Defenceless

Capítulo Doze


— Bom diiiiaaa! – exclamou uma Anna, que estava preparando o café da manhã na bancada, quando viu Natalie adentrar a cozinha.

A garota de sardas torceu o rosto enquanto se aproximava para sentar-se à mesa.

— Você poderia não... Gritar? – ela pediu, jogando o próprio corpo na cadeira.

— Vish! Momento histórico: Natalie de ressaca. É isso mesmo, produção? – a amiga começou a rir enquanto trazia o bule de café e waffles para por sobre a mesa de vidro.

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— Achei que esse dia nunca chegaria. – Natalie lamentou, tampando o próprio rosto por alguns segundos. Ouviu Anna servindo café na caneca à sua frente e destampou o rosto. – Bebi como se não houvesse amanhã... E houve.

As duas se entreolharam sérias antes de rirem juntas.

— Você adora passar vergonha, né.

— Eu passei vergonha? – Natalie a olhou assustada enquanto suas mãos abraçavam a caneca que já estava quentinha com o café que acabara de ser depositado.

Anna serviu a caneca para ela mesma.

— Tô brincando. Ninguém viu nada. Pelo menos quem você queria que não visse, né.

— Graças a Deus. Me zoariam pelo o resto da eternidade. – Anna assentiu. – E falando neles... Que aconteceu entre você e o Luke, hein? – Natalie não conseguiu evitar que um sorrisinho sacana brotasse em seus lábios.

— Menina. – Anna colocou o bule na mesa com mais força para encarar a amiga. – O que é aquele homem, diz pra mim. – ela olhou para além dos ombros de Natalie, como se Luke houvesse se materializado ali. – Que cara maravilhoso, senhor. Eu sempre o achei uma gracinha, né... Mas ele ao vivo, socorro. É um pedaço de mau caminho, um grrr.... – Anna fechou uma mão na outra, fazendo Natalie rir.

— Vocês se pegaram?

— Não.

Natalie deixou o queixo cair.

— Como não?!

— Sei lá, estávamos nos curtindo. Você sabe que adoro um joguinho de sedução, né? E parece que ele também. – Anna se sentou de frente para a amiga. – Sério, que homem...!

— Mas não rolou nadinha? - Natalie a olhou surpresa. – Tô até te estranhando. Ainda mais com um Deus Grego daquele. É amor, dona Anna?

— Que mané amor! Cabei de conhecer o sujeito!

— Pois então?!

— Ah, sei lá... Acho que com ele o lance não é carnal. Se fosse qualquer outro cara que não tivesse papo, eu até ficaria puta. Mas ele sabe conversar, me encantozinho. – Anna sorriu abobada, se lembrando.

— Me conta direitoooo! – Natalie exclamou risonha.

**INÍCIO DO FLASHBACK**

Thomas acenou para Anna de maneira simpática, que retribuiu o gesto. Quando se virou, notou Luke a observando. Os olhos ligeiramente estreitos em sua direção a fizeram prender a respiração. Sustentou o olhar dele, dando um sorriso tímido e provocador. Natalie captou o momento no mesmo instante e comentou no ouvido da amiga para que só ela escutasse:

— Mas já, Anna?

— Já nada, amô. Você que é lenta demais. Anna é simples. Anna é prática. Aprenda com Anna. – ela respondeu, arrancando gargalhadas de Natalie e se aproximou de Luke, deixando a amiga para trás. – Ei... Tudo bem?

— Tudo e você? – Luke limpou a garganta, olhando-a profundamente da cabeça aos pés.

— Tudo muito bem. – Anna deu uma piscadela depois que se afastou de Natalie e desfez a pose irreverente. – Ufa, pronto.

Luke franziu a testa no mesmo instante, sem entender nada.

— Calma... O que foi isso? – ele perguntou com uma expressão confusa.

— Isso se chama “encorajar a melhor amiga”. – Anna riu enquanto bebericava seu copo.

— Então você fingiu interesse em mim para que a sua amiga ficasse a sós com o Hunter? – ele levantou a sobrancelha, surpreso.

— Eu quis deixa-la a sós com o Hunter, é verdade... Mas a parte do interesse... Bom. – ela deu um sorriso sapeca e um tanto quanto tímido.

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Luke não conseguiu evitar o sorriso, completamente bestificado com a sinceridade da garota. Ficou até sem reação nos primeiros segundos. Depois acabou “despertando”.

— Ufa. – dessa vez foi Anna quem o olhou confusa. – Seria uma pena se o interesse não fosse... Você sabe, recíproco.

Anna jogou o corpo para trás, rindo gostosamente. Não esperava que Luke fosse reagir à altura. Era difícil encontrar caras que soubessem entrar na brincadeira e ainda jogar como se deve.

Ela se apoiou na proteção da área VIP, assistindo as pessoas dançarem. Luke se juntou a ela. Ficou tão próximo que seu braço esquerdo roçava minimamente do braço direito dela.

Anna olhou a cena pelo canto do olho e conteve o sorriso. Voltou a contemplar a festa enquanto apoiava os braços sobre a grade, a bebida pendendo para fora.

— Então... Você não quis ir no show da semana passada com a sua amiga? – Luke puxou assunto, imitando-a, com o olhar fixo na multidão.

— Não foi como se eu tivesse alguma escolha, na verdade. – Anna deu um gole de seu drinque. Luke finalmente voltou a observá-la, curioso. – Natalie estava lá a trabalho.

— Estava cobrindo o show? Droga, falei pro Hunter que ela era da imprensa... – ele comentou a segunda parte mais para ele do que para ela.

Anna riu fracamente.

— Não e sim. – ela o assistiu franzir o cenho. Tentou não se concentrar tanto no rosto dele, porque isso faria com que ela estudasse cada detalhe daquele rosto tão bem desenhado, e aquele decididamente ainda não era o momento certo. Além do mais, estava se sentindo confortável com a conversa. – A Nats é estudante de jornalismo, mas ela não estava cobrindo o show. Era trabalho dela acompanhar a Georgia no show, a menina que é super fã de vocês. Elas tinham tickets para a área VIP... Mas como a Natalie tem uns contatos, acabou conseguindo uma credencial e uma permissão de acompanhante. Assim a Georgia aproveitaria melhor o show. E aí a Nats também aproveitou pra fazer umas fotos e vender para a imprensa, claro.

Luke prestou atenção em cada palavra de Anna. Algumas vezes acabava se perdendo nos detalhes do rosto dela, como por exemplo, como os olhos dela se estreitavam em alguns momentos... Ou em como o batom dela parecia ter sido desenhado perfeitamente nos lábios dela. Assentiu quando ela terminou de falar. Ficou surpreso com a história, pois ele havia criado uma teoria completamente diferente na cabeça dele.

— Wow. Entendi. Acho que foi uma aventura e tanto aquela noite... – ele comentou.

— É, eu fiquei sabendo. – Anna riu, olhando fixamente para o moreno. – A Nats meio que chegou surtada em casa.

Ele arregalou os olhos minimamente, preocupado.

— Ela contou para alguém da imprensa sobre o que rolou?

— Nossa, você é mesmo preocupado! – Anna riu mais uma vez. – E não, relaxa... A Nats ficou tão constrangida que não contaria a mais ninguém além de mim.

— Agradeça a ela por isso, por favor. – ele suspirou aliviado. – É porque o Hunter não liga pra nada disso, e a banda já foi parar nos tabloides várias vezes por causa das besteiras dele, sabe como é... Somos figuras públicas.

— É, quando você coloca dessa maneira, tenho que concordar. – ela refletiu. – O Hunter sai com muitas, né? Já li altas histórias. Nunca sei quais são verdadeiras e quais não são.

— Bom... A grande maioria é verdade, mas isso fica entre a gente, ok? – Anna assentiu e os dois riram divertidamente. – Quer dizer que vocês moram juntas?

— Aham. Somos amigas há uns muitos anos. Estudamos juntas no Brasil e...

— Peraí. – ele a interrompeu. – Achei que fossem americanas.

Anna riu, um pouco sem graça.

— Hmmm, não. Somos brasileiras. Moro aqui há quase três anos, e a Nats há dois. – ela passou o dedo indicador pela borda do copo. – Viemos como au pairs e acabamos ficando, decidimos fazer faculdade aqui. Faço turismo e ela jornalismo. E em alguns dias da semana fazemos babysitting pra ganhar uma graninha, sabe como é. Não é nada de incrível como a vida de vocês... Mas até que é legal.

Luke estava com o olhar atento, completamente vidrado na garota. Ela era bem diferente das garotas com quem ele já havia saído. Anna tinha um jeito delicado, mas ao mesmo tempo brincalhão. Além do mais, seu corpo possuía curvas que jamais imaginou em uma mulher. Estava completamente encantado, inclusive, pelo fato de ela não reagir diferente por estar conversando com ele.

Ele assentiu depois de ouvi-la. Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas se observando. Anna fez menção de falar alguma coisa várias vezes, mas acabou não o fazendo porque parecia estranho perguntar algo.

— Desculpe. – ele começou.

— Por quê? – Anna o olhou surpresa.

— Por ficar te enchendo de perguntas. Não é todo dia que conheço alguém realmente interessante. – Anna colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, completamente surpresa com a confissão dele.

— Achei que essa era uma das coisas que mais acontecia na vida de um famoso: conhecer pessoas interessantes. Quer dizer... Todos querem conhecer vocês, então acho que é bem mais fácil, não?

Luke fez uma careta.

— Hmm, na verdade não. As pessoas querem nos conhecer por outros motivos, por sermos uma banda... Não se interessam muito pela pessoa que eu sou, e sim pela celebridade que sou. – ele falou de uma vez.

— Acho que eu nunca tinha pensado por esse lado. – ela concluiu, pensativa. – E você não precisa pedir desculpas pelas perguntas. Na verdade, eu fiquei aliviada que você achou uma maneira de conversarmos, porque eu fiquei todo esse tempo tentando pensar em uma pergunta que não fosse idiota demais pra te fazer. – ele arqueou as sobrancelhas. – A imprensa já deve ter te perguntado tudo sobre a sua vida. Aí pode ser que eu te faça uma pergunta que você já deve ter tido que responder trezentas vezes e que a resposta é tão óbvia que eu já deveria saber.

Luke riu mais alto daquela vez, chamando a atenção da morena, que sorriu.

— Acho que você é a primeira pessoa que chega a essa conclusão, sabia? É por isso que digo que você é interessante e eu não. O que você quiser saber sobre mim está em todos os lugares. Basta jogar no Google.

Anna sentiu que ele ficou um pouco incomodado ao concluir que a vida dele estava exposta em todos os lugares para todos que quisessem ver.

— Acho que nem tudo está no Google.

Ele finalmente voltou a olhá-la.

— Eu duvido um pouco.

— É mesmo? Posso tentar?

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— Por favor. – ele deu um sorriso sincero, fazendo um gesto com a mão para que ela prosseguisse.

Anna girou o corpo para ficar de frente para Luke, que acabou copiando o ato dela. Anna estreitou os olhos novamente e ele percebeu que aquele era um dos melhores detalhes sobre ela: a maneira com que se expressava.

— Quem é o “Luke pessoa”?

A boca de Luke ficou semiaberta, demonstrando certa surpresa diante do questionamento de Anna. Olhou-a por alguns longos segundos, como se buscasse fôlego e até mesmo as palavras que haviam se perdido na sua garganta.

— Nossa... – ele assobiou fracamente. – Você foi tão bem que acho que nem sei responder essa pergunta de prontidão. – Anna deu uma piscadela. – Estou tão acostumado com perguntas clichês como “qual a sua bebida favorita?” ou “qual é o tipo de mulher ideal pra você?” que quase respondi “vinho” e “bem-humorada”. - Anna não conseguiu evitar a gargalhada que nasceu em sua garganta, e ele riu com ela. – Posso pensar pra te responder depois? – ele a encarou.

— Bem, não sei se você vai ter tempo de pensar para me responder até o fim da festa, mas se é o que você quer...

— Até o fim da festa não seria o suficiente.

Anna piscou seguidas vezes rapidamente, um tanto quanto confusa. Ao mesmo tempo, sentiu seu coração acelerar, imaginando o que ele estava querendo dizer com aquilo.

— Acho que não estou conseguindo te acompanhar.

— Pode me emprestar seu celular? – ele estendeu a mão em direção dela.

Anna olhou para o braço dele, vendo todas as tatuagens se revelarem para ela quando uma das luzes iluminou a pele de Luke. Puxou o celular de dentro da bolsa que ela havia depositado no sofazinho ao lado dela, entregando seu iPhone nas mãos dele, já desbloqueado.

Luke começou a digitar nele rapidamente e lhe estendeu o celular novamente. Na tela, ela pôde ler o nome dele com o número de celular salvo.

— Você pode me ligar quando quiser.

Anna mordeu o próprio lábio, sentindo as pernas bambas, mas se manteve firme. Voltou a olhá-lo.

— Eu? Ligar pra você? – ela o olhou sem graça.

— Bom... Se você não quiser... – ele lamentou.

— Hm, acho que tenho uma ideia melhor. – ela desbloqueou o próprio celular e Luke a observou.

Anna apertou o botão “ligar” que correspondia ao contato dele. Instantaneamente, Luke sentiu seu bolso vibrar. Ele sorriu no mesmo instante.

— Agora você também pode me ligar quando quiser. – Anna sorriu de volta.

Os dois ficaram se observando por alguns instantes antes de Anna se atentar a Hunter e Natalie. Viu que a amiga segurava uma garrafa de cerveja.

** FIM DO FLASHBACK **