Depois de Fred

Barganha


2007, Ginny

A mulher ruiva apertou-se em seu casaco novamente, não sentindo a menor vontade de se levantar, como se tivesse perdido os sentidos do corpo.

Admirou durante minutos a arquitetura antiga e refinada do local, fascinada por todos aqueles vitrais e sua origem gótica. Ela fitava as enormes colunas detalhadas que tocavam o teto, com diversos anjos de gesso observando a todos, como uma doce alegoria ao céu que esperava os que pediam amparo naquela Igreja. Ela observou os outros irem embora e demorou um pouco para notar que o padre ia em sua direção. Apertou sua bolsa, nervosa, e levantou-se para fugir.

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— Posso saber o nome da senhora? — questionou ele, apertando o passo. Ginevra olhou o homem, sem saber o que pensava. Em um passado, ele sentiria o seu cheiro ou sua misoginia despertaria de uma forma que ela já estaria em uma praça sendo queimada como um evento para a vizinhança.

— Ginny. — respondeu, não sentindo medo de ser queimada.

— A senhora tem frequentado todas as reuniões, mas sempre se senta aqui... — sorriu o homem de meia idade. — Sinto que não pode me ver e nem me ouvir direito. Tem medo do altar?

Ela grudou seus olhos na grande cruz, distante.

— Não... Eu só... Gosto de ouvir.

O padre sorriu.

— Muitas pessoas veem para buscar conforto. — relatou ele. — Às quartas nós temos as reuniões mais particulares, orações para problemas, é sempre bom deixar Deus ciente do que lhe aflige.

Ginny baixou os olhos, não sentindo nada em especifico. Era como se seu corpo só estivesse ali, mas tudo interno tivesse sido desligado, a incapacitando de sentir até mesmo constrangimento. Já tinha passado até mesmo na frente de centros espiritas, mas simplesmente não tinha coragem de entrar. Fitava as mulheres entrando e saindo e imaginava-se entrando e descobrindo o que trazia tanta falação e cantoria naquele local.

— Meu irmão morreu. — disse ela. — E eu queria saber se ele foi para um lugar bom.

O padre tinha um olhar de compreensão que lhe deixou mais segura.

— Ele foi um bom homem?

Ginny assentiu, sem incomodar-se com os olhos marejados. Seu rosto estava tão acostumado que sequer reagia.

— Então Deus irá acolhe-lo nos reinos do céu.

— Mas e se ele for alguém que... Nasceu de uma forma que... Deus não gostaria. — O padre desviou o olhar encostando-se no braço do banco, cruzando os braços. Ginevra passou a mão no rosto molhado, calma. O homem grisalho olhou a ruiva, apontando para a cruz.

— Ele irá ser perdoado. E Deus irá abriga-lo, porque ele é misericordioso e ama suas criações. — Ginevra passou meses pensando naquilo. Os bruxos não tinham um céu. Não tinham um lugar pós morte e tudo que ela queria saber era para onde Fred tinha ido, e se esse deus dos trouxas existia, o que ela poderia fazer para que ele perdoasse Fred, e o tirasse das chamas do inferno. Faria o impossível, mexeria até mesmo com Magia Negra se precisasse salvar seu irmão, seja lá onde estivesse.

Fazia o possível e o impossível para manter todos confortáveis com a falta de um irmão, mas Ron estava em uma dor muito mais latente que a sua:

PUTA QUE PARIU, DEIXA A GENTE EM PAZ, PARA DE FALAR DO FRED O TEMPO INTEIRO, TODA VEZ QUE A GENTE SE REUNI VO... — Ela escuta e absorve a raiva do irmão, apesar de Hermione dizer que ele já está fazendo tratamento e na verdade ela realmente irrita bastante trazendo o assunto de Fred à tona todas as vezes que os irmãos se encontravam, nas datas comemorativas.

Mas ela não consegue evitar, ela pensa nele toda vez que vê algum familiar. Ela sente a necessidade física de abrir a boca e citar o nome dele. Porque se ela parar de falar sobre ele, de mantê-lo vivo com sua fala, uma vez que fotos e memórias em sua mente não são o suficiente...

Ele irá sumir.