentindo seu coração disparar do nervosismo, Hugo pegou sua pena e com as mãos levemente trêmulas, molhou a ponta na tinta.

Suspirou fundo e escreveu:


"Quarta-feira, na sua árvore às 14 horas.

Está na hora de você saber quem é a pessoa atrás das cartas"


x-x-x


A brisa estava leve. Seus cabelos voavam em direção ao vento, às águas do lago eram calmas e podiam-se escutar os pássaros cantando.

Sentada no mesmo lugar que sentara todos os dias desde que DD sugira em sua vida, Lily podia sentir seu estômago virar.

Olhando para cima, era possível ver as flores coloridas abrirem. Abriam-se para ela, se abriam naquele lindo arco-íris de flores, feito somente para ela.

A qualquer momento ele chegaria.

A qualquer momento ele apareceria e mostraria pela primeira vez sua face.


14:30.

Nada.


"Ele está atrasado... É normal se atrasar"– pensou Lily consigo mesma, olhando pela multidão de alunos que caminhavam naquelas horas.


15:00


"Talvez esteja ocupado levando bronca de algum professor"– tentou Lily convencer a si mesma, ao perceber que ninguém se pronunciava.


16:00


"Só mais uma hora! Se ele não aparecer daqui uma hora eu dou o fora"


17:30.


Ainda continuava lá.

Sentada solitária... O arco-íris ainda se exibia em cima de sua cabeça, só que por algum motivo, não lhe parecia mais belo como antes.

As lágrimas ainda escorriam pelas suas bochechas, se sentia como uma idiota.

Já não esperava ninguém mais aparecer, afinal, não havia mais alguém. Todos os alunos que antes estavam rindo, conversando e fazendo vai saber o que, já tinham dado o fora como a meia hora.

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Estava solitária.

Sozinha, sentada embaixo de uma árvore florida em frente do lago.

Não havia sentido ficar lá por mais tempo, sabia disso, mas algo a impedia de ir.

E esse algo, eram aquelas belas flores que caiam lentamente por causa do vento.


– Oi, amiguinho - disse Lily distraída quando notou que Tyto estava bicando seu dedo de leve.


Por um momento, ela queria voltar a chorar. Queria abraçar a coruja e admitir que se sentia uma idiota.

Que tudo que fizera era absurdo, de que não acreditava que realmente tinha pensado de que DD se relevaria...

Tudo era surreal demais para ser verdade.

Mas foi então, que percebera que na pata de seu amiguinho, havia um pedaço pequeno de pergaminho amarrado.


"Vire-se"


Lily leu.

Por uns segundos, ficou ali, naquela posição.

Ele estava atrás dela.

Era só preciso virar e ela descobriria sua identidade.


Iria desmaiar.

Isso era o que sentia, ela sentia que iria cair no chão... Aquele era o momento.

Respirando fundo, conseguira arranjar fôlego suficiente para levantar-se.


"É agora, Lily"


E foi então que virou-se.


– Não... - disse sem acreditar no que via.


– Lily escute, sei que...


Os cabelos ruivos, os olhos azuis, as sardas na cara...


– Você? - perguntou ainda tentando raciocinar.


– É, sou eu.


As mãos da garota tremiam. O pergaminho que ainda segurava se amassou quando esta fechou sua mão direita em um punho.


"Idiota! Sou uma idiota"– pensou consigo mesma.


– Lily, espera!


– Não! - gritou a ruiva sentindo lágrimas de raiva caindo em seu rosto - Não fale comigo, Hugo!


E assim ele fizera.

Não falara nada, mas isso não significa que não faria algo.


– Pare de me seguir! - rugiu a seu primo, que acompanhava seus passos.


Isso Hugo não obedecera.

Procurando desviar-se do garoto, Lily subiu até o segundo andar com Hugo ainda correndo atrás dela.

Apressando o passo, ela virou à direita e entrou no banheiro feminino.

Trancou-se em um dos cubículos e sentou-se em uma privada.

O pergaminho ainda em sua mão.


"Vire-se"– voltou a ler.


Não deveria ter virado.

Não deveria ter exigido que DD mostrasse sua face.

Tudo fora idiota. Tudo fora um erro e ela era a culpada de tudo isso.

Bruscamente, a ruiva tentava limpar suas lágrimas que não paravam de cair.


– Idiota! - voltou a gritar consigo mesma dando socos na porta. - Idiota. Idiota. Idiota!


Demorou uns minutos até que ela finalmente se acalmar um pouco. Ainda se sentia um lixo e sabia que provavelmente seus olhos estavam inchados.

Teria saído do cubículo naquele exato momento se uma voz do lado de fora perguntasse:


– Lily? Tenho permissão para falar agora?