Depois da Guerra

Flashbacks


Tyrion já estava ali há quase sete dias inteiros e tudo o que havia feito era nada. Andara por quase todo o castelo com suas pernas pequenas e coxas. Acordava pela manhã para fazer o desjejum com Sansa, ela normalmente não falava muito por si só, Tyrion gostava de ouvir a voz dela e sempre lhe fazia perguntas, já havia perguntado sobre o castelo, os jardins, os irmãos e até mesmo conversaram sobre cavalos e camas. Qualquer coisa que viesse à mente de Tyrion ele dizia sem nem mesmo pensar direito, às vezes, ela ria das bobagens que ele dizia. Ele adorava.

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Pela tarde andava. As pessoas continuavam a olhar estranho para ele, mas pelo menos não atacavam excrementos como havia acontecido em Porto Real. Algumas vezes, nessas andanças, começava a falar sozinho. Até que percebia o que estava fazendo e se chamava de louco.

Enquanto ele andava Sansa ficava na maior parte do tempo com os irmãos e raramente ficava sozinha. Ele já havia olhado-a de longe várias horas por dia quando a neve caía tão forte lá fora que mal conseguia andar sem afundar.

Pela noite, jantava com Sansa, que parecia ainda mais infeliz a cada dia que passava. Quando tentou conversar com ela na última noite, ela o respondeu monossilabicamente e mal tocou na comida.

Apesar de agora ele dormir na mesma cama que ela havia sempre um espaço considerável entre eles. E até mesmo Tyrion achava melhor manter essa segurança.

Entretanto o dia de hoje havia começado diferente: quando ele acordou e olhou para o lado para ver Sansa ainda dormindo, como fazia todas as manhãs, não a encontrou ali. Decidiu ir se arrumar e ir atrás da esposa. Talvez ela esteja no Conselho, ou com os irmãos. Com certeza não está andando sozinha por aí. É melhor deixá-la Tyrion. Decidiu fazer o que fazia todos os dias desde que chegara ali. Isso já está começando a ficar chato. Faz-me sentir falta de Porto Real até de Rochedo Casterly.

Todos pareciam que deviam manter Sansa ocupada. Seja visitando casas ao redor do castelo principal, seja assinando cartas, seja apenas andando pelo castelo. Havia sempre alguém atrás. Arya, Bran, Rickon, algumas aias e até cavaleiros da Guarda Real. Nunca a deixavam sozinha. E por sozinha também se entende nunca a deixavam apenas com Tyrion. Apenas quando era hora de dormir. Mas sempre alguém a levava até a porta do quarto. Ou quando estavam juntos, acompanhava-os conversando com Sansa sobre os mais diversos assuntos. Tyrion dizia a si mesmo que não se importava, mas no fundo, se importa. E muito. É certo que não gostem de mim, e até que não confiem em mim. Mas o que eu faria a Sansa? O que eu faria à única pessoa que parece me suportar nesse lugar? E por causa de toda essa amabilidade excessiva para com Sansa, os dias de Tyrion passavam devagar demais. Andar já estava se tornando muito cansativo.

Sou um rei de enfeite. Se me pendurarem como um colar em Sansa não faria a mínima diferença. Pensando sobre o que poderia fazer enquanto o resto do castelo parecia tomar todo o tempo se Sansa para si, Tyrion resolveu conhecer o novo castelo por si só. Entrar e sair por portas e portões para ver onde dariam. Quais seriam as chances de me perder? Há sempre alguém andando em todos os cantos.

Passou por quartos de todos os tipos. Salas, salões, cozinhas, quartos, quartos de banho, bibliotecas. Não há lugar em Winterfell que eu não tenha visto. Até que encontrou um portão aos fundos do castelo. Não havia ninguém andando ali. Hesitou por um momento sobre se deveria realmente ir. E se decidiu pelo ‘sim’. Não haveria lobos gigantes escondidos nos fundos do castelo, certo? Pelo menos, esperava que não.

O dia estava claro, apesar do frio que fazia. Preciso me acostumar com esse frio, parece que será aqui onde vou passar o resto da minha vida. Andando, pelo que parecia ser um jardim com árvores crescendo ao redor de uma... Casa? Ao chegar perto finalmente soube o que era aquilo. E como num flashback cenas da primeira noite de Tyrion em Winterfell passaram por sua mente. Então foi aqui o lugar que eu vim parar no meio da noite. Neve começava a cair novamente e o frio só aumentava. Mais um motivo para eu sentir falta do Sul: nunca faria um frio desses por lá. Passando as mãos pelos braços na tentativa de se esquentar, Tyrion se virou em direção à porta, ao aconchego quente do seu quarto.

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Fechou a porta e quando se virou viu Rickon parado ali o olhando.

- Vossa Graça, precisa de ajuda? – Tyrion reparou no “Vossa Graça” do rapaz. Talvez seja a primeira vez que ouço alguém me chamar de “Vossa Graça” por aqui.

O olhar que o rapaz dirigia ao duende não era igual ao dos outros dois irmãos legítimos que sempre o olhavam um pouco enojados e enjoados – o que é compreensível levando o fato de que mal possuo um nariz -, um pouco enciumados e muito interrogativos como quem dizia: “o que você quer aqui?” ou “porque não vai embora?”.

- Eu estava... Não, obrigado.

Os dois homens ainda permaneciam no mesmo lugar, sem ousarem se mover. Até que Tyrion deu o primeiro passo para sair dali, mas voltou logo em seguida.

- Sansa esteve no Conselho hoje bem cedo?

Rickon suavizou o olhar que já não era carrancudo.

- Esteve sim, senhor. Arya convocou o Conselho bem cedo hoje.

- Ela ainda está lá?

- Não. Já havíamos acabado a sessão há algum tempo. Vi Vossa Graça Sansa saindo sozinha depois da reunião. Não sei informar para onde.

- Ah, muito obrigado... Rickon.

Antes de se virar para finalmente ir embora viu Rickon se aproximando dele e achou que fosse de bom tom esperar para ver o que ele faria. O rapaz se aproximou, abaixou o olhar até o duende, olhou para os lados talvez para se certificar de que não havia ninguém por perto.

- Pessoas mudam, Vossa Graça. Eu sei disso, e eles saberão, cedo ou tarde. Com licença. – Virou-se, deixando Tyrion a pensar na frase. Um enigma? Talvez, para manter meus dias mais ocupados? Sem entender muito bem o que aquilo significava Tyrion foi em direção ao seu quarto.