Desconexão

O contrato


Seu olhar fixo observava o novo evento. O universo acabara de ser reescrito e agora ele estava novamente em um ambiente abstrato. Mergulhado em meio a um caleidoscópio de cores, sua cauda branca e peluda balançava ao sabor da sorte.

[Homura Akemi? Está aí?]

Sua chamada telepática não obteve resposta alguma.

[Aparentemente está ocorrendo uma nova reconstrução.]

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“Não é uma reconstrução e sim uma desconstrução, Incubator.”

Aquela voz fez Kyuubey erguer a ponta de suas orelhas. Quem se aproximava era nada mais que Madoka, com seu olhar de ouro e sua divina vestimenta em branco puro.

[Madoka Kaname ou, melhor dizendo, a Lei dos Ciclos.]

Madoka sorriu. “Eu prefiro Madoka. Era sim que você sempre me chamava.”

O olho vermelho de Kyuubey analisou cada detalhe do visual da Madoka. Era peculiar e combinava com a alma daquela garota, salvo uma exceção. Ele viu que na orelha direita de Madoka estava um brinco negro e em sua ponta havia uma gema violeta de formato muito familiar...

[Onde está Homura Akemi?]

“Ela não está mais conosco.” Madoka respondeu.

Kyuubey fechou os olhos, ponderando. [Hmmm... Devo considerar, pela forma que disse, que você não levou ela. Contudo eu duvido muito que você a destruiu.]

“Não.” Madoka avaliou com cuidado a próximas palavras que iria dizer. “Mas eu garanto que ela não será mais uma ameaça para a ordem das coisas.”

[Ordem...] Kyuubey voltou a abrir os olhos. [As emoções humanas levam a conclusões irracionais, são inimigas naturais desse conceito. Seria você Madoka, como uma divindade, capaz de ter transcendido esse fato? Compreende o porquê de termos feito isso?]

“Eu sei tudo sobre a entropia, assim como também sei que o universo está correndo perigo. Nos futuros que eu enxerguei, não se encontra mais nada.” Disse Madoka.

[Sim. A energia obtida com os demônios é insuficiente, o desequilíbrio está em aceleração.] Kyuubey ergueu uma das suas patas, apontando para Madoka. [Se sabe disso, não consigo entender o porquê de ter lutado contra nossa solução.]

“Incubator...” Madoka fez uma pausa antes de continuar, a cauda do vestido esvoaçava, revelando pontos de vista diferentes do seu universo.

[Sim.]

“Você não está combatendo a entropia.”

Kyuubey piscou os olhos algumas vezes e então pendeu a cabeça para o lado. [Isso não é verdade. Como foi dito, a energia obtida não é o suficiente e...]

“Você não está obtendo energia alguma.” Madoka interrompeu.

Dessa vez, quem ficou em silêncio antes de continuar fora Kyuubey. [É interessante poder conversar com algo que é considerado apenas como um conceito. Contudo devo ressalvar que existem técnicas e ferramentas para auferir a energia obtida.]

Madoka desviou daquele olhar focado de Kyuubey. “Você foi enganado.”

[Está querendo me dizer que a informação que obtemos está sendo manipulada?] Kyuubey olhou para sua própria cauda. [E devo presumir também que existe alguém ou algo responsável por isso.]

“Sim. Acredite.” Disse Madoka.

[Eu acredito, pois faz sentido. A aceleração do desequilíbrio é um forte indício de que era algo muito grave. Consegue me dizer qual é a causa?]

Madoka voltou a olhar para Kyuubey, sua expressão havia ficado mais séria. “Quanto a isso eu já tomei providências. Na verdade estou aqui para lhe informar da situação com o intuito que você possa reparar os danos.”

[Hmmm...] Kyuubey abraçou sua própria cauda. [Não creio que seja possível.]

“Por que não?” Madoka disse preocupada.

[Não é assim que as coisas funcionam.] Kyuubey começou a rodopiar pelo ambiente, agarrado a sua cauda. [Imagine que o universo é como um grande copo frio com pedras de gelo dentro. Se isolarmos esse copo de qualquer interferência externa, o gelo não derreterá. É para isso que serve a energia que coletamos.]

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[Algumas vezes a energia escasseia por um momento e o sistema perde seu isolamento. Nesses casos, o sistema adquire certa quantia de desequilíbrio. Uma parte do gelo começa a derreter.] Kyuubey começa a orbitar em volta da Madoka. [Porém, quando o isolamento retorna, aquela pouca quantia de desequilíbrio será distribuída uniformemente ao longo do gelo. A água congela novamente. Esse processo pode perdurar por muito tempo. É graças aos nossos esforços que sua raça tem o luxo de poder acreditar ingenuamente que seu planeta vai desaparecer antes do universo.]

Kyuubey solta a sua cauda e se distancia da Madoka. [No entanto, considerando que nenhuma energia foi obtida por um longo tempo, o sistema recebera muito desequilíbrio. Talvez já tenha até mais água do que gelo no copo. Mesmo que isole esse sistema, o desequilíbrio será distribuído e todo o gelo que resta derreterá. Será o fim do universo como conhecemos.]

“Mas não é possível reverter? Usar a energia para congelar essa... água.” Madoka indagou.

[É utilizada uma quantia constante de energia por um longo período de tempo para isolar.] Kyuubey continuou. [Reverter é possível teoricamente, mas para isso precisaria de uma grande carga de energia kármica em um curto espaço de tempo. Estamos falando de um padrão equivalente a uma supernova.]

A gema no brinco de Madoka cintilou vagamente. “E se eu te disser que eu posso obter essa energia?”

Kyuubey balançou suas orelhas. [Estaria muito interessado em ouvir.]

Madoka deu um largo sorriso. “Incubator, gostaria de fazer um contrato comigo?”

Kyuubey estava completamente estático. [Contrato?]

/人 ‿‿ 人\

Em um monte gramado e florido, Kyouko e Mami, em seus uniformes de garota mágicas, observavam Mitakihara acordando para um novo dia.

“É... Aquela doida deu um baita susto, mas tenho que agradecer pela carona.” Disse Kyouko. “Depois que livramos ela do Kyuubey, eu queria ver como a gente ia levar todo aquele pessoal por aquele deserto.”

“Nós iríamos ajudar.” Logo atrás das garotas estava Sayaka, também em seu uniforme de garota mágica. “Ou acha que iríamos deixar vocês esturricarem quando viesse o sol, depois de tudo o que foi feito.”

Junto à Sayaka estava Madoka, em seu traje branco divino. Atrás dela havia uma grande aura em forma de flor, por onde suas infinitamente compridas mechas de cabelo desapareciam. Algo a deixou preocupada. “Mami-san, eu sinto que está aflita.”

Mami olhou de relance para o sol nascente, seu brilho ganhando força. “É quanto a Bebe. É verdade o que ela disse? Que ela estava sozinha.”

“Eu visitava ela, mas é verdade, boa parte do tempo ela ficava sozinha.” Respondeu Madoka.

Mami fechou os olhos. “Então é melhor que ela fique com a Akemi-san.”

“Eu nunca imaginei que ela fizesse aquilo.” Comentou Sayaka. “Mas, para falar a verdade, eu conhecia muito pouco ela. Eu só posso dizer que existem outras garotas lá, ninguém é obrigada a ficar sozinha.”

“Heh. Aposto que cê deve tá levando uma surra delas.” Completou Kyouko.

“Ah é? Um dia, quando você aparecer por lá, vou mostrar o quanto eu melhorei.” Rebateu Sayaka.

Kyouko virou-se para Sayaka, com uma expressão de incredulidade. “Quando eu aparecer por lá? Pode esperar sentada garota, só vou quando eu já for uma velha gagá. Além do mais, eu tenho que cuidar dessa loira.”

“Não é justamente o contrário?” Mami foi rápida na resposta.

“A gente tá falando de luta, combate, batalha. Sacou?” Kyouko cruzou os braços.

“Huhu.” Riu Mami. “Eu também levei isso em consideração.”

“Tch...” Kyouko ficou emburrada.

“Wehihi.” Madoka apreciava o bom momento, mas ela tinha consciência da passagem inexorável do tempo. “Bem... É hora de ir.”

“Kyouko...” Sayaka estendeu a mão.

“Não tente fazer eu chorar, sua idiota.” Kyouko sorriu e apertou a mão da Sayaka.

A aura começou a brilhar intensamente.

“Continue a acreditar nas histórias de amor e coragem. Elas são aliadas da esperança.” Disse Sayaka, com um sorriso.

Essa foi a última imagem que Kyouko conseguiu obter antes de ficar completamente cega. Logo ela sentiu que sua mão estava vazia.

Quando a luz fraquejou, Madoka e Sayaka já não estavam mais.

Kyouko sentiu as lágrimas sobre a sua face. “Aquela idiota... eu disse para ela não fazer isso!”

Mami também havia ficado com os olhos avermelhados. “Mesmo eu acreditando na Lei dos Ciclos, só agora posso dizer que sinto realmente aliviada por ela. Em paz.”

“É, mas a família dela ainda sofrerá muito.” Respondeu Kyouko, melancolicamente.

Mami concordou. “Eu deveria ter aconselhado melhor, mas devemos respeitar o desejo dela.”

“É bom que aquele garoto esteja feliz.” Falou Kyouko em tom de irritação. Depois se acalmou. “E agora? O que vamos fazer?”

[Exercerem seu papel como garotas mágicas.] Kyuubey surgiu no topo do monte gramado.

Kyouko conjura sua lança e estende ela até Kyuubey. Sua expressão não esconde a cólera. “Tu tem que ter muito pau nessa sua cara pra vim falar com a gente depois do que aconteceu.”

[É melhor não desperdiçar sua magia, Kyouko.] Kyuubey balançava a sua cauda. [Pois à noite terá que lidar com os demônios. Não se esqueça que precisa de mim para descartar os cubos da aflição usados.]

“Abaixe a lança.” Ordenou Mami.

“Mami!” Disse Kyouko, surpresa. “Tu não vai ficar do lado desse nojento, né?”

“Kyuubey!” Mami ignorou Kyouko.

[Sim, Mami.]

“Eu quero que venha ao meu apartamento todas as manhãs, enquanto eu estiver me arrumando para aula. Nós iremos entregar todos os cubos coletados.” Continuou Mami, em um tom mais ameaçador. “E não apareça em nenhum outro momento, e nem fale comigo ou com a Kyouko. Senão farei questão em desperdiçar minha magia.”

O olhar vermelho estático de Kyuubey pareceu estar analisando Mami de ponta a ponta. Por fim ele se virou e sumiu de vista. [Que assim seja.]

Kyouko encurtou sua lança. “Eu preferia nunca mais ver esse branquelo.”

“Temos uma cidade para defender e precisaremos dele para isso.” Mami começou a descer o monte.

“Tch.” Kyouko a seguiu. “Ei Mami. Será que ficamos muito tempo fora?”

“Hmmm... Não pensei nisso.” Mami ficou cutucando o queixo. “Saberemos quando chegar em casa. Tinha restos de um bolo na geladeira.”

“Putz! Será que estragou?” Kyouko rangeu os dentes. “Grrr. Mais um motivo para esganar aquele branquelo.”

E as duas caminharam juntas, rumo para as suas antigas rotinas. Porém, agora tendo certeza que o amor, coragem e esperança são capazes de superar tudo.

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/人 ‿‿ 人\

Sob o amálgama de cores que o universo tem para oferecer, Sayaka acompanhava de perto Madoka. Apesar que a Lei estava salva, ela sabia que a missão não fora um sucesso. Elas não conseguiram trazer Homura e, pior, Nagisa ficou para trás.

No entanto, era algo a mais que incomodava Sayaka, algo parecia estar entrando em sua mente naquele exato momento.

Cores brilhantes foram se misturando até resultar no mais puro branco. As duas agora estavam em um ambiente sem começo, meio ou fim. Onde suas únicas companhias eram inúmeras cadeiras que estavam flutuando.

Porém o fundo branco foi logo tomado pelos mais variados símbolos coloridos. O olhar dourado de Madoka estava atento. “Muitas estão precisando de mim nesse momento.”

Um desconforto, uma angústia, tomava o corpo de Sayaka. Ela olhou desconfiada para aquele brinco negro com a gema violeta, que estava na orelha direita de Madoka. “Madoka...”

Madoka virou-se e disse com calma. “Sayaka-chan.”

“Aconteceu alguma coisa, não foi?” Sayaka começou a se arrepiar toda.

Um semblante entristecido se instaurou em Madoka. “Eu... escondi muitas coisas de você.” Então, como um tentáculo, uma das longas mechas de cabelo rosa se enrolou em Sayaka.

“Ma...Mado...gnngn...” Sayaka caiu de joelhos e começou a suar frio. Imagens em sua mente começaram a aparecer, lembranças de um futuro esquecido.

“Eu sinto muito pela forma que as coisas aconteceram.” Continuou Madoka. “Mais do que nunca, você merece toda a verdade, mesmo que isso vá doer.”

Lágrimas saíam dos olhos de Sayaka a cada memória. A traição de Homura, suas vãs tentativas de trazer Madoka de volta, sua convivência com a Kyouko, sua entrega a maldição, a revelação do relacionamento entre Kyousuke e Hitomi e fatídica luta que teve com Nagisa.

Ela olhou para as próprias mãos, que agora eram manoplas de ferro. “nÃO! PoR Que AcOnTEcEu ASsiM? aaAAaAAaAaHhhhHHhhGgggGG!

“Desculpe, Sayaka-chan.” Disse Madoka, enquanto observava sua amiga se transformando em uma bruxa.

Oktavia ergueu seu grande sabre contra Madoka, mas logo mais mechas de cabelo seguravam seu corpo e seus braços. Ela lutava com todas as forças para se libertar. “AaaAAaaaAAHHhNHhhHHhGgggGGg!”

“Eu garanto que trarei você de volta. Eu tenho muito a dizer além do que viu. É até injusto, mas para o que virá, eu precisarei de ti novamente, minha amiga.” Madoka deu as costas para Oktavia, daria trabalho para recuperá-la, mas ela era apenas uma. Nesse exato momento, inúmeras bruxas estavam precisando da presença dela, era necessário compensar pela sua recente ausência.

Enquanto isso, a gema em seu brinco cintilava...