Descendants 2

How Much Do You Know Me?


Nunca encontrei minha verdadeira casa, se quer saber.

— Isabelle Carmim de Copas

...

Caindo. Isabelle estava caindo numa escuridão interminável. Não sabia quanto tempo estava ali, mas sentia que era um longo período. Conseguiu ver uma luz no final do buraco. O impacto com o chão não foi tão forte, alguém havia segurado ela.

— Oi Isabelle. — O rapaz disse colocando ela no chão. A garota não sabia quem era, mas tinha um toque familiar. Por impulso, o abraçou. Percebeu que ele era enorme, já que tinha que levantar a cabeça para olha-lo. Ou será que ela estava pequena?

Os dois deram as mãos e saíram pela colina verde. Era estranho, porque sentia que conhecia ele.

— O que está acontecendo, Wine? — Ela perguntou olhando a colina verde se desfazer.

— Escute. — Ele se agachou ficando do mesmo tamanho dela. — Vou ter que ficar e você vai ter que ir, talvez você esqueça disso tudo, mas faça de tudo para sempre lembrar de mim, certo?

— Eu quero ficar com você. — Ela começou a chorar e abraçou o garoto. Alguém a puxou. — Wine! — Ela gritou.

— Isabelle! Não se esqueça de mim, tudo bem? — O garoto gritou de volta.

— Isabelle. — Outra pessoa gritou. Não era que estava agarrando o ombro da garota. — Isabelle! — Chamou de novo, só que mais alto. — Acorde!

...

A ruiva respirou fundo e abriu os olhos assustada. Estava em seu quarto. Harry estava a balançando e suas amigas na porta. Respirou forte e olhou para tudo em volta novamente.

— O q-que aconteceu? — Ela perguntou tirando uma fina camada de suor da testa. — Por que v-vocês estão aqui?

— Você começou a gritar. — Uma sussurrou se aproximando. — Viemos ver se você está bem.

— Fazia um bom tempo desde que você não tinha um ataque de pânico. — Kaya comentou. — Com o que estava sonhando?

— Com... — Isabelle não soube responder. O sonho havia se apagado. Olhou confusa para os amigos. — Não me lembro, só lembro de um nome, eu acho. Wine.

— Vinho? — Harry perguntou. Isabelle estava confusa, não conseguia organizar sua cabeça direito. — Olha, é melhor você voltar a dormir, tem quase duas horas até as aulas começarem.

A ruiva não falou nada, só concordou com a cabeça. Os amigos saíram do quarto sem dizerem mais nada. Kaya fechou a porta, mas antes olhou a amiga, Izzy ainda estava na mesma posição e olhava fixamente para um ponto qualquer em sua cama.

A porta se fechou e a garota tomou um susto com o barulho. Olhou ao redor e estava sozinha. Levantou, trancou a porta do quarto e pegou o baralho. Ficou em pé de frente para o espelho. Começou a embaralhar as cartas e jogou uma contra o espelho. Pensou que sua mãe iria aparecer, igual da última vez.

— Copas! — Disse firme. A carta foi engolida pelo espelho e não demorou muito para o par de unhas bem-feitas aparecer segurando a carta. Sua mãe estava mais gorda, e um pouco mais velha também.

— Isabelle, minha princesa! — A Rainha tentou sorrir, mas o sono estava estampado em seus olhos. — São seis e meia da manhã! É bom que tenha um motivo, um ótimo motivo!

— Quem é Wine? — Ela apertou os olhos e puxou a cadeira da penteadeira para sentar. — É uma pessoa, eu acho. Você sabe quem é?

— Não me lembro de ninguém que se chamasse vinho em meu reino. — A Rainha disse revirando os olhos. — Por quê?

— Eu... eu sonhei com alguma coisa, tive um ataque de pânico e a única coisa que eu me lembro é esse nome. — Isabelle apoiou a cabeça na mão. — Sabe que eu não tenho um ataque desde...

— Que viemos parar na Ilha. Acha que eu não me lembro? — A Rainha disse debochada. — Eu que tinha que cuidar de você, dizer para você que não tinha nenhuma pessoa querida esquecida em nosso reino.

Isabelle suspirou. Olhou para a mãe e depois para as próprias mãos, que tremiam.

— E como anda o plano?

— Descobrimos que pode haver um túnel subterrâneo. — Izzy disse. — Mas iremos usar isso só em último caso.

— Qual o plano A? — A Rainha franziu a testa.

— Desligar a barreira e zarpar com o Jolly Roger. Mas para isso iremos precisar de pó de fada e...

— Ótimo. Pó de Fada nós arranjamos. — A mais velha sorriu. — Agora, o trabalho de vocês é apenas desativar a barreira, eu cuido do resto.

— Certo. — Izzy assentiu. — Você tem alguma noção de onde podemos começar?

— Existe três sistemas que podem comandar a barreira. — A mais nova abriu a boca para pedir mais informações, mas sua mãe havia desaparecido. A ruiva respirou fundo para não gritar. Olhou no relógio, já haveria café da manhã aquele horário, então pegou uma carta do baralho e pensou em estar vestida.

— Copas! — Isabelle olhou-se de cima a baixo, havia gostado da combinação. Pegou uma bolsa de corações e desceu.

O refeitório estava vazio. Se não fosse por Max e Ally num canto, estaria deserto. A ruiva pegou uma bandeja, colocou tudo o que queria e andou calmamente para perto dos dois. Max sorriu ao ver a garota, que recebeu um beliscão da loira.

— Acho que depois disso, não sou bem-vinda. — Isabelle disse encarando Ally que balançou a cabeça concordando.

— Não, não. Você pode-se sentar sim, que mal tem? — O garoto sorriu de canto indicando para a ruiva sentar-se. Isabelle sentou, mas apenas para irritar a loira oxigenada, não porque Max havia pedido.

— Madrugaram? — Ela perguntou partindo o pedaço de bolo.

— Sempre acordamos cedo. — Max respondeu. — Rotina, sabe. Não conseguiu dormir?

— Pesadelos. — Isabelle deu de ombros. — Lembranças na verdade. — A ruiva olhou para Max, queria perguntar para ele se lembrava de como o País das Maravilhas havia sido destruído e esquecido, mas a presença de Ally não deixou.

Quando o relógio deu sete da manhã, o refeitório se encheu de gente. Rose e Charles sentaram-se com os três. Max foi logo perguntando.

— Cadê a Ariana?

— Doente. — Rose respondeu abrindo a garrafinha de leite.

— Desculpa. — A ruiva tossiu e enfiou uma garfada do bolo na boca. Rose ergueu uma sobrancelha para ela. — O que foi? É claro que é desculpa, você usou isso depois que ‘ficou’ com o Gil.

— Com todo respeito, você nã...

— Estou certa, você que não quer admitir. — Os amigos de Isabelle sentaram-se na mesa junto com ela.

— Desde quando sentamos aqui? — Kaya logo disparou pegando o bolinho de Harry. — Pensei que eles nos odiassem.

— Não odiamos... — Rose argumentou. A morena encarou por poucos segundos Gil antes de abaixar o olhar.

— Okay, qual o nosso primeiro horário? — Harry perguntou.

— Deve ser Bondade. — Uma disse. — Se vocês virem a Ariana, diz para ela que eu quero minha folha assinada por ela falando que eu a ajudei? — A de cabelos brancos olhou para os quatro a sua frente.

— Droga, tenho que fazer, é até quando? — Harry perguntou bebendo o suco.

— Final do semestre. — Kaya respondeu. — Vai ter festa de Halloween? Se sim, vou poder ajudar?

— Também quero. — Harry comentou. — Você também precisa do trabalho, Izzy.

— Tenho tempo. Estamos em outubro. — A ruiva deu de ombros.

— Voltando, quando é a festa de Halloween? — Uma perguntou colocando sua bandeja vazia de lado. — E como funciona?

— É uma festa mesmo. — Charles comentou. — Pode ir fantasiado ou colocar roupas que refletem na data. Não é muito animado.

— Para, diz isso porque você não gosta. — Rose revirou os olhos. — É uma festa e uma passagem para os alunos do 3° ano.

— Nada se compara a viagem para Terra do Nunca. — Charles deu de ombros.

— Explica isso daí. — Harry falou com os olhos brilhantes.

— Não receberam os papeis? — Os cinco negaram. Rose olhou para Ally. — Ally! Te pedi para entregar as autorizações para todo mundo!

— Ah, eu devo ter esquecido. — A loira deu de ombros. — E eles nem têm responsáveis aqui para assinar.

— Acho que o processo de vocês vai ser outro, mas a viagem funciona como um caça tesouro. — Max disse. — O 3° ano é dividido em duas equipes e cada equipe esconde um tesouro. A que encontrar o tesouro da outra e não ter o tesouro roubado, ou saqueado pelos meninos perdidos, ganha.

— Dizem que é bom. Espero por isso desde de criança. — Charles comentou rindo.

...

— Você está distante. — Max comentou com Isabelle, que estava sentada na mureta da varanda da biblioteca. A ruiva virou-se para trás e viu o menino.

— Olá para você também. — Ela se virou para ele. — O que você quer?

— Saber porque deixou Ally implicar com você a manhã inteira. — Ele deu de ombros.

— Por quê? — Ela ergueu uma das sobrancelhas bem-feitas.

— Sabe, aqui as pessoas se importam com os outros. — Max disse sentando-se ao lado dela. — Bem, a maioria.

— Não me importo muito com o que ela diz. — Isabelle voltou a olhar para o horizonte. A Ilha dos Perdidos reluzia os últimos raios de luz do dia.

— Saudades de casa?

— Nunca encontrei minha verdadeira casa, se quer saber. — Isabelle disse. A ruiva havia esquecido do pesadelo que tivera, e por impulso perguntou: — Você se lembra da sua mãe?

— Não muito, para falar a verdade.

— Mas você sabe que teve uma, não é? — A pergunta era meio idiota, mas ela precisava ter certeza do que ele lembrava.

— Claro. Tenho algumas fotos para provar e acho que uma carta dela também. — Max riu. Isabelle soltou a risada pelo nariz. — Por quê a pergunta?

— Sinto que esqueci de alguém que não deveria. — Ela sussurrou. — É bobagem. Esquece.

— Nada é bobo para mim.

— Você se parece com seu pai. — Ela riu.

— E você não é nada igual a sua mãe. — Ele sorriu fazendo a garota encara-lo. — Eu acredito que aí dentro tenha um coração bom.

— Você não me conhece.

— Te conheço o suficiente para acreditar. — Ele disse com os olhos brilhando. Já havia visto esses olhos assim, em Victor, quando ainda namoravam. Mas os olhos de Max brilhavam mais do que os olhos apaixonados do Valete.

— Não sabe o que eu passei, não sabe o que eu odeio e nem sabe o que me faz feliz. — Isabelle fechou os olhos balançando a cabeça.

— Então me conte. — Ele pediu.

— Você é insistente igual ao s...

— Não me conhece para dizer isso. — Ele a interrompeu. — Se conhecesse saberia que, apesar do meu pai se casar de novo, ainda ama minha mãe.

Isabelle não sabia o que dizer. Ele acabou de admitir que seu pai iria casar?

— É isso mesmo. Meu pai, Chapeleiro Maluco, irá se casar com Alice Kingsleigh, mãe de Ally.

— Por Lúcifer, eu sinto muito. — Ela riu.

— O pior é que Ally me ama ainda. — Ele deu de ombros.

— Ainda?

— Ora, ora, pensei que me conhecia o bastante para saber que eu já namorei ela. — Max ergueu uma sobrancelha vitorioso. — Posso te contar sobre isso, se me contar sobre algum ex-namoro seu.

— Como sabe que eu já namorei?

— Você é Isabelle Carmim de Copas, já deve ter partido um coração no passado. — Ele riu. — Sexta está bom para você?

— O que? Eu não sou tão curiosa assim. — Ela mexeu o nariz.

— É, mas eu sou. Te busco depois da aula para irmos à loja de chás do meu pai. Te conto tudo e espero que me conte tudo. — Ele sorriu levantando.

— Você é louco, sabia? Digo, louco mesmo.

— Vou te contar um segredo: as melhores pessoas são assim. — Ele sorriu e saiu da varanda, deixando a ruiva sozinha.

...

Rose estava no refeitório ainda estudando. A única luz acesa estava sobre a mesa que a garota estava com os livros, cadernos e folhas espalhados por toda sua extensão.

A morena não havia percebido que Gil estava há alguns metros na porta observando-a. Por algum motivo que ele ainda não tinha compreendido, olha-la era a coisa mais fascinante.

Não deveria estar ali, deveria estar indo dormir ou procurando um jeito de desligar a barreira. Ou até procurando quem ficaria na próxima festa.

Gil percebeu que Rose estava começando a recolher os materiais da mesa e saiu da porta, ficando com as costas na parede para que ela não o visse. Era o esconderijo mais idiota do mundo e ele tinha noção disso.

— O que está fazendo aqui? — Rei Ben perguntou segurando o riso fazendo Gil revirar os olhos.

— Nada. — Ele mentiu. O rei deu uma olhada na porta do refeitório e viu Rose saindo pela outra porta. Sorriu ao ligar os fatos. — Não é nada.

— Você estava observando ela. — Ele balançou a cabeça. — Por que não a chama para sair?

— Ata. — Ele revirou os olhos cruzando os braços. — Eu? Chamar alguém para sair? Até parece, você não me conhece.

— Bem, você colocou “mulheres” e “encontros” nos seus gostos. — O rei revirou os olhos rindo.

— Como você sabe?

— Rei de Auradon, sabe? — Ele deu de ombros. — Li a ficha de todo mundo. Não pensou que o questionário obrigatório que vocês fizeram no 2° em Dragon Hall tinha haver com alguma coisa de vir para Auradon?

— Agora que você falou, tem sentido... — Gil observou.

— Chame Rose logo para sair. — Ele insitiu. — Ela não dirá um não para você.

— Como sabe? — Gil ergueu uma sobrancelha. Estava um pouco nervoso, não sabia ao certo porque.

— Ela é educada demais para dizer não e gosta de você. — Ben disse. — Só para deixar claro, esse nervosismo todo se chama amor.

O rei se retirou, deixando Gil sozinho com seus pensamentos e a grande pergunta em sua mente: será mesmo que ele estava apaixonado pela garota?