Descobrindo Sombras

Pôr do sol a beira mar


California 1976

—Hey, Mary - Disse Logan.

Mary parou de olhar os discos de vinil e se virou para o seu amigo.

—Você pode dar uma olhada no caixa? - Ele perguntou.

A moça fez que sim com a cabeça. A loja de música acabara de ganhar uma pequena sessão de livros biográficos e clássicos que fez com que um novo público entrasse na loja e comprasse mais produtos.

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A tarde estava começando a cair e o sol de outono era agradável. Mary estava ajudando seu amigo Logan em seu novo negócio em Santa Bárbara que, por sorte ia bem, o pessoal da Califórnia parecia não se cansar de comprar álbuns de vinil. A garota pegou um exemplar do livro Lolita e se sentou na cadeira do caixa, que ficava de frente para a porta e começou a ler o livro que já havia lido centenas de vezes.

Os sinos da porta tocaram anunciando a chegada de um cliente. Sem mesmo tirar os olhos do livro Mary sabia que era um homem e uma mulher que estavam prestes a iniciar uma briga.

—Bem vindos à Red Vinyl Records - Ela disse enquanto virava uma página do livro.

Os clientes ficaram alguns minutos perambulando pela sessão de rock enquanto conversavam por sussurros. Então um deles foi até o caixa.

—Quais as chances? - Disse uma voz familiar.

Mary arregalou os olhos e colocou o livro no balcão.

—John? - Ela perguntou, incrédula. -Oi!

O rapaz sorriu para ela e entregou os álbuns que iria comprar.

—O que você está fazendo aqui? - Ela perguntou com um sorriso no rosto - Achei que estivesse em Sacramento.

—Eu estou fazendo compras - Disse ele - Faz algumas semanas que eu saí de Sacramento e vim para cá. Mas, e você? Achei que estivesse em Morro Bay.

— Bem - Ela se ajeitou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha - Estou morando com Hope e as crianças e consegui um emprego aqui. A loja é de um amigo meu.

John arqueou as sobrancelhas como se estivesse curioso.

—E Lúcio está bem com tudo isso?

—Não importa - Ela pegou os álbuns e os colocou em uma sacola - Não estamos mais juntos.

—John? - Uma moça loira se aproximou.

Ela era alta e extremamente bonita, do tipo que poderia aparecer nas capas de revistas.

—Oh - Ela lançou um olhar surpreso para Mary e decidiu ignorar completamente a garota. Mary sabia que ela se sentia incomodada com a sua presença, detectou até um pouco de raiva. - Eu te espero no carro - Então deu um beijo demorado no rosto de John, que ficou imediatamente sem graça.

Um silêncio ficou ali por alguns segundos depois que a moça saiu do loja, até Mary decidir quebrá-lo.

—Já você… - Ela pegou a sacola e entregou para o rapaz - São quinze dólares pelos álbums. Aliás, são ótimos.

John ficou sem reação. Apenas entregou-lhe o dinheiro, pegou suas compras e foi embora. Em seu caminho cruzou com Logan, eles se comprimentaram cum um aceno de cabeça. Então Logan foi até Mary com uma expressão incrédula no rosto.

—Aquele era…?

—Sim - Ela o interrompeu e fingiu indiferença - John Ionahee e sua garota do momento.

—Oh - Ele estava surpreso - Eu jurava que ele estava de quatro por você.

Mary arqueou as sobrancelhas e voltou a ler seu livro.

—Por que você não fica com ele? - Sugeriu Logan.

—Porque parece que ele já tem namorada, não viu?

—Mary - O rapaz deu uma pausa e a garota o encarou - Eu quis dizer o livro.

O rosto dela ficou vermelho instantaneamente.

—Vá para casa com o seu livro e tome uma cerveja ou um vinho, você parece tensa.

Mary respirou fundo.

—Obrigada, Logan.

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E fez o que ele sugeriu. Foi até o apartamento que dividia com Hope e as crianças e ficou feliz de ter o apartamento só para ela por uma semana. Ela pegou uma long neck da geladeira, sentou-se na varanda e tentou ler seu livro, sem sucesso.

Não conseguia tirar uma coisa da cabeça: Quem era a moça loira e por que John estava com ela?

Alguém bateu em sua porta e ela levou um susto. Levantou-se e foi ver quem era. Ao olhar pelo olho mágico sentiu que o ar estava lhe escapando, mas abriu a porta mesmo assim.

—Oi, de novo - Ela disse - O que está fazendo na porta da minha casa?

John pareceu pensar na resposta por alguns segundos.

—Vai acreditar se eu disser que eu estava no bairro?

Mary não pode conter uma pequena risada.

—Não - Disse ela - Mas já que está aqui, entre.

John passou por ela e ela pode sentir aquele cheiro tão familiar de couro e baunilha. Um cheiro que lembrava lar, apesar do lar em que cresceu ter cheiro de cloro e tabaco.

—Quer tomar alguma coisa? - Ela ofereceu - Eu ia abrir um vinho agora.

—Claro, pode ser.

—Se importa se não for uma taça? Nós evitamos comprar copos chiques por conta das crianças.

—Sem problemas - Ele riu.

Mary pegou o vinho que estava na geladeira, abriu-o com facilidade e serviu dois copos. Os dois se sentaram no chão da varanda e ficaram observando o entardecer, enquanto bebericavam vinho.

—Então… - John foi o primeiro a tentar quebrar o gelo - Onde está Hope?

—Ela leovou os filhos até Nevada para passarem a semana com o pai - Disse ela, então tomou um gole de vinho para tomar coragem e perguntar o que precisava - A moça loira não vai ficar chateada de saber que você está aqui?

—Moça loira? - John parecia genuinamente confuso.

—Da loja… - Mary estava tentando demonstrar indiferença, mas devia estar bem óbvio que estava se mordendo para descobrir mais coisas.

— Ah, Lizzy - Ele sorriu para a sacada.

Lizzy. De repente esse soou como o pior nome já pronunciado na história da humanidade. Lizzy. Por que ele estava sorrindo ao falar o nome dela?

—Não tem porque ela ficar chateada. Quer dizer, não é como se estivéssemos juntos ou algo do tipo.

—Não foi o que pareceu - Mary sussurrou com o copo nos lábios antes de tomar um gole do vinho.

—O que disse? - Ele perguntou.

— O que? - Ela se fez de desentendida, como se não houvesse dito nada. Aquilo fez John rir.

Sua risada fez um choque percorrer pelo corpo de Mary. Aquela atração intensa que ela sentia por ele parecia estar crescendo a cada minuto, ainda mais agora que se sentia mais livre.

—E Lúcio? - John virou o assunto para ela - O que aconteceu com vocês?

— Ah, isso - Mary respirou fundo, como se estivesse de saco cheio, porque realmente estava - Ele estava sendo muito possessivo e controlador. Eu estava me sentindo sufocada.

John ficou observando-a por um segundo. Mary queria muito saber o que ele estava pensando enquanto a observava. Afinal, ele era a única pessoa que ela não conseguia desvendar.

—Não combina com você - Ele disse, finalmente - Quer dizer, esse aprisionamento não combina com o seu espírito livre.

A garota olhou para ele por um segundo. Tinha a sensação de conhecê-lo há muito tempo, muito mais do que de fato se conheciam.

—Talvez nós dois não fomos feitos para relacionamentos - Disse ela.

—Você acha? - Ele se aproximou um pouco mais dela - Eu acho que todos podem ter um relacionamento legal, desde que se entendam.

— E você já teve um desses? - Ela sorriu - Eu nunca tive.

—Eu tive uma vez - Ele confessou - Eramos muito parceiros, nos entendiamos muito bem.

—E o que aconteceu? -Mary estava curiosa.

—Seguimos caminhos diferentes - John tomou um gole do seu copo.

—Você sente falta dela? - Ela perguntou e olhou para baixo.

Estava se detestando por ser tão invasiva e se sentia uma louca ciumenta, mas dessa vez não era ciúmes, de fato. Dessa vez ela apenas queria conhecer e entender melhor John.

—Eu senti a falta dela por muito tempo - Ele olhou para o por do sol que começava - Mas agora não sinto mais. - Então olhou para ela.

O sol alaranjado parecia deixar um efeito bronzeado na pele de John e os olhos vermelhos dele tinham uma cor mais intensa.

—Eu acho que devo ter um problema com relacionamentos - Ela parou de olhar para ele e olhou para o copo quase vazio em sua mão - Não consigo deixar ninguém se aproximar. Lúcio me venceu pelo cansaço e eu terminei com ele, mas fora ele não deixei quase ninguém ficar por muito tempo na minha vida. - Ela deu uma pausa e pode sentir os olhos de John nela, então olhou para ele novamente - Você mesmo - Disse ela - Eu fui rude com você incontáveis vezes.

—Você foi um pouco rude - Ele riu e ela empurrou o ombro dele de leve - Mas eu vejo além disso. Acho que você tem medo das pessoas se aproximarem de você, tem medo de deixar alguém cuidar de você.

Mary recebeu aquelas palavras e engoliu seco. Ele tinha razão e aquela verdade ardia.

—A única pessoa que eu deixei se aproximar e ficar foi Hope - Confessou - Afinal, ninguém é uma ilha.

Então ela tomou o último gole e se levantou. John se levantou com ela quase imediatamente.

—Você não é uma pessoa ruim, Mary.

Mary sorriu para ele. Era como se ele pudesse ler os pensamentos dela agora.

Ela saiu da sacada e foi em direção à sala, mas acabou tropeçando no tapete. John, quase que por instinto, a segurou antes que ela pudesse enfiar o nariz no chão. Ele a agarrou pela cintura e pelo tronco e ela segurou em seus braços.

—Meu Deus - Disse ela enquanto se levantava, mas não soltava as mãos do corpo dele - Como você sempre me pega assim?

Ela foi tirando as mãos dele aos poucos, enquanto encarava-o. Os dois ficaram se encarando em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. Ela queria decorar todos os traços do rosto dele, queria sempre poder se lembrar daquele momento. E não pode evitar, aproximou-se dele, puxou-o suavemente pela nuca e deu-lhe um beijo. Os lábios dele eram macios, o beijo foi suave. Ela se afastou aos poucos dele, até abrir os olhos e dar um passo para trás.

—Desculpe - Ela disse - Eu não devia…

Ele a puxou pela cintura e pela nuca e deu-lhe mais um beijo antes que ela pudesse terminar sua frase. O modo como ele a segurava, o modo como ele a beijava, tudo aquilo fazia ela sentir uma eletricidade percorrer pelo seu corpo, seu coração batia mais rápido e onde ele tocava parecia estar em chamas. Ela passou os braços pelo ombro dele e os dois continuaram a se beijar. Era como se ela estivesse esperando por esse momento por tempo demais.

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