Destinada

Capítulo XIII


Desde que Ares me ajudou no palácio de Zeus, não consegui parar de pensar nele. Meus sentimentos confusos por aquele homem chegavam a me dar dor de cabeça.

Um dia, ao decidir procurar Atena para conversar, acabei ouvindo algo que piorou ainda mais minha indecisão: ao me aproximar para bater na porta, ouvi vozes dentro do quarto. Reconheci imediatamente aquela voz masculina, quase um grunhido de tão profunda, e não consegui conter minha curiosidade. Tive de me aproximar para ouvir.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— E você a culpa? — Minha irmã perguntou.

— Não, é claro que não. — Ares respondeu. — Mesmo assim, eu queria que ela me ouvisse. Como posso pedir perdão se ela foge de mim?

— Você não pode. Essa é a questão. — A loira declarou. — Ela não quer saber de suas desculpas, Ares. Pelo menos não agora.

— Então o que eu faço? Como a faço entender?

— Nada, por enquanto. Dê mais tempo a ela. Espere a raiva passar.

— Vou ter de esperar para sempre, então. — Ele riu amargamente. — Lydia é mestra em guardar rancor.

— E você esperaria se fosse preciso?

— Com certeza. — Ele respondeu imediatamente, sem um segundo de hesitação. — Mas não adianta Nós dois sabemos que terei sorte se ela falar comigo de novo.

Ainda bem que você sabe, pensei comigo mesma, quase rindo ante o absurdo daquela situação inesperada.

— Ares, eu … — Atena se interrompeu com um longo suspiro, provavelmente organizando suas ideias antes de falar. — Existem coisas que ninguém é capaz de explicar. O elo entre você e Lydia é um exemplo disso. Jamais entendi completamente essa … Essa força que une vocês dois, mas sei que Afrodite tem razão quando diz que é algo raro, precioso demais para ser desperdiçado por orgulho. Então, irmão mais velho, não desista só porque as coisas ficaram difíceis.

Levei uma das mãos ao peito, sentindo aquela familiar dor no coração que me era tão frequente desde aquela noite nos jardins do palácio de Zeus. Saí correndo dali, sem pensar em mais nada.

Acabei sob uma enorme macieira consagrada à Hera, onde, para minha surpresa, encontrei Afrodite. Ela sorriu como se estivesse esperando por mim.

— Oi, Lydia.

— Olá, Afrodite.

O desânimo na minha voz era tão óbvio que qualquer um notaria, então seu olhar de preocupação não foi uma surpresa.

— Ares de novo? — A Deusa do Amor inquiriu gentilmente, fazendo um gesto para que eu me sentasse ao seu lado.

— Como adivinhou?

— Só ele te deixa assim tão nervosa.

— Esse é o grande problema. — Confessei. — Não quero mais me sentir assim. Toda vez que ele se aproxima eu ... Eu perco o controle. Tenho medo do que pode acontecer se isso continuar.

— Não percebe, Lydia? — Ela riu com gosto, seus olhos brilhando. — Vocês dois se apaixonaram. É natural perder o controle. Apenas deixe as coisas acontecerem.

— Deixe disso, Afrodite. Ares só pensa que se apaixonou porque sou um desafio. No momento em que eu ceder, tudo isso acaba.

— Lidy, ele te ama mais do que qualquer coisa no mundo. Eu sei disso, pois foi a mim que ele veio quando precisou de ajuda. Deixe o orgulho de lado e vá falar com ele, sua teimosa.

— Não é orgulho, Afrodite. — Protestei. — Eu ... Não quero acabar me machucando de novo.

— Damaso.

Afrodite pronunciou o nome como um palavrão, o pior dos insultos. Eu simplesmente assenti, indicando que ela estava certa.

— Os dois são parecidos, Dite. Eu vi. Damaso ... Ares ... Ambos são só conquistadores.

— Pode parar. — Ela me interrompeu com firmeza. — Está sendo boba agora, Lydia. Não é porque se magoou uma vez que deve passar o resto da eternidade evitando qualquer chance de amar novamente.

— Eu não ... Eu não amava Damaso. E também não amo Ares.

— Sabe que a única pessoa que está enganando é a si mesma, não sabe, meu bem? — Ela se aproximou, passando um braço por meus ombros. — Não pode mentir para mim. Sei o que sente por Ares, e sei que ele sente o mesmo por você.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu não posso, Afrodite. Não vai dar certo.

A Deusa do Amor suspirou pesadamente, seus dedos se enrolando entre os cachos de meu cabelo, brincando com eles de uma forma maternal. Permiti-me ceder e me apoiar nela por um momento.

— Confie em mim se não consegue confiar nele. — Ela disse gentilmente. — As coisas vão dar certo. Você merece isso, Lydia.

— Está bem. — Cedi. — Vou agora mesmo falar com ele, tentar acertar as coisas.

— Ele está no campo de treinamento.

E eu fui para lá sem perder tempo, porém criar coragem era outra história. Simplesmente fiquei parada na margem do campo, observando Ares lutar contra Hermes. Cada movimento dele me era tão familiar que eu podia até mesmo prevê-los, talvez melhor do que os meus próprios.

Quando a luta acabou, ele olhou em volta. Pude dizer exatamente o momento em que Ares percebeu que eu estava ali, mesmo de tão longe. Acenei para ele, que retribuiu o gesto e veio falar comigo.

— Oi. — Cumprimentei, fazendo um esforço para abrir o melhor sorriso de que era capaz.

— Oi. — Ele respondeu. — Veio acompanhar o treino ou massacrar algum azarado?

— Nenhum dos dois. — Declarei. — Vim falar com você.

— Aqui não. — Foi a resposta. — Um lugar mais reservado. Prevejo uma longa conversa.

— Tem razão. — Admiti — Vamos para a antiga sala de armas. Lá teremos privacidade total.

Enquanto caminhávamos uma de suas mãos timidamente tocou em minhas costas, como ele costumava fazer anos antes. Aquele simples toque fez minha pele queimar. Eu o desejava, jamais poderia negar isso. Foi nesse momento que tive a visão:

Está escuro demais.

Olho em volta, tentando distinguir alguma coisa, mas simplesmente não consigo. De repente, uma luz se acende e posso ver Cronos à minha frente. Cruzo os braços.

— Você demorou demais. — Ouço-me dizer.

Ele ri e me puxa para si, plantando beijos em meu rosto. Seus lábios são absurdamente quentes. Engulo o asco e arqueio o pescoço para trás, como sei que ele quer que eu faça.

— Desculpe. Eu estava cuidando de alguns ... Assuntos.

— Algo relacionado aos Olimpianos?

Ele assente e sinto-me estremecer.

— Não se preocupe, pequenina. Eles jamais vão descobrir nada sobre sua traição. Você está segura comigo.

Ares

Lydia cambaleou e eu a segurei rapidamente. Seus olhos azuis então se voltaram para mim com uma expressão que jamais pensei ver neles. Aquela mulher, a mais corajosa que jamais conheci, estava com medo.

— O que aconteceu?

— Eu ... Tive uma visão. — Sua voz era baixa, assustada. — Preciso ir. Zeus vai querer saber sobre isso.

— Podemos nos ver mais tarde?

— Nós vamos nos ver mais tarde. — Ela esboçou um sorriso fraco, porém genuíno. — Você não vai escapar da nossa conversa assim tão fácil, Ares.

Depois de dizer isso ela girou nos calcanhares e saiu correndo.